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3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.3 RESULTADOS DA DECOMPOSIÇÃO SALARIAL DE OAXACA (1973)

Nesta subseção foram realizadas as decomposições do diferencial de rendimentos, por meio da metodologia proposta por Oaxaca (1973), entre homens brancos e as mulheres negras, homens negros e mulheres negras, e por último, as mulheres brancas e mulheres negras. O prognóstico inicial desta investigação considera como causa das desvantagens salariais, entre os grupos listados, a presença da discriminação que incidem principalmente entre os afrodescendentes, devido a fatores históricos constitutivos da sociedade brasileira, esta moldada sob a égide escravocrata e relações sociais estruturadas com o homem branco no poder e os negros como agentes discriminados.

Constam na tabela (3.5) os resultados do diferencial da renda do trabalho principal, segundo a metodologia comentada, incluindo a estratificação entre os efeitos explicados (efeito dotação), não explicados (efeito discriminação) e seu componente interativo. Observa- se a nível estadual, no ano de 2001, o diferencial do salário no estado baiano dos homens brancos e as mulheres negras respondendo por 58,7% favoráveis aos homens brancos e estatisticamente significativos.

O hiato nos rendimentos entre os pares mostra que os atributos produtivos (efeito dotação), apresentado com sinal negativo (-0,8%), pode ser interpretado da seguinte forma: mesmo as mulheres negras possuindo melhores atributos produtivos, em relação aos homens brancos, as afrodescendentes são desprestigiadas em seus rendimentos do trabalho. Pereira e Oliveira (2016) comentam que o sinal negativo do coeficiente de dotação, indica que o grupo

com menor remuneração no mercado de trabalho, ainda que apresentem melhores atributos produtivos, auferem menores rendimentos. Neste sentido, como indicado pelos resultados dotacionais, as mulheres negras mesmo possuindo melhores atributos produtivos (nível de escolaridade 4% maior que a categoria masculina confrontada), ainda assim, estas mulheres obtêm menores saldos salariais no mercado de trabalho, se equiparadas aos homens brancos. Todavia, quando o coeficiente de dotação mostra-se com sinal positivo, pode ser um indicador que o grupo com melhor remuneração detém melhores atributos produtivos contra os demais.

O coeficiente de discriminação (componente residual) totalizou 67,0%, sendo uma das principais fontes causadoras pelo diferencial de rendimento entre o grupo base do mercado de trabalho e as mulheres negras. O sinal positivo encontrado neste componente confirma a existência de discriminação no mercado de trabalho baiano, atestando a existência de discriminação no meio laboral, demonstrando que os atributos ligados às características pessoais dos trabalhadores (mulheres negras) são mais valorizados que os atributos produtivos, assim ressaltam (PEREIRA e OLIVEIRA, 2016).

Ainda no ano de 2001, os indícios entre as estimativas do gap salarial devido à discriminação, na Bahia e no Brasil, foram os maiores responsáveis pelas desigualdades de renda, opondo o grupo de homens brancos contra as mulheres negras. Entre o seu grupo de cor, no território baiano, o efeito prevalecente das distinções salariais para a categoria negra, revelou-se em maior proporção através das características não explicadas (40,6%).

Diante dos resultados encontrados, evidencia-se pelo efeito dotação que as desvantagens derivadas dos coeficientes produtivos pouco explicam as diferenças nos proventos salariais destes pares. Inversamente, no Brasil estes valores para os homens negros e mulheres negras informam que as desvantagens das últimas, em relação aos homens do seu grupo, foram menores (19,9%). Pelo componente dotacional, nas duas esferas geográficas, nota-se que as trabalhadoras negras possuem melhores atributos produtivos que os homens negros, mas o efeito dotação não se configura para estas mulheres em melhores proventos salariais.

Em seguida, têm-se os contrastes entre as mulheres baianas. Percebe-se que o diferencial salarial representou 57,7% favoráveis às mulheres brancas, compostos pelos efeitos dotacionais (25,0%) e discriminatórios (26,8%). Ao passo em que, entre a categoria feminina branca e negra nacional, o diferencial da renda foi contabilizado em 54,3% e a desigualdade salarial em virtude da discriminação resultou em 24,3% no país. A decomposição nacional apresentaram componentes explicativos um pouco abaixo das estratificações encontradas no estado.

Tabela 3.5

Decomposição salarial por Gênero e Cor na Bahia e Brasil no ano de 2001.

Bahia 2001 Brasil 2001

LnSalário_hora Coef. Std.Err P>z LnSalário_hora Coef. Std.Err P>z

Diferencial Diferencial

Homem branco 2.177487 0.031 0.000 Homem branco 2.522722 0. 009 0.000 Mulher negra 1.589661 0.015 0.000 Mulher negra 1.764458 0. 005 0.000 Diferença 0.5878268 0.035 0.000 Diferença 0.7582632 0. 011 0.000

Componentes Componentes

Efeito Dotação -0 0084554 0.024 0.734 Efeito Dotação 0.1139484 0.008 0.000 Efeito Discriminação 0.6709158 0.031 0.000 Efeito Discriminação 0.6455405 0.011 0.000 Interação -0.0746337 0.023 0.002 Interação -0.0012257 0.009 0.896

Diferencial Diferencial

Homem negro 1.798489 0.014 0.000 Homem negro 1.963804 0.006 0.000 Mulher negra 1.589661 0.015 0.000 Mulher negra 1.764458 0.005 0.000 Diferença 0.2088288 0.021 0.000 Diferença 0.1993456 0.008 0.000

Componentes Componentes

Efeito Dotação -0.1676935 0.027 0.000 Efeito Dotação -0.1468236 0.012 0.000 Efeito Discriminação 0.4067628 0.019 0.000 Efeito Discriminação 0.380256 0.008 0.000 Interação -0.0302405 0.025 0.239 Interação -0.0340869 0.012 0.005

Diferencial Diferencial

Mulher branca 2.167643 0.048 0.000 Mulher branca 2.308024 0.008 0.000 Mulher negra 1.589661 0.015 0.000 Mulher negra 1.764458 0.005 0.000 Diferença 0.5779819 0.051 0.000 Diferença 0.5435653 0.010 0.000

Componentes Componentes

Efeito Dotação 0.2509188 0.024 0.000 Efeito Dotação 0.2480393 0.005 0.000 Efeito Discriminação 0.2686659 0.051 0.000 Efeito Discriminação 0.243108 0.010 0.000 Interação 0.0583971 0.019 0.003 Interação 0.052418 0.004 0.000

Fonte: Microdados da PNAD 2001. Elaboração própria. Cor branca: branca+amarela; Cor preta: preta+parda.

O diferencial de rendimento observado nacionalmente, entre os homens brancos e as mulheres negras foi de 75,8%, no respectivo ano, com o efeito discriminatório respondendo por 64,5%, maior nível encontrado entre todos os grupos nacionais.

Na tabela (3.6) com a realização da decomposição, na Bahia para o ano de 2015, a diferença salarial encontrada entre os homens brancos e as mulheres negras correspondeu a (20,8%), contudo o termo do efeito discriminatório está como principal elemento para as desvantagens intergrupo. Novamente, a interpretação do efeito dotação negativo (-19,2%) resulta que mesmo as mulheres negras possuindo melhores atributos produtivos em relação aos homens brancos, a categoria negra são desprestigiadas em seus rendimentos. Enquanto o efeito não explicado foi representado por 41,8%. Ao retomar os achados para o ano de 2001, é possível notar que houve uma queda significativa tanto nas diferenças salariais, como uma redução da discriminação no estado baiano que era de 67,0% passando para 41,8% no ano final, uma diferença de 25,2 p. p.

Tabela 3.6

Decomposição salarial por Gênero e Cor na Bahia e Brasil no ano de 2015.

Bahia 2015 Brasil 2015

LnSalário_hora Coef. Std.Err P>z LnSalário_hora Coef. Std.Err P>z

Diferencial Diferencial

Homem branco 3.343221 0.047 0.000 Homem branco 3.850983 0.016 0.000 Mulher negra 3.134519 0.013 0.000 Mulher negra 3.281698 0.004 0.000 Diferença 0.2087018 0.049 0.000 Diferença 0.5692856 0.016 0.000

Componentes Componentes

Efeito Dotação -0.192058 0.030 0.000 Efeito Dotação 0.0115209 0.007 0.104 Efeito Discriminação 0.4184215 0.044 0.000 Efeito Discriminação 0.5145002 0.017 0.000 Interação -0.0176616 0.036 0.630 Interação 0.0432645 0.009 0.000

Diferencial Diferencial

Homem negro 3.295358 0.037 0.000 Homem negro 3.469041 0.011 0.000 Mulher negra 3.134519 0.013 0.000 Mulher negra 3.281698 0.004 0.000 Diferença 0.1608386 0.040 0.000 Diferença 0.1873436 0.012 0.000

Componentes Componentes

Efeito Dotação -0.2224715 0.029 0.000 Efeito Dotação -0.1570445 0.009 0.000 Efeito Discriminação 0.3164201 0.034 0.000 Efeito Discriminação 0.3102432 0.011 0.000 Interação 0.0668901 0.034 0.050 Interação 0.0341449 0.010 0.002

Diferencial Diferencial

Mulher branca 3.361942 0.043 0.000 Mulher branca 3.63001 0.008 0.000 Mulher negra 3.134519 0.013 0.000 Mulher negra 3.281698 0.004 0.000 Diferença 0.2274225 0.045 0.000 Diferença 0.3483123 0.009 0.000

Componentes Componentes

Efeito Dotação 0.0810535 0.018 0.000 Efeito Dotação 0.1406416 0.003 0.000 Efeito Discriminação 0.089513 0.044 0.044 Efeito Discriminação 0.1541019 0.009 0.000 Interação 0.056856 0.019 0.004 Interação 0.0535689 0.003 0.000

Fonte: Microdados da PNAD 2015. Elaboração própria. Cor branca: branca + amarela; Cor preta: preta + parda

Entre o grupo negro, o diferencial salarial do grupo masculino e feminino foi a menor dentre todos os grupos (16,0%) no estado. Por último, consta a estratificação para as mulheres classificadas por cor, suas respectivas distinções salariais no estado, ainda no ano de 2015, foram de 22,7%. Com as mesmas estimações referentes ao Brasil, verifica-se que os determinantes nas desigualdades de renda, oriundos do diferencial salarial para estas mulheres atingiu 34,8%, dos quais, os efeitos discriminatórios corresponderam a 15,4%. Com a diferença sendo calculada desagregando o salário das mulheres negras contra os demais grupos, observa-se que os sinais dos parâmetros de discriminação se apresentam positivos, um indicativo tipificado em ambas as colunas.

Através da figura 3.1 restringida à decomposição no período de 2001 e 2015, pode ser visualizado o declínio no diferencial de rendimento e do efeito discriminação entre os homens brancos e mulheres negras na Bahia.

Fonte: Microdados da PNAD 2001 e 2015. Elaboração própria.

Este declínio no diferencial de rendimento, expresso na figura 3.1, representou uma diferença de 37,9 p.p., entre 2001 e 2015. Este resultado pode ser compreendido na esfera produtiva como uma nova tomada comportamental onde as mulheres cada vez mais se retiram do lar perfazendo a mobilidade em direção ao mercado de trabalho, nesta dinâmica pode ser adicionando o investimento realizado por estas na qualificação educacional, assim como as transformações ocorridas no país, sejam elas de caráter demográfico, social e cultural, como salienta Bruschini (2007). Estas transformações elencadas pela autora podem ser observadas através da queda da taxa de fecundidade, a redução no tamanho das famílias e o envelhecimento da população.

Uma redução significativa no componente discriminatório pode ser observada no biênio de análise. Em 2001 o efeito não explicado no território baiano foi computado em 67%, chegando em 2015 com um percentual de 41,8%, resultando em um declínio de 25 p.p. No caminho oposto está o efeito dotação e seu crescimento no período averiguado. No ano de 2001, este componente que mensura os efeitos derivados das características produtivas dos trabalhadores totalizou negativamente em 0,8% e 19,2% na faixa final. A evolução deste componente caminha no mesmo sentido da evolução educacional das trabalhadoras negras no estado e no Brasil. Isto se deve ao sinal negativo do componente como comentado, inferindo

-30,00 -20,00 -10,00 0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00

Diferencial Dotação Discriminação

2001 2015

Figura 3.1: Decomposição salarial na Bahia entre os Homens brancos e Mulheres negras.

que à medida que as afrodescendentes estão representadas com as menores remunerações, gera-se um diferencial de renda distinto entre os pares, mas através do sinal do efeito dotação, atesta-se que as trabalhadoras afrodescendentes estão mais instruídas educacionalmente contra os homens brancos e, o diferencial de renda resultante pode ser creditado ao efeito discriminatório. Na contramão desta realidade, estas mulheres mais escolarizadas se inclinam a participarem da atividade produtiva remunerada, vivenciando as barreiras do preconceito, a dupla jornada de trabalho (no ambiente de laboral e no lar) e rendimentos salariais heterogêneos que não se reverte nos seus contra cheques em remunerações sintonizadas com os investimentos aplicados via qualificação educacional.

A replicação da decomposição salarial no Brasil, entre os mesmos pares, por via da figura 3.2, demonstra que os achados na esfera nacional foram superiores aos indicados para o estado. Isto pode ser percebido através do diferencial de rendimento nacional no ano de 2001 correspondente a 75,8% e 56,9% no último período. Através do efeito dotação nesta esfera, verifica-se que os atributos produtivos dos homens brancos com resultados positivos, traduzem-se em melhores rendimentos para os mesmos e isto se deve ao fato que este grupo, considerado a referência do mercado de trabalho, detém entre as variáveis produtivas maiores vantagens que os qualifica na obtenção de proventos salariais mais favoráveis em relação às mulheres negras.

Fonte: Microdados da PNAD 2001 e 2015. Elaboração própria.

0,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00

Diferencial Dotação Discriminação

2001 2015

Figura 3.2: Decomposição salarial no Brasil entre os Homens brancos e Mulheres negras.

Contudo, o efeito discriminação no âmbito nacional, na fase inicial, representou 64,5%, estando levemente abaixo do resultado encontrado no estado baiano. No período final, este percentual nacional declina para 51,4%, ainda assim um pouco mais elevado que a estimativa estadual do mesmo período.

Este último período engloba mudanças na estrutura educativa pós-implementação das políticas inclusivas e de universalização do ensino, exemplificado através das ações afirmativas, porém, os reflexos destas transformações no meio laboral para as afrodescendentes podem ser percebidos pelo efeito dotação. Em que pese o fato dos diferenciais terem diminuído, o componente discriminatório segue a mesma trajetória, mas ainda expressivo, muito embora, este componente expresse um comportamento positivo no que se refere a sua redução na última faixa temporal.

O efeito dotação, obtido através das variáveis observadas para os grupos baianos foi em sua maioria negativo. Neste sentido, as implicações decorrentes das características produtivas (idade, escolaridade, experiência, e outros) são indicadores como preconizado na metodologia desenvolvida por Oaxaca (1973) como fomentador das assimetrias salariais, sobretudo o ato discriminatório assume sua forma mais explícita quando contrastados o grupo base do mercado de trabalho e as mulheres negras.