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4.2 Estrutura Indicativa para os Riscos Especiais: Memória Descritiva e Justificativa

4.2.9 Responsabilidade (Organizar)

No que respeita ao campo da Responsabilidade, deverá assegurar-se uma efectiva identificação da pessoa responsável e respectivo cargo pela organização e correspondente planeamento dos trabalhos que impliquem riscos especiais. Desta forma, garante-se que os procedimentos para a execução de trabalhos que comportem riscos especiais são realizados conforme o previsto. De facto, e no que diz respeito ao campo da responsabilidade, apresenta-se na Tabela 14, as principais responsabilidades civis e criminais decorrentes da legislação actual, procurando-se ainda que a traço necessariamente muito grosso, apontar alguns aspectos essenciais para se poder ter uma panorâmica muito geral sobre esta área da construção e da SST, e numa perspectiva principalmente informativa e, sobretudo, preventiva, sendo actualmente e no futuro a prevenção essencial, tanto mais quanto mais levarmos em conta que o risco de processos criminais tem aumentado bastante.

Para começar, importa ter presente que, actualmente, na ordem jurídica portuguesa, os tipos criminais que mais interessam para esta matéria são os tipos criminais de homicídio, nas suas várias formas, e de ofensas à integridade física, também nas suas várias formas, por um lado, e por outro, os tipos de infracção de regras de construção e de violação de regras de segurança. Os primeiros são tipos comuns, isto é, podem ser praticados por qualquer pessoa, em qualquer cenário, enquanto que os segundos são tipos específicos, pois exigem que o agente possua uma determinada característica ou qualidade sem a qual a sua conduta não poderá cair sob a alçada da norma incriminadora, e só se aplicam, além disso, em certos cenários. Na verdade, enquanto que nos crimes de homicídio e ofensas à integridade física estamos na presença de resultados danosos (isto é, de efectiva lesão dos bens jurídicos tutelados – vida e integridade física), nos crimes de infracção de regras de construção e de infracção de regras de segurança estamos na presença de resultados de perigo (isto é, o crime consuma-se com a colocação em perigo do bem jurídico, não sendo necessária a sua efectiva lesão). Os crimes do primeiro grupo são, assim, crimes de dano, os do segundo crimes de perigo concreto (Patrício, 2010).

Tabela 14 – Principais responsabilidades a salvaguardar.

LEI N.º 59/2007, DE 4 DE SETEMBRO –Vigésima terceira alteração ao Código Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de Setembro ARTIGO DESCRIÇÃO Artigo 11.º Responsabilidade das pessoas singulares e colectivas

2 - As pessoas colectivas e entidades equiparadas, com excepção do Estado, de outras pessoas colectivas públicas e de organizações internacionais de direito público, são responsáveis pelos crimes previstos nos artigos (…), quando cometidos:

a) Em seu nome e no interesse colectivo por pessoas que nelas ocupem uma posição de liderança; ou

b) Por quem aja sob a autoridade das pessoas referidas na alínea anterior em virtude de uma violação dos deveres de vigilância ou controlo que lhes incumbem.

4 - Entende -se que ocupam uma posição de liderança os órgãos e representantes da pessoa colectiva e quem nela tiver autoridade para exercer o controlo da sua actividade.

Artigo 152-B Violação de regras de

segurança

1 - Quem, não observando disposições legais ou regulamentares, sujeitar trabalhador a perigo para a vida ou a perigo de grave ofensa para o corpo ou a saúde, é punido com pena de prisão de um a cinco anos, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal.

2 - Se o perigo previsto no número anterior for criado por negligência o agente é punido com pena de prisão até três anos.

3 - Se dos factos previstos nos números anteriores resultar ofensa à integridade física grave o agente é punido:

a) Com pena de prisão de dois a oito anos no caso do n.º 1; b) Com pena de prisão de um a cinco anos no caso do n.º 2.

4 - Se dos factos previstos nos n.ºs 1 e 2 resultar a morte o agente é punido: a) Com pena de prisão de três a dez anos no caso do n.º 1;

b) Com pena de prisão de dois a oito anos no caso do n.º 2.

Artigo 277.º Infracção de regras de construção, dano em instalações e perturbação de serviços 1 - Quem:

a) No âmbito da sua actividade profissional infringir regras legais, regulamentares ou técnicas que devam ser observadas no planeamento, direcção ou execução de construção, demolição ou instalação, ou na sua modificação;

b) Destruir, danificar ou tornar não utilizável, total ou parcialmente, aparelhagem ou outros meios existentes em local de trabalho e destinados a prevenir acidentes, ou, infringindo regras legais, regulamentares ou técnicas, omitir a instalação de tais meios ou aparelhagem e criar deste modo perigo para a vida ou para a integridade física de outrem, ou para bens patrimoniais alheios de valor elevado, é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos.

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Tabela 14 – Principais responsabilidades a salvaguardar (continuação).

LEI N.º 59/2008, DE 11 DE SETEMBRO –Aprova o Regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas

ARTIGO DESCRIÇÃO Artigo 222.º Obrigações gerais da entidade empregadora pública

1 - A entidade empregadora pública é obrigada a assegurar aos trabalhadores condições de segurança, higiene e saúde em todos os aspectos relacionados com o trabalho.

2 - Para efeitos do disposto no número anterior, a entidade empregadora pública deve aplicar as medidas necessárias, tendo em conta os seguintes princípios de prevenção:

a) Proceder, na concepção das instalações, dos locais e processos de trabalho, à identificação dos riscos previsíveis, combatendo -os na origem, anulando-os ou limitando os seus efeitos, por forma a garantir um nível eficaz de protecção;

b) Integrar no conjunto das actividades do órgão ou serviço e a todos os níveis a avaliação dos riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores, com a adopção de convenientes medidas de prevenção;

c) Assegurar que as exposições aos agentes químicos, físicos e biológicos nos locais de trabalho não constituam risco para a saúde dos trabalhadores;

d) Planificar a prevenção no órgão ou serviço num sistema coerente que tenha em conta a componente técnica, a organização do trabalho, as relações sociais e os factores materiais inerentes ao trabalho;

e) Ter em conta, na organização dos meios, não só os trabalhadores como também terceiros susceptíveis de serem abrangidos pelos riscos da realização dos trabalhos quer nas instalações quer no exterior;

f) Dar prioridade à protecção colectiva em relação às medidas de protecção individual; g) Organizar o trabalho, procurando, designadamente, eliminar os efeitos nocivos do trabalho monótono e do trabalho cadenciado sobre a saúde dos trabalhadores;

h) Assegurar a vigilância adequada da saúde dos trabalhadores em função dos riscos a que se encontram expostos no local de trabalho;

i) Estabelecer, em matéria de primeiros socorros, de combate a incêndios e de evacuação de trabalhadores, as medidas que devem ser adoptadas e a identificação dos trabalhadores responsáveis pela sua aplicação, bem como assegurar os contactos necessários com as entidades exteriores competentes para realizar aquelas operações e as de emergência médica;

j) Permitir unicamente a trabalhadores com aptidão e formação adequadas e apenas quando e durante o tempo necessário o acesso a zonas de risco grave;

l) Adoptar medidas e dar instruções que permitam aos trabalhadores, em caso de perigo grave e iminente que não possa ser evitado, cessar a sua actividade ou afastar -se imediatamente do local de trabalho, sem que possam retomar a actividade enquanto persistir esse perigo, salvo em casos excepcionais e desde que assegurada a protecção adequada;

m) Substituir o que é perigoso pelo que é isento de perigo ou menos perigoso; n) Dar instruções adequadas aos trabalhadores;

o) Ter em consideração se os trabalhadores têm conhecimentos e aptidões em matérias de segurança e saúde no trabalho que lhes permitam exercer com segurança as tarefas de que os incumbir.

4 - Quando vários órgãos ou serviços desenvolvam, simultaneamente, actividades com os respectivos trabalhadores no mesmo local de trabalho, devem as entidades empregadoras públicas, tendo em conta a natureza das actividades que cada um desenvolve, cooperar no sentido da protecção da segurança e da saúde, sendo as obrigações asseguradas pelas seguintes entidades:

a) O órgão ou serviço em cujas instalações os trabalhadores prestam serviço;

b) Nos restantes casos, as várias entidades empregadoras públicas, que devem coordenar -se para a organização das actividades de segurança, higiene e saúde no trabalho, sem prejuízo das obrigações de cada entidade empregadora pública relativamente aos respectivos trabalhadores.

Artigo 223.º Obrigações gerais

do trabalhador

4 - As medidas e actividades relativas à segurança, higiene e saúde no trabalho não implicam encargos financeiros para os trabalhadores, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar e civil emergente do incumprimento culposo das respectivas obrigações.

Tabela 14 – Principais responsabilidades a salvaguardar (continuação).

LEI N.º 59/2008, DE 11 DE SETEMBRO –Aprova o Regime do Contrato de Trabalho em Funções Públicas

ARTIGO DESCRIÇÃO

Artigo 223.º Obrigações gerais

do trabalhador

5 - As obrigações dos trabalhadores no domínio da segurança e saúde nos locais de trabalho não excluem a responsabilidade da entidade empregadora pública pela segurança e a saúde daqueles em todos os aspectos relacionados com o trabalho.

DECRETO-LEI N.º 18/2008, DE 29 DE JANEIRO –Aprova o CCP

ARTIGO DESCRIÇÃO

Artigo 350.º Trabalhos preparatórios ou

acessórios

Na falta de estipulação contratual, o empreiteiro tem obrigação de realizar todos os trabalhos que, por natureza, por exigência legal ou segundo o uso corrente, sejam considerados como preparatórios ou acessórios à execução da obra, designadamente:

b) Trabalhos necessários para garantir a segurança de todas as pessoas que trabalhem na obra ou que circulem no respectivo local, incluindo o pessoal dos subempreiteiros e terceiros em geral, para evitar danos nos prédios vizinhos e para satisfazer os regulamentos de segurança, higiene e saúde no trabalho e de polícia das vias públicas; Artigo 362.º

Prazo de execução da obra e das prestações de concepção

1 - O prazo de execução da obra começa a contar-se da data da conclusão da consignação total ou da primeira consignação parcial ou ainda da data em que o dono da obra comunique ao empreiteiro a aprovação do plano de segurança e saúde, nos termos previstos na lei, caso esta última data seja posterior.

Artigo 365.º Suspensão pelo

dono da obra

Sem prejuízo dos fundamentos gerais de suspensão previstos no presente Código e de outros previstos no contrato, o dono da obra pode ordenar a suspensão da execução dos trabalhos nos seguintes casos:

a) Falta de condições de segurança; Artigo 366.º

Suspensão pelo empreiteiro

3 - Para além dos fundamentos gerais de suspensão previstos no presente Código e de outros previstos no contrato, o empreiteiro pode suspender, no todo ou em parte, a execução dos trabalhos nos seguintes casos:

a) Falta de condições de segurança; Artigo 405.º

Resolução pelo dono da obra

1 - Sem prejuízo dos fundamentos gerais de resolução do contrato e de outros neste previstos e do direito de indemnização nos termos gerais, o dono da obra pode resolver o contrato nos seguintes casos:

a) Se o empreiteiro, de forma grave ou reiterada, não cumprir o disposto na legislação sobre segurança, higiene e saúde no trabalho;

LEI N.º 31/2009, DE 3 DE JULHO –Aprova o regime jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projectos, pela fiscalização de obra e pela direcção de obra, que não esteja sujeita a legislação especial, e os deveres que lhes são aplicáveis e

revoga o Decreto n.º 73/73, de 28 de Fevereiro.

ARTIGO DESCRIÇÃO

Artigo 9.º Deveres do coordenador de

projecto

1 - Compete ao coordenador do projecto, com autonomia técnica, e sem prejuízo das demais obrigações que assuma perante o dono da obra, bem como das competências próprias de coordenação e da autonomia técnica de cada um dos autores de projecto:

f) Assegurar a compatibilização com o coordenador em matéria de segurança e saúde, durante a elaboração do projecto, visando a aplicação dos princípios gerais de segurança em cumprimento da legislação em vigor;

Artigo 12.º Deveres dos

autores de projectos

2 - Sem prejuízo do disposto no número anterior e de outros deveres consagrados na presente lei, os autores de projecto estão, na sua actuação, especialmente obrigados a:

h) Cumprir os demais deveres de que seja incumbido por lei, designadamente pelo RJUE e respectivas portarias regulamentares, bem como as demais normas legais e regulamentares em vigor.

Artigo 14.º Deveres do director de obra

1 - Sem prejuízo do disposto na legislação vigente, o director de obra fica obrigado, com autonomia técnica, a:

c) Adoptar os métodos de produção adequados, de forma a assegurar o cumprimento dos deveres legais a que está obrigado, a qualidade da obra executada, a segurança e a eficiência no processo de construção;

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Tabela 14 – Principais responsabilidades a salvaguardar (continuação).

LEI N.º 31/2009, DE 3 DE JULHO –Aprova o regime jurídico que estabelece a qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projectos, pela fiscalização de obra e pela direcção de obra, que não esteja sujeita a legislação especial, e os deveres que lhes são aplicáveis e

revoga o Decreto n.º 73/73, de 28 de Fevereiro.

ARTIGO DESCRIÇÃO Artigo 16.º Deveres do director de fiscalização de obra

1 — O director de fiscalização de obra fica obrigado, com autonomia técnica, a:

a) Assegurar a verificação da execução da obra em conformidade com o projecto de execução, e o cumprimento das condições da licença ou admissão, em sede de procedimento administrativo ou contratual público, bem como o cumprimento das normas legais e regulamentares em vigor;

b) Acompanhar a realização da obra com a frequência adequada ao integral desempenho das suas funções e à fiscalização do decurso dos trabalhos e da actuação do director de obra no exercício das suas funções, emitindo as directrizes necessárias ao cumprimento do disposto na alínea anterior;

e) Participar ao dono da obra, bem como, quando a lei o preveja, ao coordenador em matéria de segurança e saúde, durante a execução da obra, situações que comprometam a segurança, a qualidade, o preço contratado e o cumprimento do prazo previsto em procedimento contratual público ou para a conclusão das operações urbanísticas, sempre que as detectar na execução da obra;

Numa determinada estrutura, ou na vida em geral, cada um tem o seu papel, o seu feixe de obrigações e deveres, interdependendo de outros, não recaindo sobre cada um nenhum dever (especial) de vigilância sobre o cumprimento dos deveres dos demais (a não ser que tal esteja expressamente previsto, nomeadamente por lei ou contrato), podendo confiar que eles os cumpram, salientando-se assim o carácter específico do crime de infracção das regras de construção, a propósito da necessidade de determinar clara e precisamente a esfera ou esferas de responsabilidade de cada um.