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2.3 Planejamento da expansão no Brasil: definições básicas e particularidades

2.3.6 Restrições operativas das centrais termelétricas

Em se tratando de estudos de planejamento de longo prazo, as restrições de centrais termelétricas são a inflexibilidade operativa e o fator de capacidade máximo [48].

A inflexibilidade operativa é o nível mínimo de produção energética média que uma termelétrica deve manter. Instantaneamente, uma termelétrica pode apresentar produção energética inferior à sua inflexibilidade operativa. Contudo, a produção média aferida em um

período específico, conforme regras estabelecidas pela Aneel, deve ser superior à inflexibilidade.

Uma central termelétrica pode declarar inflexibilidade por razões comerciais ou técnicas. Exemplo de razão comercial é a celebração de contrato de fornecimento de combustível que prevê níveis de compra mínimos. Em se tratando de razão técnica, a inflexibilidade pode decorrer da tecnologia de geração adotada, tendo como principal exemplo as centrais termonucleares.

O fator de capacidade máximo é um parâmetro adimensional, definido entre 0% e 100%, que indica a parcela da capacidade instalada da central geradora que ficará disponível ao sistema elétrico. É comum em sistemas que apresentam cogeração, nos quais parte da produção energética é destinada a um dado processo produtivo e o restante disponibilizado para comercialização no SIN. Adicionalmente, pode ser declarado como inferior a 100% nos casos em que a central geradora apresente alguma limitação de projeto ou de condição ambiental específica que impossibilite a planta de fornecer nos bornes de seus geradores potência ativa igual à capacidade instalada.

Na prática, o fator de capacidade máximo é um parâmetro de folga a ser definido pelo empreendedor com base nas características de seu projeto. Embora não existam limitações para sua a declaração, do ponto de vista energético, o produto entre capacidade instalada e fator de capacidade máximo deve corresponder à potência que a central geradora é capaz de disponibilizar estruturalmente nos bornes dos geradores. A inobservância dessa regra prejudica a segurança energética, conforme será discutido na Seção 2.3.9.

Com exceção das restrições representadas pela inflexibilidade operativa e pelo fator de capacidade máximo, em termos de modelagem computacional para estudos de planejamento, as termelétricas são consideradas recursos disponíveis para operação por tempo indeterminado. Assim, fatores adicionais de modelagem são necessários para incorporar nos modelos computacionais as paradas forçadas e programadas das centrais termelétricas, os quais também serão discutidos na Seção 2.3.9.

Para garantir a plena disponibilidade das centrais termelétricas, diversas são as exigências feitas aos agentes interessados no momento da habilitação técnica do empreendimento para fins de participação nos leilões de energia nova [49,50]. As exigências têm como objetivo assegurar o despacho imediato dessas centrais, bem como evitar que haja falta de combustível no caso de necessidade de acionamento integral do parque gerador termelétrico.

Capítulo 2 – Revisitando o sistema hidrotérmico brasileiro 60

As exigências variam conforme a fonte primária. Como regra geral, independentemente da fonte, é indispensável que o empreendedor apresente contratos de fornecimento de combustível compatíveis com as características operativas de sua central geradora. Além disso, especialmente para combustíveis líquidos, exige-se um volume mínimo de tancagem de combustível de forma a permitir despacho imediato da central, e manter sua operação à plena carga durante os prazos contratuais previstos para entrega de novas remessas de combustível [49].

A Lei nº 8.176, de 8 de fevereiro de 1991, instituiu o Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis e determinou a elaboração de planos anuais de estoques estratégicos com o objetivo de assegurar a oferta de derivados de petróleo e outros combustíveis na ocorrência de contingências que afetem a oferta desses produtos. Apesar da previsão legal, tais planos anuais nunca foram editados. Assim, exceto pela garantia contratual dos fornecedores, não há instrumentos estratégicos que assegurem o suprimento suficiente na ocorrência de uma elevação súbita do consumo de combustíveis decorrente do despacho pleno do parque termelétrico.

Caso venha a ocorrer a necessidade de despacho pleno do parque termelétrico em um período de intensa utilização da capacidade instalada da indústria, a ausência de uma estratégia de suprimento pode resultar efeitos econômicos perversos, quer seja pela não disponibilidade de combustível para acionamento do parque termelétrico, quer seja pela necessidade de redução da produção para permitir o acionamento das termelétricas, ou ainda, pela necessidade da importação de combustíveis.

Situação excepcional ocorre com as centrais cujo combustível primário seja o gás natural liquefeito. Tais centrais, por necessitarem importar e regaseificar seu combustível, podem declarar um intervalo de carência entre a definição da necessidade de despacho e a efetiva entrada em operação da central. O intervalo declarado, aferido em meses, consiste no prazo que o agente gerador dispõe para viabilizar a entrada em operação, uma vez identificada a necessidade de despacho pelo ONS [50].

Em geral, as restrições operativas de centrais termelétricas são declaradas pelo agente interessado no momento da habilitação técnica do seu empreendimento para fins de participação nos leilões de energia nova. Entretanto, dependendo das condições conjunturais do setor energético, é comum o MME definir limitantes para esses parâmetros, inclusive impedir a participação de determinadas fontes primárias nos leilões de energia nova.

Independentemente das diretrizes vigentes em um dado momento, a realização de estudos de planejamento e programação da operação energética internalizam as restrições

operativas de cada uma das centrais termelétricas que compõem o parque gerador nacional. Tais informações, além de proporcionarem uma modelagem mais realista do parque gerador, permitem a realização de estudos voltados à necessidade da expansão da oferta de combustíveis primários.