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4. RESULTADOS

4.1. Resultados Descritivos

Antes de explorar as motivações dos usuários para o compartilhamento, foi feito um questionamento breve quanto ao conhecimento deste tipo de consumo, e, além disso, de sua propensão a utilizá-lo de forma geral, tanto dentre os diferentes setores da economia compartilhada, quanto dentre a diferenciação entre utilizar os serviços e prestar os serviços. Os resultados referentes ao conhecimento deste tipo de consumo estão expostos na figura 4, e os resultados referentes a diferenciação entre os serviços dos diferentes ramos estão expostos nas figuras de 5 a 12.

Figura 4 – Resultados dos respondentes quanto ao conhecimento do consumo compartilhado

Fonte: Autor (2018)

As respostas referentes a este questionamento inicial indicam que os respondentes têm um bom conhecimento quanto ao assunto. De todos os indivíduos da amostra, 98% já conhecia o consumo compartilhado, e 61% além de estar familiarizado também já o

CONHECIMENTO DO CONSUMO

COMPARTILHADO

Conheço, já utilizei e pretendo continuar neste tipo de consumo conforme conveniência. Conheço, já utilizei, mas não tive uma boa experiência.

Conheço, mas optei por nunca utilizar.

Conheço, nunca utilizei, mas pretendo vir a utilizar num futuro próximo Não conheço

tinha utilizado. Ainda nesta amostra, mais da metade (55%) indicou já ter utilizado e estar propenso a continuar utilizando conforme conveniência, o que parece significativo.

A título de comparação inicial, Grybaite e Stankeviciene (2016), em estudo similar conduzido na Lituânia com jovens de 18 a 25 anos, apuraram que 68% dos entrevistados já conheciam a economia compartilhada e apenas 34% já haviam utilizado este tipo de consumo. Ao comparar a presente pesquisa com este estudo conduzido na Lituânia, os achados parecem expressivos, ao passo que quase a totalidade da amostra (98%) já conhecia o consumo compartilhado na cidade do Rio de Janeiro, valor significativamente superior ao encontrado em estudo similar da Lituânia.

Na tabela 4, são apresentadas e analisadas as características dos participantes e algumas variáveis comportamentais relacionadas aos hábitos de uso dos serviços compartilhados no Brasil.

Tabela 4 – Composição da Amostra (N=361)

Idade 15 a 24 anos 41,3% 25 a 34 anos 44,9% 35 a 44 anos 4,4% 45 a 54 anos 3,6% 55 a 64 anos 3,3% 65+ anos 2,5% Gênero Feminino 39,1% Masculino 60,9% Educação

Ensino Médio incomplete 0,0%

Ensino Médio complete 2,8%

Ensino Superior Completo 27,7%

Ensino Superior Incompleto 42,4%

Pós Graduação complete 16,6%

Pós Graduação incompleta 10,5%

Moradia

Companheiro(a) 16,3%

Filhos 4,2%

Mãe e/ou pai e/ou irmãos 53,7%

Moro sozinho 8,0%

Outra situação 1,7%

Outros parentes, amigos, colegas 16,1%

Situação profissional

Já trabalhei, mas não estou trabalhando 21,6% Nunca trabalhei, mas estou procurando trabalho 7,5%

Nunca trabalhei 5,3%

Trabalho por conta própria, não tenho carteira assinada 7,5% Trabalho, estou empregado com carteira assinada 38,5% Trabalho, mas não tenho carteira assinada 19,7%

A grande maioria dos pesquisados pertence a faixas etárias mais novas. De 25 a 34 anos (44,9%) representa praticamente metade da amostra, e a faixa etária de 15 a 24 anos representa também uma parcela significativa (41,3%). As demais faixas, de 35 anos em diante, complementam com o restante dos respondentes.

Quanto ao gênero, a maior parte é do sexo masculino (60,9%), mas o sexo feminino também está bem representado (39,1%). Quanto ao grau educacional, grande parte já possui Ensino Superior Completo (27,7%), e uma parte ainda mais significativa ainda não completou o Ensino Superior (42,4%). Uma parte muito pequena completou apenas o Ensino Médio (2,8%). É possível concluir que, além de os respondentes representarem faixas etárias mais jovens, também possuem nível de escolaridade mais elevado.

Com relação à moradia, a concentração se deu em quem mora com mãe/pai/irmão, família de forma geral (53,7%), seguido pela moradia com o companheiro (16,3%) e outros parentes, amigos ou colegas (16,1%). Na situação profissional, grande parte está empregado com carteira assinada (38,5%), e 65,7% está trabalhando de forma geral, enquanto 21,6% já trabalharam, mas não estão trabalhando no momento.

As diferentes categorias descritivas da amostra, aparentemente, estão inter- relacionadas: não coincidentemente, tem-se como faixas etárias predominantes as mais jovens, o ensino superior incompleto como resposta mais frequente no que se refere ao nível de instrução, bem como a situação da moradia predominantemente com mãe, pai e irmãos. Em suma, as respostas destas categorias se mostram conectadas e relacionadas.

Após a descrição da amostra e de suas principais características, apresenta-se também uma análise referente a algumas questões que visavam avaliar a propensão de cada indivíduo a compartilhar bens ou serviços conforme cada ramo. Os ramos utilizados foram transporte (carona), acomodação (aluguel), compartilhamento de ferramentas (empréstimo) e compartilhamento de refeições (consumo). Para cada um desses ramos, tentou-se avaliar também a diferença entre a propensão a compartilhar os próprios bens/serviços com alguém, e a propensão a compartilhar os bens/serviços de alguém.

Para cada uma das perguntas, o indivíduo foi questionado de forma que respondesse numa escala de 1 a 5 sua propensão a compartilhar naquela situação específica, onde 1 representa “Muito Improvável” e 5 representa “Muito provável”.

Os gráficos e as interpretações são apresentados nas figuras de 5 a 12:

Figura 5 – Respostas referentes à propensão ao compartilhamento no caso de pegar carona por um preço definido

Ao serem perguntados sobre a propensão a pegar uma carona por um preço definido, grande parte pareceu tender ao compartilhamento, uma vez que 57% respondeu 4 ou 5 na escala de Thurstone.

Figura 6 – Respostas referentes à propensão ao compartilhamento no caso de alugar a casa de um residente local

Na avaliação do segmento de acomodação, a propensão ao compartilhamento da casa de alguém pareceu ainda maior, visto que somente 17% dos respondentes

0 20 40 60 80 100 120 1 2 3 4 5 45 40 70 88 118

Pegar carona por um preço definido

0 20 40 60 80 100 120 140 1 2 3 4 5 30 34 80 91 126

preencheram como 1 ou 2 na escala.

Figura 7 – Respostas referentes à propensão ao compartilhamento no caso de pegar uma ferramenta emprestada

Quando perguntados sobre uma coisa tão simples, e a princípio de pouco valor e baixa utilização, como uma ferramenta, 47% dos respondentes preencheu o grau máximo da propensão ao compartilhamento, um índice altíssimo para uma escala com 5 categorias.

Figura 8 – Respostas referentes à propensão ao compartilhamento no caso de comprar porção de uma refeição feita por um vizinho

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 1 2 3 4 5 32 31 40 89 169

Pegar uma ferramenta emprestada

0 20 40 60 80 100 120 1 2 3 4 5 37 42 76 89 117

Comprar porção de uma refeição feita

por um vizinho

No compartilhamento de uma refeição, boa parte também se mostrou propensa a compartilhar, num índice equilibrado e parecido com os demais segmentos.

Figura 9 – Respostas referentes à propensão ao compartilhamento no caso de oferecer carona por um preço definido

Quando a pergunta é invertida e o questionamento passa a ser sobre a propensão a oferecer uma carona por um preço definido, um grande número de indivíduos também se mostrou favorável, um pouco maior do que os que estavam propensos a pegar carona por um preço definido.

Figura 10 – Respostas referentes à propensão ao compartilhamento no caso de oferecer aluguel para um turista

0 20 40 60 80 100 120 140 160 1 2 3 4 5 38 26 69 75 153

Oferecer carona por um preço definido

0 20 40 60 80 100 1 2 3 4 5 98 72 67 52 72

No segmento de aluguel, o primeiro “não” mais claro da pesquisa. A maior parte respondeu 1 na escala, indicando que seria muito improvável que compartilhassem suas casas com outros indivíduos por um preço definido. Este achado constitui um indício de que os indivíduos têm um sentimento de posse para com suas residências, e que possivelmente a vêem como um bem não compartilhável.

Figura 11 – Respostas referentes à propensão ao compartilhamento no caso de oferecer ferramenta por um preço definido

Da mesma forma como foi visto na questão sobre pegar ferramenta emprestada de alguém, a grande maioria dos respondentes também estaria disposta a compartilhar sua ferramenta com outras pessoas, enfatizando que os indivíduos parecem não ter o mesmo sentimento de posse apresentado em outros segmentos, como na acomodação, ainda mais quanto a um objeto pouco utilizado de forma geral.

0 20 40 60 80 100 120 140 160 1 2 3 4 5 47 32 53 79 150

Oferecer ferramenta por um preço

definido

Figura 12 – Respostas referentes à propensão ao compartilhamento no caso de oferecer uma porção de refeição por um preço definido

Por fim, grande parte também se mostrou propenso a compartilhar uma refeição preparada por si mesmo com outra pessoa, visto que 140 dos 361 respondentes marcou a escala 5 das opções.

Bocker e Meelen (2016), em estudo similar que também separou entre usuários e fornecedores, identificaram que a propensão à utilização de ferramentas (61%), caronas (55%) e acomodações (58%) é superior à propensão ao compartilhamento da refeição que alguém preparou (26%), por exemplo. Os autores apontam que isto ocorre pela diferença que cada um destes ramos representa no cotidiano, e que cada um destes possui uma motivação intrínseca diferente. Adicionalmente, os autores avaliaram também probabilidades similares quando o compartilhamento parte dos bens ou serviços da própria pessoa, inclusive no que diz respeito ao que os números indicaram ser a exceção do ramo de acomodação, que é menos provável de ser oferecida para compartilhamento em ambos os estudos. Todos estes achados foram compatíveis e estão de acordo com o presente estudo, conforme já apresentado nas figuras de 5 a 12.

Neste mesmo estudo mencionado acima, Bocker e Meelen (2016) também comentam que foi possível notar diferenças ao comparar as propensões à utilização dos serviços e bens de outros indivíduos, com as propensões quando são os próprios bens e serviços a serem compartilhados. A presente pesquisa, na cidade do Rio de Janeiro, também notou uma sensibilidade nessas variações, como por exemplo, as diferenças entre

0 20 40 60 80 100 120 140 1 2 3 4 5 59 32 57 73 140

Oferecer uma porção de refeição por

um preço definido

a propensão a compartilhar uma refeição própria com alguém e a compartilhar a refeição feita por alguém, conforme números apresentados nas figuras de 5 a 12.

Após estas questões iniciais que descrevem a amostra e as impressões iniciais, o próximo passo é a avaliação dos resultados referentes às dimensões de motivação para utilização da economia compartilhada.

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