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A presente tese de doutorado se propôs a responder a seguinte pergunta de pesquisa: ‘Existe

relação entre estratégia socioambiental baseada em recursos e ambiguidade causal?’.

Para responder tal pergunta foram necessários atingir os (03) três objetivos específicos propostos, foram eles (a) construir fundamentação teórica que suporte as hipóteses da pesquisa; (b) definir as ferramentas metodológicas adequadas para testar as hipóteses da pesquisa; e (c) testar empiricamente a relação entre estratégia socioambiental e ambiguidade causal.

A partir de um referencial teórico adequado para formular as hipóteses do estudo, e ferramentas estatísticas adequadas para analisar os dados coletados, pôde-se concluir que existe relação entre a estratégia socioambiental baseada em recursos e a ambiguidade causal. Essa relação pode ser explicada nos termos dos construtos apresentados nesta tese, apesar de apenas parte das hipóteses terem sido suportadas, mesmo que parcialmente. As variáveis governança corporativa, e sociedade e comunidade foram aquelas suportadas pelas análises, ou seja, explicam em parte a criação de ambiguidade causal entre as firmas, levando em consideração a amostra de empresas coletada.

A governança corporativa tem poder de impactar a ambiguidade causal devido suas características intangíveis, difíceis de serem copiadas. Caso uma empresa contratasse todos os conselheiros de uma outra empresa, provavelmente não consegueria obter o mesmo resultado, pois idiossincrasias organizacionais influenciam as decisões do conselho de administração,

como a indústria a qual a empresa está inserida (conforme pôde-se constatar nesta pesquisa), bem como questões pessoais, como a cultura pessoal, a nacionalidade, e as experiências profissionais dos conselheiros. Desta forma, pode-se concluir que a governança impacta de forma positiva a ambiguidade causal.

O relacionamento da empresa com a sociedade e a comunidade também tem o poder de impactar a ambiguidade causal devido às suas características intangíveis. O relacionamento desenvolvido com uma comunidade, por exemplo, é único, dificilmente uma empresa poderá imitar as especificidades desse relacionamento, pois cada parceiro (empresa e comunidade) tem necessidades e expectativas específicas. Ao mudar a comunidade, ou a empresa, essas necessidades e expectativas também mudam, assim, o recurso relacionamento com comunidades é causalmente ambíguo. Desta forma, pode-se concluir que o relacionamento com a sociedade e a comunidade impacta de forma positiva a ambiguidade causal.

Por outro lado, as outras variáveis dos construtos Orientação Socioambiental e Engajamento com Stakeholders não impactaram a Ambiguidade Causal. Esperava-se que as variáveis ética nos negócios, relacionamento com governo (política pública) e relacionamento social com fornecedores impactassem a variável dependente, contudo, isso não ocorreu. O principal argumento para isso diz repeito à padronização dos processos devido às leis, regulamentações, códigos de ética e conduta, e certificações, o que impede as empresas de se diferenciarem em relação a estes aspectos, dificultando assim a criação de ambiguidade causal.

A partir desse resultado, algumas hipóteses para futuros estudos podem ser propostas no que diz respeito à ética nos negócios, por exemplo, “códigos de ética e conduta adotados pelas empresas têm poder de padronizar decisões sobre problemas éticos no ambiente de negócios”. Assim, poderia-se investigar de forma mais aprofundada, talvez qualitativamente, o impacto dos códigos de ética adotados pelas empresas, na padronização da resolução de conflitos éticos. Caso os executivos resolvam problemas éticos seguindo um código padrão imposto pela empresa, é provável que a forma de resolver esse tipo de problema se repita ao longo do tempo.

No que diz respeito ao relacionamento com o governo (política pública) também podem ser feitas observações e propostas novas hipóteses. Pode-se observar que, ao divulgar seu relacionamento com o governo, a empresa apresenta apenas as informações que não a

compromete diante da sociedade, ou seja, formatos de relacionamento com o governo que geram algum tipo de vantagem para a firma, mas seriam reprovados pela opinião pública, dificilmente são divulgados de forma voluntária pela empresa. Desta forma, o pesquisador

fica refém do “discurso padrão” da empresa, aquele que é divulgado para todos os públicos

mas nem sempre é o verdadeiro. Quando todas as empresas adotam o discurso padrão, pode- se perceber uma padronização no que diz respeito ao relacionamento com o governo, por vezes justificado a partir de questões legais (legislação local vigente e acordos multilaterais). A partir daí, uma pesquisa mais aprofundada sobre esses aspectos poderia adotar a hipótese de que “além das questões legais, a padronização no relacionamento com o governo é também

impactado pela opinião pública”.

As variáveis do construto Aperfeiçoamento Ambiental impactaram negativamente a ambiguidade causal. As normas e certificações ambientais internacionais são geralmente baseadas em acordos multilaterais, e isso promove certa padronização, independente da cultura do país, da cultura local ou da cultura organizacional. Tal padronização impede a criação de ambiguidade causal, pois através das normas e certificações torna-se fácil para o concorrente entender como funcionam os processos, e as vantagens operacionais, de uma empresa no mesmo setor, ou que detenha o mesmo modus operandi. Para aprofundar o estudo no que diz respeito ao Aperfeiçoamento Ambiental, sugere-se a articulação entre cultura e padronização. Segundo King (2007) a cultura (local e organizacional) é um indutor da ambiguidade causal, assim apesar da padronização promovida pelas certificações e normas ambientais internacionais, alguma diferença em termos de cultura pode ser encontrada em estudos futuros. Desta forma, a hipótese para aprofundamento da questão seria “a relação entre aperfeiçoamento ambiental e ambiguidade causal é mediada pela cultura local e

organizacional”.

A variável tratamento dos funcionários, única a mensurar o construto Capital Humano, também não impactou a ambiguidade causal. A principal justificativa para isso é o foco da Sustainalytics em dados referentes à questões trabalhistas, que apesar de muito importantes, são consideradas obrigações da empresa, e não fator de diferenciação. A partir desse resultado, e levando em consideração o tipo de dado coletado, pode-se hipotetizar que o capital humano é sim um recurso que impacta positivamente na ambiguidade causal, contudo, para testar essa hipótese, devem ser coletados dados que sejam mais adequados ao que se

propõe na relação entre capital humano e ambiguidade causal. Desta forma, ainda parece válida para futuros estudos a hipótese proposta nesta tese.

Variáveis Resultados

Governança corporativa A variável influenciou positivamente a ambiguidade causal, mostrando a importância da governança corporativa enquanto recurso difícil de imitar pelos concorrentes.

Ética nos negócios A variável não influenciou a ambiguidade causal. Uma explicação pode vir do seguinte argumento, códigos de ética e conduta adotados pelas empresas têm poder de padronizar decisões sobre problemas éticos no ambiente de negócios, o que dificulta a diferenciação entre as empresas.

Sociedade e comunidade A variável influenciou positivamente a ambiguidade causal, mostrando a importância do relacionamento com a sociedade e comunidade enquanto recurso difícil de imitar pelos concorrentes.

Política pública A variável não influenciou a ambiguidade causal. Quando todas as empresas adotam um discurso padrão em relação ao governo, geralmente com informações que não as comprometem em termos éticos, pode-se perceber uma padronização no que diz respeito ao relacionamento com o governo, por vezes justificado a partir de questões legais (legislação local vigente e acordos multilaterais).

Relacionamento social com fornecedores

A variável não influenciou a ambiguidade causal. Geralmente, somente a empresa focal está preocupada em gerenciar de forma rigorosa o relacionamento social com fornecedores. Induzir tal comportamento nos níveis posteriores da cadeia de suprimentos tem sido um desafio para as empresas preocupadas com essa questão.

causal. Isso ocorreu provavelmente pela padronização dos processos advindos de certificações e melhores práticas em meio ambiente enfocando as operações.

Relacionamento ambiental na cadeia de suprimentos

A variável influenciou negativamente a ambiguidade causal. O mesmo argumento referente a variável Operações pode ser utilizado, pois o processo de padronização advindo das certificações também influencia a relação da empresa com seus fornecedores na cadeia de suprimentos, já que a padronização diz respeito a todo o modus operandi de operações.

Tratamento dos funcionários A variável não influenciou a ambiguidade causal. Provavelmente devido à característica dos itens utilizados para mensurar a variável, os quais são mais focados em questões trabalhistas e burocráticas, e não em questões estratégicas, conforme preconizado pelo referencial teórico utilizado.

Quadro 16 – Síntese das conclusões.

Fonte: Dados da pesquisa.

Assim, a partir dos resultados do presente estudo, pode-se afirmar que os recursos intangíveis governança corporativa e o relacionamento da empresa com a sociedade e a comunidade são indutores da ambiguidade causal e merecem maior atenção em futuros estudos. Além disso, o aprofundamento em novos estudos a partir das hipóteses propostas é também recomendado, tanto para um melhor esclarecimento das questões, quanto pela abertura de novas possibilidades teóricas.