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4. TUTELA AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

4.5. Resoluções do CONAMA e licenciamento ambiental

4.5.2. Resolução CONAMA nº 237/1997

Esta Resolução é, sem dúvida, a mais importante para a disciplina do licenciamento ambiental, de uma maneira geral. Existem atividades que, pela sua natureza e complexidades, exigem procedimentos de licenciamento diferenciados, como é o caso da atividade revenda de combustíveis, que possui licenciamento

ambiental específico, regrado pela Resolução CONAMA nº 273/2000155. Na ausência de lacuna ou falha na Resolução CONAMA nº 273/2000, por exemplo, deve-se recorrer à norma geral sobre licenciamento ambiental, que é a Resolução CONAMA nº 237/1997.

Esta Resolução gera na doutrina grandes controvérsias sobre a sua constitucionalidade, fato já abordado em item anterior, que trata da competência para o licenciamento ambiental.

Esta Resolução define, em seu artigo 1º, licenciamento ambiental como sendo o procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.

Esta Resolução define ainda, neste mesmo artigo, nos incisos II, III e IV, respectivamente, licença ambiental, estudos ambientais e impacto ambiental regional.

O artigo 2º desta Resolução dispõe que a localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiental competente, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.

Frise-se que o artigo 3º desta Resolução assevera que a licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório deimpacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quandocouber.

Além das exigências documentais, tais como a apresentação de projetos básicos, projetos de execução e outros, cabe aos que pleiteiam a licença ambiental

155 Art. 9º da Resolução CONAMA nº 237/1997 – “O CONAMA definirá, quando necessário, licenças

ambientais específicas, observadas a natureza, características e peculiaridades da atividade ou empreendimento e, ainda, a compatibilização do processo de licenciamento com as etapas de planejamento, implantação e operação.”

apresentarem estudo(s) de impacto(s) ambiental(is), à critério do órgão licenciador, apontando o diagnóstico ambiental da área e as formas de interação com o meio no desenvolvimento da atividade, e, no caso de impactos inevitáveis (mas de degradações aceitáveis), que medidas mitigadoras e compensatórias serão empreendidas. Neste ponto, recorde-se que o interesse do Estado brasileiro é combater apenas o dano ambiental considerado significativo.

Corroborando este entendimento, vale transcrever o parágrafo único do art. 3º da Resolução tratada:

Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando que a

atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação do meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de licenciamento.

O artigo 7º desta Resolução gera uma grande polêmica na doutrina, uma vez que determina que os empreendimentos, e atividades, deverão ser licenciados em um único nível de competência, conforme estabelecido nos artigos anteriores. Ora, a Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 23, que a competência administrativa para a defesa do meio ambiente é comum aos entes da federação, até que lei complementar surja fixando as normas para cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Se esta Lei Complementar ainda não foi editada, como pode uma “simples” Resolução determinar que deve haver um único nível de competência? Não é uma má idéia o estabelecimento de uma unidade na realização do licenciamento ambiental, pois com isso se afasta a insegurança jurídica das licenças ambientais, que podem ser concedidas por um ente, e não concedida por outro, gerando, inclusive, inconvenientes econômicos. No entanto, uma Resolução não pode atropelar uma Lei Complementar para estabelecer regramentos por esta não inaugurados.

Analisando ainda o teor da Resolução CONAMA 237/1997, vale destacar que o seu art. 8º, incisos I, III e III, determina que o Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças:

Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os

requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;

Licença de Instalação (LI) - autorizaa instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes,da qual constituem motivo determinante;

Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.

O procedimento do licenciamento ambiental, nos termos do art. 10 da Resolução em comento obedecerá às seguintes etapas:

I. Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários ao início do processo de licenciamento correspondente à licença a ser requerida;

II. Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade;

III. Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA,dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de vistorias técnicas, quando necessárias;

IV. Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da análise dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios;

V. Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação pertinente;

VI. Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente, decorrentes de audiências públicas, quando

couber, podendo haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios; VII. Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer

jurídico;

VIII. Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida publicidade.

Vale destaque o que dispõe o §1º deste artigo 10. Este dispositivo exige que no procedimento de licenciamento ambiental deverá constar, obrigatoriamente, de certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o tipo de empreendimento ouatividade estão em conformidade com a legislação aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização para supressão de vegetação e a outorga para o uso da água, emitidas pelos órgãos competentes.

Esta exigência faz o órgão municipal despertar, caso não tenha despertado ainda, para atestar se o uso do espaço urbano, pleiteado pelo licenciado, é permitido nos termos de suas leis urbanísticas.

Nos termos do art. 18 da Resolução referida, o órgão ambiental competente estabelecerá os prazos de validade de cada tipo de licença, especificando-os no respectivo documento, levando em consideração os seguintes aspectos:

• O prazo de validade da Licença Prévia (LP) deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relativos ao empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 5 (cinco) anos;

• O prazo de validade da Licença de Instalação (LI) deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo cronograma de instalação do empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 6 (seis) anos;

• O prazo de validade da Licença de Operação (LO) deverá considerar os planos de controle ambiental e será de, no mínimo, 4 (quatro) anos e, no máximo, 10 (dez) anos.

Pode, em casos especiais, haver a prorrogação da validade das referidas licenças. Estes casos estão disciplinados nos §§1º a 4º da Resolução em destaque156.

156 Resolução CONAMA nº 237/1997, art. 18, § 1º - A Licença Prévia (LP) e a Licença de Instalação

(LI) poderão ter os prazos de validade prorrogados, desde que não ultrapassem os prazos máximos estabelecidos nos incisos I e II;

§ 2º - O órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de validade específicos para a

Licença de Operação (LO) de empreendimentos ou atividades que, por sua natureza e peculiaridades, estejam sujeitos a encerramento ou modificação em prazos inferiores.

§ 3º - Na renovação da Licença de Operação (LO) de uma atividade ou empreendimento, o órgão

ambiental competente poderá, mediante decisão motivada, aumentar ou diminuir o seu prazo de validade, após avaliação do desempenho ambiental da atividade ou empreendimento no período de vigência anterior, respeitados os limites estabelecidos no inciso III.

§ 4º - A renovação da Licença de Operação(LO) de uma atividade ou empreendimento deverá ser

requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença, ficando este automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente.

5. LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE POSTOS DE REVENDA DE COMBUSTÍVEIS: O CASO DO MUNICÍPIO DE NATAL/RN

Como tratado em itens anteriores, o licenciamento ambiental em postos de revenda de combustíveis é disciplinado por uma Resolução específica do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de nº 273/2000, com as alterações nela sofridas pelas Resoluções CONAMA nºs 276/2001 e 319/2002. Aplica-se, outrossim, aos referidos estabelecimentos, tidos pela legislação brasileira como potencialmente poluidores, a Resolução nº 09/1993, que trata da disposição adequada de todo óleo lubrificante usado ou contaminado.

Antes de tratar-se sobre as especificidades e características peculiares da cidade de Natal/RN, em termos de licenciamento ambiental dos postos de revenda de combustíveis em atividade no seu território, passa-se a seguir a análise de cada uma das referidas Resoluções CONAMA que tratam desta matéria: