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Conforme tratamos na subseção 1.4.3, sobre a sílaba no PB, a língua portuguesa permite onsets compostos por uma ou por duas consoantes. De acordo com Câmara Jr (1989 [1970]), no onset composto apenas por um segmento, todas as consoantes da língua portuguesa podem ocorrer. Entretanto, quando o onset é composto por duas consoantes, as possibilidades são restritas. Na primeira posição, poderão aparece apenas consoantes [- contínua] ou [+contínua, +labial] e, na segunda, uma soante não-nasal.

Diante dessas poucas possibilidades para o onset complexo em PB, podemos dizer que a restrição ligada a essa posição silábica ocupa um lugar alto na hierarquia na língua portuguesa, a língua materna.

A língua inglesa, por outro lado, permite onsets com um, dois e até três elementos consonantais e são várias as combinações possíveis. Neste estudo, trataremos apenas aqueles iniciados por /s/ compostos por dois ou três elementos.

As palavras que fizeram parte do corpus desta pesquisa para análise de epêntese inicial são iniciadas por onsets complexos compostos por sC e sCC. As sequências consideradas são compostas por:

S+oclusiva, nos casos de onsets complexos do tipo sC, como speak (/spi:k/).

S+oclusiva+retroflexa, nos casos de onsets complexos do tipo s+CC, como spring (/sprɪŋ/).

Para a análise de epêntese inicial, consideramos as restrições de marcação que no PB, proíbem as sequências descritas acima. São elas:

NoComplex Onset: onsets complexos não são permitidos

OnsetCondition: sequências fricativa + oclusiva não são permitidas em posição de onset; sequências fricativas + oclusivas + retroflexas não são permitidas em posição de onset.

Com relação à coda silábica, as diferenças também são grandes. Enquanto no PB a coda é composta por um ou dois elementos e os segmentos permitidos são apenas /S/, /R/, L/ e /N/, em inglês, as possibilidades são consideravelmente maiores.

Na língua inglesa, são permitidas codas formadas por um elemento apenas ([pɔp]), dois ([hɛlp]), três ([sɑlvd] e quatro ([teksts]) elementos. Em se tratando de codas simples, todas as consoantes, com exceção da fricativa [h], podem figurar nessa posição. Em codas complexas, várias combinações de segmentos são permitidas, ao passo que no PB as codas complexas são bastante raras e as combinações também são restritas (ver subseções 1.4.4 e 1.5).

No estudo sobre epêntese final e medial na pronúncia do inglês, consideramos segmentos que não são comuns nessa posição no PB, sendo que nosso corpus foi composto por oclusivas e fricativas nessa posição. Consideramos codas simples e codas complexas compostas por dois elementos.

Para as análises referentes à epêntese inicial e final, trabalhamos com as seguintes restrições de marcação:

*{palat}: os segmentos oclusivos /t/ e /d/ não podem ser palatalizados NoComplex Coda: codas complexas não são permitidas

CodaCondition: somente segmentos [-vocálico, +soante] ou [-soante, +contínuo, +coronal] e a sequência [soante +s] são permitidos em posição de coda. Todos os outros segmentos e sequências são proibidos.

Além das restrições de marcação, consideramos também as restrições de fidelidade, muito importantes na aquisição de novas sequências, já que, com a evolução da aprendizagem, os aprendizes procuram a ser mais “fiéis” ao input recebido. As restrições de fidelidade consideradas foram:

MAX: todo elemento do input deve ter correspondente no output, não pode haver apagamentos.

DEP54: todo elemento do output deve ter correspondente no input, não pode haver

inserções.

54A restrição DEP aqui considerada diz respeito à inserção de segmento vocálico no núcleo da sílaba. É o que Lee (1999) chama de DEPnuc.

Uma vez que nosso estudo se propôs a estudar o movimento, a reordenação das restrições, consideramos o ranking da língua materna, o PB, para verificar o comportamento das restrições na aquisição dessas novas estruturas. Com base nos estudos de Lee (1999) e Monahan (1999), e Alves (2007), consideramos as hierarquias de restrições descritas a seguir.

(4.1) Para onset:

HLM: OnsetCondition >> MAX >> CodaCondition >> DEP >> NoComplex Onset

Na hierarquia da língua materna (HLM), as restrições de marcação que proíbem

segmentos diferentes daqueles já existentes na língua são mais altamente ranqueadas. Nesse caso temos a restrição OnsetCondition que proíbe fricativas seguidas de oclusivas e fricativas seguidas de oclusivas e de retroflexa em posição de onset no nível mais alto do ranking já que essas combinações não são permitidas em onset em PB. Essa restrição de marcação domina a restrição de fidelidade MAX, que proíbe apagamentos. MAX domina DEP porque, no PB, prefere-se a inserção de segmento ao apagamento. CodaCondition domina DEP, pois prefere- se a inserção de segmento do que uma sílaba mal formada, ou seja, com um elemento não permitido em posição de coda. DEP domina NoComplex Onset, já que em PB, embora as possibilidades sejam restritas, onsets complexos são permitidos.

(4.2) Para coda:

HLM: CodaCondition>> MAX >>DEP >> NoComplex Coda >> *[Palat]

A hierarquia da língua materna para coda silábica também proíbe segmentos diferentes daqueles que já são licenciados na língua. Nesse caso, a restrição de marcação também está mais altas no ranking. A restrição CodaCondition proíbe qualquer segmento em posição de coda que não seja [-vocálico, +soante] ou [-soante, +contínuo, +coronal], isso inclui oclusivas, fricativas, africadas e a combinação de duas oclusivas (segmentos e combinações de segmentos presentes nas palavras do corpus da pesquisa), já que o PB não permite esses segmentos nessa posição da sílaba. Essa restrição de marcação dominam a restrição MAX que proíbe apagamentos. MAX tem uma relação de dominância em relação a DEP, já que, no PB, é preferível a inserção ao apagamento. DEP domina NoComplex Coda porque no PB, ainda que restritas, há codas compostas por mais de um elemento. NoComplex Coda domina *[palat] porque, no PB, diante de /e/, é bastante comum a palatalização das oclusivas /t/ e /d/. Por isso essa restrição se encontra mais baixa no ranking.

As análises, apresentadas nos tableaux adiante, foram feitas com base na pronúncia dos informantes no momento da gravação. Portanto, quando nomeamos “candidato” nos

tableaux, estamos usando a transcrição da pronúncia dos nossos informantes.

Como o corpus da pesquisa é composto por 46 palavras, fica inviável tratar a pronúncia de cada uma delas. Dessa forma, trataremos os dados em grupos. Primeiramente, aqueles relacionados ao onset e aos casos de epêntese inicial. Depois, os relacionados à coda e aos casos de epêntese medial e final.