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4.1 Experimento preliminar para determinar a umidade a ser utilizada nos substratos para criação das larvas dos carabídeos

Os resultados mostraram que não houve diferença significativa entre os substratos avaliados quanto à sobrevivência de larvas de A. basistriata e S.

seriatoporus. Portanto, os três substratos avaliados podem ser utilizados em criações

de A. basistriata e S. seriatoporus (Tabela 1).

Por outro lado, a umidade do substrato foi um fator que influenciou significativamente a sobrevivência de larvas de A. basistriata e S. seriatoporus (Tabela 1). Independentemente do tipo de substrato empregado verificou-se que a umidade de 50% foi a mais favorável para a sobrevivência das larvas dos carabídeos.

Os resultados também evidenciaram que a quantidade de água nos substratos pode favorecer ou desfavorecer a sobrevivência de larvas de A. basistriata e S.

seriatoporus. O mesmo foi observado por Kirk (1975) para larvas do carabídeo P. chalcites que se mostraram sensíveis ao teor de umidade no substrato. A reduzida

umidade no solo causou a dessecação das larvas de A. basistriata e S. seriatoporus, sendo que a baixa sobrevivência nas condições seca indica que a umidade do solo tem grande importância para a sobrevivência das larvas e que a dessecação pode ser o fator principal de mortalidade durante o estágio larval. Ressalta-se que a fragilidade das larvas de carabídeos em relação à baixa umidade foi proposta por Van Dijk e Den Boer

(1992) e Lövei e Sunderland (1996), os quais vincularam para larvas tal fragilidade à fraca quitinização e mobilidade limitada das larvas.

Huk e Kühne (1999) relataram maior mortalidade de larvas de Carabus clathratus Linnaeus, 1761 criadas em substratos secos em comparação aos substratos úmidos. As espécies de carabídeos conhecidas habitam solos mais úmidos e com vegetação, raramente sendo encontrados em solos muito secos (LÖVEI; SUNDERLAND, 1996). De acordo com Honek e Matinková (1991), as espécies de carabídeos são reconhecidas por preferirem hábitats que lhes forneçam ótimas condições microclimáticas, como a temperatura, a umidade e a luz, sendo os fatores mais importantes a atuarem sobre esses insetos.

Esta avaliação inicial da sobrevivência de larvas de A. basistriata e S.

seriatoporus em função do tipo de substrato, bem como as condições de umidade

destes foi fundamental para dar prosseguimento ao estudo de biologia.

Tabela 1. Sobrevivência das larvas (% + EP) de Abaris basistriata Chaudoir, 1873 (Insecta: Coleoptera: Carabidae: Harpalinae: Pterostichini) e Selenophorus seriatoporus Putzeys, 1878 (Harpalinae: Harpalini) em diferentes substratos e umidades após 20 dias da eclosão larval.

Substratos (A) Abaris basistriata Selenophorus seriatoporus

Solo 50,0 + 0,13 a 40,0 + 0,13 a Vermiculita 40,0 + 0,13 a 30,0 + 0,17 a Papel 40,0 + 0,15 a 30,0 + 0,18 a Umidade do substrato (B) 10% 10,0+ 0,16 c 5,0 + 0,19 c 50% 70,0 + 0,11 a 65,0 + 0,13 a 80% 30,0+ 0,19 b 40,0+ 0,17 b 1

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey (P ˃

4.2 Ciclo biológico completo de A. basistriata e S. seriatoporus em diferentes substratos de criação

A duração do ciclo biológico de ovo a adulto de A. basistriata variou de 36,1 a 38,4 dias (Tabela 2). Enquanto na espécie S. seriatoporus variou de 43 a 52,2 dias, com diferença significativa entre os substratos (Tabela 3). Os ovos de A. basistriata mantidos em solo, vermiculita e guardanapo de papel apresentaram período embrionário de 6,0, 5,9 e 5,5 dias, respectivamente, os quais não diferiram significativamente entre si, o mesmo se verificando com a duração do período embrionário de S. seriatoporus (Tabela 3). Larvas de terceiro instar e pupas de A.

basistriata apresentaram desenvolvimento mais rápido no solo. Por outro lado, larvas de

terceiro instar e pupas de S. seriatoporus apresentaram desenvolvimento mais rápido no solo e na vermiculita. Larvas de primeiro e segundo instares apresentaram duração similar nos três substratos para as duas espécies de carabídeos.

O solo proporcionou que o ciclo biológico (ovo–adulto) de A. basistriata apresentasse menor duração. A duração desse período foi mais elevada quando papel foi utilizado como substrato (Tabela 2). Quanto à duração do ciclo biológico (ovo-adulto) de S. seriatoporus, o substrato solo foi o que proporcionou o desenvolvimento mais rápido (43 dias), enquanto na vermiculita e no papel ocorreu aumento significativo no desenvolvimento do ciclo biológico, que foi de 45,8 e 52,2 dias, respectivamente (Tabela 3).

Tabela 2. Duração média (dias + EP) do desenvolvimento de diferentes fases e do ciclo biológico (ovo-adulto) de Abaris basistriata Chaudoir, 1873 (Insecta: Coleoptera: Carabidae: Harpalinae: Pterostichini).

Substratos Ovo

Instar

Larva Pupa Ciclo

biológico Solo (n=120) 6,0+0,12a 1 4,5+0,12a 5,4+0,12a 13,1+0,35b 22,9+0,40b 6,0+0,10b 36,1+0,44b Vermiculita

(n=120) 5,9+0,11a 4,6+0,10a 5,5+0,13a 14,4+0,39a 24,3+0,43a 7,0+0,13a 37,3+0,87ab Papel

(n=120) 5,5+0,12a 4,8+0,11a 5,8+0,16a 15,1+0,33a 25,5+0,48a 7,3+0,17a 38,4+0,51a 1

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey (P ˃ 0,05).

n= número inicial de indivíduos avaliados por tratamento.

Nesse estudo foi determinado pela primeira vez a duração do ciclo biológico completo de uma espécie do gênero Abaris Dejean, 1831. No México, em estudo sobre a descrição larval de A. bigenera, Bousquet e Liebherr (1994) relataram a duração do primeiro e segundo instares da espécie, que foi um dia mais longo do verificado no presente estudo para os instares correspondentes de A. basistriata. No Brasil, as informações sobre o ciclo biológico de carabídeos são escassas, principalmente sobre a tribo Pterostichini que inclui o gênero Abaris (Will, 2002). Também nesse estudo foi determinado pela primeira vez a duração do ciclo biológico completo de uma espécie do gênero Selenophorus Dejean, 1831. O período de duração do ciclo biológico de A.

basistriata e S. seriatoporus nos três substratos estudados (Tabelas 2 e 3) foi maior do

que o verificado em algumas espécies de carabídeos presentes em agroecossistemas brasileiros. Assim, C. granulatum apresentou ciclo biológico com duração média de 22 dias, mantido no substrato solo e temperatura de 25 ± 1ºC e umidade relativa de 70% ± 10%, e Callida sp. teve ciclo biológico de 23 dias quando criada no solo e sob temperatura de 26 ± 2ºC e umidade relativa de 60% ± 10% (PEGORARO; FOERSTER, 1985; CORREA-FERREIRA; POLLATO, 1989).

Tabela 3. Duração média (dias + EP) do desenvolvimento de diferentes fases e do ciclo biológico (ovo-adulto) de Selenophorus seriatoporus Putzeys, 1878 (Insecta: Coleoptera: Carabidae: Harpalinae: Harpalini).

Substratos Ovo

Instar

Larva Pupa Ciclo

biológico

Solo

(n=50) 7,0+0,34a 1

8,3+0,42a 8,1+0,33a 12,0+1,01b 28,4+1,56b 7,4+0,45b 43,0+2,39a Vermiculita

(n=50) 7,0+0,33a 8,6+0,44a 8,4+0,34a 14,0+1,09b 31,0+1,67b 7,6+0,47b 45,8+2,67b Papel

(n=50) 7,1+0,35a 8,8+0,46a 8,5+0,38a 20,4+1,20a 37,7+1,84a 8,5+0,55a 52,2+2,96c 1

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey (P ˃ 0,05). n= número inicial de indivíduos avaliados por tratamento.

Para estudos que visam determinar o período de duração do ciclo biológico de A.

basistriata e S. seriatoporus (Tabelas 2 e 3) a escolha do substrato adequado é

fundamental. Fatores intrínsecos dos substratos desempenham um papel importante no sucesso ou no fracasso do desenvolvimento destes carabídeos. Petersen (1998) destacou que o desenvolvimento larval de carabídeos necessita de condições muito específicas, principalmente as relacionadas com a estrutura do substrato. De acordo com Lundgren et al. (2005), os substratos mais abrasivos podem afetar a cutícula das larvas e/ou interferir na mudança de instar, e a consistência do substrato pode restringir a movimentação das larvas de carabídeos. Além disso, alguns substratos não retém água de forma adequada influenciando adversamente o desenvolvimento larval.

A viabilidade dos ovos e das larvas de primeiro e segundo instares de A.

basistriata foi similar nos substratos estudados. No terceiro instar e na fase de pupa

esse parâmetro biológico foi significativamente maior quando o carabídeo ficou mantido no solo. A viabilidade do ciclo biológico (ovo-adulto) diferiu significativamente entre os substratos, novamente o solo destacou-se como o substrato que proporcionou condições mais favoráveis para a criação do carabídeo. Entre as larvas criadas no solo, vermiculita e papel 57,5, 37,5 e 32,5%, respectivamente, atingiram a fase adulta (Tabela 4).

Tabela 4. Viabilidade (média + EP) das fases de desenvolvimento e do ciclo biológico (ovo-adulto) de Abaris basistriata Chaudoir, 1873 (Insecta: Coleoptera: Carabidae: Harpalinae: Pterostichini).

Substratos Ovo Instar Pupa Ciclo

biológico

Solo

(n=120) 84,2+4,56a 1

90,6+2,30a 89,9+2,51a 91,5+2,65a 91,6+3,79ª 57,5+ 4,72a

Vermiculita

(n=120) 83,3+4,31a 90,3+2,05a 89,5+2,11a 76,4+3,22b 73,0+1,84b 37,5+ 3,93b Papel

(n=120) 82,5+4,39a 90,1+2,50a 88,0+2,67a 66,7+2,57b 69,3+4,23b 32,5+ 4,35b 1

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey (P ˃ 0,05). n= número inicial de indivíduos avaliados por tratamento.

A viabilidade dos ovos e das larvas de primeiro instar de S. seriatoporus foi similar em função do substrato empregado (Tabela 5). Esse parâmetro biológico foi significativamente maior quando larvas de segundo e terceiro instares e pupas do carabídeo ficaram mantidas no solo. A viabilidade do ciclo biológico (ovo-adulto) diferiu significativamente entre os três substratos, destacando-se novamente o solo por ter proporcionado a viabilidade mais elevada. Entre as larvas criadas no solo, vermiculita e papel, 52,0, 24,2 e 12,3%, respectivamente, atingiram a fase adulta.

Tabela 5. Viabilidade (média + EP) das fases de desenvolvimento e do ciclo biológico (ovo-adulto) de Selenophorus seriatoporus Putzeys, 1878 (Insecta: Coleoptera: Carabidae: Harpalinae: Harpalini).

Substratos Ovo Instar Pupa Ciclo

biológico

Solo

(n=50) 88,1+4,96a 1

84,7+3,67a 86,3+2,60a 87,0+5,85a 91,7+6,11ª 52,0+ 4,87a

Vermiculita

(n=50) 84,2+4,12a 75,8+3,41a 78,6+2,33b 67,3+4,98b 70,0+7,16b 24,2+ 4,49b Papel

(n=50) 82,0+4,27a 70,7+3,12a 66,8+2,54b 48,7+6,56c 54,2+8,77c 12,3+ 5,11c 1

n= número inicial de indivíduos avaliados por tratamento.

As larvas de A. basistriata escavaram galerias horizontais no solo, enquanto as larvas de S. seriatoporus confeccionaram na vertical. Com relação à formação de câmara pupal, ressalta-se que o solo proporcionou a formação da câmara pupal pelas larvas de A. basistriata e S. seriatoporus, estrutura que provavelmente foi responsável pela elevada viabilidade constatada em larvas de terceiro instar (Tabelas 4 e 5). O papel e vermiculita não proporcionaram a confecção de câmaras pupais. A formação de câmara pupal é muito comum entre carabídeos. Goulet (1976) observou a ocorrência de câmara pupal em 80 espécies de carabídeos. Pegoraro e Foerster (1985) verificaram que a pupação de C. granulatum ocorreu no solo com a formação de câmara com solo compactado, a uma profundidade de 8 a 12 cm.

Cornelisse e Hafernik (2009) e Gwiazdowski et al. (2011) ressaltam que cada espécie de Carabidae necessita de substrato de criação específico, o que justifica a determinação de substratos de fácil manuseio e adequados para o inseto. Segundo Lundgren et al. (2005), o solo pode proporcionar um dos ambientes mais adequados para criação de carabídeos, especialmente devido a retenção de umidade e estrutura física que apresenta. Esses autores avaliaram cinco tipos de solo para a criação do carabídeo P. chalcites e relataram que o solo Fer-TiI® não esterilizado foi o mais adequado para o desenvolvimento larval, com menor duração (27,7 dias) e maior taxa de pupação (70 a 80%). No presente estudo, a alta viabilidade das pupas de A.

basistriata e S. seriatoporus no solo provavelmente ocorreu devido à presença de

câmara pupal, que proporcionou umidade adequada para o desenvolvimento dessa fase (Tabelas 4 e 5).

De maneira geral, a criação de carabídeos em papel filtro não se mostra satisfatória (KIRK, 1971), pois não ocorre desenvolvimento larval (LUNDGREN et al., 2005). Entretanto, o tipo de papel utilizado pode influenciar diretamente no desenvolvimento de carabídeos. No presente estudo, A. basistriata e S. seriatoporus completaram o ciclo biológico no guardanapo de papel. Provavelmente, a textura desse papel foi fundamental para sobrevivência de A. basistriata e S. seriatoporus, pois

possibilitou retenção de água em quantidade suficiente para manutenção das diferentes fases do ciclo biológico das espécies.

Apesar de A. basistriata e S. seriatoporus terem completado o ciclo biológico no solo, vermiculita e papel os resultados obtidos nos dois últimos tipos de substratos evidenciaram que a vermiculita e o papel tiveram efeito adverso sobre a biologia dessas espécies em comparação ao efeito observado no solo (Tabelas 2 e 3).

Na vermiculita e no papel, algumas pupas de A. basistriata e S. seriatoporus foram encontradas na superfície, enquanto outras permaneceram em contato com o fundo dos potes de criação, aparentemente na tentativa de formar câmara pupal. Provavelmente, a ausência da câmara pupal fez com que pré-pupas e pupas ficassem expostas a condições microclimáticas adversas, relacionadas com umidade, temperatura e luminosidade. Pasini (1995) também verificou que a vermiculita não permitiu a construção da câmara pupal por C. granulatum, embora as pré-pupas tentaram confeccionar essa estrutura. Lundgren et al. (2005), ao criarem P. chalcites em vermiculita observaram a ocorrência do desenvolvimento larval e pupal, que, no entanto, não foi satisfatório se comparado ao observado no solo. Alguns autores também observaram elevada mortalidade de pré-pupas nos carabídeos P. madidus (LUFF, 1973) e Abax parallelepipedus (Piller & Mitterpacher, 1783) (Pterostichini) (SYMONDSON, 1994). Segundo este autor, a alta mortalidade de pré-pupas se deve ao comportamento das larvas de terceiro instar em procurar o local para pupação, devido às condições oferecidas de criação não ser adequada, essa procura aumenta a mortalidade do inseto.

A longevidade de fêmeas de A. basistriata no solo, vermiculita e papel foi de 226, 168,6 e 143,4 dias, respectivamente, enquanto os machos apresentaram longevidade de 192,7 dias (solo), 147,7 dias (vermiculita) e 124,3 dias (papel) (Tabela 6). Assim, o substrato mais favorável à longevidade da espécie foi o solo, que proporcionou ao carabídeo sobreviver cerca de 1,4 vezes mais que quando mantido na vermiculita ou papel. Considerando-se a longevidade verificada nos três substratos, a longevidade de 179,3 dias das fêmeas foi significativamente maior que a de machos (154,9 dias).

O total de adultos de A. basistriata emergidos no solo, vermiculita e papel foi 69, 45 e 39 indivíduos, respectivamente. Apenas 2,2% de adultos apresentaram deformação nas asas quando criados no solo, enquanto esse tipo de deformidade atingiu valores de 4,4% na vermiculita e 9,6% no papel. Contudo, houve diferença significativa entre os adultos deformados (Tabela 6). Deve ser ressaltado que os adultos com asas deformadas não acasalaram e morreram no intervalo de 2 a 25 dias após emergirem. A razão sexual média do carabídeo criado nos três substratos foi 0,56, não ocorrendo diferença significativa entre os valores desse parâmetro biológico obtido nos três substratos.

Tabela 6. Longevidade média (dias + EP) de fêmeas e machos, razão sexual e deformação de adultos de Abaris basistriata Chaudoir, 1873 (Insecta: Coleoptera: Carabidae: Harpalinae: Pterostichini).

Adultos Substratos Solo (n=69) Vermiculita (n=45) Papel (n=39) Média geral Fêmea 226,0 + 14,45 a1 168,6 + 10,57 b 143,4 + 6,27 b 179,3 + 16,2 A Macho 192,7 + 9,16 a 147,7 + 9,11 b 124,3 + 6,11 b 154,9 + 20,7 B Razão sexual (RS) 0,55+ 0,03 a1 0,56+ 0,04 a 0,56+ 0,05 a 0,56+ 0,04 Deformação (%) 2,2+ 2,2 a1 4,4+ 2,5 b 9,6+ 2,9 b 5,4 + 2,6 1

Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha e letra maiúscula na coluna não diferem significativamente

pelo teste de Tukey (P ˃ 0,05).

n= número de adultos emergidos do ciclo biológico (ovo-adulto) e avaliados por tratamento.

Não houve diferença na longevidade entre machos e fêmeas de S. seriatoporus nos substratos (Tabela 7). Sendo observada menor longevidade dos adultos na vermiculita e no papel quando comparado no solo. Assim, o substrato mais favorável à longevidade da espécie foi o solo, que proporcionou sobrevivência cerca de 4,6 vezes maior que quando mantida na vermiculita ou papel. Dos 26, 12 e 6 adultos emergidos no solo, na vermiculita e no papel, respectivamente, apenas 3,9% de adultos apresentaram deformação nas asas quando criados no solo, enquanto tal deformidade atingiu valores de 33,3% na vermiculita e 50,0% no papel. Todos os adultos com asas

deformadas não acasalaram e morreram no intervalo de 1 a 15 dias. O valor da razão sexual do carabídeo criado nos três substratos foi 0,50.

A maior porcentagem de adultos deformados de A. basistriata e S. seriatoporus foi encontrada na vermiculita e no papel. Provavelmente, a ausência da câmara pupal nesses dois substratos fez com que pré-pupas e pupas ficassem expostas a condições microclimáticas adversas, relacionadas, por exemplo, com umidade. Huk e Kühne (1999) verificaram que o tipo de substrato não influenciou na deformação de adultos de

C. clatratus emergidos, enquanto as condições de substrato seco proporcionaram alta

porcentagem de besouros deformados em comparação com os substratos úmidos. Os indivíduos deformados são mais vulneráveis à predação porque grande parte do dorso do abdômen dorsal não fica protegida pelo élitro. Além disso, a deformação nas asas diminui à eficiência de forrageamento de algumas espécies de Carabidae (STURANI, 1962; HUK; KÜHNE, 1999).

Tabela 7. Longevidade média (dias + EP) de fêmeas e machos, razão sexual e deformação de adultos de Selenophorus seriatoporus Putzeys, 1878 (Insecta: Coleoptera: Carabidae: Harpalinae: Harpalini).

Adultos Substratos Solo (n=26) Vermiculita (n=12) Papel (n=6) Média geral Fêmea 177,5 + 12,81 a1 42,3 + 15,62 b 35,4 + 23,92 b 121,2 + 17,22 A Macho 161,1 + 12,21 a1 40,2 + 15,59 b 31,3 + 22,81 b 110,4 + 15,80 A Razão sexual (RS) 0,502 0,50 0,50 0,50 Deformação (%) 3,92 33,3 50,0 29,1 1

Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha e letra maiúscula na coluna não diferem

significativamente pelo teste de Tukey (P ˃ 0,05).

2

Não se obteve repetições suficiente para a análise de variância.

n= número de adultos emergidos do ciclo biológico (ovo-adulto) e avaliados por tratamento.

A longevidade de A. basistriata e S. seriatoporus observada no solo (Tabelas 6 e 7) difere dos valores relatados por Barbosa et al. (2012). Esses autores verificaram que adultos de A. basistriata e S. seriatoporus coletados sob condições de campo, alimentados com T. molitor e mantidos em substrato solo sobreviveram 225 e 255 dias

que representa, cerca de 1,1 e 1,5 vezes mais que a longevidade observada neste estudo sob condições de laboratório. Segundo Ball e Bousquet (2000), os carabídeos caracterizam-se por apresentar ciclo de vida longo, sendo de um ano para a maioria das espécies, contudo existem espécies que podem viver por até quatro anos.

O período de pré-oviposição foi menor para A. basistriata mantido no solo do que na vermiculita e no papel (Tabela 8). Por outro lado, os períodos de oviposição e de pós-oviposição foram significativamente mais longos para fêmeas mantidas no solo. Quanto a S. seriatoporus o período de pré-oviposição foi de 30,5 dias no solo, sendo mais de 25 dias mais longo que o observado em A. basistriata (Tabela 9). Por outro lado, o período de oviposição foi em média 109,0 dias, que foi maior que os períodos de pré e pós-oviposição (38,3 dias). Não foi possível obter dados dos períodos de pré- oviposição, oviposição e pós-oviposição de fêmeas de S. seriatoporus, criados na vermiculita e no papel, devido os adultos terem morrido sem ovipositarem.

Tabela 8. Duração média (dias + EP) dos períodos de pré-oviposição, oviposição e pós- oviposição de fêmeas de Abaris basistriata Chaudoir, 1873 (Insecta: Coleoptera: Carabidae: Harpalinae: Pterostichini).

Substratos Pré-oviposição Oviposição Pós-oviposição

Solo (n=38) 5,1 + 0,38 b1 90,2 + 6,40 a1 130,8 + 8,96 a1 Vermiculita (n=25) 7,0 + 0,44 a 60,6 + 5,10 b 101,0 + 7,70 b Papel (n=22) 7,8 + 0,62 a 61,8 + 4,70 b 73,9 + 4,57 c

1

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey (P ˃

0,05).

Tabela 9. Duração média (dias + EP) dos períodos de pré-oviposição, oviposição, pós- oviposição de fêmeas de Selenophorus seriatoporus Putzeys, 1878 (Insecta: Coleoptera: Carabidae: Harpalinae: Harpalini).

Substratos Pré-oviposição Oviposição Pós-oviposição

Solo (n=13) 30,5 + 4,41 109,0 + 8,12 38,3 + 5,65

Vermiculita (n=6) -1 - -

Papel (n=3) -1 - -

1

Não se obteve ovos nos substratos vermiculita e papel.

n= número de fêmeas emergidas do ciclo biológico (ovo-adulto) e avaliadas por tratamento.

Abaris basistriata e S. seriatoporus depositaram seus ovos individualmente em

pequenos orifícios no solo. Esse comportamento está de acordo com estudos sobre carabídeos desenvolvidos por alguns autores (HUK; KÜHNE, 1999; BALL; BOUSQUET, 2000).

As fêmeas de A. basistriata apresentaram significativamente maior oviposição quando criadas no substrato solo, enquanto o menor número de ovos foi observado em fêmeas mantidas em papel e valor intermediário ocorreu em vermiculita (Tabela 10). No solo contabilizou-se 85,5 ovos por fêmea valor 5,2 vezes e 9,5 vezes superior que o constatado na vermiculita e no papel, respectivamente.

Tabela 10. Fecundidade, número de larvas eclodidas e viabilidade de ovos (média+ EP) de Abaris basistriata Chaudoir, 1873 (Insecta: Coleoptera: Carabidae: Harpalinae: Pterostichini) pertencente à geração F1.

Substratos Fecundidade N° de larvas eclodidas Viabilidade (%)

Solo (n=38) 85,5 + 0,07 a1 73,8 + 0,07 a 86,3 + 1,17 a

Vermiculita (n=25) 16,6 + 0,03 b 11,6 + 0,03 b 69,9 + 1,32 b

Papel (n=22) 9,0 + 0,01 c 6,3 + 0,02 b 70,0 + 1,94 b

1

Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente pelo teste de Tukey (P > 0,05). n= número de fêmeas emergidas do ciclo biológico (ovo-adulto) e avaliadas por tratamento.

Para realização da analise os dados originais de fecundidade e número de larvas eclodidas foi transformado em log (x+5).

Entre os substratos estudados a viabilidade de ovos significativamente mais elevada foi observada para fêmeas de A. basistriata criadas no solo (86,3%), sendo que

este parâmetro biológico apresentou valores similares para fêmeas mantidas no papel (70,0%) e vermiculita (69,9%) (Tabela 10). Consequentemente, o número mais elevado de larvas eclodidas foi verificado em ovos provenientes de adultos mantidos no substrato solo (Tabela 10).

As fêmeas de S. seriatoporus criadas na vermiculita e no papel morreram sem ocorrer acasalamento. Assim, apenas para fêmeas criadas no substrato solo foi possível avaliar-se a capacidade reprodutiva (Tabela 11). Nesse substrato, as fêmeas ovipositaram 10,8 ovos com viabilidade de 82,1%.

Tabela 11. Fecundidade, número de larvas eclodidas e viabilidade de ovos (média+ EP) de Selenophorus seriatoporus Putzeys, 1878 (Insecta: Coleoptera: Carabidae: Harpalinae: Harpalini) pertencente à geração F1.

Substratos Fecundidade N° de larvas eclodidas Viabilidade (%)

Solo (n=13) 10,8 + 0,74 8,9 + 0,07 82,1 + 2,11

Vermiculita (n=6) -1 - -

Papel (n=3) -1 - -

1

Não se obteve ovos nos substratos vermiculita e papel.

n= número de fêmeas emergidas do ciclo biológico (ovo-adulto) e avaliadas por tratamento.

As diferenças na fecundidade e viabilidade de ovos de A. basistriata e S.

seriatoporus podem ser atribuídas aos tipos de substratos utilizados, pois o solo

proporcionou maior capacidade reprodutiva e maior viabilidade dos ovos em relação à vermiculita e papel. Goulet (1976) observou viabilidade de ovos entre 70 a 90% para diversas espécies de carabídeos mantidas em solo sob condições de laboratório. De acordo com Labeyrie (1978), a capacidade reprodutiva dos insetos está intimamente relacionada com os fatores ecológicos, entre eles o substrato de criação.

O presente estudo mostrou que o solo, vermiculita fina e guardanapo de papel podem ser utilizados na criação de A. basistriata e S. seriatoporus, entretanto, o solo foi o substrato que proporcionou as condições mais favoráveis para a criação dessas espécies em laboratório. Assim, a utilização de solo como substrato para a criação de

A. basistriata e S. seriatoporus em laboratório proporcionou reduzida mortalidade de

maiores em comparação aos demais substratos estudados. Ressalta-se que os resultados obtidos permitem a criação contínua de A. basistriata e S. seriatoporus em laboratório e, consequentemente, se torna um indicativo para a liberação inoculativa dessa espécie em programas de controle biológico de pragas.

4.3 Preferência de oviposição em teste com chance de escolha

No teste com chance de escolha, o substrato menos preferido para A. basistriata ovipositar foi a vermiculita (Figura 5), observando-se comportamento oposto em relação aos substratos solo e gaze preta, nos quais o número de ovos registrado foi similar. No algodão observou-se número médio de 9,9 ovos por fêmea, valor superior ao obtido na vermiculita e inferior ao solo e gaze preta.

Considerando-se a necessidade de rapidez nos procedimentos para a criação do carabídeo, a gaze preta apresentou como a melhor opção para se obter ovos de A.

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