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Como destacado alhures, é o contrato de estacionamento um contrato de depósito, do qual incidem as regras do CODECON.

Neste tipo de contrato, afirma Gonçalves que o depositário assume “o dever de segurança sobre a coisa depositada, obrigação de resultado que tem por efeito a presunção de culpa contra ele, se não a restitui ao final do contrato”140.

Se há dever de segurança e sendo a obrigação de guarda de resultado, surgindo obrigação de restituição, temos que no contrato de estacionamento a responsabilidade civil é objetiva em caso de dano na coisa objeto de guarda.

O próprio CODECON ao estabelecer que os prestadores de serviço respondem, independentemente de culpa, pelos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação do serviço, define ser a espécie de responsabilidade como objetiva, pois não há necessidade de prova da culpa.

Assim, havendo contrato de estacionamento, ainda que tácito, há dever de restituição incólume da coisa depositada. Em havendo perda ou deterioração da coisa depositada, não há necessidade do proprietário provar a culpa do depositário quanto à guarda da coisa, devendo apenas demonstrar o dano e o nexo que liga o dano à ação ou omissão do depositário.

140

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Obrigações: parte especial, tomo II:

Mesmo no caso dos contratos tácitos de estacionamento que não são estabelecidos mediante pagamento, mas que a partir deles a empresa ou depositário aufira lucro, ainda que indiretamente, haverá a firmamento de contrato de depósito e incidência dos preceitos consumeristas.

Um exemplo seria o estabelecimento que angaria clientela através do oferecimento do estacionamento, devendo presumir-se que o preço pela guarda e vigilância do veículo está embutido no valor das mercadorias vendidas.

Por óbvio, se houver dois estabelecimentos comerciais, um com estacionamento e outro sem, a probabilidade de um consumidor que possua veículo buscar ao primeiro é bem maior do que em relação ao segundo, demonstrando que o estacionamento é parte da estratégia comercial e, ainda que indiretamente, acarreta lucro ou benefício àquele que dele dispõe.

Stoco elucida ser cediço que “uma das maiores atrações que os shoppings e supermercados oferecem é justamente a facilidade e comodidade para estacionar. Buscam assim atrair clientes por este meio”141.

A Jurisprudência encontra-se pacificada nessa linha, como se depreende da Súmula 130 do Superior Tribunal de Justiça: “A empresa responde, perante o cliente, pela reparação do dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento”.

Também encontra-se nesta linha diversos arestos do Tribunal de Justiça Catarinense, dos quais destaca:

141

Segundo pacífica jurisprudência, inclusive com a edição da Súmula n. 130 do egrégio Superior Tribunal de Justiça, o supermercado responde pelo furto ocorrido em estacionamento anexo às suas dependências. Existe, em tais casos, contrato implícito de depósito, que torna a empresa responsável pela guarda e segurança do veículo142.

Farias estabelece uma relação do dever de guarda e restituição, com responsabilização objetiva do estabelecimento no caso de dano, como um corolário da boa-fé contratual, verbis:

É corolário natural da boa-fé objetiva, do dever de garantia, decorrente da concepção ética que se exige dos contratantes no Direito Privado contemporâneo: o estacionamento é oferecido de forma convidativa para o cliente impondo-lhe, via de conseqüência, a responsabilidade pela integridade dos veículos estacionados143.

E se o estacionamento de determinado estabelecimento for administrado por empresas terceirizadas, a responsabilidade será solidária entre ambas, conforme estipula o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor.

O Código Civil trata de tal solidariedade notadamente nos arts. 264 e 942, parte final, verbis:

Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigação, à divida toda [...]

142

SANTA CATARINA, Tribunal de Justiça. Ap. Civ. n° 9 7.008491-9, rel. Des. Carlos Prudêncio, j. 07.10.97. Disponível em: <http://www.tj.sc.gov.br>.

143

FARIAS, Cristiano Chaves de. Responsabilidade civil dos estacionamentos por danos

causados em seus estacionamentos. Revista de Direito Privado. n° 21 janeiro-março. Ed .

Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito a outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.

O Código de Defesa do Consumidor tem previsão análoga expressa no parágrafo único do art. 7° e pa rágrafo primeiro do art. 25, senão vejamos:

Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade.

Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.

[...]

Art. 25 É vedada a estipulação contratual de cláusulas que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas Seções anteriores.

§ 1º Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista neste e nas Seções anteriores.

Desta maneira, fica a critério do consumidor, em tais hipóteses, indicar contra quem vai litigar, podendo escolher um ou todos os responsáveis e apontá-los no mesmo processo. Se escolher mover a ação

contra ambos e “como a solidariedade obriga a todos responderem simultaneamente, todos responderão pelo total dos danos causados”144.

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