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RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Relação de influência entre o uso de drogas com a esquizofrenia

No documento TCC-FRANCIELELEONILDADELGAO (páginas 31-35)

Muitos autores defendem que existe relação entre o uso de drogas e o desenvolvimento da esquizofrenia, ou ao menos o desencadeamento precoce dela. Sendo a esquizofrenia uma doença multicausal, decorrente da combinação de vários fatores de risco, as drogas apresentam-se como fator desencadeante, precipitante para o surgimento da doença.

Mueser et al., apud Oliveira & Moreira, 2007, defende que há uma relação de causalidade, ou seja, o abuso de substâncias desencadearia esquizofrenia, pelo menos em indivíduos predispostos.

O primeiro estudo para investigar a hipótese causal foi realizado na Suécia, com 50.000 jovens durante 15 anos, a princípio já se estabelecia uma possível relação. Em 2002 foi feita uma revisão deste estudo e constatou-se que usuários de maconha tinham um risco de 1,5 vezes maior de desenvolver a esquizofrenia, já os que usaram a substância por mais de 50 vezes tinha o risco aumentado para 3 (três) vezes mais chances de desenvolver a doença (OLIVEIRA & MOREIRA, 2007).

Em sua pesquisa, Veen et al. 2004, demonstrou uma associação entre o uso da Cannabis sativa (maconha) e a idade de início do primeiro surto psicótico da esquizofrenia. De acordo com este autor o abuso da maconha e de outras substâncias pode precipitar o surgimento da esquizofrenia principalmente na população masculina.

Os pacientes usuários de cannabis iniciaram quadro psicótico mais cedo dos que os que não usaram e os pacientes do sexo masculino tiveram um início dos sintomas psicóticos (primeira evidência de disfunção social e/ou ocupacional, primeiro episódio psicótico, e primeiros sintomas negativos) significativamente mais novos do que as mulheres (VEEN et al. 2004).

Segundo Witton e Murray, (2004) nos dois últimos anos outros estudos reforçando esta possibilidade foram publicados. Eles incluem uma extensão do estudo original do Exército Sueco (ZAMMITT et al, 2002), um levantamento populacional da Holanda (VAN OS et al, 2002) e dois estudos prospectivos sobre os efeitos aumentados de risco de psicose em adolescentes usuários de maconha da Nova Zelândia (ARSENEAULT et al, 2002; FERGUSSON et al, 2003). Mesmo que cada pesquisa epidemiológica tenha sua especificidade, todas fortalecem a hipótese do modelo causal.

Há também evidências biológicas da relação entre o uso de drogas e o surgimento da esquizofrenia. “... o sistema canabinóide de fato está implicado na patogenia da esquizofrenia e a ativação deste sistema pelo uso de maconha, poderia ser a base neurobiológica que explicaria o desencadeamento de esquizofrenia pelo uso de maconha” (OLIVEIRA & MOREIRA, 2007).

3.2. Não relação entre o uso de drogas e o desenvolvimento da esquizofrenia

Para alguns autores mais cautelosos não é possível estabelecer uma relação entre o uso de drogas e a esquizofrenia, devido a esquizofrenia ser uma doença sem um fator causal específico, de uma origem não definida, e por serem, a dependência e a esquizofrenia, duas doenças que ocorrem em uma mesma época, estes acreditam que seja apenas uma coincidência.

Amostras populacionais maiores são necessárias para avaliar um número maior de indivíduos com transtornos psicóticos para testar esses achados; uma modelagem recente do impacto dos índices de uso de maconha versus a incidência de esquizofrenia na Austrália não encontrou uma relação causal (DEGENHARDT L et al. 2003, apud WITTON & MURRAY, 2004 ).

Chambers et al. 2001 apud Oliveira e Moreira 2007, acreditam que a co-morbidade poderia ser uma mera coincidência de duas desordens psiquiátricas (dependência e esquizofrenia), que têm picos de início coincidentes (adolescência e início da vida adulta para homens) e compartilham a mesma etiologia (fatores genéticos comuns, desregulação do sistema dopaminérgico de reforço e recompensa), ou seja, não havendo nenhuma relação de causalidade entre dependência e esquizofrenia.

Não há provas de que drogas lícitas ou ilícitas causem esquizofrenia. Elas podem, contudo, agravar os sintomas de quem já tem a doença. Certas drogas como cocaína ou estimulantes podem provocar sintomas semelhantes aos da esquizofrenia, mas não há evidências que cheguem a causá-la (CORTESE, 2004).

Outros acreditam no modelo da automedicação, ou seja, pacientes esquizofrênicos usariam drogas de abuso para evitar o desconforto dos sintomas da doença ou do tratamento farmacológico (HAMBRECHT; HAFNER, 2000 apud OLIVEIRA & MOREIRA 2007). Silveira, (s/d), afirma que deve haver uma maior cautela ao se publicar pesquisas que tratam deste assunto, pois, muitos autores afirmam esta relação a fim de transmitir uma posição ideológica que por vezes não são baseadas em evidências. “... todos sabemos da

grande distância que existe entre a constatação de uma associação entre dois fenômenos e o estabelecimento de uma relação de causa e efeito entre os mesmos.”

3.3. CAPs – Tangará da Serra

Foram feitas visitas a Unidade com o objetivo de observar in loco a estrutura física e entender o funcionamento assim como conhecer os serviços prestados aos doentes esquizofrênicos. Através de entrevista realizada com a psicóloga/coordenadora, pode-se conhecer melhor a equipe e esses serviços realizados pela Unidade do CAPs de Tangará da Serra-MT.

A Unidade do CAPs de Tangará da Serra é do tipo CAPs I, que é implantada em Municípios com até 70 mil habitantes, funcionando durante 8 horas por dia (07h00min às 11h00min e das 13h00min às 17h00min), durante cinco dias da semana (segunda à sexta).

A equipe é composta por um médico capacitado em saúde mental, uma enfermeira, uma psicóloga, uma assistente social, duas artesãs, uma recepcionista, uma para serviços gerais e um motorista. Sendo a parte de coordenação realizada pela psicóloga da Unidade.

A abordagem de busca aos pacientes pode ser por busca ativa, quando há ordem judicial ou solicitação da família em casos de pacientes resistentes a busca por tratamento, por encaminhamento das Unidades de Saúde da Família (USF), após o diagnóstico de um distúrbio mental, e também por demanda espontânea, que é a forma mais comum de chegada de pacientes. Neste caso o paciente fica sabendo dos serviços prestados e vai até ao CAPs buscar tratamento. A demanda espontânea é a mais utilizada devido ao diagnóstico mais comum ser depressão, e nestes casos os familiares e os próprios pacientes tendem a buscar o serviço de forma espontânea.

Quando o paciente chega ao CAPs ele passa pelo primeiro atendimento que é denominado – Acolhimento, este acolhimento é realizado pela enfermeira ou pela assistente social. Vendo a necessidade o paciente é encaminhado ou para a psicóloga ou para o médico. Todos os pacientes passam por atendimento psicológico, porém quando está em surto, ou quando necessita de medicamento, o paciente é encaminhado ao médico.

O tratamento realizado no CAPs consiste em oficinas de terapia ocupacional (oficinas de horta, bordado, crochê, pinturas em quadros e tecidos, mosaico em E.V.A.,entre outros), tratamento em grupo (técnicas de relaxamento com equipes de estagiários de fisioterapia, discussões em grupos, seções de filme, entre outros), psicoterapia individual e o tratamento medicamentoso (aldol, rivitril, aloperidol, diazepan, clonazepan, entre outros). No CAPs há

três planos básicos de tratamento, o intensivo, o semi-intensivo e o não intensivo. Para cada paciente serão determinadas as atividades a serem realizadas bem como os medicamentos, caso seja necessário, isso de acordo com seu diagnóstico e a intensidade da doença.

Os esquizofrênicos em particular são pacientes que aderem bem ao tratamento, se interessam pelas oficinas, gostam de trabalhos em grupo, gostam de falar sobre suas alucinações e delírios. Porém os que são usuários de drogas têm uma maior dificuldade de aderir ao tratamento, então tem que se fazer a busca ativa, visitas domiciliares, acompanhamento com a família, pois devido aos efeitos colaterais das medicações eles abandonam o tratamento e voltam a usar drogas, e a cada vez que isso acontece quando o paciente entra em surto os sintomas são mais forte e agrava cada vez mais a doença.

Muitos esquizofrênicos que deram início ao tratamento na Unidade do CAPs de Tangará da Serra não estão realizando acompanhamento, outros participam regularmente do tratamento oferecido. (Figura 1). O número total de esquizofrênicos cadastrados na Unidade do CAPs é 150 (cento e cinqüenta), os que freqüentam regularmente as oficinas e fazem o acompanhamento medicamentoso são 38 (trinta e oito), restando 112 (cento e doze) pacientes sem acompanhamento, entre estes últimos estão incluídos os mortos, portanto este valor não corresponde à quantidade real de pacientes sem tratamento. Não é possível ao CAPs acompanhar as informações externas e o óbito normalmente não é informado pelos familiares a Unidade. Segundo a psicóloga do CAPs este número não é grande, mas deve ser considerado, ainda assim o número de pacientes em tratamento é menor do que os esquizofrênicos vivos cadastrados na Unidade. Isso se dá devido à dificuldade de adesão ao tratamento devido aos efeitos dos medicamentos, a falta de disponibilidade dos familiares ou dificuldade de acesso ao CAPs.

Figura 1- Relação entre pacientes cadastrados no CAPs de Tangará da

Através da entrevista realizada com a psicóloga, verificou cadastrados no CAPs, 42 (quarenta e dois)

drogas de um total de 150 (cento e cinqüenta)

Figura 2: Esquizofrênicos

25.3 %

No documento TCC-FRANCIELELEONILDADELGAO (páginas 31-35)

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