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Parte II − − Estudo Empírico 37 − −

5. Discussão dos resultados

5.1. Resultados descritivos

O objetivo principal deste estudo consistiu em caraterizar uma amostra de homens durante o período de gravidez da companheira ao nível da vinculação pré-natal, ansiedade e qualidade do relacionamento conjugal. Os resultados descritivos da vinculação pré-natal na amostra total da presente investigação mostraram uma média de 64.21 na escala total, sendo o máximo desta escala de 80 e o mínimo 51. No que concerne à subescala qualidade da vinculação a amostra apresenta em média 35.74 (Mín=31, Máx=40, DP=2.42) e na subescala intensidade de preocupação apresenta em média 19.26 (Mín=10, Máx=30, DP=3.87). Os resultados desta investigação são congruentes com os resultados obtidos por Camarneiro e Justo (2010), numa amostra constituída por 212 casais portugueses, no segundo trimestre de gravidez. Os resultados obtidos pelos autores na escala paterna evidenciaram uma média de 58.96 (Mín=35.Máx=74, DP=7.48) na escala total, 39.43 (Mín=25, Máx=45, DP=4.07) na subescala qualidade de vinculação e de 19.53 (Mín=7, Máx=30, DP=4.37) na subescala intensidade de preocupação. Tendo em conta os resultados obtidos pelos autores, semelhantes aos resultados obtidos no nosso estudo, sublinha-se que os homens do presente estudo estão forte e saudavelmente vinculados ao feto. Um estudo recente levado a cabo por Carmarneiro (2011) em Portugal, constituído por uma amostra de 407 casais durante o segundo trimestre de gravidez revelou que os homens apresentam vinculação forte ou saudável ao feto. A autora concluiu ainda a existência de uma percentagem mais elevada de homens com este padrão de vinculação (38.1%) em comparação com as mulheres neste mesmo padrão (36.4%). Na presente amostra verificou-se que a preocupação do futuro pai com o feto se associa a maior qualidade de vinculação. De acordo com Raphael-Leff (2009) a sintonia física da mãe com o bebé favorece a ligação destes, ao contrário do que acontece com pai. No entanto, o homem não quer ficar indiferente. Os futuros pais, ao longo dos nove meses de gestação, envolvem-se

na gravidez para se adaptarem à nova identidade e desenvolverem assim o seu papel de pai (Colman & Colman, 1994).

Quanto aos níveis de ansiedade, a presente amostra apresentou uma média de 34.13 (Mín=20, Máx=53) na subescala ansiedade estado e de 39.38 (Mín=27, Máx=59) na subescala ansiedade traço. No estudo de Conde (2008), realizado em Portugal, numa amostra de 123 casais é possível constatar que a ansiedade traço (M=34.39) nos homens é superior à ansiedade estado (M=31.85) no segundo trimestre de gestação. Neste sentido, os participantes do presente estudo apresentam níveis de ansiedade traço, em média, mais elevados do que os níveis de ansiedade estado. Estes dados podem sugerir que os homens estejam a negar a ansiedade no período pré-natal. Segundo Condon e Esuvaranathan (1990) os futuros pais têm níveis de ansiedade mais baixos durante a gravidez do que a norma. Alvarez e Golse (2009) consideram que só depois da gravidez ocorrerá o verdadeiro encontro com a criança, fazendo assim o homem face à sua capacidade para desempenhar o seu papel parental. Tal poderá justificar os níveis de ansiedade estado mais baixos no nosso estudo. Por outro lado, salienta- se que este instrumento de avaliação de ansiedade não é específico de ansiedade em relação à parentalidade. Jager e Bottoli (2011), referem a escassez de material em psicologia sobre os sentimentos do homem na gravidez/parentalidade.

Ao nível do relacionamento conjugal verificou-se que os participantes apresentam uma perceção positiva sobre a sua relação conjugal. Na escala de qualidade do relacionamento conjugal, a presente amostra apresentou uma média de 29.05 na subescala de relacionamento conjugal positivo e de 9.79 na subescala de relacionamento conjugal negativo. Segundo Figueiredo e colaboradores (2007) pontuações elevadas na subescala positiva significam que a relação conjugal é composta por aspetos positivos, enquanto que, pontuações elevadas na subescala relacionamento conjugal negativo significam que a relação com o companheiro/a é composta por diversos aspetos negativos. Neste sentido, constata-se que na nossa amostra os participantes apresentam mais aspetos positivos na relação conjugal do que negativos. Um estudo longitudinal, realizado por Lawrence e colaboradores (2007) que comparou a proporção de mudança na satisfação conjugal antes e depois do bebé nascer, numa amostra de 56 casais, revelou resultados similares aos do nosso estudo durante a gravidez. Os autores concluíram que a satisfação conjugal antes dos casais terem filhos, mantém-se estável para os homens, o que é congruente com o nosso estudo. Num outro estudo feito em Portugal, também se verificou a elevação de aspetos positivos aos negativos na relação conjugal, embora os resultados fossem inferiores aos do nosso estudo (Monteiro, 2008). Monteiro (2008) realizou um estudo com 46 casais ao longo da gravidez obtendo uma média de 3.67

(DP=0.33) na subescala qualidade de relacionamento conjugal positivo durante o primeiro trimestre e uma média de 2.15 (DP=0.63) na subescala qualidade de relacionamento conjugal negativo. Outros estudos revelam o contrário. O estudo realizado por Claxton e Perry-Jenkins (2008) é consensual quanto ao declínio da relação conjugal se iniciar no decorrer da gestação. A terceira parte do questionário de dados sociodemográficos e clínicos foi complementada com a informação relativa aos conhecimentos acerca da gravidez/parentalidade apenas a título exploratório. Aqui verificou-se que de um modo geral, os homens possuem conhecimentos adequados acerca da gravidez/parentalidade. Os participantes reconhecem que os principais sintomas de uma gravidez constituem a falta de menstruação, as náuseas e os vómitos e a sensibilidade no peito. No que diz respeito às implicações da gravidez, a amostra total considera que a gravidez implica alterações de humor, alterações hormonais, sensibilidade emocional, irritabilidade emocional, e ansiedade e medo. Na generalidade, os homens apresentam conhecimentos do que é normativo no período de gestação, nomeadamente enjoos, atividade sexual durante a gravidez, da alimentação que a grávida deve ter, da prática de atividade física, do estado emocional, do peso ideal e quando a grávida deve dirigir ao hospital. Estes dados podem ser melhor explicados pelo facto do maior envolvimento paterno se ter verificado nas últimas décadas. Os dados obtidos pelos participantes primíparos e multíparos revelaram que ambas as subamostras apresentam, de uma maneira geral, conhecimentos adequados acerca da gravidez/parentalidade.