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RESPEITO À DIGNIDADE HUMANA, LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS

4 A BUSCA PELO RESPEITO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NO

4.1 RESPEITO À DIGNIDADE HUMANA, LEGISLAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS

Com a Lei n. 7.210/1984 (BRASIL, 1984), a população encarcerada conseguiu mais amparo legal na busca do cumprimento aos direitos ao respeito à dignidade da pessoa, a começar pelo objetivo da própria lei, saindo da situação de tortura e violência, conforme os artigos:

Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado;

Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei. Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política;

Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal;

Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso;

Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos financeiros para constituir advogado;

Estes artigos reforçam o que já se encontra na Constituição Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988), quanto aos direitos da pessoa humana, independentemente de sua situação de liberdade ou prisional, ela tem as garantias legais de preservação de sua dignidade, conforme os artigos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedades.

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos dessa Constituição;

II – Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante; LXXIV – O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.

Ainda na Constituição Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988), no capítulo II – Dos Direitos Sociais, no seu artigo 6º: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.

Confirma-se que a pessoa tem suas garantias asseguradas, porém a realidade se apresenta bem diferente, porque a prática está desumanizada, efetivamente em desarmonia com as leis vigentes. É nesse cenário que se discute o acesso das mulheres encarceradas a seus direitos básicos, de mulher, mãe e cidadã.

Como exposto anteriormente, há aumento expressivo no encarceramento feminino, devido a várias circunstâncias, que poderia ser amenizado com prisão domiciliar, por muitas delas serem mães de crianças menores; ou quando a infração penal for menos pesada, aguardar o julgamento em liberdade. Assim, talvez reduzisse um pouco a população de presas.

No entanto, mesmo com as legislações existentes para a proteção da mulher encarcerada, há violação das mesmas. O não reconhecimento desses direitos gera acúmulo de pessoas nas unidades prisionais pelo país afora. Dentro desta ótica, a Pastoral Carcerária pensou em uma medida que ajudaria o problema na raiz, o desencarceramento, por isso:

Em novembro de 2013, em audiência pública com o Governo Federal provocada pelo movimento Mães de Maio, movimentos e organizações sociais de enfrentamento ao Estado Penal apresentaram uma agenda para o sistema prisional, cuja proposta central apontava para a exigência de um programa de desencarceramento que estabelecesse metas claras para a redução imediata e drástica da população prisional.

Continua a Pastoral Carcerária a ressaltar alguns pontos para o auxílio no desencarceramento:

(...)e fortalecer as práticas comunitárias de resolução pacífica de conflitos, são articuladas na agenda, basicamente, as seguintes diretrizes:

a) Suspensão de qualquer investimento em construção de novas unidades prisionais; b) limitação máxima das prisões cautelares, redução de penas e descriminalização de condutas, em especial aquelas relacionadas à política de drogas;

c) ampliação das garantias da execução penal e abertura do cárcere para a sociedade; d) proibição absoluta da privatização do sistema prisional;

e) combate à tortura e desmilitarização das polícias, da política e da vida.

Segundo afirmação da Pastoral Carcerária (2018, p. 41): “Quando defendemos um mundo sem cárceres, precisamos usar instrumentos eficientes para demoli-los”. Por isso, a intensa necessidade de políticas públicas que efetivamente sejam praticadas e cumpridas, em relação ao grupo prisional.

Em 2014, com a Portaria Interministerial nº 210, institui-se a Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional (BRASIL, 2014), trazendo outras providências que enaltecem a necessidade do respeito à dignidade da mulher encarcerada, através dos artigos:

Art. 2º - São diretrizes da PNAMPE:

I - prevenção de todos os tipos de violência contra mulheres em situação de privação de liberdade, em cumprimento aos instrumentos nacionais e internacionais ratificados pelo Estado Brasileiro relativos ao tema;

IV - humanização das condições do cumprimento da pena, garantindo o direito à saúde, educação, alimentação, trabalho, segurança, proteção à maternidade e à infância, lazer, esportes, assistência jurídica, atendimento psicossocial e demais direitos humanos;

VIII - incentivo à construção e adaptação de unidades prisionais para o público feminino, exclusivas, regionalizadas e que observem o disposto na Resolução nº 9, de 18 de novembro de 2011, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária – CNPCP;

Pela experiência da Pastoral Carcerária, como forma de reduzir o encarceramento, devido ao baixo grau da infração penal, seria“nos casos das mulheres presas provisoriamente, a defesa pode pedir a aplicação de liberdade provisória ou medida cautelar alternativa à prisão, bem como se beneficiar do Marco Civil da Primeira Infância, para as que são mães” (PASTORAL CARCERÁRIA, 2018, p. 41).

Na Lei nº 13.257 (BRASIL, 2016) - que dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância, no seu artigo 19, § 10, já garante à mulher em privação de liberdade, seja grávida ou mãe, o direito de permanecer com o filho e ter espaço adequado para a sua situação de gestante, quando for o caso:

Incumbe ao poder público garantir à gestante e à mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único de

Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o sistema de ensino competente, visando ao desenvolvimento integral da criança.

O cumprimento na sua integralidade seja da legislação em vigor, dos decretos, das portarias, da própria Constituição, já seria um ponto importante para o desencarceramento das mulheres em situação prisional, no Estado, no país, propiciando uma sociedade mais igualitária, quanto aos direitos e garantias do cidadão.

A Lei de Execuções Penais nº 7210/84 (BRASIL, 1984), no capítulo IV e V – Dos Deveres, dos Direitos e da Disciplina: “Artigo, 39 – constituem deveres do condenado; execução do trabalho, das tarefas e das ordens”.

Ainda na mesma Lei (BRASIL, 1984), no artigo 41, quanto aos direitos dos apenados, cita:

I – atribuição de trabalho e sua remuneração; III – Previdência Social;

IV – constituição de pecúlio;

V – proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação;

VI – exercício das atividades profissionais, intelectuais, artística e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena.

Faz-se necessária a manutenção da perspectiva de direitos e garantias legais, pois é uma conquista judicial da pessoa privada de liberdade. Conforme Rodrigues (2019, p. 57):

A mulher presa também é cidadã e, por conta dessa premissa, deve ter seus direitos assegurados. Por sua vez o Estado, que possui o dever e o direito de aplicar as sansões penais, comporta a necessidade de garantir as condições mínimas de vida aos que têm sua liberdade privada. Para tanto, o sistema penal impõe penas aos criminosos, mas também lhes confere garantias, as quais também são asseguradas pela Constituição Federal.

Dentro das diversas garantias que a legislação oferece às mulheres encarceradas, no sistema prisional, os funcionários que irão atendê-las devem também ser mulheres, pela questão do tratamento, não gerando constrangimentos, possíveis abusos, preservando a condição digna para o cumprimento de sua pena.

Conforme “a Lei nº. 12.121/2009 (BRASIL, 2009), que acrescenta no § 3º ao artigo 83 da Lei nº. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal), determinando que os estabelecimentos penais destinados às mulheres tenham por efeito de segurança interna somente agente do sexo feminino”.

Justamente para evitar mais sofrimentos, causados pela privação de liberdade, ausência dos familiares, ainda ter essa penalização, conforme estudos de Nascimento, Salvador e Castellano (2020, p.89):

O estupro carcerário, tema delicado, repulsivo, desumano, um assunto negligenciado pelo Estado e pela sociedade vigente, pois o estupro fere a vítima de várias formas: moral, física e psicológica, causando danos irreversíveis. Mas há desinteresse em efetivar e reconhecer os Direitos Humanos e denunciar essa prática,

dentro das instituições prisionais. Dentro disso é importante acrescentar que há unidades com condução rígida e que não permitem qualquer tipo de violência contra as detentas.

A estrutura prisional gera sentimentos de medo, solidão, abandono. Por isso, faz-se necessário que as políticas públicas existentes de fato sejam efetivadas para essas mulheres, que têm seus direitos humanos e sua dignidade violada, enquanto estão aguardando julgamento ou já cumprindo sua sentença.

Nesta linha de pensamento, a Convenção Interamericana para prevenir e punir a tortura, ratificada no Brasil com o Decreto nº. 98.386/1989 (BRASIL, 1989), está sendo tratada com desrespeito, pois há situações como castigos, agressões, constrangimentos, na realidade de muitas prisões pelo país afora. Porém, na lei, estão proibidas, conforme artigos abaixo:

I. Os Estados Partes obrigam-se a prevenir e a punir a tortura, nos termos desta Convenção;

II. Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por tortura todo ato pelo qual são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com fins de investigação criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou com qualquer outro fim. Entender-se-á também como tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica.

Tendo presente as leis constituídas e fundamentadas na Constituição, nos decretos, e com isso o surgimento de incentivos através das políticas públicas, busca-se resgatar a dignidade das mulheres encarceradas, projetando possibilidades de mudança de vida, de conduta, com atividades variadas, com intuito de reintegração social.

4.2 INICIATIVAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Elencar as leis, os projetos, iniciativas e as políticas públicas para o Estado de Santa Catarina, tornam-se de suma importância, pois em si abrangem o melhoramento da situação prisional das mulheres, em buscar a convivência, o atendimento mais humanizado para a população encarcerada. Um desses projetos são Mulheres Livres, criado em 2018, (BRASIL, 2018) que tem por objetivos:

a) Criar uma rede de apoio para reinserção social de presas provisórias ou em regime especial que estão grávidas ou já são mães com filhos pequenos;

b) Oferecer assistência jurídica e treinamento profissional para tirar as mulheres dos presídios e oferecer-lhes condições de se tornarem economicamente independentes;

Visando reintegrar de maneira digna e com respeito a mulher encarcerada a sua vida familiar, profissional e a vida em sociedade, oportuniza-se mudança de comportamento, de hábitos e, por consequência, não propiciando a volta ao mundo do crime, mas um recomeço.

Segundo Gadernuto (2017, p.17), ao apresentar o Plano de Educação em Prisões de Santa Catarina, o Secretário da Educação do Estado, senhor Eduardo Deschamps, afirmou no seu discurso:

“Educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo” (Nélson Mandela). Empenhamo-nos em levar a Educação Básica a todos os cantos do estado, com certeza de que, apenas desta forma, conseguiremos tornar a sociedade catarinense mais justa e humana. Este plano contribui, de maneira fundamental, para que nossos objetivos possam ser alcançados. Destacamos, por exemplo, que 86% das unidades prisionais estaduais já contam com a oferta de Educação Básica.

Diante desta fala, conclui-se o quanto a educação faz a diferença na sociedade, criando indivíduos mais críticos, com visão e opiniões, possibilitando olhar diferenciado para a realidade. Certamente, uma das soluções para a redução da criminalidade em termos gerais.

Oportunizando conhecimentos, quebram-se barreiras através do saber, por isso “no tocante à assistência à educação, desenvolve-se no Presídio Regional de Araranguá o Projeto de Educação, em convênio com o Centro de Educação para Jovens e Adultos (CEJA), para mulheres analfabetas ou que querem concluir os estudos” (SCADUELI; SILVEIRA, 2010, p.7).

Segundo, ainda, Scadueli e Silveira (2010, p.7) no mesmo presídio, há outro projeto desenvolvido como “projeto ressocializador, denominado Apoio Psicológico, trabalho realizado por alunos de psicologia da Unisul, como parte do estágio obrigatório”. Assim, possibilitando um atendimento mais próximo, humanizado; trabalhando o emocional, o seu valor como pessoa, como mulher.

Ainda, ressaltam Scadueli e Silveira (2010, p.7) que existe nesse espaço o projeto “Bela Mulher”, inteiramente voltado para as questões de estética, buscando a valorização dessas mulheres pela autoestima, resgatando sua natureza feminina, voltada para sua dignidade como pessoa.

Outro projeto destacado por Borges (2020), “com a orientação do Departamento Penitenciário Nacional, a implementação de Serviços de Atenção à Mulher Egressa do Sistema Prisional, leva em consideração a geração de renda, inclusão ao mercado de trabalho e ações destinadas à família”.

O projeto “Mulheres no cárcere: onde estão seus filhos/suas filhas, desenvolvido pelo IDDH, conjuntamente com a Clínica de Direitos Humanos da Univille, trabalha com as

mulheres encarceradas do Presídio Regional de Joinville, sobre cidadania, igualdade e direitos humanos e assessoria jurídica (IDDH, 2018).

Segundo Projeto (2017), a ONG Trama Ética realizou com voluntárias oficinas de costura e produção de roupa, bolsas e acessórios com as mulheres encarceradas nos Presídios de Florianópolis e Tijucas. Estes produtos foram para a exposição e venda na Feira Nacional de Negócios e Artesanato em Recife (PE).

Salientam os autores Gonçalves, Oliva, Vieira e Pacheco (2019) que existe “uma parceria entre o IFSC e o Presídio de Itajaí, promovendo um projeto de extensão de leituras de livros escritos por mulheres encarceradas, juntamente com a proposta de ampliar o acervo da biblioteca do presídio feminino, estimular a leitura, e redução de pena”.

O projeto literário “Reeducação do Imaginário” garante remissão de pena e recupera mulheres encarceradas no Presídio de Joaçaba/SC. Geralmente são clássicos da literatura, adquiridos nas editoras por meio de verbas de transação penal (CORREA, 2018).

Conforme proposto na temática deste trabalho, o presente capítulo busca responder à pergunta geradora de toda reflexão sobre o respeito à dignidade da mulher encarcerada no sistema prisional., Assim, procurou-se averiguar nas Unidades Prisionais Catarinenses, por intermédio de breve análise das leis vigentes e das políticas públicas existentes, o cumprimento ou não do respeito à dignidade da mulher encarcerada.

Refletindo sobre a situação destas mulheres, faz-se muito oportuna a maravilhosa frase de Isaac Newton, que diz: “construímos muros demais, e pontes de menos”. Logo chama a atenção para o essencial na vida em sociedade: não aumentar as barreiras de possíveis oportunidades, mas fazer parte delas; quando for necessário, sendo pontes para unir lados separados.

Nas palavras de Zaninelli (2015), diante de leis, atividades e projetos acima elencados, pode-se contemplar um campo favorável de oportunidades para as mulheres encarceradas, no tocante ao resgate de sua dignidade humana, sobretudo pela educação e pelo trabalho; oportunizando de maneira natural e saudável o retorno à vida após a saída do sistema prisional.

As garantias na Constituição Federal, às leis e as iniciativas com políticas públicas demonstram que a sociedade, o cidadão buscam a participação dessa mudança de pensamento, em relação à população encarcerada, através dos trabalhos oportunizados nas empresas, quando possível, na venda em feiras dos produtos confeccionados por elas, como forma de acolhê-las, e propiciando expectativa de nova chance.

Entende-se que as iniciativas, segundo Novo (2019), são de suma importância para a sociedade, para o sistema prisional e, principalmente, para cada mulher encarcerada hoje, que almeja retomar sua vida, sua família; ter um trabalho, uma profissão que lhes garanta o sustento, mas também assegure seus direitos e sua dignidade como pessoa.

Diante dos pontos já destacados, pode-se ter uma ideia de que essas mulheres procuram no seu período de encarceramento uma oportunidade para não regressarem ao sistema prisional. Pois, com certeza, a experiência ali vivida lhes traz vários impactos emocionais e familiares, com as consequências sofridas.

É de importância ressaltar que os projetos, as políticas públicas voltadas à educação são formas de resgate para o respeito à dignidade das mulheres encarceradas, desde a alfabetização à conclusão do término dos estudos, uma simples leitura, como incentivo para elas se tornem conhecedoras de suas garantias e seus deveres como ser humano, que lhes permitam senso crítico diante de suas realidades.

Uma questão positiva destacada por Fregapani (2018), é o interesse das mulheres encarceradas pela vida escolar e de trabalho:

Dentro do sistema prisional, 27% das mulheres participam de atividades educacionais, que contemplam alfabetização, ensino regular e universitário, qualificação profissional e atividades complementares, como leitura e as atividades laborais contam com 26% das encarceradas. É mais que o dobro da participação masculina nas mesmas atividades.

Em decorrência desse lado social, humanizado e voluntário, através de políticas públicas, das iniciativas dos projetos, e de instituições com várias áreas de atuação, como saúde, educação, profissionalizantes, veem-se nessa população encarcerada um campo de trabalho muito enriquecedor, que beneficia ambos e, por consequência, a sociedade.

Todo elenco de atividades já exposto apresenta uma visão positiva da realidade das mulheres encarceradas, “porém, diante de dados também coletados para essa reflexão, verifica-se no que tange o respeito à dignidade humana, sobretudo da mulher, que necessita um olhar mais sensibilizado, até pela própria natureza da questão, afinal são mulheres” (ZANINELLI, 2015).

Por isso, para se pensar em um comparativo do cumprimento ou não do respeito à dignidade da mulher encarcerada no sistema prisional, em relação às leis vigentes, às políticas públicas, precisa-se também de olhar às necessidades e dificuldades encontradas quanto à realidade das mulheres nos Presídios de Santa Catarina.

Segundo relata Marques (2019, p.120), o Estado organiza seu sistema prisional por regiões, as quais somam um total de sete. Aqui se destaca a da Capital:

A Regional da Grande Florianópolis reúne nove unidades, localizadas em Florianópolis, Palhoça, São Pedro de Alcântara, Biguaçu e Tijucas. Porém, somente duas dessas, segundo levantamento, têm unidade para o aprisionamento de mulheres, sendo que ainda uma delas, a de Tijucas, é com sistema misto e somente a de Florianópolis é exclusivamente para mulheres.

Verificando o dado da Regional 01 – Grande Florianópolis, percebe-se uma dificuldade para as mulheres encarceradas, ao se constatar que há somente uma unidade exclusiva para elas; ou seja, adequada para as necessidades femininas, que por vezes são mães e ainda estão na companhia de seus filhos.

A situação da mulher encarcerada no Estado é pautada numa deficiência social e estrutural, no que se refere ao tratamento das mesmas quanto à humanização em torno da pessoa encarcerada, também privada de questões de afeto, de saúde básica. Conforme afirma Reis (2017, p. 29), quando fez um estágio no complexo penitenciário de Florianópolis/SC:

A principal demanda das mulheres era o contato familiar, principalmente notícias dos filhos/as, seguida de notícias dos seus companheiros, que, em sua maioria, também se encontravam presos. A segunda maior demanda estava voltada ao campo jurídico, tanto para verificar o processo delas e entrar em contato com o advogado, quanto para solicitar o atendimento voluntário da advogada da ASBEDIM. A terceira maior demanda era de saúde, solicitação de atendimento odontológico, oftalmológico, saúde sexual e reprodutiva, saúde mental e outros. Por último, demandavam informações ou solicitação para emissão de documentos, seja certidão de nascimento ou união estável.

No Presídio Feminino de Tubarão - Regional 2 - Sul Catarinense, no relatório de 2015, foram destacados itens que merecem atenção quando se trata do cuidado, do respeito à dignidade da pessoa humana. Configurou-se como tratamento desumano e degradante, segundo Leonel, Kindermann, Zanotelli, Antônio (2015, p. 159), quanto a:

I. Estrutura física: precariedade das instalações elétricas e hidráulicas, irregularidades dos banheiros nas celas, com pouca ventilação, entrada de luz e circulação de ar;

II. Saúde: ausência de serviços básicos e de equipe profissional, além de acesso demorado aos serviços da rede pública de saúde, saúde da mulher e psiquiatria; III. Trabalho: foi indicada somente a oficina de costura, para confecção de uniformes para as demais encarceradas;

IV. Alimentação: produzidas pelas próprias encarceradas, sendo três refeições ao

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