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PARECERES N° DE PROFESSORES PORCENTAGEM

Discordo totalmente 4 24%

Discordo parcialmente 0 0%

Não tenho opinião formada 3 18%

Concordo totalmente 6 35%

Concordo parcialmente 4 24%

TOTAL 17 100%

O grau de consistência desse item foi um dos mais altos, perfazendo uma percentagem de 2,75. 24%, dos professores pesquisados, discordam totalmente da afirmação desse item; 18%, não têm opinião formada; enquanto que 35% concordam totalmente e 24% concordam parcialmente, totalizando assim 59% dos pesquisados que concordam com a afirmação contida no item.

O que hoje se conhece como “Método Paulo Freire15”, aplicado principalmente a Alfabetização de Adultos, surgiu com o trabalho realizado por Freire em Angicos (RN) em 1963, na alfabetização de 300 trabalhadores rurais em 45 dias. Esses trabalhadores, reunidos em sessões comunitárias denominadas “Círculos de Cultura”, sob o acompanhamento de um animador de debates, aprendiam a ler “as letras” e o “mundo” e a “escrever a palavra” e, também, a “sua própria história”.

“Os resultados alcançados pelos educadores populares que aplicavam o ‘método Paulo Freire’ foram tão espetaculares – especialmente a experiência de Angicos – que a proposta tendeu a transformar-se em política nacional”, conforme diz Romão, em seu livro Pedagogia Dialógica (2002, p. 129).

Ainda, segundo Romão:

15

Sônia Couto Feitosa, em sua tese de Mestrado (FEUSP,1998) enumera uma série de trabalhos sobre o “Método Paulo Freire”, a começar pelo de Carlos Rodrigues Brandão, escrito em 1966 na cidade do México, para uma palestra no “Dia da Alfabetização” (reeditado em 1977 nos Cuadernos Del CEFAL (nº.3), ao que se seguiu, na mesma cidade, o texto de Jorge Gabriel Rodriguez, escrito em 1969 com o título Notas para la

aplicacion Del método psico-social de educación de adultos de Paulo Freire, seguido pelo de Lauro de Oliveira

Lima, publicado como apêndice ao seu livro Tecnologia, educação e democracia (Rio, Civilização Brasileira, 1979), com o sugestivo título: “Método Paulo Freire: processo de aceleração de alfabetização de adultos”. O próprio Carlos Rodrigues Brandão, em 1981, retoma seus trabalhos sobre o método e publica, pela coleção “Primeiros Passos” da Brasiliense. O que é Método Paulo Freire. E os trabalhos não param por aí, pelo número de teses e dissertações posteriormente escritas sobre o tema.

O que geralmente se denomina “método Paulo Freire” é mais do que um conjunto de técnicas de ensino da “lecto-escrita” da língua materna para adultos; é uma nova concepção de educação, na qual os princípios, compromissos e estratégias implicam, no limite, uma visão de mundo a partir da perspectiva do oprimido (ibidem, p. 127).

Segundo Freire, o ato educativo deve ser sempre um ato de recriação; portanto, a palavra “método” na obra freiriana é contextualizada com base nos princípios que lhe dão consistência, significado. Hoje, assim como na sua gênese, o “método Paulo Freire” tem como fio condutor a própria emancipação do aluno, que não se dá somente no campo cognitivo, mas acontece, essencialmente, nos campos social e político.

O “método Paulo Freire” foi construído por meio do diálogo entre educador e educando, buscando sempre partes de cada um no outro, voltados para a alfabetização de jovens e adultos. Um dos pressupostos desse método é a idéia de que ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho. É um trabalho que se constrói a cada vez que ele é coletivamente usado dentro de um círculo de cultura de educadores e educandos.

A idéia de uma ação dialogal entre educadores e educandos se inicia com uma prática de ação comum entre as pessoas do programa de alfabetização e as da comunidade. Esta primeira etapa pedagógica do método foi chamada por Paulo Freire de levantamento do universo vocabular. Há um universo de fala da cultura da gente do lugar que deve ser investigado, pesquisado, levantado, descoberto. Trata-se de uma pesquisa simples, que tem como objetivo imediato a obtenção dos vocábulos mais usados pela população a se alfabetizar. A pesquisa do universo vocabular deve ser conduzida de tal forma que reduza sempre a diferença entre pesquisador e pesquisado. São nomeados como pensamentos- linguagens das pessoas. São falas que a seu modo, desvelam o mundo e contém, para a pesquisa, os temas geradores expressos por meio das palavras geradoras. Essas palavras não são só um instrumento de leitura da língua; são, também, instrumentos de releitura coletiva da realidade social onde a língua existe e existem os homens que a falam e as que se inter- relacionam. Portanto as palavras precisam servir para as duas leituras e os seus critérios de escolha são: riqueza fonêmica da palavra geradora; as dificuldades fonéticas da língua; a densidade pragmática do sentido.

As palavras geradoras continham todos os fonemas da língua portuguesa e incluíam todas as dificuldades de pronúncia e escrita. Assim como na pesquisa do universo vocabular,

cada palavra geradora aparece dentro de frases, de falas das pessoas, cada palavra aponta para questões, para temas: temas geradores. Elas são instrumentos que, durante o trabalho de alfabetização, conduzem os debates que cada uma delas sugere e à compreensão do mundo a ser aberta e aprofundada com os diálogos dos educandos em torno dos temas geradores.

O trabalho se inicia, partindo de fichas de cultura que educador e educandos usavam em seu aprendizado. As fichas de cultura são desenhos feitos em cartazes ou projetados em “slides”. Além desses debates a propósito da cultura e de sua democratização, analisava-se o funcionamento de um círculo de cultura, seu sentido dinâmico, a força criadora do diálogo, o aclaramento das consciências.

É nesse momento que se cria a necessidade de compreender a realidade do educando, problematizando-a. Nessa problematização, o educador desafia os alunos com questões para que opiniões e relatos surjam. O educando dialoga com seus pares e com o educador sobre o meio e sua realidade. Essas discussões permitiam ao educador apreender a visão dos alunos sobre a situação problematizadora para fazê-los perceber a necessidade de adquirir outros conhecimentos a fim de melhor entendê-la.

O trabalho com as fichas de cultura introduzia questões, inaugurava conceitos e provocava as idéias de um pensar que é, na verdade, o do próprio fundamento do método: de sua filosofia e de sua pedagogia.

O coordenador do grupo do círculo constrói apenas algumas poucas palavras. Os educandos são incentivados a escrever em casa, todas as palavras que sejam capazes de formar, sejam elas iguais ou não às que foram formadas na reunião. No trabalho de formação de palavras, de uma para a outra, fonemas das anteriores podem ser convocados para somarem-se com os de uma nova palavra. Ler e escrever de modo consciente e conseqüente a sua própria realidade.

Só assim a alfabetização tem sentido. É a conseqüência de uma reflexão que o homem começa a fazer sobre sua própria capacidade de refletir. Reflexão sobre a própria alfabetização, que deixa de ser, assim, algo externo ao homem, para ser dele mesmo. Como uma força de transformação do mundo.

É um ato político que começa com a afirmação de que a educação é um trabalho político. Procuram redescobrir o sentido do uso de um instrumento de trabalho com o povo por meio da educação, dentro de uma nova realidade social e cultural.

Há muitos outros exemplos atuais de uso e invenção do “método Paulo Freire”. Neles a idéia de reinventar a educação aparece viva e real. Na periferia de algumas cidades brasileiras, os próprios movimentos populares tomam a iniciativa de propor trabalhos de

alfabetização. Cada equipe formada de agentes de educação e agentes da comunidade enfrenta o desafio de pensar de novo e de construir o seu modo de trabalhar o e com o método.

Aqui, tem-se o intuito de encontrar, no Método Paulo Freire, os princípios orientadores para uma alfabetização com vistas à cidadania, à autonomia, à participação ativa e, prioritariamente, a possibilidade de uma aprendizagem significativa para a criança.

Paulo Freire, em Pedagogia dos sonhos possíveis, de Ana Maria Freire, diz que,

No universo infantil, para mim uma condição fundamental para que o educador trabalhe com eficácia – no bom sentido que a palavra deve ter é exatamente o respeito a essa identidade cultural das crianças que, como disse, têm um corte de classe. E o respeito a essa identidade, sem o qual o esforço do educador fraqueja, tem que ver com essa leitura que a criança faz do mundo e com a qual ela chega à escola. É uma leitura que ela aprende a fazer, no convívio de sua casa, no convívio de sua vizinhança, de seu bairro, de sua cidade, com a marca fonte do corte de sua classe social (FREIRE, 2001, p. 140).

Essa visão de educação freiriana, voltada à cultura e ao diálogo que o educando incorpora durante toda a sua vida, vem ao encontro dos princípios socioconstrutivistas, que serão tratados nesse capítulo.

Segue o texto da assertiva VII e, no Quadro, o resultado de sua apuração estatística. Quanto à assertiva VII, “O Método Paulo Freire se distancia muito da teoria socioconstrutivista e, por isso, é mais eficaz na alfabetização de crianças e adultos”.

QUADRO IV