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TCC-FRANCIELELEONILDADELGAO

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Academic year: 2021

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INTRODUÇÃO

A história da saúde mental vem caracterizada em seu tempo cronológico respeitando as interfaces de cada época, desde os primórdios da humanidade quando não se conhecia absolutamente nada a respeito da saúde da mente, onde doentes eram confundidos com seres possuidores de demônios, até os dias de hoje.

Durante este período muitos fatos aconteceram pelo mundo, várias teorias foram propostas e tratamentos absurdos foram realizados como experiências. Apenas em 1789 com a criação do Hospital Bonifácio é que se começou a pensar em humanização do tratamento ao doente mental. A partir de então as idéias a respeito da saúde da mente foram tomando valor, Pinel criou o estatuto do louco valorizando o louco como doente, Emil Kraeplin em 1880 criou a Classificação Internacional das Doenças – CID X onde dedicou um capítulo exclusivo aos Transtornos mentais e comportamentais e Dorothea Lynde Dix foi responsável pela reforma do sistema dos hospitais psiquiátricos existentes.

No Brasil a visão inicial que se tinha a respeito dos “loucos” era igual ao do resto do mundo, a segregação era a principal medida tomada com relação a estes desviantes sociais. Apenas em 1903 sob direção de Juliano Moreira é que o Hospital Nacional dos Alienados aderiu as primeiras medidas da assistência humanizada juntamente com o desenvolvimento científico.

A Reforma Psiquiátrica vinha com a proposta de desinstitucionalização dos manicômios, com isso surgiram vários movimentos e várias mudanças foram concretizadas. Em 1980 acontecia o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental, em 1987 a 1ª Conferencia Nacional de Saúde Mental, a definição dos princípios do SUS e consequentemente a criação dos Centros de Atenção Psicossocial - CAPs, e em 1992 o aperfeiçoamento dessas unidades. Apenas em 2001 é que foi aprovada a Lei nº 10.216 - que dispõe sobre a proteção e os direitos dos indivíduos portadores de transtornos mentais, proposta por Paulo Delgado.

Considerando a esquizofrenia como a mais comum entre as doenças mentais, cerca de 1% da população mundial, deve-se pensar em basicamente dois fatores para o seu surgimento, os fatores que predispõe, e os fatores que desencadeiam. Até hoje não se tem conhecimento de um fator específico, único, para o seu desenvolvimento. Seus sintomas são divididos em positivos que inclui delírios e alucinações, e negativos, embotamento afetivo e apatia. Seu diagnóstico é basicamente clínico, realizado em entrevista com o paciente e seus

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familiares, devendo assim seus sintomas se enquadrem nos critérios de diagnóstico da DSM-IV - Classificação dos Transtornos Mentais pela Associação Psiquiátrica Americana. A esquizofrenia é subdividida de acordo com seus sintomas, o tratamento se baseia em medicamentos, psicoterapias e terapias ocupacionais.

Como exemplo de fator desencadeante para o surgimento da esquizofrenia tem-se o abuso de drogas – substâncias psicotrópicas, que assim como a doença mental vem entrelaçada a história da humanidade. O abuso de substâncias, ou até mesmo o interesse de se experimentar a droga, também deriva de vários fatores seja eles biológicos, psicológicos, ambientais ou sociais. As substâncias psicotrópicas são subdivididas de acordo com seus efeitos no organismo podendo ser depressora, estimulante ou perturbadora do sistema nervoso central.

O álcool está entre as drogas depressoras do sistema nervoso central, sendo a substância mais consumida entre os jovens. Mesmo sendo proibida por lei a venda para menores, a idade de início para o consumo vem sendo cada vez menor. É uma droga que tem grande probabilidade de causar dependência e outras doenças físicas, como também proporcionar o caminho para outras drogas.

A maconha se encaixa entre as drogas perturbadoras do sistema nervoso central, sendo proibida por lei a mais ou menos 60 (sessenta) anos em quase todo o mundo ocidental, devido ao conhecimento de seus malefícios. Porém é permitido seu consumo em outras partes do mundo para fins medicamentosos.

Geralmente o indivíduo que usa a maconha sem fim medicamentoso, busca relaxar, e curtir seus efeitos, porém estes efeitos também alteram o prazer, a memória, o aprendizado, a percepção além dos efeitos sobre o corpo físico. Se o consumo da droga for cortado abruptamente o indivíduo pode apresentar síndrome de abstinência, que deve ser tratada com medicamentos.

Já a cocaína é uma droga estimulante do sistema nervoso central, ela se apresenta de três formas básicas, o pó (cheirado), a merla (inalado) e o crack (fumado), tendo a intensidade e o tempo de efeito variado de acordo com cada via de uso. O usuário de cocaína busca em seu consumo um estado de bem estar, euforia, excitação, porém também podem apresentar efeitos tóxicos como hiperatividade, irritabilidade e insônia.

O abuso de substância como fator causal para a esquizofrenia é discutido com muita cautela entre alguns autores citados, pois mesmo que no decorrer de suas pesquisas,

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declararem que esta relação pode existir, em suas conclusões não definem ao certo qual a real relação que as drogas têm com a esquizofrenia. Os dados coletados deram uma melhor visão desta relação, uma vez que 28% (vinte e oito por cento) dos pacientes cadastrados tem associados, esquizofrenia com o consumo de drogas, e que estes não apresentava traços da doença antes do uso de drogas.

Essa pesquisa teve como objetivo estabelecer as características dos sujeitos usuários de drogas que evidenciam o comportamento esquizofrênico. Para maior detalhamento do estudo procuramos identificar as características dos usuários de drogas, bem como as características dos esquizofrênicos, procurando estabelecer relação entre o uso de drogas e o desencadeamento da esquizofrenia, buscando dados estatísticos que auxiliem na comprovação da relação existente entre a esquizofrenia e o uso de drogas.

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CAPÍTULO I – REFERENCIAL TEÓRICO 1.1. HISTÓRIA DA SAÚDE MENTAL

1.1.1. Mundo

Nos tempos antigos, atitudes que fugiam do considerado normalidade na época, principalmente atitudes agressivas e entendidas como insensatas, eram atribuídas a forças exteriores ao homem como maus espíritos, demônios, magos, etc. Dessa forma eram tratados com mágicas e práticas religiosas.

Apenas no séc. V a.C. na Grécia surgiram as primeiras idéias que contrariavam a definição religiosa. Hipócrates rejeitou a possibilidade de serem os deuses os causadores destas perturbações, e definiu uma classificação que incluía a mania, melancolia, histeria, psicose pós-parto entre outras. Empédocles afirmava que o amor e o ódio interferiam na determinação do comportamento humano.

No mundo romano séc. II d.C, após ter estudado a anatomia e fisiologia do corpo humano, Galeano criou a teoria da alma racional, que se dividia em parte interna, com os cinco sentidos, e a parte externa com a imaginação, percepção, capacidade de julgamento etc.

Na Idade Média muitos ainda acreditavam que as pessoas que apresentavam comportamento que fugia ao esperado eram possuidoras de demônios e práticas de exorcismo eram utilizadas para expulsá-los, alguns eram até condenados a queimar na fogueira. Estudos baseados nestes grupos de pessoas indicaram as primeiras idéias de haver influências de fatores sociais no surgimento das perturbações mentais.

Consta que o primeiro hospital psiquiátrico do mundo ocidental, tenha sido construído na cidade de Valência, Espanha, por solicitação de um monge, e que foi inspirado em instituições da civilização mulçumana. Este hospital recebeu o nome de Santo Papa Benedito XIII (ROCHA, 2005). Porém esta foi uma iniciativa isolada, pois mais tarde a psiquiatria espanhola se desenvolveu baseada na psiquiatria francesa de Pinel.

Europa séc. XVII criavam casa de internações que tinham uma única finalidade, a segregação de “desviantes” sendo eles loucos, mendigos, pobres doentes, religiosos infratores, entre outros. Como a finalidade dessas casas era a exclusão desses “incapazes”, pois a preocupação era com a segurança da sociedade, não se fazia necessário a presença de médicos. A coordenação cabia as irmãs de caridade e o serviço doméstico era feito por

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pessoas mal remuneradas e despreparadas, por vezes estes desviantes chegavam a ser acorrentados, expostos ao frio e mal alimentados.

Ao mesmo tempo corriam notícias de que na Inglaterra haviam instituições que não visavam apenas a segregação, desempenhavam também o papel de remédio, eram as chamadas Bedlam e St.Luke. A partir de então mudou a visão a respeito do tratamento aos “incapazes”.

Na cidade de Florença - Itália, foi criado o Hospital Bonifácio, e em 1789 foi publicado o seu regulamento, começava ali o processo de humanização aos abrigos. Este regulamento proibida qualquer tipo de brutalidade com os internos, visava reduzir ao mínimo os meios de contenção e preconizava medida de higiene a serem aplicadas por atendentes, sob orientação dos médicos (Rocha, 2005).

Philippe Pinel (1745-1826), inspirado nos ideais da Revolução Francesa, foi autor de uma obra original do Estatuto do Louco. Pinel era médico e trabalhava em busca de criar uma ciência da doença mental, ele pensava que ao louco sempre restava uma parte de razão. Em 1793 foi nomeado para o Hospital de Bicêtre, em Paris. Hoje sabe-se que grande parte de seu trabalho foi inspirado em um interno do hospital, Jean-Baptiste Pussin. Pinel passou a ouvi-lo e a observar seu trabalho.

Pussin era um tuberculoso que mesmo com quase uma década internado para seu tratamento e após ter se recuperado continuou trabalhando no hospital. Esta permanência de ex-internos nos abrigos, mesmo após a cura, era provável, pois fora dali a sociedade os excluiria. Pussin passou muitos anos no hospital de Bicêtre, lá foi nomeado intendente de um pavilhão de loucos. Ele valorizava a bondade e a humanidade no atendimento aos internos, entendia que maltrata-los só os deixariam mais agressivos. Acreditava que o trabalho, a distração, a confiança, a possível liberdade e a possibilidade de um futuro feliz, associado à boa alimentação ajudaria na possível cura. Historiadores o considera como o primeiro enfermeiro psiquiátrico.

Pinel foi nomeado médico-chefe do hospital La Salpetrière em Paris, após seis anos conseguiu a transferência de Pussin. Pinel em sua observação na convivência com os alienados, associando a medicina e a filosofia criou a psiquiatria, a partir de então o louco começava a ser visto como doente e receber tratamento moral. Os loucos ganharam espaços concebidos especialmente a eles. Jean Esquirol defendia a idéia de que o doente deveria ter

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sua vida toda organizada eliminando qualquer desordem, assim o doente era observado e disciplinado para os seus desvios.

Em 1838 foi criada a Lei Francesa que reconhecia o direito de assistência aos doentes mentais, ela estabelecia a criação de um espaço especialmente concebido a eles, criava o primeiro corpo de médicos funcionários e constituía um saber.

Benedict Morel, diretor do La Sapetrière no séc.XIX, propôs uma possível etiologia da doença mental, para ele a doença mental se desenvolvia a partir de um modelo biológico baseado na hereditariedade, associado às condições do meio. Morel pensava que a doença mental decorria da degenerescência, ou seja, transmitida e progressivamente agravada no decorrer das gerações. Esta teoria não se sustentou. Na década de 1850 surge a possibilidade de uma atuação higienista, onde tentariam transmitir para a classe trabalhadora alguns costumes da classe burguesa.

Em 1880 o mundo se baseava na psiquiatria alemã de Emil Kraepelin, que a partir informações disponíveis na época realizou a descrição e a classificação das doenças mentais que perduram até hoje: CID X - Classificação Internacional de Doenças e DSM IV – Classificação dos Transtornos Mentais pela Associação Psiquiátrica Americana.

O capítulo V do CID X é destinado aos Transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) são eles:

F00-F09 Transtornos mentais orgânicos, inclusive os sintomáticos

F00* Demência na doença de Alzheimer (G30.-†) F01 Demência vascular

F02* Demência em outras doenças classificadas em outra parte F03 Demência não especificada

F04 Síndrome amnésica orgânica não induzida pelo álcool ou por outras substâncias psicoativas

F05 Delirium não induzido pelo álcool ou por outras substâncias psicoativas

F06 Outros transtornos mentais devidos a lesão e disfunção cerebral e a doença física F07 Transtornos de personalidade e do comportamento devidos a doença, a lesão e a disfunção cerebral

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F10-F19 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de substância psicoativa

F10 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool F11 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de opiáceos F12 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de canabinóides

F13 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de sedativos e hipnóticos F14 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso da cocaína

F15 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de outros estimulantes, inclusive a cafeína

F16 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de alucinógenos F17 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de fumo

F18 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de solventes voláteis F19 Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras substâncias psicoativas

F20-F29 Esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e transtornos delirantes

F20 Esquizofrenia

F21 Transtorno esquizotípico

F22 Transtornos delirantes persistentes

F23 Transtornos psicóticos agudos e transitórios F24 Transtorno delirante induzido

F25 Transtornos esquizoafetivos

F28 Outros transtornos psicóticos não-orgânicos F29 Psicose não-orgânica não especificada

F30-F39 Transtornos do humor [afetivos]

F30 Episódio maníaco

F31 Transtorno afetivo bipolar F32 Episódios depressivos

F33 Transtorno depressivo recorrente

F34 Transtornos de humor [afetivos] persistentes F38 Outros transtornos do humor [afetivos]

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F40-F48 Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o “stress” e transtornos somatoformes

F40 Transtornos fóbico-ansiosos F41 Outros transtornos ansiosos F42 Transtorno obsessivo-compulsivo

F43 Reações ao “stress” grave e transtornos de adaptação F44 Transtornos dissociativos [de conversão]

F45 Transtornos somatoformes F48 Outros transtornos neuróticos

F50-F59 Síndromes comportamentais associadas a disfunções fisiológicas e a fatores físicos

F50 Transtornos da alimentação

F51 Transtornos não-orgânicos do sono devidos a fatores emocionais F52 Disfunção sexual, não causada por transtorno ou doença orgânica

F53 Transtornos mentais e comportamentais associados ao puerpério, não classificados em outra parte

F54 Fatores psicológicos ou comportamentais associados a doença ou a transtornos classificados em outra parte

F55 Abuso de substâncias que não produzem dependência

F59 Síndromes comportamentais associados a transtornos das funções fisiológicas e a fatores físicos, não especificadas

F60-F69 Transtornos da personalidade e do comportamento do adulto

F60 Transtornos específicos da personalidade

F61 Transtornos mistos da personalidade e outros transtornos da personalidade

F62 Modificações duradouras da personalidade não atribuíveis a lesão ou doença cerebral

F63 Transtornos dos hábitos e dos impulsos F64 Transtornos da identidade sexual F65 Transtornos da preferência sexual

F66 Transtornos psicológicos e comportamentais associados ao desenvolvimento sexual e à sua orientação

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F68 Outros transtornos da personalidade e do comportamento do adulto

F69 Transtorno da personalidade e do comportamento do adulto, não especificado

F70-F79 Retardo mental

F70 Retardo mental leve F71 Retardo mental moderado F72 Retardo mental grave F73 Retardo mental profundo F78 Outro retardo mental

F79 Retardo mental não especificado

F80-F89 Transtornos do desenvolvimento psicológico

F80 Transtornos específicos do desenvolvimento da fala e da linguagem F81 Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares F82 Transtorno específico do desenvolvimento motor

F83 Transtornos específicos misto do desenvolvimento F84 Transtornos globais do desenvolvimento

F88 Outros transtornos do desenvolvimento psicológico

F89 Transtorno do desenvolvimento psicológico não especificado

F90-F98 Transtornos do comportamento e transtornos emocionais que aparecem habitualmente durante a infância ou a adolescência

F90 Transtornos hipercinéticos F91 Distúrbios de conduta

F92 Transtornos mistos de conduta e das emoções

F93 Transtornos emocionais com início especificamente na infância

F94 Transtornos do funcionamento social com início especificamente durante a infância ou a adolescência

F95 Tiques

F98 Outros transtornos comportamentais e emocionais com início habitualmente durante a infância ou a adolescência

F99 Transtorno mental não especificado

F99 Transtorno mental não especificado em outra parte FONTE: DATASUS

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Mesmo com o Estatuto do Louco, regulamentos descrevendo como deveria ser a assistência a estes doentes, e o processo de humanização em questão, ainda existiam muitos hospitais psiquiátricos públicos em situações deploráveis. Dorothea Lynde Dix, professora primária em Massachusetts, arrecadou fundos e construiu hospitais apropriados não só nos Estados Unidos, como também no Canadá e reformou o sistema de asilos na Escócia.

1.1.2. Brasil

A psiquiatria brasileira foi inteiramente baseada no modelo europeu, no séc. XIX não diferente do resto do mundo, o Brasil tinha a visão de segregação dos insanos, mesmo porque o Rio de Janeiro trabalhava para se tornar uma metrópole moderna, os mendigos, vadios e loucos poderiam comprometer a ordem social da cidade. A maioria dos segregados eram levados para os porões da Santa Casa de Misericórdia e viviam em situações desumanas.

Koda e Fernandes, (2007), diz que a sociedade tende a manter uma clivagem entre aquilo que é considerado normal e patológico, colocando à margem loucos, delinqüentes, prostitutas, desviantes em geral das condutas socialmente aceitas. O estigma recai sobre essas figuras portadoras da desrazão, da criminalidade, e de uma sexualidade descontrolada. Desse modo, a sociedade acaba por se defender de sua própria loucura, sua própria delinqüência e sua própria prostituição, e desta maneira aliena, desconhece e trata como se fossem alheias e não correspondem.

Em 1852 foi inaugurado o Hospício D. Pedro II, a instituição seguia o que preconizava Esquirol e Pinel, o isolamento do doente em um ambiente organizado e quando necessário, meios repressivos eram usados para conter pacientes agitados, isso após uma avaliação médica. Porém os médicos eram poucos, e quando em contato com os internos os guardas usavam dessas brutalidades para acalmá-los, como a administração ficava nas mãos das irmãs de caridades, estas informações não chegavam ao conhecimento dos médicos.

Após a Proclamação da República o hospital recebeu outro nome e outra direção, passou a se chamar Hospício Nacional de Alienados, sob direção do psiquiatra Teixeira Brandão. Enfermeiras francesas foram chamadas para substituir as irmãs de caridade, visando à possibilidade de criar uma escola para formar enfermeiros. Esta escola veio a ser fundada em 1890, porém não há registros sobre como se deu o ensino de enfermagem psiquiátrica, não durou por muito tempo.

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Em 1903 Juliano Moreira assume o cargo de diretor do Hospital Nacional dos Alienados até 1930, ele introduziu a psiquiatria de Kraepelin que visava à humanização do atendimento juntamente com o desenvolvimento científico. Em seu período de atuação o hospital evoluiu muito, tentava-se chegar o mais perto de um hospital geral, sem grades, contenções e brutalidades. Fazia parte do tratamento a clinoterapia (repouso no leito), balneoterapia (banhos prolongados) e praxiterapia (atividades terapêuticas) tanto para a distração aos internos quanto para se aprender um ofício. Os profissionais que realizavam a assistência eram enfermeiros preparados.

Juliano também propunha asilos-colônias, onde os pacientes que teriam condições de voltar para suas famílias, eram tratados em casinhas higiênicas fora de o ambiente hospitalar por bons profissionais.

A Escola Profissional de Enfermagem volta a funcionar em 1905, porém sem crescimento significativo. Em 1921, Alfredo Pinto Vieira - Ministro da Justiça e Negócios Interiores, aprovou o regimento interno da escola onde determinava a criação de uma seção mista, uma masculina e outra feminina, a partir de então passou a se chamar Escola Profissional de Enfermeiros Alfredo Pinto, até hoje carrega o nome do curso universitário da Universidade do Rio de Janeiro.

Como se pode constatar a história da assistência prestada aos doentes mentais é marcada por uma assistência asilar, com práticas psiquiátricas voltadas para o tratamento hospitalar, desenvolvendo-se como um meio de exclusão dos portadores de transtorno mental, privando-o do direito de ser cidadão e o afastando da família e sociedade.

1.2. A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA

O nascimento da psiquiatria vem acompanhado de reformas, muitas teorias foram propostas para o tratamento destes desviantes, claro que algumas não se sustentaram ao longo dos anos, e outras perduram até os dias de hoje. Isso mostra que a ciência psiquiátrica já nasceu como uma proposta de transformação e mudança.

Ao longo do séc. XIX as propostas reformadoras visavam orientar cientificamente os unidades especializadas. Já no início do séc. XX as críticas caíram sobre a insuficiência da assistência prestada nos asilos.

O que define esta transição, do processo datado denominado de Reforma Psiquiátrica, é uma nova inflexão sobre o assunto saúde mental. A marca distintiva deste processo está na

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crítica à assistência asilar/hospitalar, deixando de visar o aperfeiçoamento ou a humanização destas unidades, passando a condenar seus efeitos de normatização e controle, começando ai a luta pela desinstitucionalização dos manicômios, visando os direitos do doente mental e sua cidadania.

A Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) traz uma definição mínina do que é a Reforma Psiquiátrica Brasileira:

“Esta sendo considerada reforma psiquiátrica o processo histórico de formulação crítica e prática que tem como objetivos e estratégias o questionamento e a elaboração de propostas de transformação do modelo clássico e do paradigma da psiquiatria. No Brasil, a reforma psiquiátrica é um processo que surge mais concreta e principalmente a partir da conjuntura da redemocratização, em fins da década de 1970, fundado não apenas na crítica conjuntural ao subsistema nacional de saúde mental, mas também, na crítica estrutural ao saber e às instituições psiquiátricas clássicas, no bojo de toda a movimentação político-social que caracteriza esta mesma conjuntura de redemocratização” (AMARANTE, apud TENÓRIO, 2002).

Ao fim da década de 1970, junto ao contexto de combate ao Estado autoritário e a precariedade da assistência pública, a doença mental se transformava em fonte de lucro, haviam muitos hospitais psiquiátricos particulares no Brasil, começou então a questionar a forma de tratamento adotada pelos hospitais psiquiátricos, principalmente os particulares que tornava o paciente “crônico”, e a debater novas formas de tratamento visando o fim dos manicômios. No contexto internacional, este momento também era de ruptura, fim dessas unidades manicomiais, lutava-se pela reconstrução dos direitos civis, cidadania e pela capacidade destes indivíduos de gerar regra para sua própria vida, “autonomia”.

O primeiro grande evento que marcou a reforma psiquiátrica aconteceu na década de 1980 quando foi criado o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental –MTSM. Este movimento tinha por objetivo debater e propor alternativas de transformação da assistência psiquiátrica, defendendo a humanização dentro dos hospitais. Uma da conquistas do MTSM foi a construção do Movimento da Reforma Sanitária que lutava pela reformulação do sistema nacional de saúde, inclusive no setor psiquiátrico. Apostavam em aperfeiçoamento técnico dos profissionais e em uma gestão pública eficiente, criticava a privatização dos hospitais psiquiátricos (que trabalhavam como empresas com fins lucrativos), como também a assistência (asilar-segregador) prestada por eles.

“Em nosso país, a expansão de leitos psiquiátricos atingiu seu ápice em 1985, com 123.355 (cento e vinte e três mil, trezentos e cinqüenta e cinco) leitos credenciados ao Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), que

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representavam 23,57% do total de leitos oferecidos no Brasil, ocupando o primeiro lugar em oferta por especialidade” (LOUGON, 2006).

Em 1987 acaba a trajetória sanitarista, acontece a 1ª Conferencia Nacional de Saúde Mental, começa então o processo de desconstrução do modelo da assistência hospitalar a chamada desinstitucionalização. No mesmo ano, no II Encontro Nacional de Saúde mental consagrou-se o lema: “Por uma Sociedade sem Manicômios”, visando ampliar o movimento e potencializar o poder de agregação da sociedade em torno da causa, instituiu-se o dia 18 de maio como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.

Seguindo este processo, a Constituição Federal do Brasil definiu os princípios do Sistema Único de Saúde – SUS: sistema igualitário, descentralizado, universal, regionalizado, hierarquizado, com integralidade das ações e participação social (ROCHA, 2005). Surge então a necessidade de substituir a psiquiatria hospitalar, por uma sustentada em dispositivos diferentes e novas tecnologias de cuidado, os Centros de Atenção Psicossocial – CAPs -, que proporciona pontes com a sociedade em um espaço criativo, de construção de vida, de novos saberes e práticas. O primeiro CAPs foi criado na cidade de São Paulo em 1987 e levava o nome de CAPs Professor Luís Cerqueira.

Em 1989 o Deputado Paulo Delgado propôs um projeto de lei nº 3.657/89 que hoje é conhecido como a Lei da Reforma Psiquiátrica (VASCONCELOS, apud TENÓRIO, 2002) que continha apenas três artigos: 1º- impedia a construção ou contratação de novos hospitais psiquiátricos pelo poder público; 2º- previa o direcionamento dos recursos públicos para a criação de recursos não manicomiais de atendimento; 3º- obrigava a comunicação das internações compulsórias à autoridade judiciária, que deveria então emitir parecer sobre a legalidade da internação (TENÓRIO, 2002). Após tramitar durante mais de dez anos na câmara, e sofrido algumas alterações, o projeto de lei proposto por Paulo Delgado, veio a ser aprovado como lei 10.216 de 6 de abril de 2001, uma das alterações da lei foi suprimir o artigo referente a contratação de novos leitos. Este projeto de lei foi conhecido como, a “lei” que produziu efeitos antes de ser aprovada.

Mesmo após dez anos de políticas reformistas, em 1990, ainda se tinha o manicômio como principal recurso buscado para o tratamento dos doentes mentais, porém já havia se construído uma nova visão sobre o assunto, com menos preconceito e medo.

No ano seguinte, após assumir a Coordenação Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Domingos Sávio Nascimento Alves direcionou as verbas públicas

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destinadas à saúde mental, para a criação de uma rede de atendimento alternativo, extra-hospitalar. Neste mesmo ano a portaria 189 do Ministério da Saúde instituía o Plano Nacional, que preconizava as ações dos CAPs.

Em Janeiro de 1992 outra portaria - 224 do Ministério da Saúde veio com o intuito de aperfeiçoar e regulamentar os CAPs (Centro de Atenção Psicossocial) e os NAPs (Núcleos de Atenção Psicossocial), estes vem definidos pelo Ministério da Saúde como: “unidades de saúde locais/regionais que contam com população adscrita pelo nível local e que oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar em um ou dois turnos de quatro horas, por equipe multiprofissional”. Estas unidades devem oferecer atendimentos individuais e em grupos com visitas domiciliares objetivando a integração deste na comunidade. Ainda em 1992, outro fato marca a história da reforma psiquiátrica é a 2ª Conferência Nacional de Saúde que aconteceu em Brasília, como conclusão desta conferência compreendeu-se que o processo saúde/doença mental, não deve ser entendido de forma isolada, mas sim levar em consideração a história de vida (modo de vida, suas origens, religião) do indivíduo, respeitando suas diferenças pessoais.

Ao final de 1996, o Rio de Janeiro promoveu o I Congresso de Saúde Mental do Estado, nele discutia o tema “Atenção Psicossocial” que propunha uma idéia de cuidado a um sujeito singular, sem abandonar a dimensão psíquica comprometida com a subjetividade a criatividade, da dimensão social, com uma concepção mais abrangente de família e trabalho, incluindo agora o lazer (ROCHA, 2005).

Em seis de abril de 2001, em decorrência do projeto proposto a mais de uma década pelo deputado Paulo Delgado, foi aprovada a Lei nº 10.216 que dispõe sobre a proteção e os direitos dos indivíduos portadores de transtornos mentais. Mesmo não sendo o texto original de Paulo Delgado, após ter passado por inúmeras mudanças, considera-se ainda que foi uma conquista importante no âmbito de transformação da assistência prestada a estes doentes. Ao final deste ano aconteceu a 3ª Conferência Nacional de Saúde que veio para concretizar a política da reforma.

Porém apenas em 2004, a partir da Portaria nº 52 é que foi ocorrer uma redução gradual, porém significativa, dos leitos hospitalares, a partir de um processo de mudança do modelo assistencial-hospitalar por alternativas de atenção no modelo comunitário - CAPs. O Plano Nacional de Avaliação do Serviço Hospitalar – PNASH - teve significativa participação neste processo, pois através de uma avaliação na qualidade do atendimento prestado, se os hospitais não atendessem aos quesitos míninos para funcionamento, eram fechados.

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Segundo o Ministério da Saúde, a Portaria nº336, de 2002, define o CAPS nos seguintes níveis: CAPs I, CAPs II –CAPs i II e CAPs ad II- e CAPs III.

 CAPs I: visa o atendimento em municípios com população entre 20 e 70 mil habitantes (cidades de pequeno porte), funcionando 8h/dia, cinco vezes por semana, tendo na equipe um médico especialista ou capacitado em saúde mental, um enfermeiro, um psicólogo, um técnico em enfermagem, um psicoterapeuta, e outros.  CAPs II: atende municípios com população entre 70 e 200 mil habitantes (cidade de

médio porte), funcionando até as 21 horas, cinco dias por semana, tendo na equipe um psiquiatra e outros.

 CAPs i II: atende a uma população de cerca de 200 mil habitantes tendo suas atividades voltadas para o atendimento às crianças e adolescentes gravemente comprometidos.

 CAPs ad II: destina-se ao atendimento a municípios com população acima de 70 mil habitantes, tendo as atividades voltadas a doentes mentais decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas.

 CAPs III: destina seu atendimento a municípios com mais de 200 mil habitantes, funcionando 24 horas/dia, incluindo feriados e finais de semana. A equipe conta com 2 psiquiatras, 1 enfermeiro especialista em saúde mental entre outros.

Segundo dados do Ministério da Saúde, estimativa IBGE 2008, há 1.502 (um mil e quinhentos e dois) CAPs distribuídos em todos os estados brasileiros. Em Mato Grosso há 33 unidades divididas de acordo com a necessidade de cada município, tendo 25 (vinte e cinco) CAPs I, 2 (dois) CAPs II, nenhum CAPs III, 1 (um) CAPs i II e 5 (cinco) CAPs ad II, totalizando assim os 33 (trinta e três) existentes. Hoje em Tangará da Serra há uma unidade que é o CAPs I. Em consulta a várias páginas eletrônicas do DATASUS – órgão de registro de dados do Ministério da Saúde, pode-se constatar que há hoje em todo o Brasil 236 Hospitais Dia - unidades com estrutura física e profissional adequada de semi internação para pacientes sem episódios de crise, e seus familiares-, estas unidades contam com uma equipe multidisciplinar e terapia ocupacional, totalizando 2.646 leitos, sendo apenas um hospital dia implantado em MT.

Já com relação a Hospitais psiquiátricos - que visa o internamento do paciente, geralmente em crise, para seu tratamento – Petroli, (s/d)em seu artigo relata, que hoje Mato Grosso conta com 2 (duas) dessas unidades, uma na capital Cuiabá o Hospital Adauto Botelho

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e outra em Rondonópolis o Hospital Paulo de Tarso, totalizando 202 leitos disponíveis pelo SUS em MT.

1.3. ESQUIZOFRENIA

Após vários estudos, e inúmeras propostas de teorias que não se sustentaram ao longo do tempo, hoje entende-se que para o surgimento do transtorno mental devem-se levar em consideração dois fatores importantes, os fatores que predispõem, conhecidos como fatores genéticos e os fatores que desencadeiam esses distúrbios.

“Uma variação genética ou um fator ambiental podem levar a uma cadeia de eventos, em que ocorrendo numa fase sensível, por sua vez, podem determinar um desenvolvimento cerebral alterado, eliciando uma estrutura mais vulnerável ao surgimento e perpetuação da psicose e/ou de outros sintomas que compõem a esquizofrenia” (Weinberger, et al. 1995, apud, Neto, et al. 2007).

Geralmente esses fatores estão associados, porém isso não é regra, em alguns casos o fator desencadeante é de tal intensidade que pode desequilibrar uma pessoa cuja personalidade foi bem estruturada, ou seja, uma pessoa que não tenha aparentemente uma predisposição, após passar por um estresse (perda de um ente querido por exemplo), e a partir daí desenvolva um transtorno (depressão).

Para tudo que acontece na vida o ser humano busca explicações, quando essas explicações não aparecem, e a pessoa entra em conflito consigo, a partir daí manifesta-se o transtorno mental.

A esquizofrenia é um dos principais problemas de saúde pública da atualidade, exigindo considerável investimento do sistema de saúde e causando grande sofrimento para o doente e sua família (GIACON, 2006). È a mais comum, como também a mais importante doença do grupo mental.

Aproximadamente 20 milhões de pessoas sofrem de esquizofrenia no mundo, o que corresponde a 1% da população em geral (GAMA, apud FERREIRA et al, 2007). Os sintomas normalmente aparecem numa época crucial, o final da adolescência/início da idade adulta. Nessa fase da vida a percepção da realidade, os pensamentos e as sensações ficam profundamente alteradas, tornando assim o indivíduo mais vulnerável aos fatores estressantes (PEREIRA, 2001).

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Até hoje não se conhece um fator específico causador da esquizofrenia, há portanto, evidências de que seria decorrente de uma combinação de fatores biológicos, genéticos e ambientais que contribuiriam em diferentes graus para o aparecimento e desenvolvimento da doença (CARDOSO, 2008).

Estudos trazem os fatores de risco subdivididos em fatores de risco precoce e fatores de risco tardios. Os fatores de risco precoce estariam associados a complicações obstétricas, ou complicações ocorridas durante a gravidez, isso lesionaria o cérebro e predispunha o indivíduo ao desenvolvimento da esquizofrenia. Outro fator de risco precoce seria encontrado na infância em crianças que tem parentes de primeiro grau esquizofrênicos. Estas crianças apresentam alterações na sua função executiva, desenvolvimento cognitivo, atenção e linguagem receptiva (KESHAVAN et al., apud, NETO et al, 2007). Foram consideradas também alterações comportamentais nessas crianças.

Já os fatores de risco tardios seriam os considerados fatores desencadeantes, como por exemplo, o uso de maconha ou uma situação de vida não aceita pelo indivíduo (perda de um ente próximo).

“Os sintomas característicos são classificados em duas amplas categorias: positivos e negativos. Os positivos incluem os delírios e as alucinações; os negativos, o embotamento do afeto, a anedonia e a apatia” (SCHIFFER, apud, FERREIRA, 2007).

A Classificação Internacional de Doenças – CID 10 - e o Manual de Diagnósticos e Estatísticos de Doença Mental – DSM-IV – são responsáveis pelo sistema classificatório de diagnóstico atual e oficial em Psiquiatria. O CID 10 caracteriza os transtornos esquizofrênicos por distorções fundamentais e características do pensamento e da percepção, e por afetos inapropriados ou embotados.

As manifestações mais importantes da doença incluem o eco do pensamento, a introdução ou roubo do pensamento, a divulgação do pensamento, a percepção delirante, idéias delirantes de controle, de influencia ou de passividade, vozes alucinatórias, transtorno do pensamento e sintomas negativos como embotamento afetivo, alogia ou abolia, o que pode variar de caso para caso é o grau e a intensidade com que esses sintomas se manifestam.

O diagnóstico é clínico, em uma entrevista realizada com o familiar mais próximo o médico visa obter a história de sua vida e de seus sintomas o mais detalhado possível, não há nenhum exame laboratorial que diagnostique a doença.

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Segundo a DSM-IV para se estabelecer um diagnóstico de esquizofrenia, é necessário que o indivíduo apresente dois ou mais sintomas característicos, cada qual apresente por uma porção significativa de tempo durante o período de 1 mês. Ou também quando a pessoa apresente uma disfunção sócio/ocupacional, ou seja, quando uma ou mais áreas importantes do funcionamento (trabalho, relação interpessoal, até mesmo cuidados pessoais) é atingida. Nesta situação o indivíduo não consegue manipular sua vida da mesma forma que antes do início da perturbação.

Os sinais dessa perturbação persistem por no mínimo seis meses, apresentando pelo menos um mês de fase ativa dos sintomas. Durante o curso da doença o indivíduo pode apresentar períodos de remissão onde os sintomas são mais brandos ou quase imperceptíveis, com surtos inesperados.

Para se confirmar um diagnóstico de esquizofrenia deve-se considerar os transtornos que assemelham aos seus sintomas: as doenças cerebrais a intoxicação por substância psicoativas como também a abstinência dessas substâncias, para não realizar um diagnóstico equivocado.

Segundo material de capacitação utilizado em um Curso sobre Saúde Mental realizado em Cuiabá, MT em 2006, a esquizofrenia vem subdividida de acordo com sua sintomatologia.

1. Esquizofrenia paranóide: idéias delirantes relativamente estáveis e freqüentemente de perseguição, vem acompanhadas de alucinações auditivas e perturbação do senso de percepção. Não se encaixa aqui discurso desorganizado ou catatônico, nem afeto embotado ou inadequado.

2. Esquizofrenia hebefrênica: apresenta comportamento irresponsável e imprevisível, com perturbações de afeto (superficial e inapropriado), idéias delirantes e as alucinações são rápidas e fragmentadas. O pensamento é desorganizado e o discurso é incoerente propiciando um isolamento social. O prognóstico é desfavorável devido a perda do afeto e a perda da volição. Geralmente é detectada em adolescentes e adultos jovens.

3. Esquizofrenia catatônica: é evidenciada por distúrbios psicomotores que pode ser desde estado de convulsão (hipercinesia) a estado de paralisia repentina (estupor), ou então de obediência automática a recusa total. Geralmente uma postura tomada pelo doente pode ser mantida por longos períodos. Uma característica marcante da doença é episódios de excitação violenta.

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4. Esquizofrenia indiferenciada: é uma doença psicótica que se enquadra nos critérios de diagnóstico para a esquizofrenia, porém não exibe uma clara predominância de um conjunto particular de características diagnósticas.

5. Esquizofrenia simples: tem como característica a excentricidade de comportamento, que ocorre de forma insidiosa e progressiva, o indivíduo não consegue corresponder às exigências da sociedade, diminuindo assim seu desempenho. O negativismo se desenvolve sem ser percebido.

6. Esquizofrenia residual: seria o estágio crônico da doença. Aqui os sintomas negativos são bastante definidos como lentidão psicomotora, hipoatividade embotamento afetivo, passividade e falta de iniciativa, pobreza de conteúdo no discurso, pouca comunicação não-verbal falta de cuidados pessoais e desempenho social medíocre, porém não forçosamente irreversíveis.

7. Depressão pós-esquizofrênica: caracteriza-se por um episódio depressivo, que se desenvolve após a doença esquizofrênica. Há ainda sintomas esquizofrênicos, porém não mais dominam o quadro clínico do indivíduo. É neste estado que se tem um maior risco de suicídio.

No Módulo IV: Psicopatologia, do mesmo material referenciado, traz o tratamento da esquizofrenia visando atingir três objetivos que são: eliminar ou reduzir os sintomas; melhorar a qualidade de vida e o funcionamento adaptativo; promover e manter a recuperação dos efeitos debilitantes da doença o maior tempo possível.

Tengan (2004) sugere o tratamento direcionado há dois aspectos básicos, o farmacológico e o socioeducativo. O tratamento farmacológico consiste basicamente em antipsicóticos e neurolépticos. Já o tratamento socioeducativo conta com técnicas psicoterápicas implantadas nos Hospitais Dia e nos Centros de Atenção Psicossocial tais como as terapias ocupacionais - oficinas de arte, música, entre outras, sendo estas acompanhadas por uma equipe multidisciplinar. Esta abordagem psicossocial é de grande importância, pois visa diminuir as recaídas e promover o ajustamento social dos portadores da doença.

“O tratamento da esquizofrenia assenta assim em três componentes principais. Primeiro, há medicamentos para aliviar os sintomas e evitar a recidiva. Segundo, a educação e as intervenções psicossociais ajudam as pessoas doentes e os seus familiares a fazer face à doença e às suas complicações, bem como a evitar recorrências. Terceiro, a reabilitação ajuda as pessoas doentes a reintegrarem-se na comunidade e a recuperar o funcionamento social, educacional e ocupacional” (CARDOSO, 2008).

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Estudos mostram que intervenções terapêuticas realizadas na fase inicial da doença parecem reduzir o risco de desenvolvimento da esquizofrenia ou melhoram o prognóstico da doença, na medida em que haveria uma redução do risco de deterioração clínica e biológica no período inicial da doença (LOUZÃ, 2007), porém ainda não se pode dizer que intervenções precoces previnam a esquizofrenia.

É importante estender o tratamento sócio-educativo as famílias, esse tratamento é entendido como terapia familiar, pois os familiares envolvidos com os doentes acabam se mobilizando sentimentalmente, esses sentimentos tem comumente causado conflitos familiares e pessoais, a terapia familiar tem como objetivo uma melhor compreensão e resolução desses conflitos como também orientação no cuidado aos doentes e seus familiares.

1.4. USO DE DROGAS

A palavra droga vem definida pela Secretaria Nacional Antidrogas no - Livreto Informativo sobre Drogas Psicotrópicas (2007) - como: ‘qualquer substância capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento’’.

O uso de drogas não é uma problemática recente, e muito menos um fenômeno exclusivo da época que vivemos, a história da dependência química vem entrelaçada com a própria história da humanidade, o que varia é a motivação para esse uso.

Antigamente as drogas eram utilizadas em rituais religiosos, para fins terapêuticos, e restrita a pequenos grupos (cultura de alguns povos), fato esse que apresentou grande alteração no momento atual, pois hoje se verifica o uso dessas substâncias em qualquer circunstância e por pessoas de diferentes grupos e realidades (PRATTA & SANTOS, 2009).

Os dados crescentes de consumo de drogas têm trazido muitas preocupações à comunidade científica, pelos prejuízos que esse comportamento poderá trazer à vida desses jovens (WAGNER E OLIVEIRA, 2009), e também as conseqüências que o uso abusivo e inconseqüente pode ocasionar. Por ser considerada erroneamente uma “droga leve”, sem muitas conseqüências para saúde do indivíduo (WEISER et al, 2003), a maconha (cannabis) é a droga ilícita mais utilizada em todo o mundo.

Os vários fatores como o avanço científico e tecnológico, o conhecimento armazenado, a gama de tratamentos existentes, o envolvimento de muitas áreas do conhecimento com essa temática, a alta prevalência de pessoas envolvidas (portadores de dependência, narcotraficantes, crianças, adolescentes, adultos ou idosos), vem chamando a atenção de muitos estudiosos, que dedicam grande parte de seu tempo em várias reflexões sobre o assunto (MIGOTT, 2007).

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O consumo de substâncias psicoativas (drogas) é uma característica comum das populações de diversos países, inclusive a do Brasil, sendo o tabaco, o álcool (lícita) e a maconha (ilícita) as mais utilizadas.

Segundo Rebolledo, 2004 a adolescência é uma época de experimentação natural do ser humano, proporcionando assim comportamentos de risco como o início precoce da atividade sexual e sem proteção, pouca atividade física como também o consumo de bebidas alcoólicas e de outras substancias psicoativas.

Vários fatores (ambientais, biológicos, psicológicos e sociais) atuam simultaneamente para influenciar a tendência de qualquer pessoa vir a usar drogas e isto se deve à interação entre o agente (a droga), o sujeito (o indivíduo e a sociedade) e o meio (os contextos sócio-econômico e cultural) (MIGOTT, 2007).

O Ministério da Saúde traz as substâncias psicotrópicas divididas de acordo com os efeitos produzidos no organismo, são elas: Drogas Depressoras do Sistema Nervoso Central, Drogas Estimulantes do Sistema Nervoso Central e Drogas Perturbadoras do Sistema Nervoso Central (BRASIL, 2007 – Drogas Psicotrópicas.).

• Drogas Depressoras do Sistema Nervoso Central: são aquelas que diminuem a atividade cerebral, ou seja, deprimem o seu funcionamento, ao fazer uso destas drogas a pessoa pode apresentar-se “desligada”, “devagar”, o processo de raciocínio, senso percepção ficam diminuídos. Entre elas temos as bebidas alcoólicas, os solventes ou inalantes, os tranqüilizantes ou ansiolíticos, calmantes e sedativos, o ópio e a morfina e xaropes e gotas para tosse.

• Drogas Estimulantes do Sistema Nervoso Central: são aquelas que aumentam a atividade cerebral, ou seja, estimula o funcionamento do cérebro, ao ingerir estas substâncias a pessoa fica “ligada”, “elétrica” e sem sono. Entre elas estão as anfetaminas, a cocaína e seus derivados e o tabaco.

• Drogas Perturbadoras do Sistema Nervoso Central: ao contrário das duas outras citadas acima, as perturbadoras não agem quantitativamente, ou seja, não aumentam nem diminuem a atividade cerebral, elas agem qualitativamente, perturbam a mente e o processo de pensamento. Entre elas estão a maconha, os cogumelos e plantas alucinógenas, perturbadores alucinógenos sintéticos, o êxtase (MDMA) conhecido como “bala”, os anticolinérgicos e o LSD conhecido como doce.

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Porém para análise neste estudo apenas interessará as substâncias que não são utilizadas como medicamento para fins terapêuticos, pois um dos objetivos é traçar o perfil do usuário. Serão citadas as seguintes drogas: bebidas alcoólicas, a cocaína e a maconha.

Devido ao aumento do consumo de substâncias psicoativas e em função da complexidade desse fenômeno, hoje a dependência química vem recebendo crescente atenção tanto do sistema de saúde, quanto da sociedade de uma forma geral (PRATTA & SANTOS, 2009).

Segundo a Portaria conjunta sas/svs nº 02, de 16 de abril de 2009, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Atenção à Saúde – Departamento de Ações Programáticas Estratégicas – Área Técnica de Saúde Mental, ao definir sua Política de Álcool e outras Drogas avança no conceito de redução de danos e amplia suas ações para o contexto de atenção integral do usuário de álcool e outras drogas.

Estudos mostram que há efetividade em seções de intervenção breve visando reduzir a prevalência e a intensidade de comportamentos de risco para o uso concomitante de álcool e drogas, porém percebeu-se a necessidade de programas preventivos mais abrangentes (MICHELI, 2004).

1.5. ÁLCOOL

Segundo o Livreto Informativo sobre Drogas Psicotrópicas, 2008, há registros do consumo de álcool pelo ser humano á aproximadamente 6000 (seis mil) anos a.C., porém antigamente o álcool –vinho e cerveja, era visto como uma substância divina e tinha um conteúdo alcoólico relativamente baixo, pois dependiam apenas do processo de fermentação. Após a introdução da destilação na produção das bebidas alcoólicas - Idade Média, surgiu novos tipos de bebidas com maior teor alcoólico, e a partir da Revolução Industrial onde registrou grande aumento de produção, também pode-se notar um aumento tanto no consumo como também nos problemas decorrentes do uso excessivo do álcool.

O álcool está entre as drogas psicotrópicas depressoras do sistema nervoso central, é a substância mais consumida entre os jovens, sendo que a idade de início de uso tem sido cada vez menor, aumentando o risco de dependência futura. É uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo permitido e até incentivado, pois ao mesmo tempo em que a Lei Brasileira (Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996), define como proibida a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos, é comum ver o consumo de álcool entre jovens (PECHANSKY, 2004).

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Os efeitos agudos do consumo de álcool são subdivididos em duas fases: a fase estimulante, onde logo após a ingestão da bebida o indivíduo se encontra em um estado de euforia e desinibição, e a fase depressora onde após alguns minutos do consumo, o indivíduo sente sono, descontrole e falta de coordenação motora (BRASIL, 2007 – Drogas Psicotrópicas).

A transição entre o “beber socialmente” e o “beber problemático” ocorre de forma lenta, os sinais de dependência são o desenvolvimento da tolerância, sentindo necessidade de beber cada vez mais para obter os mesmos efeitos, falta de controle sobre quando parar, síndrome de abstinência e conseqüentemente o aumento do consumo para aliviar os sintomas (BRASIL, 2007 - – Drogas: Cartilha sobre Maconha Cocaína e Inalantes.)

“O alcoolismo é o conjunto de problemas relacionados ao consumo excessivo e prolongado do álcool; é entendido como o vício de ingestão excessiva e regular de bebidas alcoólicas, e todas as conseqüências decorrentes. O alcoolismo é, portanto, um conjunto de diagnósticos. Dentro do alcoolismo existe a dependência, a abstinência, o abuso (uso excessivo, porém não continuado), intoxicação por álcool (embriaguez), síndrome amnésica (perdas restritas de memória), demencial, alucinatória, delirante, de humor. Distúrbios de ansiedade, sexuais, do sono e distúrbios inespecíficos. Por fim o delirium tremens, que pode ser fatal” (MAROT, 2004).

Para se chegar ao alcoolismo é necessário que o indivíduo faça uso de álcool em quantidade e tempo significante. A intoxicação por álcool e o abuso, refere-se à ingestão de álcool em quantidade significativa por um dia. Já a dependência química significa a ingestão de grande quantidade por um longo período de tempo, refere-se a um estado de doença onde o indivíduo necessita do álcool para conseguir realizar suas atividades do dia-dia. A abstinência se caracteriza por um conjunto de sintomas como -náuseas, suor, tremores, ansiedade- que ocorrem quando o indivíduo cessa abruptamente o uso do álcool. O delirium tremens é um dos sintomas da síndrome de abstinência grave, podendo levar a morte.

O uso de álcool por menores de idade está mais associado à morte do que todas as substâncias psicoativas ilícitas em conjunto. Sabe-se, por exemplo, que os acidentes automobilísticos é a principal causa de morte entre jovens dos 16 aos 20 anos (PECHANSKY, 2004). O consumo de álcool esta associado ao aumento de chances de violência sexual, tanto para a vítima quanto para o agressor, a maior probabilidade de envolvimento com outros tipos de droga, como também a prejuízos cognitivos e educacionais. O consumo descontrolado do álcool também pode ser causa de varias doenças, as mais freqüentemente associadas são as doenças do fígado - esteatose hepática, hepatite alcoólica e

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cirrose-, porém a gastrite, a síndrome da má absorção, a pancreatite e a hipertensão também são doenças causadas por consumo excessivo de álcool (BRASIL, 2007 – Drogas Psicotrópicas.).

Se detectado inicialmente o alcoolismo tem uma maior facilidade de ser tratado e curado, porém é difícil diagnosticá-lo em estágio inicial, pois os limites entre o uso social e a dependência raramente são claros. Quando o indivíduo decide se tratar e porque muitos prejuízos já ocorreram.

O tratamento do alcoolismo visa inibir a vontade de ingerir bebida alcoólica, sendo assim o tratamento é medicamentoso: naltrexona, acamprosato e ondansetrona, sendo estes prescritos após avaliação médica.

1.6. MACONHA

A maconha, planta chamada cientificamente de Cannabis sativa, está entre as drogas psicotrópicas perturbadoras do sistema nervoso central, é a substância proibida por lei mais utilizada em nosso país (BRASIL, 2007 – Drogas: Cartilha sobre Maconha Cocaína e Inalantes.). O uso da maconha geralmente é intermitente e ilimitado; no entanto, estima-se que 10% dos que experimentaram maconha tornam-se usuários diários e 20 a 30% a consomem semanalmente (JUNGERMAN & LARANJEIRA, 2005).

O THC (tetraidrocanabinol) é a principal substância química responsável pelos efeitos produzidos pela maconha. A quantidade de THC presente na planta vária de acordo com as condições com que a planta foi cultivada (solo, clima, estação do ano, época de colheita, tempo decorrido entre a colheita e o uso). Os efeitos produzidos pelo consumo da maconha variam de acordo com a quantidade de THC presente nela, e as condições fisiológicas da pessoa que a utiliza (BRASIL, 2007 – Drogas Psicotrópicas).

Ela já era conhecida há pelo menos 5000 anos, sendo utilizada como medicamento útil para vários males, como também por pessoas que desejavam sentir “coisas diferentes”, aumentando assim seu consumo. Em conseqüência desse abuso e de seus efeitos maléficos, o uso da planta foi proibido em quase todo o mundo ocidental nos últimos 50 á 60 anos (BRASIL, 2007 – Drogas Psicotrópicas).

Atualmente a maconha, ou substâncias extraídas dela, são reconhecidas como medicamento eficaz utilizado em pelo menos duas condições clínicas, como antiemético, no tratamento de náuseas produzidas por medicamentos anticancerígenos e em alguns casos de

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epilepsia, porém deve-se levar em consideração seus efeitos indesejáveis, pois podem trazer muitos malefícios (LIPPINCOTT & WILKINS, 2005).

Geralmente o consumo da maconha começa na adolescência, pois é quando o indivíduo se depara com conflitos e responsabilidades, em busca de uma fuga desta maturidade começam a se envolver com as drogas. É neste período também que o indivíduo tem mais contato, uma maior disponibilidade da droga. “Um indivíduo de classe social média, saudável com boa perspectiva de trabalho, é o perfil do usuário mais freqüente de uso de maconha, embora a disseminação nas classes mais baixas esteja se alastrando” (MAROT, 2004).

Quando consumida sem pretensão médica, ou seja, quando o indivíduo quer atingir um estado diferente de percepção, a maconha é fumada, podendo ser enroladas a mão como se fossem cigarros, ou usadas em cachimbos ou narguilês. Sendo assim a fumaça passa pelos pulmões e sua substância psicoativa (delta-I-tetraidrocannabinol) rapidamente cai na corrente sanguínea e é levada para o cérebro, onde atua influenciando no prazer, a memória, o aprendizado, a recompensa, a percepção e os movimentos coordenados (LIPPINCOTT & WILKINS, 2005).

Segundo MAROT, 2004 estes são os seguintes motivos que levam o indivíduo ao consumo da maconha.

Relaxar 96,8%

Curtir os efeitos 90,7%

Melhorar o desempenho na prática de

jogos, esportes e música 72,8%

Superar aborrecimentos 70,1%

Ajudar a dormir 69,6%

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Os sinais que uma pessoa pode apresentar após o consumo são: relaxamento, euforia, risos espontâneos, sentimentos de bem estar e grandeza, distorções visuais, podem sentir-se amedrontadas e confusas, ansiedade, sensação de que o tempo esta passando mais lentamente, taquicardia, boca seca, olhos vermelhos, sonolência e lentidão, diminui a força muscular, coordenação deficiente e fome aumentada (LIPPINCOTT & WILKINS, 2005).

O consumidor pode sentir de um uso para o outro, desde os sintomas considerados por eles positivos como euforia e bem estar, como negativos, ansiedade, medo e pensamento perturbado (BRASIL, 2007– Drogas: Cartilha sobre Maconha Cocaína e Inalantes.).

O usuário habitual da maconha pode se colocar em risco caso resolva realizar atividades que exijam coordenação motora e reflexos rápidos, pois estas são áreas que ficam comprometidas quando se está sob efeito da droga. O usuário crônico coloca em risco sua memória e habilidades de processar informações complexas, pode irritar o sistema respiratório, uma vez que os pulmões estão em constante contato com a fumaça, como também aumentar as possibilidades de desenvolver câncer de pulmão.

Os efeitos da maconha sobre o ser humano podem ser divididos em dois, os efeitos físicos (ação sobre o corpo) como efeitos respiratórios, cardiovasculares, reprodutivos e também enfraquecer o sistema imunológico, e os efeitos psíquicos (ação sobre a mente) como distúrbios de memória e aprendizado, dificuldade de realizar suas funções na escola e no trabalho como também transtornos psiquiátricos coexistentes (BRASIL, 2008). Eles podem ser agudos, ou seja, quando decorrem apenas algumas horas após fumar, e crônicos, quando aparecem após o uso continuo por semanas (LIPPINCOTT & WILKINS, 2005).

Quando o dependente químico decide parar de usar abruptamente a maconha, apresenta reações como distúrbio do sono, irritabilidade, perda de apetite, enjôo e sudorese. Para o tratamento das crises de abstinência são utilizados tranqüilizantes ou sedativos para controlar a insônia, ansiedade e depressão, associada à psicoterapia, exercícios, técnicas de relaxamento e suporte nutricional (LIPPINCOTT & WILKINS, 2005)

Não há evidências de que o uso da maconha precipite atos anti-sociais, ou criminosos, mas ela libera inibições. Assim uma pessoa que já tenha uma tendência a comportamentos anti-sociais vai realizá-los mais facilmente.

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A cocaína é uma substância extraída das folhas da Erythroxylon coca. A princípio era utilizada como anestésico local e também como tônico energético, porém a partir do séc. XX tornou-se uma substância ilegal devido os efeitos danosos e freqüentemente fatais causados aos seus usuários. Ela está entre as drogas psicotrópicas estimulantes do sistema nervoso central.

Segundo o Livreto Informativo sobre Drogas Psicotrópicas, 2007, a cocaína se apresenta sob forma de um sal (cloridrato de cocaína) “pó” que serve para ser aspirado, diluído em água para uso intravenoso, sob forma de pedra “crack” que serve para ser fumado em cachimbos e ainda sob forma de mel ou melado, um produto sem refino e muito contaminado com as substâncias utilizadas na extração, ela também é fumada, porém de forma diferente do crack. Tanto o crack quanto a merla são cocaína e apresentam os mesmos efeitos no cérebro. A duração de seus efeitos se difere pela via de administração, gira em torno de 5 minutos para o crack, e de 20 a 45 minutos para as inaladas e injetadas, o pó. Como os efeitos do crack são intensos e de curta duração seu usuários sentem uma compulsão para utilizar a droga repetidamente e inúmeras vezes ao dia, até que a droga ou o dinheiro para consegui - lá acabe.

Os efeitos que o usuário busca com o consumo da cocaína são, um estado de bem estar, euforia, excitação, elevação do humor, aumento da auto-estima, perda da sensação de cansaço e até para perda de apetite, porém a cocaína também produz efeitos tóxicos como hiperatividade, insônia, irritabilidade, tremores, atitudes bizarras, e com um tempo maior de consumo, o usuário tende a perder as noções básicas de higiene, chegando até a situações deploráveis, desumanas (BRASIL, 2007 – Drogas Psicotrópicas.).

Já sobre os efeitos que a cocaína produz sobre o corpo humano Marot, 2004, traz a midríase (dilatação das pupilas), calafrios, náuseas, vômitos, agitação psicomotora, contrações musculares e coma, porém seus efeitos mais intensos são no sistema cardiovascular causando arritmias (taquicardia e bradicardia) e fibrilação ventricular chegando até uma parada cardíaca. Sempre lembrando dos riscos de se consumir drogas injetáveis, quanto ao contágio de doenças tais como a hepatite, malária, dengue e a AIDS (BRASIL, 2007 – Drogas Psicotrópicas.).

Segundo o Livreto Informativo sobre Drogas Psicotrópicas, produzido pelo Ministério da Saúde, não há relatos de síndrome de abstinência em usuários que deixam de usar a cocaína abruptamente, há sim uma vontade descontrolada de usar a droga para sentir seus efeitos desejáveis.

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CAPÍTULO II - METODOLOGIA

A presente pesquisa se passa no município de Tangará da Serra que está localizado no sudoeste mato-grossense, região chamada também de Médio Norte, a 242 km da capital, Cuiabá. Apresenta 11.556 km² de extensão territorial, sendo que 6 124 km² são ocupados por reservas indígenas Paresi (OLIVEIRA, 2004.). O município foi criado pela lei 3 687, no dia 13 de Maio de 1976 e atualmente apresenta 9.514.474,58 m² de área urbana, divididos em 92 loteamentos, subdivididos em 07 macro-setores. Sua população está estimada em 72 311 habitantes. Apresenta-se entre as coordenadas 14º 04' 38'' S e 57º 03' 45'' W e a 387 metros de altitude, faz limites com os municípios de Campo Novo dos Parecis, Pontes e Lacerda, Barra do Bugres, Nova Olímpia, Santo Afonso, Nova Marilândia, Sapezal, Campos de Júlio, Denise, Diamantino, Reserva do Cabaçal e Conquista d’ Oeste. (PREFEITURA MUNICIPAL DE TANGARÁ DA SERRA, 2006).

Para fundamentação e análise dos dados utilizou-se revistas especializadas, artigos científicos, livros específicos que tratam do assunto, estando algumas destas bibliografias à disposição na biblioteca da UNEMAT, Campus de Tangará da Serra, e outras poderão ser acessadas pelos endereços eletrônicos que constam na bibliografia.

Primeiramente foram realizadas leituras para uma melhor compreensão da importância do recorte estudado. Essas leituras prévias contribuíram para a construção do levantamento bibliográfico, ou seja, uma compreensão da base bibliográfica que sustenta o estudo.

Quanto ao levantamento teórico a respeito da esquizofrenia, para a análise de suas possíveis causas, fatores de risco, sintomatologia, as subdivisões da doença de acordo com diferentes sintomas, diagnóstico e seu tratamento. Os autores tomados como base para a conceituação da esquizofrenia são NETO et al, 2007; FERREIRA, 2007; GIACON, 2006; PEREIRA, 2001; CARDOSO, 2009; TENGAN, 2004; LOUZÃ, 2007; CARDOSO, 2008; como também uma busca no site do Ministério da Saúde sobre o CID X – Classificação Internacional de Doenças, e em apostila do Curso de Capacitação em Saúde Mental realizado em 2006.

Quanto ao uso de drogas este estudo buscou as características dos usuários, os fatores de risco e suas conseqüências, como também uma análise específica nas drogas de interesse da pesquisa - maconha, álcool, cocaína. E para conceituação do uso de drogas foram citados autores como: PRATTA & SANTOS, 2009; WAGNER & OLIVEIRA, 2009; WEISER et al,

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2003; MIGOTTI, 2007; REBOLLEDO, 2004; JUNGERMAM & LARANJEIRA, 2005 e MAROT, 2004, utilizando 5 (cinco) de seus artigos publicados referentes ao alcoolismo e seu tratamento, a maconha, a cocaína e ao crack. Também foram citados o site do Ministério da Saúde, cartilhas publicadas pela Secretaria Nacional Antidrogas, Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública e Gabinete de Segurança Institucional.

Durante a discussão dos textos tomados como referência para o debate entre a possível relação do uso de drogas com a esquizofrenia, notou-se que Veen et al. (2004), defendia que o uso da maconha precipitaria o aparecimento da esquizofrenia principalmente em homens. Witton e Murray, 2004 e Oliveira e Moreira, 2007 traziam duas propostas, de existir ou não a relação, citando vários autores que defendiam e outros que discordavam desta relação. Witton e Murray, 2004, citaram vários estudos que defendiam esta relação e Oliveira e Moreira, 2007, propunha evidências biológicas da relação entre o uso de drogas e o desenvolvimento da esquizofrenia. Cortese, (2004) não acreditava na possibilidade desta relação.

Já para identificar a estrutura e a forma de atendimento do CAPs de Tangará da Serra, fez-se necessário realizar uma entrevista semi-estruturada com a Coordenadora da Unidade, a psicóloga Daniele Bolsan Marchetto. Segundo Severino (2002), a entrevista semi-estruturada, em geral parte de certos questionamentos básicos, que se apóia em teorias e hipóteses que interessam a pesquisa e que oferece um amplo campo de interrogativas, que irão surgindo durante a entrevista semi-estruturada, que se caracteriza pela existência de um guia previamente preparado que serve de eixo orientador ao desenvolvimento da mesma, e que não exige uma ordem rígida nas questões, e o desenvolvimento da entrevista irá se adaptando ao entrevistado existindo assim a flexibilidade na exploração das questões. Desta forma pude seguir mais espontaneamente a linha de meus pensamentos e de minhas experiências dentro do foco principal e assim ter uma melhor participação na elaboração da mesma.

A partir desta entrevista pode-se realizar um estudo qualitativo da Unidade do CAPs, que segundo Richardson (1999) é um estudo que descreve problemas, analisa interação de certas variáveis, compreende e classifica processos dinâmicos vividos por grupos sociais e contribui no processo de mudança de determinado. Com isso foi necessário desenvolver um modelo próprio de investigação, que fosse adequado para a pesquisa, e avaliá-los sob critérios a fim de validar criticamente o desenvolvimento da mesma.

Já para a coleta de dados utilizou-se um estudo quantitativo na Unidade do CAPs, que ainda segundo Richardson 1999, caracteriza-se pelo emprego de quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento dela por meio de técnicas

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estatísticas, desde as mais simples como percentual, média, desvio padrão às mais complexas, como coeficiente de correlação, análise de regressão, etc.. Que neste trabalho teve como objetivo investigar a relação de causalidade entre os fenômenos de causa (drogas) e efeito (a doença).

Referências

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