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Foram obtidos 106 questionários válidos, resultando numa taxa de resposta na ordem dos 14,6%. As estatísticas descritivas das variáveis em estudo podem ser consultadas em mais pormenor na Tabela 4.

A amostra era constituída na sua maioria por mulheres (83,0%) e tinha uma idade média de 28,7 ± 2,94 anos. Quanto ao estado civil, apenas 34,0% dos inquiridos se encontravam casa- dos ou em união de facto. Cerca de 14,2% dos médicos internos referiram existirem filhos ou outros dependentes a seu cargo. Metade dos internos da amostra frequentou cursos da Universidade do Porto, com as universidades do Sul e do estrangeiro a serem menos repre- sentadas, com uma média final que rondou os 15,2 valores. Já no referente à formação pós- graduada, 77,4% dos médicos internos da amostra escolheram Medicina Geral e Familiar como primeira opção para formação médica especializada, vulgar internato de formação es- pecífica. Destes, 42,5% dos internos da amostra encontravam-se no primeiro e segundo anos de formação.

Relativamente à carga horária, optou-se por dividir em dois tempos: pré-COVID-19 e pós- COVID-19. A média de horas de trabalho semanal dos internos da amostra passou de 40,5 horas para 38,9 horas, respetivamente. Além disso, tem-se que apenas 27,4% desempenha- vam simultaneamente outras atividades académicas e 36,8% outras atividades profissionais. No referente ao nível de insatisfação profissional, 35,8% dos internos revelou-se insatisfeito com a profissão. Enquanto que apenas 24,5% se encontravam insatisfeitos com o local de formação em que se encontravam colocados, 67,0% dos inquiridos encontrava-se insatisfeito com o programa formativo.

As unidades onde os internos desempenhavam funções tinham em média 4,3 médicos inter- nos em formação. Quanto ao tipo de unidade de Cuidados de Saúde Primários, 21,7% en- contravam-se colocados em USF-A, 69,8% em USF-B e apenas 8,5% em UCSP.

Tabela 4: Estatísticas descritivas das variáveis em estudo

Variáveis Média Mínimo Máximo Desvio-Padrão

Sexo Feminino (1 se mulher, 0 se homem) 0,830 0 1 0,377

Idade (em anos) 28,679 25 41 2,936

Casado/União de facto (1 se casado/união de

facto, 0 se o contrário) 0,340 0 1 0,476

Filhos ou dependentes a cargo (1 se sim, 0 se não) 0,142 0 1 0,350

Formação na FMUP (1 se sim, 0 se não) 0,274 0 1 0,448

Formação no ICBAS (1 se sim, 0 se não) 0,226 0 1 0,420

Formação na UBI (1 se sim, 0 se não) 0,132 0 1 0,340

Formação na UC (1 se sim, 0 se não) 0,113 0 1 0,318

Formação na UM (1 se sim, 0 se não) 0,132 0 1 0,340

Outra escola (1 se Universidade de Lisboa, Nova de

Lisboa, Algarve ou outra fora do país; 0 se o contrá- rio)

0,123 0 1 0,330

Anos de internato (1 se inferior a 3, 0 se igual ou su-

perior a 3) 0,425 0 1 0,497

Classificação final do Mestrado Integrado em

Medicina (em valores 0-20) 15,200 13,30 18,00 0,943

Medicina Geral e Familiar como 1ª opção (1 se

sim, 0 se não) 0,774 0 1 0,420

Horas de trabalho na unidade pré-COVID-19

(média semanal) 40,505 32,5 58,0 4,345

Horas de trabalho na unidade pós-COVID-19

(média semanal) 38,934 29,0 53,0 5,085

Outras atividades académicas (1 se sim, 0 se não) 0,274 0 1 0,448

Outras atividades profissionais (1 se sim, 0 se não) 0,368 0 1 0,485

Insatisfação profissional (1 se insatisfeito, 0 se sa-

tisfeito) 0,358 0 1 0,482

Insatisfação com o local de formação (1 se insatis-

feito, 0 se satisfeito) 0,245 0 1 0,432

Insatisfação com o programa formativo (1 se insa-

tisfeito, 0 se satisfeito) 0,670 0 1 0,473

Nº de médicos internos na unidade (incluindo o

inquirido) 4,264 1 8 1,812

UCSP (1 se sim, 0 se não) 0,085 0 1 0,280

USF-A (1 se sim, 0 se não) 0,217 0 1 0,414

USF-B (1 se sim, 0 se não) 0,698 0 1 0,461

Legenda: FMUP- Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; ICBAS-Instituto de Ciências Biomédicas Abel Sala- zar; UBI-Universidade da Beira Interior; UC-Universidade de Coimbra; UM-Universidade do Minho.

Relativamente à intensidade do burnout, e avaliando individualmente as diferentes dimensões de acordo com a revisão da literatura, temos que 71,7% dos internos da amostra sofrem de exaustão emocional em grau pelo menos moderado e 50,9% em grau elevado. No que diz respeito à despersonalização, obteve-se uma prevalência de burnout elevado na ordem dos 23,6% e moderado de 35,6%, totalizando despersonalização moderada a elevada na ordem dos 59,2%. Na dimensão do burnout referente à realização pessoal, 81,1% dos inquiridos de- clararam baixa realização pessoal, enquanto que em 31,1% se categorizavam como tendo

burnout elevado nesta dimensão. Por fim, considerando o burnout global como a afetação de

pelo menos duas dimensões, este estudo obteve uma prevalência de burnout elevado em mé- dicos internos na ordem dos 34,0%.

A Tabela 5 resume as diferenças de médias de burnout obtidas no estudo de acordo com a unidade funcional onde se encontra colocado o médico interno. Constatou-se que o nível de

burnout em qualquer uma das três dimensões é superior nas UCSP. No entanto, estas dife-

renças não são estatisticamente significativas, pelo que não se pode daqui inferir qual das unidades estará mais associada a burnout nos médicos.

Tabela 5: Diferenças de médias de Burnout de acordo com a unidade funcional

4.2. Análise de causalidade

A tabela do Anexo 2 apresenta as correlações entre as diferentes variáveis independentes em estudo, concluindo-se com base nas estimativas do coeficiente de Pearson não existir pro- blemas sérios de multicolinearidade. Não obstante a correlação entre a idade e o número de

Dimensão do

burnout Intensidade do burnout UCSP (n=9) USF-A (n=23) USF-B (n=74) Kruskal Wallis test (p-value)

Exaustão Emocional Baixo 22,2% 26,1% 29,7% 0,865 Médio 11,1% 34,8% 17,6% 0,159 Elevado 66,7% 39,1% 52,7% 0,325 Despersonalização Baixo 33,3% 47,8% 39,2% 0,688 Médio 33,3% 30,4% 37,8% 0,802 Elevado 33,3% 21,7% 23,0% 0,768 Realização Pessoal (relação inversa) Baixo 11,1% 17,4% 20,3% 0,788 Médio 44,4% 56,5% 48,6% 0,759 Elevado 44,4% 26,1% 31,1% 0,604

Burnout global elevado (≥2 dimensões) 44,4%

filhos ou outros dependentes a cargo ser positiva (indivíduos mais velhos estão associados a um número de filhos ou dependentes a seu cargo mais elevado) e relativamente elevada, o coeficiente de Pearson está apenas ligeiramente acima de 0,60.

A Tabela 6 apresenta as estimativas dos coeficientes das regressões logísticas para cada uma das variáveis dependentes consideradas: burnout por exaustão emocional, burnout por desper- sonalização, burnout por baixa realização pessoal e burnout global.

Exaustão Emocional

Existe relação estatisticamente significativa entre a carga horária pré e pós-COVID (especi- almente nesta última) e a exaustão emocional. Este achado é apoiado pelo maior relatório português de burnout médico (Vala, et al., 2017).

Além da carga horária, também a insatisfação profissional, com o local de formação e com o programa formativo parecem desempenhar um papel importante na exaustão emocional des- tes profissionais. Esta relação está especialmente estabelecida para a insatisfação profissional (p-value 0,00), e vai de encontro aos resultados obtidos num estudo realizado com 210 inter- nos de Medicina Geral e Familiar da Região Norte (Mendes, Portela Cardoso, & Yaphe, 2017). No presente estudo, médicos internos insatisfeitos têm um risco de burnout por exaus- tão emocional cerca de 37 vezes superior aqueles que se dizem satisfeitos do ponto de vista profissional.

No que diz respeito ao modelo organizativo, foi estabelecida relação estatisticamente signi- ficativa, embora limítrofe (p-value 0,10), entre os médicos internos colocados numa USF-A e um menor grau de exaustão emocional, fazendo com que médicos colocados em USF-B parecem ser mais predispostos a sofrer exaustão emocional face aos restantes colegas colo- cados em UCSP ou USF-A. Como previamente exposto, esta relação não tinha sido previa- mente estudada de forma detalhada pelo que carece que suporte bibliográfico.

Despersonalização

Nesta dimensão, a escola de formação pré-graduada parece desempenhar alguma influência no burnout. Os achados deste estudo sugerem que completar o mestrado integrado em medi- cina numa das escolas da Universidade do Porto ou na Universidade de Coimbra parece estar

associado a maior despersonalização. A relação está especialmente estabelecida para o Insti- tuto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (p-value 0,03), com uma probabilidade de burnout por despersonalização a ser 29 vezes superior a ter completado a formação numa das escolas de Lisboa ou fora do país. O único estudo publicado que aborda esta temática não apoia os achados deste estudo, dado que não encontrou relação entre estas variáveis (Mendes, Portela Cardoso & Yaphe, 2017).

Além da escola, desempenhar funções académicas pós-laborais parece aumentar a probabili- dade de burnout por despersonalização nos médicos internos em estudo em 5 vezes face aos que não as desempenham (p-value 0,02). De igual modo, a insatisfação com o local de forma- ção e com o programa formativo está associada à despersonalização (p-value 0,08), fazendo com que médicos internos insatisfeitos acumulem um risco relativo cerca de 4 vezes superior aos que se encontram satisfeitos com esses dois parâmetros. Estes achados vão de encontro ao estudo realizado em população semelhante por Mendes, Portela Cardoso & Yaphe (2017).

Realização Pessoal

Ao contrário das restantes dimensões, o estado civil parece ter influência na realização pes- soal, dado que médicos internos casados ou em união de facto demonstraram-se menos re- alizados do que os que os solteiros (p-value 0,08), e, portanto, estar casado ou em união de facto aumentou a probabilidade de ter burnout em cerca de 4 vezes face aos solteiros. Este achado é discordante do obtido noutros estudos, nomeadamente de Soler et al. (2008), mas os estudos acerca desta temática são altamente controversos, como discutido previamente. Os dados obtidos neste estudo indicam que médicos internos com formação pré-graduada na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto são menos realizados e, portanto, mais propensos ao burnout. Esta relação é estatisticamente significativa a 10%. Não se estabeleceu qualquer relação para as restantes escolas.

Por fim, a insatisfação profissional está associada a médico internos menos realizados, au- mentando o risco de burnout em 7 vezes face aos médicos satisfeitos do ponto de vista pro- fissional, com uma relação estatisticamente significativa e forte (p-value 0,00). Este achado é suportado pelo estudo de Soler et al. (2008).

Tabela 6: Relação de causalidade entre as variáveis

Variáveis β (erro)

EE DP RP Global

Sexo feminino (1 se mulher, 0 se homem) 1,240 (1,061) -0,431 (0,797) 0,904 (0,791) 1,586 (1,022) Idade (ln) 0,768 (5,268) 4,676 (4,346) -1,799 (4,018) -0,733 (4,503) Casado/União de facto (1 se casado/união de facto,

0 se o contrário) 0,805 (0,941) 0,632 (0,815) 1,451* (0,834) 2,179** (0,971) Filhos ou dependentes a cargo (1 se sim, 0 se não) 0,946

(1,445) -0,692 (1,162) 0,101 (1,015) -0,526 (1,188) Formação na FMUP (1 se sim, 0 se não) 1,364

(1,331) 3,071** (1,476) 1,906* (1,146) 3,385*** (1,356) Formação no ICBAS (1 se sim, 0 se não) (1,486) 1,532 3,352(1,554) ** (1,177) 1,522 3,090(1,358) **

Formação na UBI (1 se sim, 0 se não) 1,670 (1,484) 1,742 (1,531) -0,711 (1,183) -0,506 (1,356) Formação na UC (1 se sim, 0 se não) -1,089

(1,700) 2,875* (1,571) 1,153 (1,183) 0,776 (1,390) Formação na UM (1 se sim, 0 se não) (1,575) 0,558 (1,746) 2,792 (1,325) 2,063 (1,533) 2,567* Ano do internato (1 se inferior a 3, 0 se igual ou su-

perior a 3) -0,140 (0,942) 0,397 (0,746) 0,799 (0,700) 0,836 (0,762) Classificação final do Mestrado Integrado em Medi-

cina (ln) -9,205 (7,237) 0,717 (6,267) 5,094 (5,529) -0,730 (6,125) Medicina Geral e Familiar como 1ª opção (1 se sim, 0

se não) -0,211 (1,005) 1,059 (0,923) 1,025 (0,840) 0,920 (0,906) Horas de trabalho na unidade pré-COVID-19 (ln) (3,808) 6,991* (3,580) 1,391 (3,145) -3,054 (3,429) 2,222 Horas de trabalho na unidade pós-COVID-19 (ln) 8,910***

(3,325) -2,172 (2,862) 3,741 (2,494) 5,315* (2,771) Outras atividades académicas (1 se sim, 0 se não) 0,719

(0,785) 1,662** (0,724) -0,084 (0,702) 1,104 (0,767) Outras atividades profissionais (1 se sim, 0 se não) (0,798) -0,858 (0,718) -1,156 (0,683) 0,658 (0,764) -0,999 Insatisfação profissional (1 se insatisfeito, 0 se satis-

feito) 3,610*** (0,906) 0,849 (0,664) 1,931*** (0,650) 2,923*** (0,804) Insatisfação com o local de formação (1 se insatis-

feito, 0 se satisfeito) 2,462** (1,110) 1,454* (0,841) 0,510 (0,720) 1,435* (0,867) Insatisfação com o programa formativo (1 se insatis-

feito, 0 se satisfeito) 1,502* (0,917) 1,345* (0,769) 0,276 (0,649) 1,437 (0,893) Nº de médicos internos na unidade (ln) -0,921

(0,787) -0,043 (0,772) 0,385 (0,705) -0,812 (0,783) UCSP (1 se sim, 0 se não) -0,106

(1,371) 1,822 (1,231) 1,727 (1,129) 1,660 (1,366) USF-A (1 se sim, 0 se não) -1,435(0,883) * (0,782) -0,082 (0,710) -0,394 (0,839) -1,355 Nagelkerke R Square 0,660 0,337 0,365 0,544

Teste Hosmer e Lemeshow (p-value) 8,560

(0,381) 17,909 (0,022) 6,250 (0,619) 5,361 (0,718) Percentagem de corretos 84,9% 80,2% 82,1% 79,2%

Legenda: *** (**) [*] significativo a 1% (5%) [10%]; FMUP- Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; ICBAS-Instituto de Ciên- cias Biomédicas Abel Salazar; UBI-Universidade da Beira Interior; UC-Universidade de Coimbra; UM-Universidade do Minho.

Burnout Global

Entenda-se por burnout global a afetação de pelo menos duas das três dimensões de burnout. O estado civil casado ou em união de facto está relacionado, com significância estatística (p-

value 0,02), ao burnout global elevado, com uma probabilidade cerca de 9 vezes superior aos

solteiros.

No referente às escolas de formação pré-graduada, ter estudado na Universidade do Minho ou na Universidade do Porto está associado a burnout global elevado. Esta relação é especial- mente forte para os médicos internos formados na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (p-value 0,01), com uma probabilidade 30 vezes superior de apresentar burnout ele- vado face às escolas de Lisboa ou fora do país.

A carga horária pós-COVID-19 desempenhou um papel importante no burnout global dos médicos internos em estudo, com p-value de 0,06, relação esta que não seria relevante no pré- COVID-19. Na atualidade, médicos com carga horária excessiva são mais propensos a sofrer de burnout elevado.

A insatisfação profissional e com o local de formação estão relacionadas com o burnout global elevado dos médicos internos da amostra. Esta relação é especialmente forte para a insatis- fação profissional, com um p-value de 0,00, podendo concluir-se que médicos internos insa- tisfeitos desse ponto de vista têm uma probabilidade 19 vezes superior de sofrer de burnout elevado face a um interno satisfeito.

5. Conclusões

A literatura é clara ao estabelecer a importância da gestão do burnout em profissionais de saúde, abordando não só as suas causas, mas essencialmente formas de prevenção que evitem a sua incidência ou reincidência. Dentro da classe médica, os médicos internos de Medicina Geral e Familiar acumulam fatores de risco que os tornam especialmente propensos ao fe- nómeno. Este estudo, além de ter tentado estabelecer a relação com alguns fatores pessoais e relacionados com o trabalho, alicerçou-se sobretudo nos fatores organizacionais, em espe- cial na relação entre o burnout nestes profissionais e o modelo organizativo da unidade onde que se encontravam colocados.

Relativamente aos fatores pessoais, não foi estabelecida relação entre idade ou género e o

burnout. Por outro lado, esta relação está patente para médicos internos casados ou em união

de facto, mais afetados pelo burnout por baixa relação pessoal e global elevado. A existência de filhos ou outros dependentes a cargo não se revelou relevante para o burnout em qualquer uma das dimensões. Já no referente à escola de formação pré-graduada, as escolas da Uni- versidade do Porto e a Universidade de Coimbra estão relacionadas com maior nível de des- personalização, enquanto que apenas a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto se relacionou com menor realização pessoal. Globalmente, os internos formados nas escolas da Universidade do Porto e na Universidade do Minho são mais afetados por burnout global elevado (2 ou 3 dimensões afetadas). Não se estabeleceu qualquer relação entre a escola de formação e exaustão emocional. Por fim, a classificação final do mestrado integrado em me- dicina, o facto de ter escolhido Medicina Geral e Familiar como primeira opção e o ano de internato não se relacionaram com o burnout neste estudo.

No referente aos fatores relacionados com o trabalho, a carga horária excessiva está associada à exaustão emocional, particularmente na era pós-COVID-19. Apesar de não se ter estabe- lecido relação com as restantes dimensões do burnout, a carga horária excessiva dos médicos internos no pós-COVID-19 está relacionado com o burnout global elevado. Já do ponto de vista das atividades extralaborais concluiu-se que internos com atividades académicas pós- laborais têm níveis de despersonalização mais elevados. A insatisfação profissional está asso- ciada a mais exaustão emocional, menos realização pessoal e maior burnout global elevado. Já no que diz respeito à insatisfação com o local de formação, os internos insatisfeitos obtive- ram maiores níveis de burnout por exaustão emocional e despersonalização, bem como global.

A insatisfação com o programa formativo está associada a maior exaustão emocional e des- personalização.

Por fim, já do ponto de vista dos fatores organizacionais, o número de colegas internos na unidade não se associa ao burnout nesta amostra. O modelo organizativo da unidade onde o interno se encontra colocado não se relacionou com a despersonalização ou realização pes- soal. No entanto, estar colocado numa USF-A está associado a menor exaustão emocional, dado que carece de comparação com outros estudos dado o caracter inovador do presente trabalho. No entanto, baseado na revisão do estado da arte acerca deste tema, seria expectável que uma unidade mais coesa e oleada, baseada no espírito de equipa e com provas dadas de maior desempenho avaliado por indicadores universais e com regime remuneratório com- pensatório, ou seja, uma USF-B, estaria associada a níveis mais baixos de burnout nos seus profissionais. Na verdade, as USF têm sido apresentadas como bons modelos de trabalho na prevenção do burnout (Marcelino, et al., 2012). O achado do presente estudo poderá estar relacionado com, por um lado, o maior nível de exigência no cumprimento dos indicadores de saúde que a equipa se compromete a atingir, ou, por outro lado, a ausência de um regime remuneratório compensatório diferenciado que contrabalance o maior compromisso com a unidade, quer em tempo, quer em esforço. Outra hipótese será ainda o sentimento de injus- tiça patente nos internos colocados em USF-B, dado que são os únicos profissionais da equipa que não são compensados monetariamente pelo seu desempenho, apesar de partilha- rem com ela os objetivos e metas a atingir. Aliado a isso, são membros que não fazem ofici- almente parte do conselho geral da unidade e que por isso não têm uma voz ativa nas decisões que ditam o funcionamento da mesma.

Os achados deste estudo, e dada a controvérsia dos resultados sobre a temática do burnout, carecem da realização de mais ensaios de qualidade para que se possa concluir sobre os prin- cipais fatores de risco para a síndrome, especialmente os passíveis de modificação como sendo os relacionados com o trabalho e os organizacionais. Especialmente face a estes últi- mos, e dado que temos encarado nos últimos anos uma reforma dos Cuidados de Saúde Primários, torna-se imperativo conhecer qual o impacto da evolução de UCSP para USF, e de USF-A para USF-B, no que diz respeito ao burnout dos seus profissionais. Conhecer o

burnout e os seus fatores contributivos é o primeiro passo para a sua prevenção e gestão

atempada. É urgente que se conclua que sem saúde, o profissional tem pouco ou nada a oferecer, e que sejam tomas medidas de prevenção do burnout (Bansal, et al., 2020).

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