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RESSARCIMENTO PELA VIOLÊNCIA PATRIMONIAL

Uma pequena parcela de mulheres que denunciam seus agressores, o fazem por terem sido violentadas patrimonialmente. O que em geral ocorre é que estas mulheres desejam se divorciar ou fazer a dissolução de união estável, porém o

parceiro não aceita e acaba estragando alguns bens da mulher, esta questão vai muito de encontro ao que foi estudado quando falado sobre o aceite do fim do relacionamento e a disputa de bens.

A violência patrimonial se caracteriza pela destruição de objetos, instrumentos de trabalho, documentos e bens pessoais e econômicos, estas mulheres querem que o agressor se mantenha distante delas, mas querem que ele pague pelos bens destruídos ou perdidos em função da violência sofrida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todo tipo de censura dá lugar a violência, não sendo diferente na situação de violência doméstica onde a mulher é vista como um objeto sem subjetividade.

“Nós somos Mulheres de todas as cores De várias idades, de muitos amores Lembro de Dandara, mulher foda que eu sei

De Elza Soares, mulher fora da lei Lembro de Anastácia, Valente, guerreira De Chica da Silva, toda mulher brasileira Crescendo oprimida pelo patriarcado, meu corpo

Minhas regras Agora, mudou o quadro

Mulheres cabeça e muito equilibradas Ninguém tá confusa, não te perguntei nada

São elas por elas

Escuta esse samba que eu vou te cantar Eu não sei porque tenho que ser a sua felicidade

Não sou sua projeção Você é que se baste

Meu bem, amor assim quero longe de mim Sou mulher, sou dona do meu corpo

E da minha vontade

Fui eu que descobri Prazer e Liberdade Sou tudo que um dia eu sonhei pra mim.”

A versão “politizada” para a canção Mulheres, composta por Martinho da Vila e apresentada no primeiro capítulo deste trabalho, cantada pelas mulheres de uma nova geração pós lei Maria da Penha vem ao encontro do enredo deste trabalho que nos traz uma pluralidade de mulheres as mulheres começaram a se sonhar ao invés de serem apenas sonhadas como foram as gerações passadas.

É importante que exista uma rede de atendimento que de apoio a estas mulheres em situação de violência. Dentro desta rede entende-se que a importância do psicólogo se encontra em escutar a demanda destas mulheres, cada uma tem a

sua singularidade, o seu modo de viver, umas recebem apoio da família enquanto outras se encontram sozinhas enfrentando esta situação, são mulheres de idades diferentes cada uma com a sua história. O psicólogo neste meio precisa olhar para estas mulheres e entender que cada caso é um caso, por mais que elas peçam as mesmas coisas nas audiências, estas mulheres precisam ser olhadas como únicas.

Diante da minha experiência relatada no decorrer do trabalho apresentado fica claro que as mulheres que estão em situação de violência precisam romper com o ciclo para que a violência encerre e que para isso acontecer as mulheres precisam criar autonomia sobre suas vidas, o que pode ser trabalhado pelos psicólogos para que as mulheres consigam se desvencilhar dessa situação.

O que precisa ser considerado para promover o rompimento do ciclo da violência é que estas mulheres se encontram em um enredo que envolve diversas questões de amplo espectro, desde psíquicas a culturais e por esta razão para o trabalho do psicólogo se dar neste âmbito é necessário que este faça a escuta do que desejam estas mulheres.

As questões clinicas que se configuram na situação de violência doméstica estão presentes na dificuldade de rompimento do vínculo uma vez que as mulheres agredidas entendem que a agressão irá cessar no momento em que o agressor faça parte de algum tratamento ou que o Juiz ordene que as agressões cessem, no mecanismo de repetição o qual as agredidas encerram o ciclo com um agressor e posteriormente entram em outro relacionamento agressivo.

O ciúme é uma questão clínica que aparece nas configurações da violência doméstica sendo que ele se torna patológico quando traz sofrimento para ambas as partes. Os sujeitos envolvidos na violência doméstica trazem restos das suas relações que precisam ser trabalhados para que ambos consigam entender a situação em que se encontram e assim resolver seus problemas enquanto casal.

O gozo configura a violência doméstica uma vez que a mulher se encontra em uma situação de traição e consequentemente rivaliza com outra figura feminina em uma instância que a permite gozar da situação fazendo com que está sempre se encontre neste enredo triangular. É importante pensar sobre a relação dos pais nesta trama uma vez que a maternidade é uma questão clinica presente na violência doméstica pois, recebem-se mães que sofrem ou cometem crime de alienação parental em uma tentativa de reaver seu papel de mãe ou tentar fazer com que o pai sinta a mesma dor que ela.

Os conceitos que permeiam este estudo e sustentam a visão da psicanalise que implica no desejo destas mulheres em relação a situação de violência em que se encontram e as decisões tomadas frente ao juiz merecem um maior aprofundamento para que seja possível se apropriar destes conceitos de forma onde o entendimento a partir dessa ótica seja de maior responsabilidade profissional se afastando da visão de senso comum sobre a violência doméstica e familiar o que será possível posteriormente já que neste momento o que importa saber é como estas mulheres chegam até a rede de atendimento e quais as primeiras leituras possíveis dos casos.

Estas mulheres precisam ser escutadas, elas precisam falar sobre as suas histórias todas as vezes necessárias até que consigam simbolizar o que acontece com elas e, então, a partir disso possam começar a construir a sua autonomia e entender os seus desejos em relação a situação em que estão vivendo, por este motivo é que a rede de atendimento a estas mulheres está sempre disponível para que elas possam acionar.

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