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O presente capítulo apresenta os resultados obtidos nesta pesquisa. Estes ensaios foram realizados com o intuito de identificar a causa e o mecanismos de ocorrência dos problemas patológicos incidentes em revestimentos de obras contendo argamassa do tipo intermediária na cidade de Garopaba-SC.

4.1 RESULTADOS EXPERIMENTAIS

Foram realizados ensaios para determinar a consistência pela mesa de flow, retenção de água por sucção e teor de ar - no estado fresco; a resistência à compressão axial, tração na flexão, absorção por capilaridade, permeabilidade – no estado endurecido. A Tabela 2 apresenta o resumo dos resultados médios. As amostras T foram coletadas em diferentes situações e dias. Logo, a amostra T1 foi coletada na fábrica no dia da produção; a amostra T2 foi coletada na obra no dia da produção; as amostras T3 até a T8 foram coletadas na obra a cada dia após a entrega feita pela fábrica até o dia que a argamassa intermediária foi toda consumida na obra, o que levou 7 dias.

Tabela 2 – Resumo dos resultados experimentais

Traço Unidade T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 a/c - 1,44 1,56 1,38 1,43 1,38 1,46 1,48 1,55 Água/Material Seco % 23,00 23,00 23,80 24,00 24,90 25,30 25,90 26,00 Retenção de Água % 96,93 93,70 90,69 86,67 83,29 81,24 76,79 71,56 Teor de Ar Incorporado % 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 0,10 Consistência Mm 269,1 268,3 267,8 267,6 266,4 264,9 264,4 263,8

Aderência à Tração Mpa 0,17 0,16 0,16 0,12 0,10 0,09 0,09 0,06

Resistência à Tração na Flexão Mpa 1,00 0,90 0,90 0,80 0,80 0,80 0,70 0,70

Resistência à Compressão Mpa 5,38 4,52 4,50 4,50 4,29 4,09 3,49 3,31

Absorção por Capilaridade g/cm² 0,020 0,022 0,026 0,028 0,030 0,031 0,029 0,035

Permeabilidade cm³ (60min.) - - - -

Teor de hidróxido de cálcio (%) 5,1 4,9 4,6 4,1 3,4 3,0 2,9 2,9

Potencial Hidrogeniônico pH 11,4 11,1 10,0 10,1 9,2 9,0 9,0 8,8

Fonte: Autora (2019).

Analisando os dados da Tabela 2, é possível inferir, em relação ao teor de água/materiais secos, que quanto mais tempo a argamassa fica na obra, maior é a quantidade de água para a mesma trabalhabilidade. Foi considerado o intervalo recomendado para aplicação de argamassa de reboco de 265±5mm. Em busca de identificar o motivo desta situação ocorrer, foram realizados ensaios para determinar o pH e o teor de cal pelo método da mufla. A Figura

15 relaciona a redução do pH da mistura – indicador da carbonatação da cal com a relação água materiais secos necessárias para atender ao intervalo de consistência de 265±5 mm.

Figura 15 – Correlação entre o pH e quantidade de água/materiais secos

Fonte: Autora (2019).

Como a argamassa intermediária é armazenada na obra em ambiente externo, sem proteção e com umidade média de 15% ocorre a carbonatação da cal. Isso resulta na redução do pH, pois a cal é o material mais alcalino da mistura. Isso pode ser corroborado pela determinação do teor de cal pelo método da mufla, com o passar dos dias o teor de cal da mistura é reduzido.

Como a cal é um plastificante natural de alta retenção de água, com a ausência de certa fração deste material na argamassa, o profissional responsável pela produção da argamassa adiciona maior quantidade de água para manter a consistência desejada para aplicação. Esta situação foi reproduzida em laboratório, entretanto, de forma controlada e seguindo parâmetro de forma a viabilizar os resultados possibilitando inferências.

A Tabela 3 mostra os traços calculados com base nas informações passadas pelos profissionais da obra (traço 1:5), e nos resultados dos ensaios obtidos de determinação do teor de cal.

Tabela 3 – Traços utilizados nos ensaios consideração a carbonatação da cal T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 Cimento 285,0 285,0 285,0 285,0 285,0 285,0 285,0 285,0 Cal 72,7 69,8 65,6 58,4 48,5 42,8 41,3 41,3 Areia eq. 1352,3 1355,2 1359,5 1366,6 1376,6 1382,3 1383,7 1383,7 Água 393,3 393,3 407,0 410,4 425,8 432,6 442,9 444,6 Propriedades tecnológicas a/ag 1,10 1,11 1,16 1,20 1,28 1,32 1,36 1,36 M 3,78 3,82 3,88 3,98 4,13 4,22 4,24 4,24 Fonte: Autora (2019).

A Tabela 3 mostra que ocorre aumento na quantidade de areia, pois com a carbonatação, os cristais de hidróxido de cálcio são transformados em cristais de carbonato de cálcio (calcário) que perdem as propriedades aglomerantes, sendo apenas grãos pequenos de inerte. Com isso, a quantidade de água necessária na mistura é maior. Com maior quantidade de água e um traço cada vez mais pobre, o potencial das argamassas intermediárias reduziu a medida que o tempo de estocagem a céu aberto aumentou.

A Figura 16 mostra a influência da relação água/materiais secos no potencial de aderência da argamassa de reboco no substrato padrão.

Figura 16 – Correlação entre a relação água/materiais secos e o potencial de aderência

Fonte: Autora (2019).

Pode-se perceber que a relação água/materiais secos tem influência expressiva no potencial de aderência, uma vez que, quanto maior a quantidade de água, menor a resistência de aderência à tração da argamassa. Isto pode ser explicado pela porosidade da argamassa. Uma vez que as rupturas ocorreram na interface argamassa/cola (Figura 3). A Figura 17 mostra a ruptura de um dos ensaios realizados.

Figura 17 – Ruptura característica dos ensaios de potencial de aderência

Fonte: Autora (2019).

A baixa resistência superficial ocorre devido a porosidade excessiva na superfície, que por sua vez é diretamente influenciada pela quantidade de água. Em alguns pontos as pastilhas metálicas foram coladas novamente e realizada nova determinação da tensão de aderência. Isto foi feito com o intuito de identificar se a resistência baixa de aderência era característica apenas da superfície. As rupturas ocorreram na interface argamassa/substrato, mostrando que a aderência da argamassa foi aquém da desejada. Os valores ficaram na mesma faixa daqueles obtidos na superfície. Este comportamento explica os problemas de deslocamento manifestados.

Outro problema de grande incidência são as manchas de umidade manifestadas na argamassa de reboco. A Figura 18 ilustra a correlação entre a relação água/materiais secos e a absorção por capilaridade da argamassa.

Figura 18 – Correlação entre a relação água/materiais e a capilaridade

De acordo com o potencial de aderência, pode-se perceber que a absorção por capilaridade é diretamente influenciada pela quantidade de água presente na argamassa. Como a quantidade de cal é reduzida com o passar do tempo de exposição na obra, a qualidade da argamassa é reduzida. Isto potencializa a incidência de problemas patológicos nos revestimentos.

A Figura 19 apresenta a correlação entre a retenção de água e o teor de cal para as argamassas com passar do tempo de estocagem na obra.

Figura 19 – Correlação entre o teor de cal e a retenção de água

Fonte: Autora (2019).

Segundo Carasek (1996), foi verificado que a aplicação de argamassas com propriedades de retenção de água distintas operadas em diferentes tipos de substratos, apresenta diversos graus de resistência de aderência em revestimentos. Aquelas que mostram maiores capacidades de retenção de água geram maior resistência de aderência do revestimento.

Com base nos resultados obtidos e no comportamento apresentado por Carasek (1996) pode-se destacar que o teor de cal é suma importância para que a argamassa apresente o desempenho requerido, tanto no estado fresco, quanto no estado endurecido.

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