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Resultados da aplicação do teste de sondagem

2. DO PERCURSO METODOLÓGICO ÀS VIAS DE INTERVENÇÃO

2.4 Resultados da aplicação do teste de sondagem

Diante da necessidade de confirmar se a nova turma selecionada para pesquisa apresentava os mesmos problemas de leitura que a turma analisada no período de elaboração do projeto deste trabalho, aplicamos, dias antes do desenvolvimento da proposta, uma nova atividade de sondagem, empregando o mito de Asclépio, na versão de Heloisa Prieto, que está disponível no livro didático Português: Linguagens, 7º ano, de Cereja e Magalhães (2015), adotado para a turma em pesquisa.

A atividade, com questões previamente elaboradas pela professora pesquisadora, confirmou que os alunos mudam ao longo dos anos letivos, mas os problemas de leitura e aprendizagem, no geral, continuam os mesmos.

As questões elaboradas, como se pode observar no anexo C, foram pautadas em alguns dos descritores da matriz de referência da Prova Brasil para o segmento do 6º ao 9º ano do

ensino fundamental, os quais requerem habilidades condizentes com a série/idade dos alunos a serem avaliados e com o desenvolvimento da nossa proposta pedagógica. A saber:

(D1) Localizar informações explícitas em um texto = 2ª, 4ª, 5ª questões; (D4) Inferir uma informação implícita= 3ª, 6ª, 9ª

(D6) Identificar o tema de um texto= 8ª

(D10) Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa= 1ª

(D12) Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros= 7ª

Concordamos com Ferrarezi Jr. e Carvalho (2017, p. 98), quando dizem que essas habilidades ―não correspondem à totalidade do processo de leitura‖, mas que errá-las ou acertá-las pode ―indicar o domínio ou estágio de desenvolvimento da pessoa naquela habilidade em particular‖, por isso adotamos aqui este método de avaliação para termos uma noção do nível de proficiência dos alunos especificamente nestas habilidades básicas de leitura.

Há o registro de 37 alunos no diário, porém nem todos estão frequentando e três constam como transferidos. No dia da aplicação do teste de sondagem apenas 27 alunos realizaram a atividade. Como resultado, observou-se que a maioria obteve sucesso em localizar e recuperar informações explícitas no texto, em apontar alguns dos elementos da narrativa, entretanto, poucos realizaram as inferências necessárias para a construção dos sentidos possíveis do texto. Quando foi cobrado que se relacionasse a história a temas do nosso cotidiano, por exemplo, ou que se identificasse a função do texto, pouquíssimos apresentaram respostas totalmente adequadas, como vemos detalhadamente na tabela.

Para melhor facilitar o julgamento das respostas dos alunos comparativamente, estabelecemos os conceitos de ―adequada‖, para quando a resposta do aluno é totalmente condizente com o que pede a questão; ―parcialmente adequada‖ para quando a resposta tem lógica, mas não está totalmente adequada ao que a questão exige ou porque está incompleta, necessitando de maiores informações e esclarecimentos; e ―inadequada‖ para quando a resposta apresentada é incoerente, ilógica, não condizente com o que a questão exige de conhecimento.

Optamos em trabalhar com esse conceito de adequação e inadequação para avaliar as respostas dos alunos ao longo das atividades, porque os textos permitem múltiplas leituras, a depender do leitor, mas também possuem um limite para sua interpretação. Concordamos que

―não há leituras autorizadas num sentido absoluto, mas apenas reconstruções de significados, algumas mais e outras menos adequadas, segundo os objetivos e intenções do leitor‖ (KLEIMAN, 2001, p. 23), por isso, consideramos que a leitura feita pelo professor/pesquisador não é a única possível.

Entretanto, entendemos também o que muitos teóricos, assim como Ferrarezi Jr. e Carvalho (2017, p. 90) salientam:

[...] o processo parece ter um limite: não dá para cada um achar o que bem quiser do texto sob o argumento de que é sua opinião, e opinião cada um tem a que quiser! Há limites impostos exatamente pelo próprio material textual, isto é, não dá para sair falando qualquer coisa sobre o texto que não tenha um ponto de apoio nas informações que o próprio texto divulga.

Assim, sintetizamos os dados obtidos da avaliação do teste da seguinte forma:

Quadro 1- Demonstrativo dos resultados da atividade de sondagem

QUESTÕES ADEQUADAS PARCIALMENTE

ADEQUADAS INADEQUADAS TOTAL DE RESPOSTAS 1ª a) b) c) d) 22 3 16 5 4 7 0 2 0 9 6 7 26 19 22 14 2ª 18 7 2 27 3ª 8 09 7 24 4ª 12 8 5 25 5ª 7 4 13 24 6ª 4 7 7 18 7ª 0 16 4 20 8ª 7 3 6 16 9ª 6 11 3 20

Fonte: Dados da pesquisa.

Apenas 11 alunos dispuseram-se a responder todas as questões, sendo que dois alunos se recusaram a responder a maior parte da atividade (SP e JL). Observa-se que as questões mais respondidas foram a de identificação dos elementos da narrativa e as de recuperar informações explícitas no texto. As questões de 6 a 9 que exigem, sobretudo, estratégias de

inferências foram as que os alunos menos responderam adequadamente e mais deixaram em branco por não saberem responder, segundo o que nos justificavam.

A aplicação da atividade de sondagem, além de revelar os problemas de leitura pontuados, demonstrou também que a leitura ainda é uma atividade maçante para muitos alunos, pois alguns insistiram em começar a responder às questões sem ler o texto integralmente antes, mesmo tendo sido orientados a realizar a leitura prévia da narrativa. Em virtude dessa postura, apresentaram dificuldade até mesmo para compreender os enunciados, o que levou a professora mediadora a dar maiores esclarecimentos sobre as questões e alertá- los novamente para a importância da leitura prévia e integral do texto.

Outro ponto revelado foi a falta de habilidades suficientes para a realização de uma leitura minuciosa ou analítica, em que se desvenda o texto, observando sua estrutura, seu propósito, as palavras e expressões empregadas e sua relação com a realidade, isto é, com questões humanas e sociais que o permeiam. Por tudo isso, é que, pensando em minimizar os problemas de leitura identificados e contribuir com a ampliação da competência leitora dos alunos, desenvolvemos uma sequência didática (SD) voltada para exploração do caráter figurativo do texto mítico-literário para levar os alunos a uma efetiva compreensão/interpretação dos mesmos.

Em conformidade com os objetivos a serem alcançados, estruturamos uma sequência didática em que se privilegiou o ensino e desenvolvimento de estratégias de leitura, atrelando conhecimento composicional, linguístico, literário e mítico, na medida em que se atribuíam os sentidos construídos aos textos. Todas as atividades propostas se desenvolveram tendo o texto mítico como unidade básica do ensino. Por isso, selecionamos três narrativas míticas, ―Eco e Narciso‖ e ―Cupido e Psiquê‖, da obra Histórias Greco-Romanas (2013), de Ana Maria Machado e ―Teseu, o Ateniense‖, do livro Contos e Lendas da Mitologia Grega (2001), de Claude Pouzadoux e tradução de Eduardo Brandão, sobre as quais nos debruçamos durante, aproximadamente, 18 aulas, distribuídas em cinco etapas.

Na primeira etapa trabalhou-se o (re)conhecimento do gênero mito, focando em suas funções e características e na apresentação da mitologia grega e da genealogia dos deuses olímpicos. Na segunda, o foco foi a linguagem literária e o caráter figurativo das narrativas míticas, com base na leitura e estudo do texto ―Eco e Narciso‖, de Machado (2013). Na terceira etapa, retomamos os conhecimentos anteriores para explorar a narrativa de Teseu e compreender a relação figura-tema, concreto-abstrato que normalmente permeia os textos

mítico-literários. Já na quarta, buscou-se concentrar a aprendizagem e aprofundar as análises interpretativas dos textos, com o acréscimo da narrativa de Cupido e Psiquê, para propiciar uma leitura crítica-interpretativa. Por último, motivados pelo jogo ―labirinto mítico-literário‖, os alunos exercitaram os conhecimentos adquiridos e soltaram a imaginação na criação, em grupo, de narrativas míticas.

Para o encerramento do trabalho, promovemos um momento de confraternização em que desfrutamos dos textos produzidos, do compartilhamento dos saberes adquiridos e de um delicioso café da manhã.

Como resultado desta intervenção, foi elaborado um Caderno Pedagógico em que estão detalhadas todas as etapas de execução da sequência didática, previamente descrita, com a intenção de auxiliar outros professores no processo de ensino/aprendizagem da leitura literária, por meio de mitos. No Caderno, são pontuadas também as variantes possíveis de aplicação da proposta e sugestões de adaptação das atividades realizadas. Estas, inclusive, podem ser desenvolvidas em séries diferentes que revelem dificuldades leitoras semelhantes à da turma investigada. Disponibilizamos esse material no apêndice deste relatório.

3. LEITURA MÍTICO-LITERÁRIA: UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO DO