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Os responsáveis pela reparação

No documento O bullying e a ção civil por seus efeitos (páginas 32-38)

O caput do artigo 927 do Código Civil assim determina:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Primeiramente, há de se frisar que os atos ilícitos cometidos por menores de 18 anos provocam a responsabilização objetiva da pessoa a quem compete sua vigilância. Basta, portanto, que haja o nexo de causalidade entre o agravo experimentado pela vítima e a ação do menor, para que o responsável por ele tenha a obrigação de indenizar.

Nessa direção, estabelece o Código Civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos [grifo da autora]

Ademais, deverão ser responsabilizados todos os provocadores do dano. Portanto, se mais de uma pessoa tiver concorrido para a produção do prejuízo a outrem (coautoria ou cumplicidade no fato lesivo), todas, além, quando for o caso, daquelas elencadas no artigo 932 do Código Civil, responderão solidariamente. Nesse sentido, o artigo 942 desse Código:

Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.

Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932. [grifo da autora]

Evidencia-se, dessa forma, a existência da responsabilidade direta e da responsabilidade indireta. Na direta, responde-se por fato próprio, enquanto que, na indireta, responde-se por fato alheio ou por fato de animais ou de coisas inanimadas os quais estejam sob sua guarda.

Os responsáveis por fato de terceiro estão listados no artigo 932 do Código Civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;

V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

Como já observado no artigo 933, todos os responsáveis do artigo anterior responderão objetivamente, conforme exposto por DINIZ (2011, p. 532):

(...) afastando tanto a presunção juris tantum como a juris et de jure de culpa, criando, então, a responsabilidade objetiva, visto que a ideia de risco atende mais aos reclamos do mundo atual, fazendo com que o dano seja reparado pelo pai, representante legal ou empregador não porque tiveram culpa na vigilância ou escolha, mas porque correram o risco de que aquele fato lesivo adviesse.

No que se refere ao menor praticante de bullying, a definição do responsável pelo dano por ele causado dependerá de onde e das circunstâncias em que este tenha ocorrido.

Se esse menor de 18 anos estiver sob a autoridade e em companhia de seus pais, e estes se encontrarem no exercício do poder familiar, serão essas as pessoas responsáveis por reparar os prejuízos provocados.

Por causa do princípio da solidariedade familiar, presente no artigo 934 do CC, esses pais não terão direito a uma ação regressiva em face do filho do que tiverem pagado ao ofendido:

Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz. [grifo da autora].

Ainda quanto aos pais, mostra-se pertinente o Enunciado nº 41, aprovado nas Jornadas de Direito Civil do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal:

41 – Art. 928: A única hipótese em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido emancipado nos termos do art. 5º, parágrafo único, inc. I, do novo Código Civil.

No caso de o menor encontrar-se sob a guarda e companhia de um tutor, a diferença está na possibilidade de este ter ação regressiva contra aquele tutelado que tenha condições para tanto, ou seja, que não venha a ser, por ocasião do reembolso, privado do necessário à própria subsistência. Nesse mesmo rumo, Maria Helena Diniz, (2010) afirma que, em caso de tutela, também se aplica o artigo 928 e parágrafo único do CC:

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.

Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

Na hipótese de o menor provocar o dano durante o período em que os funcionários do estabelecimento de ensino privado em que seja aluno devam estar sobre ele exercendo vigilância e autoridade, o dono desse local é quem deverá responder objetiva e solidariamente, conforme já demonstrado nos artigos 933 e 942, parágrafo único, do CC. Essa responsabilidade também atinge o diretor e os professores, e isso se dá em virtude de ser um risco inerente à atividade profissional e de haver a determinação legal.

Também é possível utilizar o Código de Defesa de Consumidor para justificar a responsabilidade objetiva nesses casos. É o que se depreende dos ensinamentos de Sérgio Cavalieri Filho (2012, p. 481):

O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em conta as circunstâncias relevantes, tais como o modo do seu funcionamento, o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam e a época em que foi fornecido (art. 14, §1º, do CDC). Como se vê, a responsabilidade do fornecedor de serviços tem também por fundamento o dever de segurança (...). Mais do que possa parecer numa primeira visão, o campo de aplicação do Código, neste ponto, é muito vasto, abarcando, na área privada, um grande número de atividades, tais como os serviços prestados pelos estabelecimentos de ensino (...).

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido.

A jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo também tem caminhado no mesmo sentido, verbis:

“(...) o aluno fica sob a guarda e vigilância do estabelecimento de ensino, público ou privado, com direito de ser resguardo em sua incolumidade física enquanto estiver nas dependências da escola, respondendo os responsáveis pela empresa privada ou o Poder Público, nos casos de escola pública, por qualquer lesão que o aluno venha a sofrer, seja qual for a sua natureza, ainda que causada por terceiro. Fora das dependências da escola, em horário incompatível, inexiste qualquer possibilidade de se manter essa obrigação de resguardo”. (TJ de SP. Apelação Cível 41.419-5 – Fernandópolis. Terceira Câmara de Direito Público. Des. RUI STOCO, Julgado em 05.10.99).

Como é possível observar no Julgado anterior, nas situações em que o dano ocorrer em estabelecimento de ensino público, o Poder Público é que será responsável pela reparação desse agravo, respondendo, igualmente, de forma objetiva. Sublinhe-se que, por óbvio, essa é a regra sempre que se tratar de estabelecimentos estatais em que se preste serviço público, como bem explicado por Celso Antônio Bandeira de Mello, (2007, 971):

na hipótese de danos ligados a situação criada pelo Poder Público – mesmo que não seja o Estado o próprio autor do ato danoso -, entendemos que o fundamento da responsabilidade estatal é garantir uma equânime repartição dos ônus provenientes de atos ou efeitos lesivos, evitando que alguns suportem prejuízos ocorridos por ocasião ou por causa de atividade desempenhadas no interesse de todos. De conseguinte, seu fundamento é o princípio da igualdade, noção básica do Estado de Direito.

Dessa forma, o dano provocado por bullying havido no sistema carcerário e nas instituições militares, por exemplo, também deve ser reparado pelo Estado.

Relevante observar que, consoante a parte final do parágrafo 6º do artigo 37 da Constituição Federal, o Estado poderá ter ação de regresso contra seu(s) agente(s) se ficar comprovada a culpa ou dolo deste(s).

Art. 37. (...)

§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de

regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. (grifo da autora)

Saliente-se, ainda, a título de exemplo, que, quanto aos responsáveis pela reparação do dano provocado por meio da internet, a empresa desenvolvedora de serviços on-line também pode vir a ser responsabilizada, haja vista ser objetiva a responsabilidade dos fornecedores de serviços.

No documento O bullying e a ção civil por seus efeitos (páginas 32-38)

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