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9. Modelo de regressão linear que melhor explica o Nº de Projetos (NP) para

2.4 Responsabilidade Social e Filantropia

É importante em meio à diversidade de conceitos e às origens da responsabilidade social, tomada no seio do assistencialismo, desenvolver breve diferenciação dos termos filantropia e responsabilidade social. Na literatura são apontados alguns aspectos fundamentais a serem destacados em relação a esse ponto. Um deles encontra-se no marco conceitual sobre o termo filantropia, que sugere ações voltadas à benemerência, com cunhos de generosidade e beneficência, associados ao assistencialismo.

Borger (2001, p. 28) ilustra o assunto, exprimindo que “a filantropia empresarial, tradução do termo corporate philantropy, tem como referência a história norte-americana, onde a prática tem suas raízes na tradição protestante de doação secular e na origem familiar das empresas”. Os empresários envolviam-se, diretamente, em projetos e programas sociais sem fins lucrativos, atividades filantrópicas voltadas para seus empregados e a comunidade local. Todo o envolvimento dos empresários era pessoal, não compreendia a empresa, sendo eles que definiam a quem, como e quando doar.

Para Melo Neto e Froes, a prática de ações filantrópicas é, por assim dizer, o início do exercício da cidadania corporativa. Segundo os autores,

empresários bem sucedidos em seus negócios decidiram retribuir à sociedade parte dos ganhos que obtiveram em suas empresas. Tal comportamento reflete uma vocação para a benevolência, um ato de caridade para com o próximo. [...] a filantropia desenvolve-se através das atitudes e ações individuais desses empresários. (2001, p. 26).

Percebe-se, com efeito, que a atuação filantrópica depende de vontades e pretensões individuais, de pessoas abnegadas que possuem valores circunscritos na caridade e no dever moral e desses fazem a sua ética absoluta.

Toldo (2002, p. 84) refere-se à filantropia como “o ato de a empresa distribuir uma parte de seu lucro a ocasionais pedintes. Acontece de maneira eventual. É uma ajuda”. Baseadas no assistencialismo, as ações dos filantropos voltam-se para as classes mais desfavorecidas, buscando contribuir para a sua sobrevivência. Não havendo efetiva preocupação com o desenvolvimento e a emancipação coletiva, sua prática prescinde de planejamento, organização, monitoramento, acompanhamento e avaliação, o que difere da responsabilidade social que “tem a ver com a consciência social e o dever

cívico” (MELO NETO; FROES, 2001, p. 26) e exige periodicidade, método e sistematização e, principalmente, gerenciamento efetivo por parte da empresa-cidadã.

De acordo com Corrêa e Medeiros (2003), a filantropia é individualizada, pois a ação e a atitude são do empresário. Já a responsabilidade social é uma atitude coletiva, compreendendo ações de empregados, diretores e gerentes, fornecedores, acionistas e, até mesmo, clientes e demais parceiros de uma empresa. É, portanto, uma soma de vontades individuais e reflete consenso.

Carrion e Garay (2000), em estudos de instituições gaúchas mantidas pelo capital privado e associadas ao GIFE4, sinalizaram a tendência de substituição da lógica da caridade/filantropia pela do investimento social privado. Para as autoras, nessas empresas, o ato de doar recursos ou conhecimento passa a assumir conotações estratégicas, onde o doador prioriza ações e projetos que preconizem uma contribuição mais efetiva ao enfrentamento da questão social. Peliano e Beghin (2001) garantem que o compromisso social, diferentemente da filantropia, se estabelece quando a ação social é incorporada na cultura da empresa e envolve todos os colaboradores.

Para Soares (2002), responsabilidade social deixa de se limitar aos velhos conceitos de proteção passiva e paternalista ou de fiel cumprimento de regras legais, para avançar na direção da proteção ativa e da promoção humana, respondendo necessariamente a um sistema definido e explicitado de valores éticos.

Melo Neto e Fróes (2001) ilustram as diferenças entre a filantropia e a responsabilidade social, como apresentado no Quadro 1.

Filantropia Responsabilidade Social

Ação individual e voluntária Ação coletiva

Fomento à caridade Fomento à cidadania

Base assistencialista Base estratégica

Restrita a empresários filantrópicos Extensiva a todos

Prescinde de gerenciamento Demanda gerenciamento

Decisão individual Decisão consensual

Quadro1- As diferenças entre a filantropia e a responsabilidade social. Fonte: Adaptado de Melo Neto e Froes (2001, p. 28).

Verifica-se, então, que esses termos diferenciam-se em vários aspectos, pois, enquanto a filantropia se refere a uma ação voluntária, de caráter assistencialista, a responsabilidade social, tem ação de base estratégica, que demanda atividades e gerenciamento, como planejamento e controle, tendo origem numa decisão consensual. Além disso, traz em seu fundamento o exercício da cidadania e da ética.

De acordo com Melo Neto e Froes (2001), o exercício da responsabilidade social tem dois focos distintos: os projetos sociais e as ações comunitárias. As ações comunitárias podem ser entendidas como a participação da empresa em programas e campanhas sociais realizadas pelo governo, entidades filantrópicas e comunitárias, ou por ambas, ocorrentes em forma de doações, ações de apoio e trabalho voluntário de seus empregados. São executadas, portanto, de forma indireta e geridas por terceiros. Seu retorno maior é o de natureza social, tributária e institucional e não demandam ações de comunicação e marketing. Os projetos sociais são empreendimentos direcionados para a busca de soluções de problemas sociais que assolam populações e grupos sociais numerosos ou em situações de risco e que, se não forem enfrentados, agravam-se com o tempo e demandam soluções imediatas e de médio e longo prazo. São desenvolvidos e geridos pela própria empresa, que aplica diretamente seus recursos e prioriza ações de fomento ao desenvolvimento social; produzem um retorno social de imagem e de mídia. A empresa estreita os laços com a comunidade, fortalece sua imagem e conquista ganhos sociais significativos que refletem no aumento do seu faturamento, vendas e participação no mercado (MELO NETO; FROES, 2001).

Dowbor (2001) assinala que uma forma de resolver os problemas que o avanço tecnológico e o atraso institucional causam à humanidade é a filantropia empresarial, que, sob seu ponto de vista, consiste em contribuir para iniciativas destinadas a ajudar pobres, a recuperar uma colina por meio de um programa de reflorestamento e assim por diante. Para o autor, ainda que a filantropia seja um esforço de cosmética empresarial, ela é importante por constituir o primeiro plano e o reconhecimento de que o sucesso da empresa depende também de uma visão pública de sua utilidade para a sociedade. Mais importante, porém, é o uso responsável do Poder público, agir com ética e responsabilidade social.

Na visão de Dowbor (2001), é importante o empresariado perceber que, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento, tem tudo a ganhar, pois não se criará uma sociedade equilibrada sem uma participação ativa do empresariado, do indivíduo na

definição das novas regras do jogo. Ashley (2006) demonstra que essa percepção por parte do empresariado já se faz realidade desde o momento em que, segundo pesquisas e noticiários, apontam que há uma preocupação crescente das empresas em relação a responsabilidade social, fazendo nascer outra mentalidade empresarial - mentalidade que valoriza a cultura da boa conduta do empresariado, para a qual a eficiência e lucro podem ser combinados com valores como cidadania, preservação ambiental e ética nos negócios.

Conclui-se, portanto, que a filantropia como primeiro passo do empresariado para voltar os olhos para a sociedade foi muito importante e ainda se faz necessária para situações emergentes. A possibilidade de mudança efetiva dos problemas sociais mais graves e da relação do empresariado com o meio ambiente, contudo,far-se-á mediante o nível de consciência acerca dos problemas sociais e da sua responsabilidade para com eles e participação no enfrentamento de tais dificuldades.

A empresa e o indivíduo socialmente responsáveis, portanto, é que têm a possibilidade de mudar uma realidade que já vem há anos se tornando desfavorável à vida no agora e para as gerações futuras. Assim, urge que empresas e indivíduos se tornem socialmente responsáveis, compreendam seu papel na sociedade, disseminem valores que restaurem a solidariedade social e o compromisso com a equidade, com a dignidade, a liberdade, a democracia e a melhor qualidade de vida da sociedade em geral.

O ato de ser responsavelmente social exige a compreensão de duas dimensões que têm relação com a responsabilidade social: cidadania e ética.