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I NTERLEUKIN 1 G ENE P OLYMORPHISMS AND T OXOPLASMIC R ETINOCHOROIDITIS

5- RESULTADOS ADICIONAIS

5.1- Análise Multivariada das Componentes Principais

Pela análise multivariada dos componentes principais é possível verificar a associação entre diversas variáveis por uma abordagem descritiva através de um gráfico tridimensional. Este tipo de análise estatística permite reescrever as variáveis originais em novas variáveis denominadas componentes principais. A análise consiste numa transformação de coordenadas utilizando matrizes, o que permite visualizar o conjunto de amostras dispostas em um gráfico, que detêm maior parte da informação estatística (Prado et al., 2002). O gráfico gerado é tridimensional, de forma que em cada eixo corresponde às três primeiras componentes principais, que são combinações lineares de todas variáveis originais. A primeira componente principal contém um maior valor de inércia e as demais definidas seqüencialmente no sentido decrescente (Mingoti, 2005), de forma que as três componentes juntas possuem uma boa representatividade das variáveis originais no modelo.

Portanto, por meio da disposição de cada variável no eixo tridimensional das componentes principais, é possível analisar a inter-relação entre cada variável. A proximidade entre duas variáveis (distância euclidiana entre dois pontos) e a disposição no mesmo quadrante permite concluir que elas são associadas. Variáveis distantes, situadas do mesmo lado, porém em quadrantes diferentes, possuem associação fraca (Sá et al., 2006). As variáveis que estiverem próximas entre si, considerando o componente principal 1 (CP1 – plano que “atravessa” a folha) são

A análise foi realizada através do programa JMP statistical software (SAS, Cary, NC, USA). Para realizar o teste multivariado das componentes principais, foram atribuídos valores às variáveis. Em relação à ocorrência da doença, atribuíram-se valores quanto ao status da doença (pacientes=1, controles=0). Em relação aos polimorfismos, atribuíram-se valores crescentes de acordo com a ocorrência do polimorfismo (1=dois alelos não polimórficos, 2= um alelo polimórfico e 3=dois alelos polimórficos).

Figura 1: Relação dos polimorfismos avaliados nesse estudo com a ocorrência da

doença, segundo análise dos componentes principais. Componente principal 1 (CP1): eixo z (“atravessando” o ponto 0 de xy); Componente principal 2 (CP2): eixo x; Componente principal 3 (CP3): eixo y.

Ocorrência

IL10 TNF IL1A IL1B

CP3 CP1 CP2 [-0.01] [0.66] [0.68] [-0.29] [-0.05] Ocorrência

IL10 TNF IL1A IL1B

CP3 CP1 CP2 [-0.01] [0.66] [0.68] [-0.29] [-0.05]

A figura 1 mostra o gráfico obtido envolvendo todas as variáveis abordadas. Pela interpretação do gráfico, observa-se uma associação entre a variável IL10 e a ocorrência da doença, concordando com os achados da análise univariada, já apresentada. Esses dados sugerem que polimorfismo do gene IL10 está associado com a ocorrência da doença.

5.2- Análise de Regressão Logística Multivariada

Realizamos a análise de regressão logística multivariada, através do programa SPSS for Windows (11.0.1; SPSS, Inc), para avaliar a participação conjunta dos diversos polimorfismos estudados na ocorrência da doença, visualizando, em números o que foi apresentado na análise multivariada dos componentes principais.

Para realizar a análise, foram atribuídos valores às variáveis. Em relação à ocorrência da doença, atribuíram-se valores quanto à ocorrência da doença (pacientes=1, controles=0). Em relação aos polimorfismos, atribuíram-se valores crescentes de acordo com a ocorrência do polimorfismo (1=dois alelos não polimórficos, 2= um alelo polimórfico e 3=dois alelos polimórficos).

Como critério de inclusão na regressão multivariada, foi utilizado o valor de até 10% para o valor de P, na análise univariada (Tabela 1). A variável IL10 apresentou um P-valor significativo nas duas categorias (1 X 2 e 1 X 3), portanto entrou no modelo. A variável IL1B apresentou uma das categorias significativa (1 x 2), portanto entrou na análise. As variáveis IL1A e TNF-α não apresentaram

Tabela 1: Análise de regressão logística univariada.

Foi utilizado o método forward de entrada das variáveis no modelo, isto é, as variáveis que se mostraram significativas na análise univariada, entraram uma a uma na análise. O critério de ordem de entrada foi pela significância na análise univariada, portanto: IL10 e, por último IL1B. O critério para permanecer na regressão seria atingir uma siginificância de 5%.

Tabela 2: Análise de regressão logística multivariada.

A variável IL10 apresentou um P-valor significativo, mesmo com a entrada da outra variável no modelo (Tabela 2). Ao entrar no modelo, a variável IL1B apresentou um P-valor limítrofe, mas um OR expressivo, apesar de próximo da nulidade. OR P CI IL10 (2) 2.79 0.01 1.21-6.34 IL10 (3) 2.30 0.05 0.98-5.37 TNF (2) 0.89 0.76 0.43-1.84 TNF (3) 2.00 0.43 0.35-11.23 IL1A (2) 0.89 0.71 0.49-1.61 IL1A (3) 0.46 0.11 0.17-1.21 IL1B (2) 1.68 0.07 0.94-3.01 IL1B (3) 1.24 0.74 0.34-4.54

OR

P

CI

IL10 (2)

2.99

0.01

1.29-6.95

IL10 (3)

2.50

0.03

1.05-5.92

IL1B (2)

1.81

0.05

0.99-3.29

IL1B (3)

1.11

0.87

0.29-4.21

Interpretando-se os coeficientes, conclui-se que a chance de adoecer entre os indivíduos com genótipo heterozigoto para IL10, relacionado à produção intermediária da IL-10, é três vezes maior que a chance de adoecer entre os indivíduos com genótipo sem alelo polimórfico. E que, a chance de adoecer entre os indivíduos portadores dos dois alelos polimórficos para IL10, relacionado à produção diminuída da IL-10, é duas vezes e meia maior que a chance de adoecer entre os indivíduos com genótipo sem alelo polimórfico, independente da ocorrência do outro polimorfismo.

6- DISCUSSÃO

A patogênese da retinocoroidite toxoplásmica ainda não está completamente estabelecida. Embora o agente causal tenha sido definido, os fatores determinantes da ocorrência da doença, sua evolução, resposta ao tratamento e recorrência são assuntos de discussões. Inúmeros trabalhos já demonstraram que a resposta imune apresenta um importante papel na patogênese desta doença. Este é o primeiro estudo que investiga a ocorrência de polimorfismos dos genes de resposta imune em pacientes com RT.

Ao analisarmos o polimorfismo do gene responsável pela produção da IL-10, no locus -1082, associado à diminuição da produção desta citocina (Turner et al., 1997), observou-se que a presença do alelo A está associado com a ocorrência da doença. Este resultado sugere que indivíduos infectados e portadores deste polimorfismo apresentam um maior risco de desenvolverem a doença, em comparação com indivíduos infectados, mas sem o polimorfismo, por uma menor produção da IL-10. Esse mesmo polimorfismo já foi associado com a ocorrência e gravidade da oftalmia simpática, além de sua recorrência em pacientes com doença estabilizada em uso de corticóides (Atan et al., 2005). Outro estudo observou que este mesmo polimorfismo está associado com a ocorrência de uveíte intermediária idiopática (Stanford et al., 2005). Estes resultados sugerem a importância da IL-10 na modulação da resposta imune das uveítes.

O polimorfismo do gene responsável pela produção do TNF-α, no locus – 308 G/A, está associado a um aumento da produção desta citocina inflamatória ( Wilson

polimorfismo com a ocorrência da doença, ao compararmos indivíduos infectados com e sem a doença, e com a recorrência da doença, numa análise de subgrupo entre os pacientes.

A família da interleucina 1 é dividida em IL-1α e IL-1 , que são citocinas inflamatórias e IL-ra, que é antiinflamatória. Já foi demonstrado que polimorfismo do gene produtor da IL-1α, no locus -889, leva a um aumento da produção desta citocina (Shirodaria et al., 2000). No nosso estudo, não foi observada associação entre este polimorfismo e a ocorrência da doença. Mas, ao analisarmos os pacientes com 1 ano ou mais de acompanhamento, foi observada associação deste polimorfismo com a recorrência da doença. Este resultado sugere que pacientes portadores deste polimorfismo apresentam um maior risco de recorrência da doença do que os pacientes sem este polimorfismo, devido a um aumento da produção da IL-1α. O polimorfismo do gene IL1A –889C/T também foi associado com a ocorrência de iridociclite crônica em pacientes com artrite reumatóide juvenil (Mc Dowell et al., 1995), demonstrando o papel funcional deste polimorfismo na ocorrência das uveítes.

O polimorfismo do gene produtor de IL-1 , no locus +3954, está associado ao aumento da produção desta citocina inflamatória (Pociot et al., 1992). Nesse estudo, não foram observadas associações deste polimorfismo com a ocorrência ou recorrência da doença.

A análise multivariada constitui uma boa ferramenta para avaliação múltipla de polimorfismos genéticos que permite verificar a inter-relação entre as variáveis. Por

Os resultados deste estudo confirmam a importância da resposta imune, em particular das citocinas, na patogênese da retinocoroidite toxoplásmica. Além disso, demonstra que a predisposição genética pode ser relacionada tanto com a ocorrência quanto com a recorrência da doença. Nesse estudo apresentamos que polimorfismos dos genes produtores da IL-10, uma citocina antiinflamatória, e da IL- 1α, uma citocina inflamatória estão associados com a doença. Isto sugere que possa haver um balanço entre as citocinas pró-inflamatórias e antiinflamatórias na ocorrência e recorrência da doença.

Neste trabalho não foi possível precisar o momento da infecção dos indivíduos. Dessa forma, não há como avaliar se o tempo da infecção interfere na ocorrência e recorrência da doença. Além disso, não foi possível diferenciar se a infecção foi congênita ou adquirida, podendo ser um fator de confusão. Para confirmação do papel dessas citocinas na patogênese da retinocoroidite toxoplásmica, são necessários estudos de coorte, com grande número de pacientes, e análise de outros polimorfismos ou haplótipos.

7- CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo permitem chegar às seguintes conclusões:

- O polimorfismo G/A, no locus -1082 do gene IL10, está associado com a ocorrência da RT;

- O polimorfismo G/A, no locus -308 do gene TNF-α não está associado com a RT; - O polimorfismo C/T, no locus -889 do gene IL1A, está associado com a recorrência da RT;

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