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Capítulo 1: Por que falar de energia?

6.6 Resistência / aceitação

Países com maior experiência na implementação deste tipo de empreendimento muitas vezes apresentam problemas de aceitação de parques eólicos, o que se confirma na pesquisa bibliográfica realizada para este estudo. O conceito NIMBY (not in my back yard) tem sido usado para descrever a tensão entre a aceitação do público em geral a respeito dos parques eólicos e a oposição da população local para o empreendimento – o que estrutura uma relação negativa entre o suporte geral e local para os parques eólicos.

Spears et al (1987), em sua pesquisa sobre a qualidade da informação veiculada em jornais sobre energia nuclear e energia renovável, constataram que artigos derivados de jornais de áreas onde a população conviva com energias renováveis tendiam a ser um pouco mais negativos em relação a amostra não afetada. Entretanto, não relacionaram esta negatividade ao efeito NIMBY. Os autores concluem: “é como se um ar de ceticismo prevalecesse nas localidades afetadas que encobre ambas tecnologias” (p. 1644). No caso de Zumbi, por não existir jornais locais em Rio do Fogo não foi possível coletar informações veiculadas localmente por este tipo de mídia impressa. Os jornais pesquisados no presente estudo foram os da capital, sendo que o conteúdo apresentado tinha cunho positivo ao Parque Eólico de Rio do Fogo, mas não foram encontradas reportagens de grande destaque sobre o assunto, como, por exemplo, manchetes.

O conceito NIMBY é considerado por muitos autores como simplista, (Devine- Wright, 2005a, 2005b; Ek, 2005; Wolsink, 2000, 2007), visto que grande parte dos estudos que confirma este conceito se detém a parâmetros puramente físicos, como pequena distância, tamanho da turbina e cor. Quando as pesquisas abrangem, além destes elementos acima mencionados, aspectos simbólicos, afetivos e socialmente construídos elas não confirmam este fenômeno, encontrando pouco ou nenhum indício de NIMBY (Devine-Wright, 2005a, 2005b; Ek, 2005; Loring, 2007; Wolsink, 1988, 2000, 2007). Como resultado, estes estudos mais abrangentes encontram outras formas de resistência associados ao empreendimento ou até mesmo aceitação, e não rejeição.

Na pesquisa de Wolsink (2000), a crença NIMBY adicionou apenas 4% à variância do comportamento de resistência aos empreendimentos eólicos, além de outras três formas de resistência terem sido identificadas. Ao mesmo tempo, Ek (2005) não encontrou diferenças significativas entre a aceitação do público geral e das pessoas que viviam próximas a parques eólicos. Em Zumbi, nem efeito NIMBY, nem outro tipo de resistência foi encontrado.

Devine-Wright (2005b) afirma que poucas pesquisas se atem a usar design longitudinal para medir a percepção ao longo do tempo. Quando é realizada, geralmente nota-se que a percepção negativa decresce ao longo do tempo. O que implica no aumento da familiaridade dos indivíduos com os parques eólicos. Apesar de não ter acompanhado a construção do PERF na época, o presente estudo considerou a dimensão temporal, e constatou que durante a construção a comunidade de Zumbi aceitava positivamente o parque eólico e hoje é neutra a seu respeito. A positividade é decorrente da grande oferta de emprego e a neutralidade advém da falta de relação atual entre o parque eólico e a comunidade. É possível que a neutralidade prevaleça, ao invés da rejeição, pois: os locais foram avisados sobre a diminuição da oferta de emprego; eles consideram a obra um símbolo de progresso; o impacto cênico é avaliado por eles como positivo; além do grau de escolaridade dos moradores ser baixo e eles ainda poderem utilizar o terreno onde se localiza o parque.

Segundo Pol et al. (2006), quando a instalação implica na geração de novos empregos, o efeito NIMBY tende a se manifestar. Similarmente, para Devine-Wright (2005a), pessoas que são cooperadas de parques eólicos, ou seja, que participam dos lucros, são mais positivas a respeito da energia eólica do que pessoas que não possuem interesse econômico envolvido. Da mesma forma, o estudo citado de Pol et al. (2006) aponta ainda alguns outros tipos de reações da população quanto à construção de empreendimentos próxima a suas casas; um deles denomina-se YIMBY (yes in my back yard), que geralmente aparece quando há compensações econômicas para a população local. No caso de Zumbi, parece existir este fenômeno, em forma de compensação econômica em torno do emprego. Isso é confirmado pelas respostas obtidas nas entrevistas, quando lhes perguntava se eles aceitariam a construção de mais aerogeradores e eles se colocam positivos a esta questão por conta da oferta de empregos que seriam gerados.

Da mesma forma que o caso do PERF, a oferta de emprego somente durante a construção devido a baixa qualificação dos trabalhadores é um fato que aparece em

outros empreendimentos brasileiros, como no caso do estudo de Melo (1989/90), sobre o impacto do Porto de Suape na cidade de Recife.

Caro et al (2006) e Devine-Wright (2005b), apontam a importância de se levar em conta os aspectos psico-sociais na implementação de empreendimentos. Como afirmam Pol et al. (2006), a tendência para rejeição cresce quanto maior for a intervenção na dimensão simbólica do lugar construída pelos moradores. Segundo Loring (2007), o suporte no nível local é com freqüência seriamente reduzido quando os projetos são propostos. As comunidades vizinhas se opõem, na maioria das vezes por conta da intrusão visual, poluição sonora ou incômodos no ambiente. Desses fatores a empresa se preveniu ao permitir que a população circulasse na área não comprometendo a relação de uso, afetiva e simbólica que liga a população ao terreno em questão. A mesma prevenção ocorreu ao construir o parque em uma distância e local conveniente como apresentado pelos técnicos entrevistados.

A empresa teve seu papel quanto à aceitação positiva do empreendimento. Ela cumpriu todas as exigências legais impostas pelos órgãos públicos competentes. Analisando o conteúdo das entrevistas, não há reclamações sobre a forma como a empresa se inseriu. Nem do assentamento, nem da prefeitura, muito menos de Zumbi. Segundo o prefeito e o deputado estadual entrevistados, o processo de implementação da empresa na comunidade foi realizado corretamente; houve sempre diálogo com os órgãos competentes e cumpriram-se todas as normas impostas para a execução do projeto. Igualmente, conforme foi declarado em entrevista por um dos administradores da empresa, se os moradores propuserem benfeitorias para a comunidade de Zumbi, elas seriam executadas, desde que estivessem ao seu alcance. Isso auxiliaria a romper a fronteira rígida construída entre a comunidade e o PERF. Sendo assim, um dos fatores que fazem com que a barreira entre a comunidade de Zumbi e o PERF persista é a falta de incentivo para que isso ocorra e por conta de uma legislação que coloca em segundo plano a perspectiva social dos projetos eólicos.