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4 RESULTADOS DA PESQUISA: RESILIÊNCIA HUMANA

4.2 Categorias não a priori

4.2.2 Responsáveis e positivos

Esta categoria resume os posicionamentos principais em relação a características que distinguem as pessoas resilientes das não resilientes e/ou que indicam a presença e a ausência de resiliência, identificados no tratamento das entrevistas.

As pessoas resilientes foram descritas como aquelas que têm capacidade de responsabilizar-se por sua parte, que não fazem papel de vítima das situações, que não procuram culpados pelos eventos adversos, que possuem visão positiva em relação ao futuro, que encararam desafios como oportunidades positivas e que acreditam que tem a capacidade de influenciar o resultado, diante de adversidades. Estes posicionamentos guardam relação com os fatores de resiliência análise causal e otimismo (REIVICH & SHATTÉ, 2003), atribuídos a pessoas realistas e que não culpam reflexivamente outras pessoas por seus erros ou pelos

acontecimentos, que não gastam o tempo se preocupando ou ruminando sobre eventos ou circunstâncias que estão fora do controle delas, que acreditam que as coisas podem mudar para melhor, que acreditam ter a capacidade de lidar com as adversidades presentes e aquelas que poderão surgir adiante.

O fragmento (20) abaixo trata de um posicionamento afeto a falta de resiliência.

(20): Assim, pra mim... quando a pessoa se torna vítima... Pra mim essa é a maior falta de resiliência, é quando a pessoa se torna vítima [...] Eu acho assim, ninguém tem desculpa para não ser resiliente. Eu tenho um amigo que ele tem distrofia muscular. Ele só move os olhos e um dedo do corpo, é o dedo que ele usa pra... é... mexer a cadeira de rodas de dele. Ele usa fralda, tem vinte e oito anos. Ele vai a todos os eventos de rock que eu conheço. Ele tem uma namorada. Ele escreve através de sistema de reconhecimento de voz. Ele é... é uma das pessoas mais felizes que eu conheço. E eu vejo muita gente reclamando que não deveria tá reclamando. Então, eu acho que ninguém tem desculpa pra se fazer de vítima. Eu sou meio impaciente pra isso. [Risos] E4

Na seleção, revela-se de forma explícita, denotativa a posição da entrevistada sobre o que considera falta de resiliência. “quando a pessoa se torna vítima. Pra mim essa é a maior falta de resiliência, é quando a pessoa se torna vítima”. Na sequência de sua enunciação, destaca que a resiliência é mandatória, “Eu acho assim, ninguém tem desculpa para não ser resiliente”, e relativiza sua posição por meio do relato de uma situação-exemplo que evidencia alta resiliência diante de um quadro de adversidade severa, "Eu tenho um amigo que ele tem distrofia muscular. Ele só move os olhos e um dedo do corpo, é o dedo que ele usa pra... é... mexer a cadeira de rodas de dele. Ele usa fralda, tem vinte e oito anos. Ele vai a todos os eventos de rock que eu conheço. Ele tem uma namorada. Ele escreve através de sistema de reconhecimento de voz. Ele é... é uma das pessoas mais felizes que eu conheço. e diante do que relata, assevera que as pessoas não deveriam reclamar, nem se fazer de vítimas – “E eu vejo muita gente reclamando que não deveria tá reclamando.”

No fator de resiliência análise causal (REIVICH & SHATTÉ, 2003), a capacidade de identificar e avaliar com precisão as causas dos problemas, por meio de uma flexibilidade cognitiva que permite o indivíduo significar todas as causas de adversidades que enfrenta, sem cair na armadilha de lançar mão de um estilo de explicação específico, desencadeia as condições para que as pessoas sejam realistas e não culpem reflexivamente outras pessoas por seus erros e nem gastem o tempo se preocupando ou ruminando sobre eventos ou circunstâncias que estão fora do controle delas.

Neste sentido, apreciações realistas a respeito daquilo que de fato um indivíduo controla podem refletir um comportamento de não fazer papel de vítima, como no fragmento (21) a seguir. (21): E eu acho que... assim... não bancar a vítima é assim …sempre que uma coisa acontece, eu jogo pra mim. O que que eu poderia ter feito diferente? A pessoa pode ter feito uma atrocidade comigo, que eu falo “Como é que... o que que eu fiz pra aquela pessoa reagir daquela forma?”, “O que que eu poderia fazer diferente?”. Então, é... eu acho que isso, essa sensação de vítima, que mundo é cruel, é... tipo: “Ah! trânsito tá péssimo.”. Po! Você escolheu trabalhar nesse lugar. Então muda de... de emprego. Então... assim, eu vejo várias opções, o mundo te dá tantas opções, e pra mim reclamar, po exemplo, não é uma opção. E16

O fragmento (21) explicita de forma denotativa a posição do entrevistado sobre o que considera não experimentar a “sensação de vítima”, na seleção: “sempre que uma coisa acontece, eu jogo pra mim. O que que eu poderia ter feito diferente? A pessoa pode ter feito uma atrocidade comigo, que eu falo “Como é que... o que que eu fiz pra aquela pessoa reagir daquela forma?”, “O que que eu poderia fazer diferente?, revela-se um posicionamento de apreciação realista a respeito daquilo que de fato controla, que é a sua atitude, que pode ter ensejado uma reação no outro, e que é a seara real de domínio de responsabilização: é possível responsabilizar-se por aquilo que está sob o controle do indivíduo.

Na seleção eu vejo várias opções, o mundo te dá tantas opções, e pra mim, reclamar, por exemplo, não é uma opção, reforçam a característica de não gastar o tempo se preocupando com ou circunstâncias que estão fora do controle, e em lugar disso, investir tempo em soluções, conforme na seleção: “tipo: “Ah! Trânsito tá péssimo.”. Pô! Você escolheu trabalhar nesse lugar. Então muda de...de emprego”.

O que Reivich e Shatté denominam análise causal e apontam como um fator central de resiliência, Peterson & Seligman (1984) denominam estilo explanatório. Estilo explanatório é definido como a maneira mais ou menos estável com que cada indivíduo justifica os acontecimentos e o seu próprio desempenho. É o estilo explanatório do indivíduo que faz emergir percepções de vitimização ou de responsabilização, de uma ação construtiva que é solucionadora diante das adversidades.

Na seleção “tipo: “Ah! trânsito tá péssimo.”. Pô! Você escolheu trabalhar nesse lugar. Então muda de...de emprego” desvela-se o estilo explanatório do entrevistado no qual a evidencia-se uma expectativa de que o controle sobre as circunstâncias depende dele mesmo.

Esta expectativa foi chamada de locus de controle interno (LEFCOURT, 1991), que vem sendo associado a características que promovem o desenvolvimento.

O mesmo ocorre em relação ao otimismo, que segundo Reivich & Shatté (2004), é também um fator central de resiliência. O estilo explanatório do indivíduo o levará a acreditar que as coisas podem mudar para melhor, o que implica a crença de que tem a capacidade de lidar com as adversidades presentes e aquelas que poderão surgir adiante. Indivíduos otimistas têm esperança no futuro e acreditam que têm o controle e a direção da própria vida.

(22): ...e eu penso que o otimismo, olhar realmente o lado positivo, tentar encontrar oportunidades, e não deixar se desesperar com os problemas, nem sempre eles são do tamanho que a gente acha que ele é (sic)... e eu penso que [o otimismo] é algo positivo e traz benefício pra todos, tanto para empresa, quanto para os profissionais que estão dentro delas. E8

A seleção “olhar realmente o lado positivo, tentar encontrar oportunidades, e não deixar se desesperar com os problemas, nem sempre eles são do tamanho que a gente acha que ele é (sic)...” também revela um estilo explanatório quanto a avaliação da adversidade (do problema), que é nomeado pelo entrevistado de otimismo.

Ainda na palavra do entrevistado E8, revela-se um posicionamento afeto ao impacto do fator de resiliência otimismo acionado por um gestor no ambiente organizacional: o otimismo, ou nas palavras do entrevistado, “olhar realmente o lado positivo, tentar encontrar oportunidades, e não deixar se desesperar com os problemas,, “é algo positivo e traz benefício pra todos, tanto para empresa, quanto para os profissionais que estão dentro delas”.

Assim, na palavra do entrevistado, que é um gestor, a resiliência – manifestada pelo fator otimismo - traz benefício para a empresa e para as pessoas que estão na empresa, o que antecipa revelações que passaremos a tratar na próxima seção, que trata dos resultados da pesquisa no que tange a resiliência organizacional.

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