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O principal enfoque deste estudo foi direcionado aos resíduos domiciliares classificados pela NBR 10004 como pertencentes à Classe II (Não perigosos), conhecidos vulgarmente como “resíduos comuns” e classificados pela PNRS como resíduos domiciliares.

Paralelamente à realização da gravimetria foi realizado um levantamento porta a porta a fim de se obter o número de moradores e a renda familiar de cada unidade habitacional. No bloco 38 do condomínio Bairro Latino vivem 11 famílias, totalizando 40 moradores. A média de resíduos produzidos diariamente foi de 20,9 kg/dia, logo a produção per capta é de 0,52 kg/hab/dia, compatível com a média estabelecida por Monteiro et al (2001) para municípios com população urbana entre 30 a 500 mil, a qual é de 0,5 a 0,8 kg/hab./dia. O valor bem abaixo da média para Natal, que é 1,3 kg/hab/dia, se deve principalmente pelo fato de que em alguns apartamentos vivem até sete estudantes que possuem hábito de passar a maior parte do dia fora de casa e portanto executar suas atividades diárias externas à moradia como alimentar-se por exemplo. A maioria dos apartamentos (5 unidades) declararam ter renda familiar de seis a nove salários mínimos (de R$ 5.988,00 até 8.982,00), enquadrando-se na classe B2 segundo critério de classificação econômica no Brasil feito pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (SILVA, 2019; ABEP, 2019). Ainda pela mesma classificação, dois apartamentos se enquadram na classe C2 (de R$ 998,00 até R$ 2.994,00) e quatro apartamentos na Classe C1 (de R$ 2.994,00 até R$ 5.988,00) (SILVA, 2019).

A composição gravimétrica média das amostras de resíduos analisadas, no período de 2010, para a cidade de Natal pode ser visualizada na Tabela 01. Os valores de cada grupo de componentes estão expressos em percentual e, podem ser comparados com os valores constantes na Tabela 02, indicam que o volume de material orgânico gerado pelos moradores do condomínio foi de 71,35% e superam em 18,9% a média nacional e em 112,7% a média na capital do RN o que torna notória a expressividade dos volumes de resíduos orgânicos com seus 446 kg de material coletado.

Tabela 2: Classificação dos resíduos domiciliares do condomínio Bairro Latino Gerado Coletado Classificado Material (Kg) (%) (Kg) (%) (Kg) (%) (Kg) (%) (Kg) (%) (Kg) (%) TOTAL % Papel/Papelão 1,110 13,77 0,790 2,50 1,600 6,94 0,325 3,99 1,100 4,23 1,855 6,45 38,218 6,11 Plástico/Polímero 0,830 10,30 2,160 6,83 2,750 11,94 0,465 5,71 1,360 5,24 2,170 7,54 49,740 7,95 Vidro 0,000 0,00 1,730 5,47 0,420 1,82 0,000 0,00 0,000 0,00 1,120 3,89 10,561 1,69 Metal 0,095 1,18 0,130 0,41 0,110 0,48 0,165 2,03 0,160 0,62 0,460 1,60 5,829 0,93 Orgânico 5,040 62,53 23,160 73,20 15,160 65,80 6,340 77,84 20,010 77,04 20,265 70,45 446,378 71,35 Não reciclável 0,145 1,80 0,165 0,52 0,155 0,67 0,000 0,00 0,260 1,00 0,100 0,35 4,819 0,77 Sanitário 0,410 5,09 2,860 9,04 2,690 11,68 0,760 9,33 2,935 11,30 2,110 7,34 58,197 9,30 Têxtil 0,370 4,59 0,135 0,43 0,015 0,07 0,000 0,00 0,000 0,00 0,510 1,77 6,112 0,98 Medicamentos 0,050 0,62 0,050 0,16 0,140 0,61 0,090 1,10 0,150 0,58 0,175 0,61 3,723 0,60 Madeira 0,010 0,12 0,46 1,45 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 2,048 0,33

TOTAL por dia 8,060 100,00 31,640 100,00 23,040 100,00 8,145 100,00 25,975 100,00 28,765 100,00 625,625 100,00

12/set 14/set 17/set 19/set 21/set 24/set

11/set 13/set 16/set 18/set 20/set 23/set

09, 10, 11 11, 12, 13 13, 14, 15, 16 16, 17, 18 18, 19, 20 20, 21, 22, 23

O desperdício de alimentos tem-se mostrado uma prática no Brasil, com taxa em torno de 64% para matéria orgânica disposta em aterros ou lixões (PEREIRA NETO, 2007). Esta elevada porcentagem de resíduos orgânicos pode ser reflexo do perfil dos moradores do bloco de apartamentos escolhido para análise que em sua maioria são jovens estudantes que se alimentam de comida pronta ou fast food e raramente fazem algum preparo em casa, fato este que propicia o estrago de alimentos acondicionados por muito tempo em refrigeradores e despensas. Dentre os resíduos coletados foram observados alimentos frescos (Figura 07) ainda em sua embalagem comercial porém em estágio avançado de decomposição. Alimentos não perecíveis com a presença de insetos também foram observados o que evidencia e respalda a teoria colocada anteriormente.

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A média diária para a produção de resíduos orgânicos ficou em 15 kg com desvio padrão de 7,66 kg sendo cada morador responsável por gerar em média 0,38 kg de resíduo orgânico. O menor peso verificado foi no primeiro dia de amostra analisada, apenas 5kg, como mostra o Gráfico 03, porém 23,16 kg representando 62,5% do total de resíduos para aquela coleta e mantendo a proporcionalidade nas demais amostras sendo sempre a maior fração classificada.

Gráfico 3: Distribuição das quantidades de resíduo orgânico durante o experimento

O reaproveitamento da matéria orgânica é praticado em alguns municípios através da compostagem, que a transforma em adubo orgânico. A compostagem no Brasil vem sendo tratada apenas sob a perspectiva de eliminar o lixo doméstico e não como um processo industrial que gera produto, necessitando de cuidados ambientais, ocupacionais, marketing, qualidade do produto etc (NETO et al., 1999 apud SCHMITZ, 2010).

A quantidade de recicláveis tem grande representatividade compreendendo 16,68% do total de amostras (Gráfico 04) podendo este ser coletado diretamente na fonte geradora, através de programas de coleta seletiva, diminuindo assim a quantidade de resíduos a serem descartados nos seus destinos finais. Como pode ser observado, a matéria orgânica esta presente em sua maioria quando comparada as demais categorias.

Gráfico 4: Caracterização gravimétrica referente às frações de resíduos.

Observando o Gráfico 04 é possível perceber que os resíduos sanitários representam 9,3% com 58 kg do total de resíduos coletados. O resultado incomum se deve ao fato que de no bloco de apartamentos existem moradores que possuem animais de estimação e utilizam o lixo do banheiro para o descarte dos dejetos dos animais. Dentre esses resíduos estão os tapetes higiênicos para cães, que se assemelha em função e volume a uma fralda descartável e ainda as areias higiênicas para gatos com alto poder absorvente e grande volume e peso. Por este motivo os valores para os resíduos sanitários estiveram bem a acima do esperado em algumas amostras justificando os valores discrepantes que vão de 0,4 kg a 2,9 kg (Gráfico 05) e incrementando os percentuais para esta categoria frente a outras que se esperava maior expressividade.

Gráfico 5: Distribuição das quantidades de resíduo sanitário durante o experimento

Dentre os materiais recicláveis de maior interesse o plástico teve a maior fração com 7,95%, o que corresponde a 50 kg do total de resíduos coletados, porém bem inferior a

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porcentagem média publicada pelo PEGIRS-RN para Natal que foi de 15,3%. Para este trabalho o plástico foi subdividido em plástico rígido, plástico flexível e isopor que também faz parte da família dos polímeros. A evidência dada ao isopor se deveu ao fato de que a quantidade desse resíduo foi notória na primeira amostra e, portanto contou na decisão de incluí-lo entre as categorias.

O Gráfico 06 expõe as frações dos tipos de plástico considerados para este experimento. Dos quase 50 kg de plástico coletado 46% corresponde ao plástico flexível, 45% ao plástico rígido e apenas 9% isopor (Figura 08).

Gráfico 6: Frações da categoria Plástico/Polímero.

Figura 8: Pesagem das subcategorias de plásticos: (a) Plástico rígido; (b) Isopor; (c) Plástico flexível

Embora pareça pouco, o volume correspondente ao peso de 4,5 kg de isopor supera os demais plásticos e por isso torna-se relevante dentre as categorias observadas. Ademais o isopor esteve presente em todas as amostras conforme expõe o Gráfico 07. Dos 22,6 kg de plástico flexível coletados 63% deve-se às sacolas de supermercado ou sacos de feira, sendo o restante correspondentes à embalagens de alimentos.

Gráfico 7: Distribuição das quantidades de plástico/polímero durante o experimento

Os plásticos em aterros dificultam a compactação dos resíduos e prejudicam a decomposição dos materiais putrescíveis, pois criam camadas impermeáveis que afetam as trocas de líquido e gases gerados no processo de biodegradação da matéria orgânica. Portanto, repensar o uso destas sacolas é fundamental para garantir a otimização dos aterros sanitários bem como os processos de reciclagem.

Ainda em observância ao Gráfico 04, o papel é a segunda categoria mais relevante com 6,11%, condizente com os percentuais médios para coleta seletiva na cidade do Natal que foi de 5,08%. A média para este material ficou em 1,1 kg por amostra. Os valores discrepantes (Gráfico 08), como 0,325 kg, se justificam pelo fato de que a categoria compreende o papel e papelão e em alguns dias não houve a presença de papelão, diminuindo o volume e peso registrado.

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Gráfico 8: Distribuição das quantidades de papel/papelão durante o experimento

Nesta categoria foi incluída também as embalagens tetrapak que repesentou cerca de 21% do material coletado nesta categoria. O papel contribuiu com 36% e o papelão com 43% do total do material coletado. Esses percentuais foram alcançados sem pretensão de gravimetria, uma vez que o volume de material não foi expressivo e pelo fato de que em algumas amostras pelo menos uma das subcategorias estavam ausentes. Embora esta categoria não tenha sido subdividida como foi o caso dos plásticos, no decorrer do experimento evidenciou-se a importância de fazê-lo uma vez que é um material largamente utilizado nas plantas de reciclagem sendo necessário maior atenção no modo de descarte para viabilizar sua reciclagem.

A Figura 09 mostra os materiais pesados e a condição em que eram encontrados nas amostras. Algumas embalagens que poderiam entrar no processo de reciclagem, apesar de serem contabilizadas na gravimetria, em uma situação real seriam rejeitadas devido sua condição de descarte. A Figura 10 mostra embalagens de papel contaminadas com líquidos orgânicos que em uma situação real inviabilizariam sua reciclagem, mas para que se tivesse um valor mais aproximado do que seria a produção da população amostrada esse material foi contabilizado na classe Papel/papelão.

Figura 9: Pesagem das subcategorias de papel/papelão: (a) Embalagens tetrapak; (b) Papelão; (c) Papel.

Figura 10: Materiais rejeitados no processo de reciclagem

Os materiais classificados como Não recicláveis somou 4,8 kg representando 0,77% da fração total. Esse material era composto principalmente de papeis plastificados e guardanapos de papel contaminado com óleo ou gordura. Embora fossem papeis, a condição em que se apresentam inviabiliza sua utilização na reciclagem devido a falta de tecnologias para fazê-lo e, portanto foram classificados como Não recicláveis.

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Figura 11: Material classificado como não reciclável

O vidro apresentou um percentual de 1,69% (Gráfico 04) contra 1,26% (Tabela 01) para Natal mantendo a regularidade para a categoria. Porém a incidência do vidro foi irregular nas amostras, não seguindo um comportamento coerente o que leva a compreensão de que esse material não é usado em frequência constante que defina um procedimento específico para seu descarte no condomínio (Gráfico 09).

Gráfico 9: Distribuição das quantidades de vidro durante o experimento

O vidro coletado não foi separado por cor (tipo) do vidro, prática realizada comumente nas plantas de seleção para este material, devido seu pequeno volume amostrado como mostram as imagens na Figura 12. Este material não é biodegradável, podendo levar até mil anos para se decompor e portanto deve ser destinado de forma correta a fim de se evitar que o material fique “disponível” no ambiente por tanto tempo. Além disso a reciclagem do vidro economiza 640 kw/h em energia elétrica para cada tonelada reciclada (MATTEI e ESCOSTEGUY, 2007 apud SCHMITZ,2010)

Figura 12: Pesagem de vidro

O metal representou uma fração de 0,93% contra 3,12% para Natal conforme demonstra o Gráfico 04. Embora o metal tenha aparecido em todas as amostras a quantidade foi mínima como demonstra o Gráfico 10:

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Figura 13: Pesagem do material metal amostrado

Os demais materiais são bem menos expressivos quando comparados aos anteriores e não possuem meios ou tecnologias que despertem interesse em sua reciclagem sendo normalmente descartados em aterro sanitário. No Gráfico 11 é possível perceber que os resíduos têxteis e de madeira surgem de forma pontual em algumas amostras.

Gráfico 11: Distribuição das quantidades resíduos sem expressividade durante o experimento

Os resíduos têxteis são reconhecidamente onerosos ao ambiente em sua fabricação, por esse motivo o descarte correto dos resíduos têxteis é ambientalmente sustentável e pode ser utilizado dentro do próprio processo de fabricação, na forma descaracterizada na indústria automotiva, esportiva ou por artesãos ou podem ser doados caso esteja em condições de uso, como foi o caso de uma peça de roupa descartada como mostra a Figura 14.

Figura 14: Pesagem de material têxtil amostrado

Em observância ao Gráfico 11 é possível perceber que a madeira esteve presente em apenas duas amostras coletadas. Embora não seja expressiva a ocorrência de madeira nas amostras, o volume descartado em apenas uma amostra foi significativo e levanta a questão de como o gerador poderia descartar esse material, que embora orgânico, possui possibilidades de reuso e reciclagem mais elaborados que os orgânicos tradicionais.

A reciclagem de madeira é uma prática aplicável em todos os setores e pode ser desenvolvida inclusive como fonte de renda em trabalhos de artesanato, marcenaria e decoração. Muitos ainda desconhecem os métodos de reciclagem e de uso da madeira, algo que faz toda a diferença no desenvolvimento de tecnologias voltadas para a reutilização de suas propriedades e estrutura como fonte de energia (biomassa) favorecendo o uso de energias renováveis e seu uso na agricultura utilizando-as como fertilizante junto às lascas de madeira adicionadas à serragem promovendo ao solo as condições ideais de absorção de nutrientes.

O material que chama atenção no Gráfico 11 é o medicamento. É válido observar que os medicamentos estão presentes em todas as amostras, indicando uma regularidade no seu descarte e que representa um resíduo potencialmente contaminante do meio ambiente devendo ser desprezado de maneira consciente é recomendável separar os medicamentos por forma farmacêutica (comprimidos, cápsulas, etc.) juntamente com suas embalagens primárias e secundárias antes do descarte.

Nas amostras coletadas o resíduo farmacêutico foi descartado até mesmo com o orgânico sem o menor cuidado ou preocupação com o possível dano ambiental pelo gerador. Em

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algumas amostras, medicamentos lacrados foram observados tendo sido descartado por alcançar a validade estabelecida pelo fabricante.

O descarte de medicamentos apresenta riscos à água, ao solo, aos animais e à saúde pública já que o risco ambiental emergente está presente nos chamados “micropoluentes”. Assim, ao descartar medicamentos vencidos de forma incorreta, os consumidores contribuem com uma quantidade pequena, mas que quando acumulada no ambiente causa grandes consequências. Existe também a perigosa parcela de descarte de medicamentos no lixo comum, geralmente sobras de medicamentos vencidos. Como eles não são metabolizados, podem chegar em sua forma original aos aterros que, caso não possuam impermeabilização adequada, podem percolar (atravessar alguns meios) e contaminar o solo e o lençol freático em concentrações até maiores que via esgoto. O agravante se dá pelo fato de que a maior parte dos geradores não sabe a amplitude do dano que causam ao realizar o descarte de medicamentos no lixo comum ou no vaso sanitário. A Figura 15 mostra alguns medicamentos descartados pelos moradores no lixo comum.

Figura 15: Pesagem de medicamentos amostrados

O descarte de medicamentos deve ser feito em pontos de coleta específicos, para serem posteriormente encaminhados à destinação final ambientalmente correta. A UFRN mantém um ponto de coleta desses materiais no Centro de Convivência e recebe medicamentos inclusive de pessoas sem vínculo com a universidade. Ainda mais próximo ao condomínio, o supermercado Carrefour possui na Farmácia Rede Bem um coletor de medicamento. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece como obrigatoriedade o correto

descarte de medicamentos. No caso dos remédios, a chamada logística reversa deveria funcionar com as farmácias e drogarias aceitando medicamentos vencidos para encaminhá-los ao seu destino final sem risco de contaminação.

Nas amostras analisadas não foram constatadas a presença de pilhas e baterias nem de aparelhos e componentes eletrônicos, porém é valido lembrar que estes materiais devem ser corretamente destinados devido seu alto grau de contaminação. As pilhas devem ser destinadas a empresas que realizem o acondicionamento isolado dos materiais corrosivos ou incinerem esses matérias. Já s componentes eletrônicos, se destinados à empresas de desmonte podem ter componentes metálicos retirados e os demais materiais destinados corretamente evitando que provoquem contaminação por metais pesados principalmente.

Segundo dados divulgados pelo CEMPRE, para este trabalho, o valor comercial do resíduo coletado no período de análise foi da ordem de R$ 20,02 (Vinte reais e dois centavos) bruto, ou seja, sem a participação de atravessadores. Se considerarmos o comportamento de geração de resíduos semelhante nos outros blocos, temos que em um mês o condomínio poderia arrecadar cerca de R$1.880,00 (Mil oitocentos e oitenta reais) em material reciclável.

Diante de tudo que foi exposto neste trabalho, o Condomínio Bairro Latino tem a opção de colocar em prática o plano de ação sugerido para implantação de coleta seletiva e educação ambiental. O Anexo I traz a sugestão deste plano de ação na esperança de que o mesmo seja apreciado pelos administradores do referido condomínio.

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