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O bullying e a ção civil por seus efeitos

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Academic year: 2018

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FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ZÉLIA MARIA FEITOSA LEITÃO LIMA

O BULLYING E A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL POR SEUS EFEITOS

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O BULLYING E A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL POR SEUS EFEITOS

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Área de concentração: Responsabilidade Civil.

Orientador: Prof. Dr. Regnoberto Marques de Melo Júnior.

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O BULLYING E A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL POR SEUS EFEITOS

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito em conformidade com os atos normativos do MEC e do Regulamento de Monografia Jurídica aprovado pelo Conselho Departamental da Faculdade de Direito da UFC. Área de concentração: Responsabilidade Civil.

Aprovada em: 06/02/2013

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Prof. Dr. Regnoberto Marques de Melo Júnior (Orientador)

Universidade Federal do Ceará - UFC

_________________________________________________

Prof. Ms. William Paiva Marques Júnior

Universidade Federal do Ceará - UFC

_________________________________________________

Ana Cecília Bezerra de Aguiar

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“Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar.”

Carlos Drummond de Andrade

“É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de espírito que nem gozam muito nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota.”

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Não apenas quero, mas tenho o dever de agradecer a Deus, cujo nome é Jeová (Êxodo, cap. 3, vs. 14 e 15), por ter conseguido concluir este trabalho e chegar até aqui. De fato, não imaginava quantos presentes eu viria a ganhar por ter-me esforçado e logrado êxito no disputado vestibular que a esta Universidade ter-me trouxe.

Fiz amizades valiosíssimas, conheci Professores excelentes, pude conviver em um ambiente em que muitos sabiam quem eu sou e meu nome. Por um caminho tortuoso, mas muito enriquecedor, pude agregar bastante conhecimento e, principalmente, amadurecer como ser humano. Não restam dúvidas de que esta época me fará imensa falta.

Agradeço ao meu Orientador, Professor Regnoberto Marques de Melo Júnior, pela paciência benevolente, pelas explicações minuciosas, pelo reforçado incentivo a prosseguir com o tema, pelo material disponibilizado, pela competência e por todos os valiosos ensinamentos transmitidos nas disciplinas.

Igualmente, manifesto minha gratidão ao Professor William Paiva Marques Júnior, do qual já ouvia meu irmão falar muito bem, pela prontidão e gentileza a mim prestadas. Gostaria de destacar o quão agradável foi conhecê-lo, por toda a inteligência e o carisma que possui.

Da mesma forma, sou bastante grata à Mestranda Ana Cecília Bezerra de Aguiar, por gentilmente ter aceitado meu convite e ter se disposto a me agraciar com sua presença na Banca Examinadora.

Jamais poderia deixar de mencionar Raíssa Lucena, Nice Aguiar e Eline Castro. Tais amigas são o que de mais valioso levarei desta Faculdade de Direito. O amigo César Gonçalves Filho também não pode ser esquecido. A ele serei sempre grata pelo importante apoio técnico prestado.

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continuar o orgulhando. À minha mãe, por todo o carinho, cuidado e ternura típicos da figura materna. É muito bom tê-la.

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Este trabalho visa a analisar o fenômeno bullying em todos os seus aspectos, tais

como as variações, o alcance, as possíveis causas, as formas, os protagonistas, as consequências para todos os envolvidos e a sua condição como provocador de danos morais e patrimoniais indiretos, sugerindo, por fim, meios para atenuar e, eventualmente, eliminar o problema.

Palavras-chave: Bullying. Cyberbullying. Bullying Prisional. Bullying Militar. Bullying

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This work aims to analyze the bullying phenomenon in all its aspects, such as variations, extent, possible causes, forms, protagonists, the consequences for all involved and its condition as moral and indirect patrimonial damages causer, suggesting, lastly, means for reducing and eventually eliminating the problem.

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1 INTRODUÇÃO ... 10

2 A HISTÓRIA DO FENÔMENO BULLYING E SUAS VARIAÇÕES ... 12

2.1 Histórico ... 12

2.2 Variações comuns da prática ... 14

3 OS ASPECTOS DO PROBLEMA ... 20

3.1 Alcance ... 20

3.2 Possíveis causas ... 22

3.3 Formas ... 24

3.4 Quem são os personagens ... 25

3.5 Consequencias para os envolvidos ... 27

4 A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL PELA PRÁTICA DE BULLYING ... 29

4.1 O bullying como provocador de danos ... 29

4.2 Os responsáveis pela reparação ... 32

4.3 As provas e os titulares da ação de reparação ... 38

4.4 Jurisprudência ... 40

5. AS SUGESTÕES DE SOLUÇÕES PARA A QUESTÃO ... 44

6.CONSIDERAÇÕES FINAIS...47

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1. INTRODUÇÃO

Brincadeiras, meras gozações. Durante muitos anos, é assim que foi tratado um problema que hoje tem alarmado, com razão, a sociedade. Trata-se do fenômeno conhecido mundialmente por bullying.

Recorrentes tragédias em instituições de ensino; aumento vertiginoso do número de pacientes em consultórios de psiquiatras e psicólogos apresentando quadros preocupantes resultantes da prática; crescente quantidade de demandas no Judiciário pleiteando indenização pelos prejuízos morais provocados pela submissão a tal comportamento. Esses são alguns dos principais motivos que suscitaram em especialistas de diversas áreas e em governantes o reconhecimento da relevância e da urgência em descobrir e aplicar medidas que solucionem a questão.

O verbo to bully, originário da língua inglesa, significa ameaçar,

amedrontar, intimidar. Como um adjetivo, significa brigão. (Dicionário de Inglês Online Michaelis, 2013). Para que possa ser identificado um cenário de bullying, é

necessário que haja as seguintes condições: reiteradas investidas contra a mesma vítima durante um certo período de tempo; ataques que se dêem sem qualquer razão que os fundamente; desigualdade de poder entre a vítima e seu(s) algoz(es), o que a impossibilita de se defender.

Conforme restará demonstrado neste trabalho, tal conduta vai de encontro ao Ordenamento Jurídico brasileiro e, por isso, precisa ser combatida. Ademais, necessário se mostra responsabilizar civilmente os agressores ou aqueles que tenham obrigação, por disposição legal, de responder pelo dano.

No primeiro capítulo, falar-se-á sobre a história do fenômeno, envolvendo aspectos como quando, onde e por quem começou a ser estudado, pesquisas realizadas e percentuais constatados. Por conseguinte, serão elencadas as principais variações do bullying atualmente existentes.

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formas como é praticado, quem são os protagonistas e quais são as consequências para eles.

O terceiro capítulo tratará da aplicação do instituto da Responsabilidade Civil nos casos de ocorrência de bullying. Será demonstrado que comumente

resultam danos morais e até patrimoniais indiretos para quem passa por tais situações e que, por isso, é patente a possibilidade de exigir reparação na esfera cível. Por fim, tratará de algumas jurisprudências relevantes envolvendo o tema.

Por derradeiro, no quarto capítulo, serão sugeridas ações que visem a remediar a questão, inclusive trazendo à baila algumas legislações já produzidas nesse sentido.

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2. DA HISTÓRIA DO FENÔMENO BULLYING E SUAS VARIAÇÕES 2.1 Histórico

Primeiramente, há de se destacar que o bullying, problema ao qual só há

relativamente pouco tempo passou a ser dada a devida atenção, é algo que sempre existiu. A natureza humana, repleta de falhas, mostra-se propensa a esse comportamento reprovável.

Segundo Lélio Braga Calhau (2011), o que move essas condutas é a sociedade exageradamente capitalista e individualista em que vivemos. De acordo com a opinião do autor, para muitas pessoas, o ser humano passou a representar meramente um meio para juntar dinheiro e adquirir bens, deturpando-se o significado da palavra “felicidade”. Adotou-se, em geral, a máxima de que “o mundo é dos espertos”.

O fenômeno começou a ser estudado no início da década de 1970. Na Suécia, a crescente violência nas escolas começava a chamar atenção. Na Noruega, onde o problema também já inspirava preocupação, o estopim para que se iniciasse a luta efetiva contra o bullying foi o suicídio cometido por três crianças, com

idades entre 10 e 14 anos, no final do ano de 1982. (BARBOSA, 2010).

O precursor dos estudos sobre o tema foi o pesquisador Dan Olweus, da Universidade de Bergen, na Noruega. Visando principalmente a descobrir qual era o percentual de incidência daquele comportamento e quais eram as maneiras como ele se dava nas escolas daquele país, desenvolveu um estudo em larga escala. Dele fizeram parte cerca de 84.000 estudantes, provenientes de todas as séries, aproximadamente 1.000 pais de discentes e quase 400 docentes. (BARBOSA, 2010).

Constatou-se que, de cada grupo de 7 educandos, 1 tinha participação em situações de bullying, ou sendo agressor, ou vítima. De posse desses dados

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diminuído pela metade, aproximadamente, o número de ocorrências dessa natureza. Daí em diante, irromperam em outros países, tais como Canadá, Portugal e Inglaterra, campanhas no mesmo sentido.

Nos Estados Unidos, é possível afirmar que o assunto é tratado como uma espécie de pandemia. O massacre havido no colégio Columbine High School,

no Colorado, em 1999, é um caso símbolo das proporções alcançadas por essa violência nas escolas americanas. Dois alunos daquela instituição de ensino a invadiram, matando diversas pessoas e, por fim, cometeram suicídio. As investigações apontaram a possível motivação do crime: vingança por terem sido, por muito tempo, excluídos pelos populares da escola. Estudiosos consideram esse caso a grande inspiração para os crimes semelhantes praticados desde então. Os americanos despertaram, pois, da pior forma possível para a problemática. (WIKIPEDIA, 2008).

Pesquisas recentes trazem a estimativa de que, de um conjunto de 100 crianças em idade escolar, 5 a 35 ou agem como agressoras, ou são vitimadas em seus ambientes educacionais. (BARBOSA, 2010).

Esse panorama ajuda a explicar o intenso trabalho atualmente em progresso em diversos países em prol do extermínio da prática.

No Brasil, a situação também é preocupante. A despeito disso, é bem mais recente a importância dada ao tema no País. Cleo Fante foi a pioneira em estudos e projetos envolvendo o bullying escolar, enquanto que Margarida Barreto

figura como grande responsável pelo início da análise do fenômeno no ambiente laboral. (CALHAU, 2011).

Outrossim, a partir de 2001, a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia) se dedicou à pesquisa, ao estudo e à divulgação do bullying. Tal ONG, fundada pelo pediatra Lauro Monteiro, já teve,

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Frise-se que o termo bullying, segundo Ana Beatriz Barbosa Silva (2010),

pode ser utilizado para designar toda forma de conduta cruel, agressiva, sistemática e proposital atinente às relações interpessoais. A palavra, portanto, não se refere apenas a esse tipo de ação nas escolas, apesar de comumente ser utilizada com esse sentido. A internet, o local de trabalho, as prisões e as instituições militares são exemplos de ambientes em que a prática é corriqueira. A ocorrência também é elevada no próprio meio familiar, na vizinhança e por razões homofóbicas, por exemplo.

2.2 Variações comuns da prática

Como dito, não é apenas no ambiente escolar que acontecem situações que configuram bullying. Em muitos outros meios, também se verifica essa forma de

atentado contra a dignidade humana.

O bullying havido no ambiente laboral é mais costumeiramente intitulado de assédio moral. Para denominá-lo, também é utilizada a palavra mobbing. Alice

Monteiro de Barros (2012) expõe algumas técnicas utilizadas para desestabilizar psicologicamente o trabalhador. Existem as “técnicas de isolamento”, segundo as quais, como o nome sugere, o alvo é isolado e deixado sem atividades para executar. Há também as “técnicas de ataque”, que se manifestam, por exemplo, na forma de injúrias, calúnias, difamações e disseminação de boatos envolvendo a vida privada do indivíduo. Podem também ser postas em prática pela atribuição de tarefas incompatíveis com a função da vítima ou pela designação de serviços com prazos insuficientes, visando à desqualificação da pessoa. Já com o uso das “técnicas punitivas”, o obreiro é posto sob pressão a todo momento, recebendo advertências e penalidades. Por fim, menciona várias “técnicas de relacionamento”, como interrupções, recriminações e gritos.

O assédio moral sucede entre membros de quaisquer níveis hierárquicos de uma empresa, repartição ou afim. O mobbing horizontal se perfaz entre colegas

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descendente ocorre quando parte de um superior hierárquico. O ascendente, por sua vez, se dá por iniciativa de subalterno(s).

Quanto ao bullying por meio da rede mundial de computadores, também chamado de cyberbullying, destaca-se o fato de muitos dos agressores não se

identificarem ou usarem nomes falsos. Utilizando-se de vários meios, como sites de

relacionamento, emails e blogs, os ofensores espalham boatos, divulgam imagens

comprometedoras e informações pessoais, insultam e difamam. Toda forma de artimanha é empregada, inclusive fazer-se passar pela vítima.

Agrava a situação o fato de esses conteúdos poderem, em pouquíssimo tempo, ser visualizados por milhares de pessoas. A velocidade com a qual as ofensas são difundidas pela internet é gigantesca. Fazendo-se, portanto, uma comparação com o bullying havido no mundo real, é como se a vítima, em

segundos, tivesse sido submetida a uma incomensurável quantidade de agressões em espaço público. (CALHAU, 2011). A prática resulta, consequentemente, em expressivo sofrimento emocional.

O agredido geralmente passa a apresentar forte estresse, insegurança, angústia e ansiedade. Os efeitos psicológicos chegam também a alcançar a família e até amigos do indivíduo, tamanha a repercussão do fato e a improbabilidade de se conseguir apagar totalmente da rede o conteúdo danoso.

O prejudicado deve apressar-se em reunir as provas do ato ilícito, antes que os vestígios da agressão sejam apagados. Pode fazê-lo pela impressão de todo o teor maledicente, seguida do arquivamento em pen-drive, DVD ou CD. De posse

dessas provas, não deve exitar em fazer um boletim de ocorrência. O Poder Judiciário, diante da apresentação de elementos probatórios, tem autorizado a quebra do sigilo de dados dos envolvidos a fim de que seja detectada a autoria dos ataques. Peritos em informática podem vir a obter êxito em identificar o(s) culpado(s) através do número de IP (internet protocol). Não obstante, esse é um procedimento

demorado e complexo.(CALHAU, 2011).

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meio. Descumprir qualquer dessas normas internas pode render ao preso humilhações, espancamentos, estupros, extorsões, coações, outras formas de ameaça e até a morte. (CALHAU,2011).

É fato que essas agressões também ocorrem mesmo sem que tenha havido qualquer desobediência a tais preceitos. O condenado à privação de sua liberdade já ingressa na instituição sendo recebido, em grande parte das vezes, com violência. O intuito principal é que se ajuste, de pronto, aos mandamentos próprios dos prisioneiros. A predominância de celas superlotadas é outro exemplo de justificativa para as crueldades verificadas no sistema prisional. (CALHAU, 2011).

Com a análise dessas circunstâncias, evidencia-se o fato de se estar diante de um ambiente que não assegura a integridade física e moral do ser humano.

Lélio Braga Calhau (2011) aduz que é comum o relato de casos em que, ao aproximar-se a data de soltura, presos passam a apresentar sintomas como forte aflição, inquietude e estresse. A situação é tão nociva, que o indivíduo passa a ter receio de não conseguir se readaptar à sociedade.

Em relação aos homossexuais, assevera-se que esses estão entre as principais vítimas de preconceito no mundo. Seja por motivos de ordem religiosa ou cultural, grande parte deles é tratada como verdadeiros marginais, libertinos e indolentes.

Essas pessoas estão constantemente sujeitas ao sofrimento, pois são alvos frequentes de chacotas, humilhações, perseguições, xingamentos e agressões físicas.

Cátia Brito dos Santos(2012) sustenta que, apesar de ser compreensível que, por convicções ou por motivações de crença religiosa, alguns indivíduos considerem erradas determinadas escolhas pessoais de outros, como a orientação sexual, é inaceitável que os pais não instruam seus filhos a respeitar e a tolerar a diversidade. Contudo, lamentavelmente, ainda tem sido essa a realidade.

É igualmente importante destacar o bullying havido nas instituições

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é tão séria que, em 2005, a BBC, rede de comunicação britânica, publicou em seu

site uma matéria intitulada “Military bullying – a global problem”(BBC NEWS, 2005). Em livre tradução, significa “Bullying militar – um problema global”. A reportagem

trouxe detalhes da prática em vários países.

Na Rússia, por exemplo, o tratamento violento de recrutas no serviço militar é tão endêmico, que lhe foi atribuído um nome específico: dedovschina.

Soldados veteranos são acusados de rotineiramente tratar os principiantes como escravos. Pesquisas apontam que, em 2004, 750 militares russos morreram fora de serviço, sendo 25% das mortes resultantes de suicídio e 13% diretamente resultantes da sujeição ao bullying. (BBC NEWS, 2005).

Uma lei tornando cerimônias de iniciação violentas uma infração penal foi aprovada em 1998, após uma série de escândalos envolvendo denúncias de abuso sexual e de violência nas academias de treinamento militar da França. (BBC NEWS, 2005)

No Reino Unido, uma pesquisa concluiu que o risco de bullying,

auto-mutilações, lesões e desistência do serviço nas Forças Armadas por recrutas em centros de treinamento é muito alto. Isso se dá, por exemplo, em razão de situações como a flagrada por um cinegrafista, em que um soldado pisava com sua bota no pescoço de um recruta. Mortes também são relatadas. (BBC NEWS, 2005).

Numa investigação feita pela revista Der Spiegel, da Alemanha,

apurou-se que recrutas eram forçados a encenar uma tomada de reféns, apurou-sendo encharcados de água, socados e eletrocutados. (BBC NEWS, 2005).

A matéria também informou que, nos Estados Unidos, apesar da política de tolerância zero adotada, o bullying nas Forças Armadas permanece, ao que tudo indica, generalizado, Naquele país, ritos de iniciação, como o mostrado em um vídeo em que membros da Marinha martelavam emblemas de metal no peitoral de recém-graduados na escola de paraquedismo, vieram à tona na década de 1990, provocando grande indignação. (BBC NEWS, 2005).

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superiores. Nessas espécies de “batismos”, havia, ainda, o emprego de ferros de passar, para provocar queimaduras, e de choques elétricos. (BBC NEWS, 2005).

Fica claro, portanto, o quão arraigados estão esses comportamentos nas organizações militares em todo o mundo, representando uma verdadeira tradição.

No meio familiar e na vizinhança, geralmente o bullying se dá pela

utilização de apelidos e de gozações. Também acontece na forma de humilhações sistemáticas e até de agressões físicas. Qualquer característica do indivíduo considerada diferente pelos demais já é capaz de provocar esses maus tratos.

Desentendimentos entre vizinhos, especialmente entre crianças e adolescentes, também resultam na exclusão da pessoa daquele grupo social. Em muitos dos casos, além de excluída, a vítima passa a ser constantemente atacada pelo uso de mentiras a seu respeito e de difamações.

Essa realidade passa a aterrorizar o alvo. Muitos dos agredidos sofrem pelo isolamento e até chegam a crer que o que está sendo dito a seu respeito é verdade e que, portanto, merecem a punição a que estão sendo submetidos.

Na família, um triste fato é que é comum que os ataques partam das pessoas mais próximas àquele ser humano, como pais e irmãos, justamente as que deveriam lhe proporcionar um ambiente doméstico feliz e prazeroso.

Por derradeiro, quanto aos ambientes em que o bullying é mais

recorrente, não se pode deixar de mencionar as escolas. Repletas de seres com personalidades em formação, tais instituições são meios férteis para esse tipo de conduta.

Pondere-se, contudo, que é preciso diferenciar o bullying das simples

brincadeiras próprias do ambiente escolar e das fases de infância e de juventude. É necessário verificar se estão presentes os critérios configuradores do bullying.

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Compreender tal diferença é mais fácil, por exemplo, ao analisar casos como o do aluno australiano Casey Heynes. Já havia anos que Casey ouvia ofensas diárias por estar acima do peso, cansado dos xingamentos e humilhações, o adolescente reagiu ao bullying que partia de um colega de classe, desferindo-lhe um

golpe.

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3. DOS ASPECTOS DO PROBLEMA 3.1 Alcance

Quanto à dimensão atingida pelo problema, pesquisas nacionais e internacionais revelam números alarmantes.

É o caso do estudo feito pelo Instituto de Ciência e Tecnologia de Manchester, na Inglaterra, o qual revelou que de um terço à metade das enfermidades causadas por estresse são originadas do assédio no trabalho. Também descobriu-se que um entre oito empregados no Reino Unido já sofreu essa forma de bullying, o que corresponde a três milhões de obreiros assediados. A

pesquisa constatou, por fim, que doze milhões de trabalhadores já haviam sido vítimas do mobbing na Europa.

Alice Monteiro de Barros(2012) afirma que o assédio moral é um fator de risco psicossocial apto a acarretar prejuízos à saúde do empregado, podendo, inclusive, ser avaliado como uma doença do trabalho.

Esse dano causado ao trabalhador finda por atingir também a empresa, tendo em vista que um empregado desmotivado é sinônimo de queda de rendimento, de perda de interesse e de aumento de distrações, ocasionando falhas no serviço. O ambiente laboral chega a se deteriorar e muitos dos funcionários vítimas acabam por pedir demissão.

Em trabalho elaborado em 2000, Margarida Barreto fez um importante levantamento de dados sobre o assédio moral no Brasil. O estudo denominado “Uma Jornada de humilhações” destacou, dentre outros aspectos, que o terror ou a pressão psicológica representam o método mais comum da prática, objetivando desestruturar a vítima. Também mostrou quem eram os mais frequentemente atingidos: operadores de call centers, bancários, profissionais de saúde, de comunicação e de educação.(BARRETO, 2003).

Da mesma forma, observa-se que o workplacebullying é corriqueiro em

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efetivos. Alguns destes últimos tendem a tratar aqueles prestadores de serviço com superioridade e arrogância.

Diversos países, incluindo Suécia, Bélgica e França, já editaram normas sobre o tema. O Brasil, por sua vez, possui alguns municípios e estados que já aprovaram leis a esse respeito.

Em relação ao bullying homofóbico, chamam atenção as estatísticas em

artigos publicados pela Fundação Perseu Abramo.

O texto “Homofobia no Brasil estatística de guerra”(RAFAEL, 2012) traz elementos de uma pesquisa feita pelo Grupo Gay da Bahia (GGB). A Organização apurou que, a cada intervalo de 28 horas, uma pessoa homossexual é assassinada no País. Especialistas concluíram que a maior parte dessas mortes está diretamente ligada à homofobia.

A matéria “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil Intolerância e respeito às diferenças sexuais” (VENTURI, 2010) apresenta pesquisa que aponta

que o preconceito contra homossexuais, seja ele assumido ou velado, é identificado em 99% da população.

Segundo enquete realizada pela ONG SaferNET, da qual participaram 510 crianças e adolescentes brasileiros, 46% desses jovens asseguraram já ter sido vítimas de violência na internet pelo menos uma vez, e 34,8% disseram que isso ocorreu mais de duas vezes.(BALSEMÃO, 2008).

Também se destacam, a título de exemplo, os resultados das investigações a respeito do bullying escolar.

A OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) realizou pesquisa internacional, divulgada em 2009, na qual descobriu-se que 1 em cada 10 crianças ou adolescentes são vítimas de bullying no mundo, sendo algo

mais freqüente entre meninos.(GOMES, 2011).

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xingamentos; 15%, de humilhações; 8%, de agressões físicas e 5%, de ameaças. (GOMES, 2011).

Essa organização não governamental também verificou que as instituições de ensino ainda estão despreparadas para impedir o avanço do problema e para orientar os alunos quanto à distinção entre as brincadeiras e o

bullying e quanto à nocividade da prática.

O Instituto SM para a Educação (ISME) apresentou, em 2006, os resultados da pesquisa realizada no México, na Espanha, no Brasil, no Chile e na Argentina. Segundo o estudo, realizado em escolas particulares e públicas, o Brasil foi o país em que se verificou a maior incidência. (CALHAU, 2011).

A Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia) confirmou que os atos de bullying são muito mais constantes

no interior da escola de que no percurso até ela. Em pesquisa detectou os locais em que o bullying escolar é mais frequente: sala de aula (60,2%), recreio (16,1%),

portão (15,9%) e corredores (7,8%). (SILVA, 2010).

Lélio Braga Calhau (2011) conclui que, dentre outras conseqüências prejudiciais, o bullying provoca a dispersão dos colegas e, por conseguinte, a divisão

da classe.

3.2 Possíveis causas

Não é possível atribuir apenas uma explicação para a existência desses comportamentos.

No entanto, depreende-se que, em grande parte dos casos, a origem se dá no próprio lar, primeiro meio de convivência social.

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As maiores vítimas dessas instabilidades são as crianças e os adolescentes, pois ainda estão em processo de formação da personalidade. Para ilustrar, é como se o caráter de cada um ainda equivalesse a uma página em branco. Além disso, é nessas fases que o cérebro sofre profundas mudanças químicas e estruturais.

É fato que, em vários lares, ainda é semeada uma cultura individualista, intolerante, capitalista e patriarcal. O preconceito quanto à raça, ao credo, à idade, à classe social, dentre outros, apesar de ser reprovado perante a sociedade, frequentemente é estimulado em casa, com comentários pejorativos.

O atual praticante de bullying, inclusive, pode ter vindo a desenvolver tal comportamento em razão de ter sido submetido a essa mesma forma de violência pelos próprios familiares.

Outrossim, pais excessivamente permissivos e protetores também têm, ainda que involuntariamente, alimentado tais atitudes. Essa falta de limites é um fomento para atrevimentos e rebeldias. Filhos que raramente são repreendidos tendem a achar que tudo podem.

Por causa de longas jornadas de trabalho ou de simples desleixo, alguns pais incorrem em omissão, deixando de exercer adequadamente o poder familiar, conforme preceitua o artigo 1634 do Código Civil:

Art. 1634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:: I – dirigir-lhes a criação e educação;

(...)

VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.

Utilizando-se dessas e de outras alegações, os pais, por vezes, querem atribuir às escolas toda a formação educacional de seus filhos. Isso, por óbvio, prejudica a atuação da instituição de ensino, pois o correto seria que o esforço partisse de ambos os lados.

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Some-se a esses fatores o alto índice de pessoas que silenciam quanto às agressões que sofrem ou presenciam. O agredido teme que a violência venha a se repetir e tem vergonha da humilhação pública sofrida. Ademais, é comum a vítima acreditar que teve culpa pelo que aconteceu. Quem testemunha, por sua vez, normalmente não revela o ocorrido por receio de se tornar o próximo alvo. Diante desse quadro, o ofensor crê que continuará encoberto pela impunidade.

Em específica referência ao mobbing, CALHAU (2011) menciona o

sistema de exploração selvagem da mão de obra no capitalismo, o enfraquecimento do movimento sindical, a flexibilização do trabalho, a crise econômica e os abusos nos processos de terceirizações como facilitadores do assédio.

Da mesma forma, é sabido que a essência do bullying militar, segundo a

mentalidade dos agressores, é fazer o novato passar por aquelas situações para que seja doutrinado conforme os valores daquela instituição, que incluem hierarquia e disciplina.

É possível também apontar, quanto ao bullying prisional, alguns

elementos que o estimulam. São exemplos a necessidade de comando e de poder que os presos manifestam e a tensão provocada pelas superlotações.

3.3 Formas

O bullying, que, repise-se, é identificado por ataques constantes contra a mesma

pessoa por um período; desigualdade de poder, dificultando a defesa da vítima e falta de razões que justifiquem as acometidas, pode ser praticado de várias formas.

Ana Beatriz Barbosa Silva (2010) esclarece que raramente o agredido é sujeito a apenas um tipo de maus-tratos e elenca os métodos possíveis.

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abrange condutas como irritar, humilhar, ridicularizar, isolar, ignorar, discriminar, ameaçar, tiranizar, perseguir e difamar; o meio sexual, com comportamentos como abusar, assediar, violentar e insinuar, e, finalmente, o meio virtual.23

Ademais, o bullying pode se dar tanto entre pessoas do mesmo nível,

como colegas de trabalho ou colegas de sala de aula, quanto entre indivíduos de níveis diferentes, como entre chefe e subordinado ou entre professor e aluno. Àquele é dado o nome de bullying horizontal, e a este, de bullying vertical. O bullying

vertical pode ainda ser subdividido em ascendente ou descendente, à medida que provenha, respectivamente, de indivíduos ocupantes de mais alta ou de mais baixa posição hierárquica.

Quanto ao comportamento de meninos e meninas na escola, é possível afirmar que, geralmente, utilizam-se de tipos de agressões distintos. Os garotos costumam agir valendo-se da força física e dos ataques verbais diretos. Já entre garotas, é mais comum o uso de ataques morais como fofocas, mentiras, apelidos e complôs. Necessário observar, todavia, que qualquer dessas maneiras é capaz de provocar grande sofrimento.

Alice Monteiro de Barros (2012) afirma que, no local de trabalho, porém, é comum acontecer o oposto: o assediador costuma adotar comportamentos mais passivos, isolando a vítima, enquanto a assediadora tem por hábito utilizar-se de murmúrios e insinuações, embora os homens também o façam.

3.4 Quem são os personagens

De um cenário de bullying fazem parte vítimas, agressores e

espectadores, cada qual com suas peculiaridades.

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A vítima típica geralmente é escolhida por não fazer parte dos padrões aprovados pelos demais. É considerada diferente, por exemplo, pela aparência ou pelo comportamento que tem. Normalmente, é reservada e não consegue reagir às agressões e provocações que sofre. Muitas vezes, é também visivelmente insegura, submissa e ansiosa, o que faz ela se destacar como presa fácil.

A vítima pode ser eleita, todavia, apenas por apresentar bons resultados em suas atividades. Muitos agressores agem movidos pelo sentimento de inveja.

A vítima provocadora, por sua vez, costuma ser hiperativa, impulsiva e até mesmo imatura. Por isso, finda por criar, mesmo sem intenção, um ambiente tenso, tornando-se capaz de provocar nos outros reações hostis contra si.

Por fim, existe a vítima agressora. Para sentir-se recompensada por todas as agressões já sofridas, ela busca fazer o mesmo contra outra pessoa, cujo perfil geralmente é de alguém ainda mais frágil e desprotegido.

O agressor, usualmente, é um indivíduo maldoso e sem consideração por seu(s) alvo(s). Costuma dispor de um poder de comando sobre outro, seja devido à força física que possui, seja pelo forte assédio psicológico que exerce. Por isso, é habitual que aja em bando, apesar de também agir desacompanhado. Muitos dos agressores, mesmo estando conscientes de que causam sofrimento com suas atitudes, não se arrependem do que fazem.

Quanto aos espectadores, existem o espectador passivo, o espectador ativo e o espectador neutro. Eles testemunham a violência, mas poucos tomam a iniciativa de denunciar o ocorrido. Isso ocorre por variados motivos, e é aí que reside a diferenciação entre os tipos de espectador.

O espectador passivo o é por temor de sofrer represálias, tornando-se mais um alvo dos bullies, nome dado a quem pratica os atos de bullying.

Espectadores passivos não têm por hábito aprovar as agressões que presenciam, mas, como dito, sentem-se impossibilitados de tomar alguma providência.

Já em relação ao espectador ativo, este recebe essa denominação porque, ainda que não ataque diretamente a vítima, demonstra apoio moral aos

(27)

responsável por tramar as acometidas esteja camuflado entre esses espectadores. (SILVA, 2010).

O espectador neutro, finalmente, é aquele que não esboça nenhum sentimento ao testemunhar cenas de bullying. Geralmente isso acontece porque

esse espectador já convive em ambientes onde o desequilíbrio e a violência são corriqueiros. Dessa forma, passa a observar esse tipo de situação com naturalidade.

3.5 Consequências para os envolvidos

O bullying tem sido causa de diversos problemas para os envolvidos.

Problemas, inclusive, em vários setores da vida.

Quanto à saúde, Ana Beatriz Barbosa Silva(2010) lista os resultados mais comuns com que se depara em consultório.

Muitas vezes, transtornos psíquicos desencadeiam uma série de reações físicas, às quais se dá o nome de sintomas psicossomáticos. Dor de cabeça, cansaço crônico, insônia, náuseas, diarréia, palpitações, alergias, crises de asma, desmaio, entre outros, têm sido sintomas freqüentes em pacientes vítimas de

bullying.

São também citados casos de Transtorno do Pânico; fobia escolar; fobia social (Transtorno de Ansiedade Social – TAS); Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG); depressão; anorexia; bulimia; Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC); Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) e até casos de esquizofrenia, suicídio e homicídio.

(28)

Importante destacar que algumas das vítimas se mostram resilientes aos ataques. Muitas outras, porém, são acompanhadas por traumas por toda a vida.

O convívio social da vítima também é bastante afetado, pois ela, em geral, sofre prejuízos em sua qualidade de vida e em sua produtividade. Além disso, comumente passa a ter dificuldades nas relações interpessoais, o que pode atrapalhá-la até na constituição de uma família e na criação dada à prole.

Cátia Brito dos Santos(2012) assevera que as vítimas de bullying não são

as únicas a sofrerem consequências. Os agressores, as testemunhas e as pessoas mais próximas à vítima, como os familiares, também vivenciam efeitos.

Aqueles que compõem o círculo íntimo de convivência do agredido experimentam a dor de ver um dos seus sendo submetido a esses constrangimentos.

Da mesma forma, as testemunhas, mesmo que indiretamente, sentem mudanças à sua volta. Frequentar um ambiente tenso e desajustado é estar mais propenso a desenvolver problemas emocionais e de convívio.

(29)

4. DA RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL PELA PRÁTICA DE BULLYING

4.1 O bullying como provocador de danos

A sujeição ao bullying, como observado, tem sido causa de profundos

estragos em diversas esferas da vida dos atingidos.

Representa, por conseguinte, violação a direitos de outrem, merecendo a aplicação de medidas de responsabilidade civil.

Inicialmente, note-se que o Princípio da dignidade da pessoa humana, elencado no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal Brasileira de 1988 como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, é claramente desrespeitado quando da ocorrência da prática. É o que se depreende do conceito dado por Ingo Wolfgang Sarlet(2007, p. 62), verbis:

[...] temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

Muitos direitos da personalidade, listados de forma não exaustiva no Código Civil Brasileiro de 2002 e destinados a proteger a dignidade humana, também são, por consequência, lesados. Para essas situações, está previsto no Código Civil:

(30)

A própria Constituição Federal, no artigo 5º, inciso V, já assegura tal reparação:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

Ademais, a Carta Magna deixa explícita a colisão de seus preceitos com o fenômeno bullying, verbis:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

(...)

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Art. 5º (...)

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

(...)

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Nº 8.069 de 1990, por sua vez, exige a proteção integral aos menores, com a prevalência constante de seus interesses. É manifesto, portanto, que o bullying caracteriza um ato ilícito, conforme

(31)

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Maria Helena Diniz, (2010, p. 35) descreve a Responsabilidade Civil da seguinte maneira:

A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.

Considerando-se que o dano moral se conceitua pelo agravo a interesses não patrimoniais causado por fato lesivo, fica clara a probabilidade de que, de uma situação em que ocorra o bullying, resultem danos morais. Mais especificamente,

danos morais diretos, os quais representam lesões a interesses que visam à satisfação ou ao gozo de um bem jurídico extrapatrimonial compreendido nos direitos da personalidade, como a integridade física e psíquica, intelectual e moral, a honra, a intimidade e a imagem, ou nos atributos da pessoa, como o nome e a capacidade.

Em relação à reparação do dano extrapatrimonial, Carlos Roberto Gonçalves(2011, p. 397) afirma que:

[...] a sua reparação se faz através de uma compensação, e não de um ressarcimento; impondo ao ofensor a obrigação de pagamento de uma certa quantia de dinheiro em favor do ofendido, ao mesmo tempo que agrava o patrimônio daquele, proporciona a este uma reparação satisfativa.

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para a vítima e punitiva para o agressor, além de desestimulá-lo a reincidir na prática.

O juiz levará em conta, segundo GONÇALVES (2011, p. 399): “[...] as circunstâncias do caso, a gravidade do dano, a situação do ofensor, a condição do lesado, preponderando, em nível de orientação central, a ideia de sancionamento ao lesado (punitivedamages).”

Quanto ao dano material, este se substancia pela lesão ao patrimônio, traduzindo-se na perda ou ruína, em parte ou completa, dos bens materiais da vítima. É passível, assim sendo, de apreciação monetária e de ressarcimento pelo responsável. Engloba o dano emergente e o lucro cessante.

Existe ainda o dano material indireto, o qual é aquele que, após afetar interesses jurídicos extrapatrimoniais do atingido, provoca, mediatamente, prejuízos patrimoniais a ele. Em vista desse conceito, é igualmente viável que, de circunstâncias em que haja bullying, também advenham danos dessa natureza.

Um exemplo são as despesas que podem surgir com o custeio de tratamentos médicos ou psicológicos, devido aos traumas e sofrimentos. Outra possibilidade é a de as reiteradas ofensas à imagem, à honra, ao nome, à intimidade ou à liberdade sexual, além de provocarem dano moral, também produzirem dano patrimonial indireto, se vierem a impedir ou a dificultar a atividade profissional da vítima, prejudicando seus negócios ou seu renome.

Trata-se, portanto, de dano moral que gera efeitos negativos à economia do lesado. Para tais efeitos, deve haver a reparação por equivalente, conforme ensina DINIZ (2010, p. 135): “Pela indenização, não se repõe na forma específica o bem lesado, mas se compensa o menoscabo patrimonial sofrido em razão do dano, restabelecendo o equilíbrio patrimonial em função do valor que representa o prejuízo.”

(33)

O caput do artigo 927 do Código Civil assim determina:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Primeiramente, há de se frisar que os atos ilícitos cometidos por menores de 18 anos provocam a responsabilização objetiva da pessoa a quem compete sua vigilância. Basta, portanto, que haja o nexo de causalidade entre o agravo experimentado pela vítima e a ação do menor, para que o responsável por ele tenha a obrigação de indenizar.

Nessa direção, estabelece o Código Civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente,

ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados

pelos terceiros ali referidos [grifo da autora]

Ademais, deverão ser responsabilizados todos os provocadores do dano. Portanto, se mais de uma pessoa tiver concorrido para a produção do prejuízo a outrem (coautoria ou cumplicidade no fato lesivo), todas, além, quando for o caso, daquelas elencadas no artigo 932 do Código Civil, responderão solidariamente. Nesse sentido, o artigo 942 desse Código:

(34)

Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os

co-autores e as pessoas designadas no art. 932. [grifo da autora]

Evidencia-se, dessa forma, a existência da responsabilidade direta e da responsabilidade indireta. Na direta, responde-se por fato próprio, enquanto que, na indireta, responde-se por fato alheio ou por fato de animais ou de coisas inanimadas os quais estejam sob sua guarda.

Os responsáveis por fato de terceiro estão listados no artigo 932 do Código Civil:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;

III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;

V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.

Como já observado no artigo 933, todos os responsáveis do artigo anterior responderão objetivamente, conforme exposto por DINIZ (2011, p. 532):

(35)

No que se refere ao menor praticante de bullying, a definição do

responsável pelo dano por ele causado dependerá de onde e das circunstâncias em que este tenha ocorrido.

Se esse menor de 18 anos estiver sob a autoridade e em companhia de seus pais, e estes se encontrarem no exercício do poder familiar, serão essas as pessoas responsáveis por reparar os prejuízos provocados.

Por causa do princípio da solidariedade familiar, presente no artigo 934 do CC, esses pais não terão direito a uma ação regressiva em face do filho do que tiverem pagado ao ofendido:

Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano

for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz. [grifo da

autora].

Ainda quanto aos pais, mostra-se pertinente o Enunciado nº 41, aprovado nas Jornadas de Direito Civil do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal:

41 – Art. 928: A única hipótese em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18 anos com seus pais é ter sido emancipado nos termos do art. 5º, parágrafo único, inc. I, do novo Código Civil.

(36)

Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.

Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

Na hipótese de o menor provocar o dano durante o período em que os funcionários do estabelecimento de ensino privado em que seja aluno devam estar sobre ele exercendo vigilância e autoridade, o dono desse local é quem deverá responder objetiva e solidariamente, conforme já demonstrado nos artigos 933 e 942, parágrafo único, do CC. Essa responsabilidade também atinge o diretor e os professores, e isso se dá em virtude de ser um risco inerente à atividade profissional e de haver a determinação legal.

Também é possível utilizar o Código de Defesa de Consumidor para justificar a responsabilidade objetiva nesses casos. É o que se depreende dos ensinamentos de Sérgio Cavalieri Filho (2012, p. 481):

O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em conta as circunstâncias relevantes, tais como o modo do seu funcionamento, o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam e a época em que foi fornecido (art. 14, §1º, do CDC). Como se vê, a responsabilidade do fornecedor de serviços tem também por fundamento o dever de segurança (...). Mais do que possa parecer numa primeira visão, o campo de aplicação do Código, neste ponto, é muito vasto, abarcando, na área privada, um grande número de atividades, tais como os serviços prestados pelos estabelecimentos de ensino (...).

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

(37)

A jurisprudência do Tribunal de Justiça de São Paulo também tem caminhado no mesmo sentido, verbis:

“(...) o aluno fica sob a guarda e vigilância do estabelecimento de ensino, público ou privado, com direito de ser resguardo em sua incolumidade física enquanto estiver nas dependências da escola, respondendo os responsáveis pela empresa privada ou o Poder Público, nos casos de escola pública, por qualquer lesão que o aluno venha a sofrer, seja qual for a sua natureza, ainda que causada por terceiro. Fora das dependências da escola, em horário incompatível, inexiste qualquer possibilidade de se manter essa obrigação de resguardo”. (TJ de SP. Apelação Cível 41.419-5 – Fernandópolis. Terceira Câmara de Direito Público. Des. RUI STOCO, Julgado em 05.10.99).

Como é possível observar no Julgado anterior, nas situações em que o dano ocorrer em estabelecimento de ensino público, o Poder Público é que será responsável pela reparação desse agravo, respondendo, igualmente, de forma objetiva. Sublinhe-se que, por óbvio, essa é a regra sempre que se tratar de estabelecimentos estatais em que se preste serviço público, como bem explicado por Celso Antônio Bandeira de Mello, (2007, 971):

na hipótese de danos ligados a situação criada pelo Poder Público – mesmo que não seja o Estado o próprio autor do ato danoso -, entendemos que o fundamento da responsabilidade estatal é garantir uma equânime repartição dos ônus provenientes de atos ou efeitos lesivos, evitando que alguns suportem prejuízos ocorridos por ocasião ou por causa de atividade desempenhadas no interesse de todos. De conseguinte, seu fundamento é o princípio da igualdade, noção básica do Estado de Direito.

Dessa forma, o dano provocado por bullying havido no sistema carcerário

e nas instituições militares, por exemplo, também deve ser reparado pelo Estado. Relevante observar que, consoante a parte final do parágrafo 6º do artigo 37 da Constituição Federal, o Estado poderá ter ação de regresso contra seu(s) agente(s) se ficar comprovada a culpa ou dolo deste(s).

Art. 37. (...)

(38)

regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. (grifo da autora)

Saliente-se, ainda, a título de exemplo, que, quanto aos responsáveis pela reparação do dano provocado por meio da internet, a empresa desenvolvedora de serviços on-line também pode vir a ser responsabilizada, haja vista ser objetiva a

responsabilidade dos fornecedores de serviços.

4.3 As provas e os titulares da ação de reparação

Para que se configure a responsabilidade civil, é necessária a presença mínima de três pressupostos básicos. O primeiro deles é a ação, seja ela comissiva ou omissiva, ato lícito ou ilícito, sendo voluntária e objetivamente imputável. O segundo é o dano à vítima, podendo ser moral, patrimonial ou estético. O terceiro é o nexo de causalidade entre a ação e o dano, ou seja, a constatação de que o dano experimentado pela vítima resultou da conduta da outra pessoa, de terceiro por quem ela responde, ou até de animal ou de coisa a ela vinculada. Quanto a esse último pressuposto, portanto, devem inexistir causas excludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito, a força maior, a culpa exclusiva da vítima e a culpa de terceiro.

No que diz respeito ao nexo causal, o ônus da prova cabe ao autor da demanda. Em relação à comprovação do dano, são necessárias algumas observações.

(39)

Dessarte, não será um mero dissabor do dia-a-dia bastante para que surja a obrigação de reparar.

No tocante à prova do dano moral, pontifica DINIZ (2010, p. 111): “O dano moral pode ser demonstrado por todos os meios de prova admitidos em direito, inclusive pelas presunções estabelecidas para determinadas pessoas da família da vítima.”.

CALHAU (2011, p.57), dá valiosas instruções para pais que desejam reunir provas das perseguições a seus filhos:

Se ele foi agredido fisicamente, tire fotos e o leve a um médico para que seja examinado e um laudo com as descrições seja emitido. Lesões muito leves desaparecem em pouco tempo e caso haja necessidade de acionar a polícia ou a Justiça, elas podem desaparecer. Se o seu filho recebeu “torpedos”, mensagens com agressões pelo telefone celular, tire fotos destas ou as imprima e não as apague, pois o celular pode ser objeto, eventualmente, de uma futura perícia judicial ou policial. Se as agressões ocorreram pela internet (por exemplo: Orkut, MSN, Facebook, Twitter etc.) salve as páginas no seu computador imediatamente.

O autor também afirma que: “Bilhetes, fotografias, depoimento de testemunhas, cópias de boletins de ocorrência etc. podem ser utilizados para se provar o bullying em juízo”.

No que tange à titularidade da ação ressarcitória de danos advindos de

bullying, pode-se falar em lesados diretos e indiretos. O lesado direto é o próprio

ofendido, o qual virá a pleitear judicialmente a reparação por intermédio de um representante legal no caso de carecer de capacidade processual. O lesado indireto é aquele que também teve prejuízos, patrimoniais e/ou extrapatrimoniais, com o(s) dano(s) sofrido(s) pelo agredido.

(40)

Ter-se-á sempre uma presunção juris tantum de dano moral, em favor dos ascendentes, descendentes, cônjuges, companheiros (Enunciado n. 275 do CJF, aprovado na IV Jornada de Direito Civil), irmãos, inclusive de criação (RT, 791:248), em caso de ofensa a pessoas da família. Essas pessoas não precisariam provar o dano extrapatrimonial, ressalvando-se a terceiros o direito de elidirem aquela presunção. Os demais parentes, amante (sendo impuro o concubinato) noiva (RT, 790:438), amigos, poderiam pleitear indenização por dano moral, mas terão maior ônus de prova, uma vez que deverão provar, convincentemente, o prejuízo, como consequência direta da perda sofrida, e demonstrar que se ligavam à vítima por vínculos estreitos de amizade ou de insuspeita afeição.

4.4 Jurisprudência

Já existem julgados relevantes envolvendo a temática, embora em muitos deles ainda não haja a utilização do termo específico bullying.

Em relação ao ambiente laboral, observe-se o exame feito pelo Tribunal Superior do Trabalho do seguinte Recurso de Revista:

(41)

No tocante ao bullying militar, atente-se para o fato de que, embora, em

grande parte por força de denúncias feitas pela mídia, já haja condenações de agressores, ainda há muito que se evoluir por parte do Poder Judiciário Militar, pois muitos comportamentos ainda são vistos como normais e até mesmo inerentes ao serviço militar. Isso é constatado, por exemplo, no julgado do Superior Tribunal Militar adiante:

STM. Acórdão. Núm: 2001.01.048716-6 UF: CE Decisão: 21/08/2001. Processo Apelfo – Apelação (FO) Cód. 40. Publicação. Data da Publicação: 31/10/2001 Volume: 07401-15 Veículo: DF. Ementa: Apelação – Direito penal militar – Constrangimento ilegal – Corredor polonês – Absolvição – Não configura o crime de constrangimento ilegal a atitude do cabo que organiza um corredor polonês e faz por ele passar um soldado, em evidente espírito de brincadeira – Ausência de dolo – Negado provimento ao recurso – decisão majoritária. Ministro Relator: Sergio Xavier Ferolla. Ministro Revisor: Flavio Flores da Cunha Bierrenbach. Referência Legislativa. Dec. – Lei nº 1001/69, COM, art. 222.

O Supremo Tribunal Federal, quanto aos presos, já pacificou que o Estado é objetivamente responsável por zelar por sua integridade física. Afirme-se que, por consequência, também é responsável pela integridade moral do indivíduo que esteja sob sua custódia. Note-se adiante o que se verifica em decisão de agravo regimental:

EMENTA: Agravo regimental em agravo de instrumento. 2. Morte de preso

no interior de estabelecimento prisional. 3. Indenização por danos morais e materiais. Cabimento. 4. Responsabilidade Objetiva do Estado. Art. 37, §6º, da Constituição Federal. Teoria do risco administrativo. Missão do Estado de zelar pela integridade física do preso. 5. Pensão fixada. Hipótese excepcional em que se permite a vinculação ao salário mínimo. Precedentes. 6. Agravo regimental a que se nega provimento. (AI 577.908 – AgR / GO. Relator: Min. Gilmar Mendes. 2ª Turma. Julgado em 30/09/2008).

O bullying através da internet também já foi contemplado pela Suprema

(42)

Cuida-se de Agravo em Recurso Extraordinário contra acórdão que manteve, em sede de recurso inominado, sentença de mérito de procedência da ação originária, para condenar a Google ao pagamento de indenização por danos morais sofridos pela Recorrida, em virtude da criação, por terceiros, de conteúdo considerado ofensivo no sítio eletrônico de relacionamentos Orkut. O ora Agravante foi condenado, ainda, a remover a página reputada ofensiva da rede mundial de computadores. Seguem trechos do voto vencedor, no decisum impugnado: Preliminarmente alega a recorrente a sua ilegitimidade passiva quanto ao pedido de indenização feito pela recorrida, alegando que a página considerada ofensiva não foi criada pela recorrente e o conteúdo ali inserido é de responsabilidade do criador do perfil ou da comunidade, não podendo responder pela pretensão indenizatória. Não há como prosperar a preliminar alegada pela recorrente, pois o prestador de serviço de um site de relacionamento que permite a publicação de mensagens na internet, sem que haja um efetivo controle, ainda que mínimo, ou dispositivos de segurança para evitar que conteúdos agressivos sejam veiculados, sem ao menos possibilitar a identificação do responsável pela publicação, deve responsabilizar-se pelos riscos inerentes a tal empreendimento. Observe-se que a responsabilidade neste caso é apurada de forma objetiva, tendo em vista a incidência do Código de Defesa do Consumidor. (ARE 660861RG/MG – Minas Gerais. Relator: Min. Luiz Fux. STF. Julgado em 22/03/2012)

Em seguida, mais uma importante decisão sobre bullying escolar, em que

é reafirmada a responsabilidade do Estado em escola pública:

Ementa: INDENIZATÓRIA - Palestra proferida em escola pública, em que o palestrante se refere ao homossexualismo como "maldição", equiparando-o ao uso de entorpecentes e à violência - Constrangimento provocado ao autor, aluno da escola, que se encontrava assistindo à palestra - Responsabilidade do Estado pelo conteúdo da palestra - Indenização que não se mostra excessiva em face à gravidade do fato - Recurso da Fazenda e reexame necessário não providos. (Apelação 9173172-83.2007.8.26.0000. Relator: Desembargador Mauro Iuji Fukumoto. TJ – SP. Julgado em 13/05/2011).

Por fim, parte de ementa de decisão recente do STF que proporcionou significantes avanços para membros de uniões homoafetivas:

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DELES. A PROIBIÇÃO DO PRECONCEITO COMO CAPÍTULO DO CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. HOMENAGEM AO PLURALISMO COMO VALOR SÓCIO-POLÍTICO-CULTURAL. LIBERDADE PARA DISPOR DA PRÓPRIA SEXUALIDADE, INSERIDA NA CATEGORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO INDIVÍDUO, EXPRESSÃO QUE É DA AUTONOMIA DE VONTADE. DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA. CLÁUSULA PÉTREA. O sexo das pessoas, salvo disposição constitucional expressa ou implícita em sentido contrário, não se presta como fator de desigualação jurídica. Proibição de preconceito, à luz do inciso IV do art. 3º da Constituição Federal, por colidir frontalmente com o objetivo constitucional de “promover o bem de todos”. Silêncio normativo da Carta Magna a respeito do concreto uso do sexo dos indivíduos como saque da kelseniana “norma geral negativa”, segundo a qual “o que não estiver juridicamente proibido, ou obrigado, está juridicamente permitido”. Reconhecimento do direito à preferência sexual como direta emanação do princípio da “dignidade

da pessoa humana”: direito a auto-estima no mais elevado ponto da

consciência do indivíduo. Direito à busca da felicidade. Salto normativo da proibição do preconceito para a proclamação do direito à liberdade sexual. O concreto uso da sexualidade faz parte da autonomia da vontade das pessoas naturais. Empírico uso da sexualidade nos planos da intimidade e da privacidade constitucionalmente tuteladas. Autonomia da vontade. Cláusula pétrea.

(...) (ADPF 132, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 05/05/2011, DJe-198 DIVULG 13-10-2011 PUBLIC 14-10-2011 EMENT VOL-02607-01 PP-00001) [grifo da autora].

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5. DAS SUGESTÕES DE SOLUÇÕES PARA A QUESTÃO

Para que se possa combater esse grande mal da atualidade, é preciso que, antes de qualquer coisa, se saiba com propriedade o que ele significa e tudo o que provoca. Muitas pessoas ainda desconhecem o problema, enquanto outras o menosprezam.

Superada essa etapa, é necessário preparar-se de forma adequada para agir. Reações impróprias podem vir, inclusive, a agravar os efeitos, dado o estado de fragilidade emocional em que a vítima geralmente se encontra.

Uma medida essencial é enfrentar a questão desde o seu início. Como constatado, muitas vezes a prática germina já no seio familiar. Os pais devem, portanto, policiar-se quanto ao próprio proceder, pois tanto podem estar praticando

bullying contra os filhos, quanto podem estar sendo demasiadamente permissivos

em relação ao comportamento destes, raramente ou nunca os advertindo. Também devem dar maior importância a uma criação baseada no respeito às diversidades e estar vigilantes quanto às emoções daqueles, pois podem descobrir pistas do que esteja acontecendo.

Levando-se em conta que a escola é um dos primeiros e mais importantes meios de formação da personalidade e de relações sociais, é imperioso que os profissionais da educação façam dela um lugar saudável e saibam orientar adequadamente seus alunos para um convívio harmonioso. Como, porém, a instituição de ensino não é o único ambiente freqüentado pelo educando, esta também precisa estar corretamente preparada para enfrentar o problema. O ideal, inclusive, é que trabalhe em parceria com os pais.

(45)

Um enfrentamento eficaz na escola pode se dar pela ampliação da discussão do problema, sempre mobilizando profissionais e alunos nas campanhas. Em alguns casos, o agressor nem tem idéia do mal que está provocando. Por isso, tudo o que for feito a respeito deve sempre contar com a presença de todos os membros da comunidade escolar. Alguns recursos que têm mostrado bons resultados no Brasil e em outros países são, por exemplo, a distribuição de cartilhas, a exibição de filmes, a proferição de palestras e a elaboração de dinâmicas.

O Conselho Nacional de Justiça, inclusive, lançou, em 2010, cartilha escrita por Ana Beatriz Barbosa Silva intitulada “Combater o Bullying é uma questão

de justiça: aprenda a identificar para prevenir e erradicar esse terrível fenômeno social.”. Essa publicação faz parte do programa Justiça na Escola, o qual visa a aproximar o Poder Judiciário e as instituições de ensino para o combate e a prevenção dos problemas que atingem as crianças e os adolescentes. Outro método bastante difundido é a utilização de questionário de autoria de Dan Olweus, desenvolvido em 1989. Baseando-se nas respostas de cada aluno, é possível coletar dados da situação em que se encontra aquela comunidade e planejar estratégias de combate.

É também fundamental que se mantenha uma parceria duradoura com Delegacias da Criança e do Adolescente, Varas da Infância e da Juventude, Ministério Público e Conselhos Tutelares.

Relativamente ao bullying havido em qualquer ambiente, Dirceu Moreira

(2010) sugere a criação de Ouvidorias naqueles em que for possível. Os profissionais ouvidores, depois de recebidas as reclamações, queixas, sugestões e denúncias, devem elaborar relatórios imparciais dos fatos. De posse dos dados desses relatórios, deverá ser elaborado estudo com o objetivo final de punir os responsáveis e de prevenir as ações.

É certa a necessidade de se elaborar uma política nacional antibullying.

(46)

Executivo autorizado a instituir o Programa de Combate ao Bullying, de ação interdisciplinar e de participação comunitária nas escolas públicas e privadas daquele Estado. O Estado de Pernambuco, na mesma direção, criou a Lei Estadual nº 13.995, de 22 de dezembro de 2009, na qual se dispõe sobre a inclusão de medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate ao bullying escolar no

projeto pedagógico elaborado pelas escolas públicas e privadas de educação básica daquele Ente.

No âmbito nacional, existe o Projeto de Lei nº 1.785, de 2011, no qual se propõe o acréscimo de inciso ao artigo 12 da Lei nº 9.394 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) para incluir entre as incumbências dos estabelecimentos de ensino a promoção de ambiente escolar seguro e a adoção de estratégias de prevenção e combate ao bullying. O Deputado Jean Wyllys, membro da Comissão

de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, votou, como relator, pela aprovação do referido Projeto de Lei na forma de um Substitutivo, no qual sugere que tal PL disponha sobre o desenvolvimento de política antibullying por instituições

Referências

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