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5.1- EXPERIMENTO I: Suplementação de bicarbonato de sódio para frangos de corte durante o verão

5.1.1 - Parâmetros zootécnicos

Relatos anteriores mostram que temperatura elevada, em combinação com umidade alta, tem causado queda de desempenho zootécnico em frangos de corte. O NaHCO3 tem sido usado pelos produtores na tentativa de minimizar essas perdas.

5.1.1.1 - Ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar e mortalidade

Os resultados de ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar, mortalidade, relação consumo de água/consumo de ração e umidade da cama e consumo de água de 21 a 49 dias são apresentados, respectivamente, nos Quadros 3 e 4.

Quadro 3 - Ganho de peso (GP), consumo de ração (CR), conversão alimentar (CA), mortalidade (MT), relação água/ração (AG/RA) e umidade da cama (UM) em frangos de corte suplementados com NaHCO3

Parâmetros GP (kg) CR (kg) CA MT(%)2 AG:RA (l/kg) UM (%) Testemunha 2,00 3,78 1,90 7,50 2,62 35,60 Fatorial 2,05 3,79 1,85 5,25 2,73 39,99 Idades 21 dias 2,06 3,81 1,85 4,33 2,81A1 41,54 35 dias 2,05 3,77 1,85 6,17 2,65B 38,45 Níveis de NaHCO3 0,5 2,02 3,77 1,87 6,00 2,60c 33,11b 1,0 2,09 3,85 1,85 4,25 2,73b 42,02a 1,5 2,05 3,77 1,84 5,50 2,87a 44,85a C.V. (%) 3,82 2,89 2,52 41,90 4,21 14,10 1: Médias seguidas de letra comum maiúscula/minúscula na coluna não diferem pelo teste de Tukey 5%. 2: Dados transformados em arc sen v(x+1)/100 para análise.

De acordo com o Quadro 3 não houve diferença (P>0,05) para os resultados de ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar e mortalidade, concordando com os resultados obtidos por BOTTJE & HARRISON (1985b), TEETER et al. (1985), FONSECA et al. (1994; 1995), embora estes últimos tenham usado níveis de suplementação inferiores. Porém, discordaram de Souza & Silva (1995), citados por ROSTAGNO (1995), quando observaram que aves alimentadas com níveis crescentes (0; 0,6; 1,2 e 1,8%) de NaHCO3 apresentaram melhora linear no ganho de peso e na conversão alimentar. No presente estudo a taxa de ganho médio foi 2,5% superior para as aves suplementadas e a conversão alimentar numericamente decrescente à medida que se aumentou o nível de suplementação.

FISCHER DA SILVA & FLEMING (1990) e FISCHER DA SILVA et al. (1994), fornecendo NaHCO3 para frangos de corte, observaram uma tendência a melhores índices de ganho de peso e conversão alimentar, porém não comprovados estatisticamente. Esta tendência para melhores índices de ganho de peso e conversão alimentar com a suplementação de NaHCO3 foi observada no presente trabalho, onde a conversão alimentar foi em média 2,7% melhor nas aves suplementadas.

Não houve interação entre a suplementação de NaHCO3 e a mortalidade e, entre mortalidade e consumo de água, discordando de BRANTON et al. (1986) e BALNAVE & GORMAN (1993), quando suplementaram NaHCO3, respectivamente na ração e na

água. Apesar disso, no presente estudo, os valores de mortalidade foram 30% inferiores para aves suplementadas.

O experimento foi conduzido em galpão de alvenaria, na tentativa de reproduzir a realidade de uma criação comercial. Os resultados obtidos mostram que a suplementação de NaHCO3 não tem aplicabilidade uma vez que, respostas significativas sobre o desempenho zootécnico não foram observadas. Entretanto, outros fatores ambientais podem ter interferido nessa resposta, dentre eles a intensidade do estresse. Assim, talvez a temperatura de 35 °C, mostrada na Figura 1, valor considerado crítico para as aves, não tenha sido suficiente para fazer expressar um possível efeito do NaHCO3 e/ou a disponibilidade de água pode ter mascarado essa resposta. A adaptação fisiológica geralmente ocorre sob contínuas exposições da ave ao ambiente quente.

5.1.1.2 - Balanço hídrico

A temperatura da água é um fator importante na regulação da temperatura corporal da ave, particularmente quando estas são submetidas a estresse calórico. No presente trabalho, as avaliações feitas nos bebedouros mostraram valor médio, para temperatura da água, de 27,5oC (Figura 2), consideravelmente superior às recomendações de MACARI (1995, 1996a) de 20 a 24ºC. Temperaturas acima destas recomendações poderiam ter efeito negativo sobre a temperatura corporal da ave. Entretanto, BEKER & TEETER (1994) observaram que o consumo de alimento e o ganho de peso melhoraram quando a temperatura da água era mantida abaixo de 26,7oC, valor este, muito próximo daqueles encontrados no presente estudo.

O pH médio obtido através das medidas nos bebedouros foi de 7,64 (Figura 2) e está dentro do limite normal de 6 a 9, recomendado por MACARI (1996a). Embora no presente estudo a temperatura tenha sido um pouco superior a recomendada, pode-se considerar que a temperatura e o pH desta não interferiram nos resultados obtidos.

Quadro 4 - Consumo de água por ave por dia (l) em frangos de corte suplementados com NaHCO3 Níveis de NaHCO3 (%)

Idades(dias) 0,0 0,5 1,0 1,5 Média

21 - 0,36bA1 0,37bA 0,41aA 0,38

35 - 0,33bB 0,38aA 0,36abB 0,36

Média 0,35* 0,35 0,37 0,39 0,37*

* Testemunha Vs Níveis de NaHCO3 : P>0,05

Níveis de NaHCO3 (N): P<0,01 Idades(I): P<0,01 N x I: P<0,05 CV(%):5,24

1: Em cada linha(coluna), médias seguidas de letra minúscula(maiúscula) comum, não diferem pelo teste Tukey a 5%. 1 2 3 4 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 Á gu a (l ) 1 2 3 4 Período (semana)

0,0% 0,5% - 21 dias 1,0% - 21 dias 1,5% - 21 dias 0,5% - 35 dias 1,0% - 35 dias 1,5% - 35 dias

Figura 6 - Consumo semanal de água (l) em frangos de corte suplementados com NaHCO3 na ração

O consumo de água (Quadro 4; Figura 6) foi influenciado tanto pelo nível quanto pela idade de início da suplementação. Aves que receberam 0,5% de NaHCO3 a partir de 21 dias apresentaram maior consumo (P<0,05), comparando com as que receberam a mesma quantidade do suplemento a partir de 35 dias. A suplementação com 1,5% a partir de 21 dias foi efetiva em aumentar o consumo de água (P<0,05) quando comparada com 35 dias. Quando comparados os diferentes níveis de suplementação

dentro da mesma idade observou-se que a partir de 21 dias, aves suplementadas com 1,5% de NaHCO3 consumiram mais água (P<0,05) que aquelas recebendo 0,5 e 1,0 %, sendo que estas últimas não diferiram entre si. A partir de 35 dias, aves suplementadas com 1,0% de NaHCO3 consumiram (P<0,05) mais água que aves suplementadas com 0,5%, porém não diferiram daquelas suplementadas com 1,5%, mostrando que níveis elevados de NaHCO3 na ração aumentam o consumo de água. Este aumento no consumo de água com a suplementação de NaHCO3 corrobora com relatos anteriores de BRANTON et al. (1986), WHITING et al. (1991), BALNAVE & GORMAN (1993).

Vários fatores podem afetar o consumo de água pelas aves, dentre eles MACARI (1996b) relaciona a idade da ave, a quantidade de sais na ração e temperatura ambiente Assim, o aumento no consumo de água observado no presente estudo com a adição de NaHCO3 na ração pode ter sido resultado de uma variação osmótica proporcionada por este sal. Da água ingerida, parte é eliminada nas excretas, diminuindo a qualidade da cama. LEESON & SUMMERS (1991), MACARI (1996a) relataram que entre 60 e 70% da água ingerida é eliminada nas fezes e urina.

A umidade da cama (Quadro 3) foi afetada (P<0,01) pelo nível de inclusão de NaHCO3 na ração, sendo que com concentrações de 1,0 e 1,5% os valores obtidos foram superiores. Estes resultados estão estritamente relacionados com o aumento da ingestão de água e conseqüente aumento da umidade das excreções provocada pelos níveis elevados de NaHCO3 na ração, concordando com o que foi mostrado por BALNAVE & GORMAN (1993), Souza & Silva (1995), citados por ROSTAGNO (1995).

Os valores de umidade de cama encontrados neste estudo para aves suplementadas a partir de 21 dias e naquelas que receberam 1,0 e 1,5% de bicarbonato foram, respectivamente 41,54%; 42,02% e 44,85% e extrapolam àqueles relacionados por ALMEIDA (1986) e MACARI (1996a), que recomendaram respectivamente cama com umidade, variando de 20 a 30% e 10 a 40%.

A relação consumo de água/consumo de ração foi influenciada (P<0,01) tanto pelo nível quanto pela idade de início de suplementação. As aves suplementadas a partir de 21 dias e aquelas que receberam 1,5% de NaHCO3 apresentaram maior relação água/ração (P<0,05). À medida que se eleva a temperatura ambiente, há um aumento na ingestão de água e redução no consumo de alimento, resultando em elevada relação

água/ração e queda de desempenho (LEESON et al., 1976). No presente estudo não foi observado alterações significativas sobre o desempenho das aves em função da relação água/ração

A relação água/ração em aves aumenta de aproximadamente 2/1 em temperaturas moderadas para aproximadamente 5/1 à 35oC (ALMEIDA, 1986; Balnave, 1989 citado por DAGHIR, 1991). Neste estudo, os valores estão compreendidos entre 2,60/1 e 2,87/1, podendo ser considerados como normais, visto que, as temperaturas máximas se aproximaram de 35ºC (Figura 1).

O estímulo à ingestão de água em temperaturas elevadas pode aumentar o consumo de ração. Isto se explica porque, a ingestão de água e alimento estão intimamente relacionadas (KELLERUP et al., 1965; LEESON et al., 1976; MEIRELLES, 1995; MACARI, 1996a). Resultados obtidos no presente estudo mostram que a suplementação de NaHCO3 é efetiva em aumentar a relação água/ração, sem alterar o consumo de ração, apenas pelo aumento no consumo de água.

Ao analisar o comportamento do consumo de água em relação ao peso corporal observa-se que há uma diminuição gradativa desta relação conforme as aves ficam mais velhas independentemente da suplementação de NaHCO3 (Figura 7).

Os resultados apresentados nas Figuras 6 e 7 mostram que o consumo de água aumenta com a idade das aves porém, quanto mais velha a ave, menor a troca de água no organismo traduzido pela redução na relação entre o consumo de água/peso corporal, corroborando com LEESON (1986) e MACARI (1995). Contudo, a medida que se aumenta a suplementação de NaHCO3 , há um aumento na troca de água no organismo da ave, o que pode ser benéfico nos casos de estresse calórico pois, segundo BRANTON et al. (1986) o aumento no consumo de água melhora a viabilidade de frangos expostos ao calor.

Pelos resultados apresentados é sugestivo que uma ação do NaHCO3 esteja condicionada à intensidade do estresse, sendo que efeitos positivos podem se manifestar pelo aumento no consumo de água, tendo este, potencial para reduzir os efeitos nocivos do calor sobre frangos de corte nas fases finais de criação. Porém, maiores cuidados devem ser dedicados à cama do aviário.

1 2 3 4 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 ág ua /p es o vi vo ( l/k g) 1 2 3 4 período (semana)

0,0% 0,5% - 21 dias 1,0% - 21 dias 1,5% - 21 dias 0,5% - 35 dias 1,0% - 35 dias 1,5% - 35 dias

Figura 7 - Relação semanal do consumo de água (l) com o peso vivo (kg) de frangos

de corte suplementados com NaHCO3 na ração

5.1.1.3 - Rendimento de carcaça, peito, coxa+sobrecoxa, asa, pé+cabeça, dorso e gordura abdominal

Poucos estudos são feitos para avaliar os efeitos da suplementação de sais de Na sobre características de carcaça de frangos de corte criados em temperaturas elevadas. Os resultados de rendimento de carcaça, peito, coxa+sobrecoxa, asa, dorso, pé+cabeça e gordura abdominal, são apresentados no Quadro 5.

Quadro 5 - Rendimento de carcaça, peito, coxa+sobrecoxa, asa, pé+cabeça, dorso e gordura abdominal em frangos de corte suplementados com NaHCO3

Rendimento (%) Parâmetros Carcaça2 Peito Coxa+

Sobrecoxa Asa Dorso Pé + Cabeça Gordura abdominal

Testemunha 81,20 18,97 23,04 8,47 21,75 6,79 2,21 Fatorial 81,12 19,17 22,60 8,33 22,06 6,88 2,09 Idades 21 dias 81,16 19,19 22,72 8,35 22,16 6,94 2,00 35 dias 81,09 19,14 22,48 8,31 21,95 6,82 2,18 Níveis de NaHCO3 0,5 81,58 18,95 22,75 8,36 22,70A1 6,69 2,13 1,0 80,66 19,15 22,33 8,20 21,94AB 6,93 2,12 1,5 81,13 19,40 22,74 8,44 21,53B 7,01 2,01 C.V. (%) 1,63 4,25 3,82 4,61, 4,00 4,49 16,35 1: Médias seguidas de letra comum maiúscula na coluna não diferem pelo teste de Tukey a 5%. 2: Carcaça eviscerada sem penas e sangue.

De acordo com os dados, não houve diferença (P>0,05) para o rendimento de carcaça, peito, coxa+sobrecoxa, asa, pé+cabeça e gordura abdominal, para os diferentes tratamentos. Estes resultados estão de acordo com os apresentados por SMITH & TEETER (1987b) e WHITING et al. (1991). Todavia, com o aumento dos níveis de NaHCO3 ocorreu uma diminuição (P<0,05) no percentual de dorso das aves, sendo o menor rendimento encontrado para o nível de 1,5%, podendo ser interpretado como um aspecto favorável. Há relatos de que o estresse calórico reduz significativamente o rendimento de carcaça e de peito (SMITH & TEETER, 1987d; SMITH, 1993) de frangos de corte. Segundo MACARI et al. (1994), as flutuações na temperatura ambiente podem causar alterações nas características de carcaça dos frangos de corte.

Os resultados obtidos, para gordura abdominal, não sugerem uma relação entre esta com o aumento da proporção água/ração, não corroborando com MARKS & WASHBURN (1983).

5.1.2 - Parâmetros sanguíneos

Os resultados obtidos das análises hematológicas para hemoglobina, K+, Na+, hemácias, hematócrito, heterófilo, linfócito e relação heterófilo/linfócito são apresentados, respectivamente no Quadro 6.

Quadro 6 - Níveis sanguíneos de potássio (K), sódio (Na), hemácias (He), hemoglobina (Hb), hematócrito (Ht), heterófilo (Hfilo), linfócito (Lcito) e relação heterófilo/linfócito (Hfilo/Lcito) em frangos de corte, suplementados com NaHCO3

K

(mmol/l) (mmol/l) Na He x 10 6

(mm3) (%) Ht (g/dl) Hb Hfilo (%) Lcito (%) LcitoHfilo/ 2

Testemunha 4,23 136,30 2207 27,70 7,90z* 31,50 68,50 0,47

Fatorial 4,33 132,80 2319 27,80 8,69w 30,90 69,12 0,47

Idades

21 dias 4,49 134,90A1 2207B 27,93 8,34B 31,00 69,00 0,47 35 dias 4,17 130,70B 2430A 27,63 9,04A 30,77 69,23 0,47

Níveis de NaHCO3

0,5 4,50 136,10a 2257 27,55 8,18b 34,15 65,85 0,54

1,0 4,02 134,25a 2325 27,95 8,13b 27,10 72,90 0,40

1,5 4,46 128,05b 2373 27,85 9,76a 31,40 68,60 0,47

C.V. (%) 10,07 2,84 10,55 8,25 7,09 26,78 12,02 6,32 * Testemunha Vs Níveis de NaHCO3

1: Médias seguidas de letra comum maiúscula/minúscula na coluna não diferem pelo teste de Tukey 5%. 2: Dados transformados em arc sen v (x+1)/100 para análise.

De acordo com o Quadro 6 não houve diferença (P>0,05) para os percentuais do hematócrito, heterófilo, linfócito, relação heterófilo/linfócito e níveis de K+ sanguíneo entre os tratamentos.

A relação entre as contagens de heterófilo e linfócito é indicada como um índice sensível de estresse crônico em frangos de corte. De acordo com os resultados obtidos, o NaHCO3 não interferiu nesta relação, não se traduzindo em um índice de estresse, nas condições experimentais descritas.

Aves suplementadas com NaHCO3 a partir de 21 dias de idade apresentaram maior nível sérico de Na+ (P<0,01) comparadas com 35 dias. Independentemente da idade de início da suplementação, houve uma queda nos níveis séricos de Na+ a medida que se aumentou a quantidade de NaHCO3 na ração, sendo que a menor quantidade (P<0,01) se manifestou naquelas aves que receberam 1,5% do suplemento. EDENS (1976), HUSTON (1978), DEYHIN et al. (1990), BELAY & TEETER (1993) e BOTURA (1993) associam a redução dos níveis séricos de Na+ com o aumento da temperatura ambiente. Assim, a queda nos níveis séricos de Na+, apresentada no Quadro 6, sugere que estas aves tenham sofrido estresse.

Aves que receberam o produto a partir de 21 dias de idade apresentaram uma menor contagem de hemácias (P<0,05). Trabalhos realizados por FURLAN (1992) e CISCATO (1995) mostraram uma redução no número de hemácias e no teor de hemoglobina em frangos de corte submetidos a estresse calórico. Confrontando estes

resultados com aqueles dos demais parâmetros hematológicos analisados, sugere-se uma resposta isolada de difícil explicação porém, com reflexo direto sobre a hemoglobina, ocorrendo diferenças (P<0,01) entre as idades de início e níveis de suplementação, sendo os maiores valores obtidos para aves suplementadas a partir de 35 dias de idade. Aves suplementadas com NaHCO3 apresentaram uma quantidade de hemoglobina superior (P<0,05) àquelas não suplementadas.

Posto que temperaturas elevadas podem causar perda de água corporal, levando o animal à desidratação, queda no desempenho e até mesmo à morte, o aumento no consumo de água promovido pelo NaHCO3, pode ser de grande relevância na manutenção do equilíbrio hídrico do animal, sua produtividade e sobrevivência. Provavelmente a ação benéfica do NaHCO3 se restrinja a este aumento no consumo de água pois, este sal libera o íon carbonato, prejudicial ao animal quando este está em alcalose respiratória.

5.2 - EXPERIMENTO II: Suplementação de cloreto de potássio para frangos de corte durante o verão

5.2.1 - Parâmetros zootécnicos

A queda de desempenho zootécnico do frango de corte em função de temperaturas elevadas tem chamado a atenção, especialmente em regiões de clima quente ou durante o verão. O KCl tem sido usado pelos produtores de frangos de corte na tentativa de reduzir as perdas por estresse calórico.

5.2.1.1 - Ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar e mortalidade

Os resultados de ganho de peso, consumo de ração, conversão alimentar, mortalidade, consumo de água, relação consumo de água/consumo de ração e umidade da cama são apresentados no Quadro 7.

Quadro 7 - Ganho de peso (GP), consumo de ração (CR), conversão alimentar (CA), mortalidade (MT), consumo de água (AG), relação água/ração (AG/CR) e umidade da cama (UM) em frangos de corte, suplementados com KCl

Parâmetros GP (kg) CR (kg) CA MT (%)2 AG

(l/ave) AG/CR (l/kg) UM (%)

Testemunha 1,99Z* 3,74Z 1,88 4,50 0,33Z 2,46Z 33,55Z

Fatorial 2,06W 3,86W 1,87 3,00 0,36W 2,64W 38,68W

Idades

21 dias 2,09A1 3,87 1,85B 2,25 0,37A 2,69 39,58 35 dias 2,03B 3,85 1,89A 3,73 0,36B 2,59 37,79 Níveis de KCl 0,5 2,04 3,84 1,89 3,50 0,36b 2,59 35,99b 1,0 2,09 3,87 1,86 2,50 0,37a 2,69 41,38a CV (%) 2,76 2,75 1,71 37,26 4,43 4,20 11,35 *Testemunha Vs Níveis de KCl.

1: Médias seguidas de letra comum maiúscula/minúscula na coluna não diferem pelo teste de Tukey 5%. 2: Dados transformados em arc sen v(x+1)/100 para análise.

De acordo com o Quadro 7, as aves suplementadas com KCl apresentaram um ganho de peso 3,5% superior (P<0,05) àquelas não suplementadas, independentemente do nível testado, concordando com resultados de TEETER & SMITH (1986), SMITH & TEETER (1987a, c; 1989; 1992) e TEETER (1990).

SMITH (1993) constatou que frangos de corte submetidos a estresse calórico (35ºC) de 23 a 49 dias de idade apresentaram peso significativamente inferior (21%) àqueles criados em ambiente termoneutro (23,9ºC). As temperaturas máximas apresentadas no presente estudo (Figura 1) estão muito próximas das temperaturas sugeridas pelo autor como capazes de causar efeito negativo sobre a produtividade das aves.

As aves que receberam KCl desde 21 dias de idade, apresentaram ganho de peso (P<0,05) 3% e 5% superior quando comparadas, respectivamente, com àquelas que passaram a receber o suplemento a partir de 35 dias e com o grupo controle. Submetendo frangos a estresse calórico durante 21 dias e, suplementando KCl na água (SMITH & TEETER, 1992) observaram acréscimo significativo de 7% no ganho de peso final. Da mesma forma BEKER & TEETER (1994), submetendo frangos de corte à estresse calórico crônico de 36 a 50 dias de idade, conseguiram maior ganho de peso com a suplementação de 0,5% de KCl. Embora não ocorrendo interação significativa entre níveis e idade de início da suplementação observou-se que o fornecimento prolongado foi mais viável.

O consumo de ração diminui em temperaturas elevadas enquanto o consumo de água aumenta. Assim, a adição de KCl nas rações de frangos não tem apresentado resultados consistentes (SMITH & TEETER, 1987a), o que pode ser resultado do consumo preferencial de ração nas horas mais frescas do dia. Os resultados no Quadro 7 mostram que aves, recebendo KCl, tiveram consumo de ração 3,2% superior (P<0,05) àquelas do grupo controle. Embora não ocorrendo diferenças (P>0,05) entre as idades de início e os níveis de suplementação, aves tratadas a partir de 21 dias e aquelas que receberam 1,0% do sal apresentaram um consumo de ração ligeiramente superior. Estes resultados se assemelham com os de SMITH & TEETER (1989), TEETER (1990) e BEKER & TEETER (1994), e podem, em parte, explicar o maior ganho de peso dessas aves, embora discorde dos resultados obtidos por SMITH & TEETER (1988) onde se verificou menor consumo de alimento em aves estressadas pelo calor quando suplementadas com KCl.

Aves suplementadas com KCl na ração a partir de 21 dias de idade tiveram conversão alimentar melhor (P<0,05) do que aquelas que receberam o suplemento a partir de 35 dias de idade. Resultados semelhantes foram encontrados por SMITH & TEETER (1987c; 1988; 1989) suplementando o produto na água.

Os resultados de mortalidade mostram que não houve diferenças estatísticas tanto entre idades de início da suplementação, quanto entre os níveis de inclusão de KCl na ração, embora aves suplementadas apresentassem mortalidade 33% inferior ao grupo controle. Estes resultados discordam daqueles obtidos por SMITH & TEETER (1987c) que, submetendo frangos a estresse calórico estabeleceram uma relação significativa entre a capacidade das aves de sobreviver e a ingestão de K. Assim, o aumento da dose de KCl na água diminuiu a mortalidade. Isto foi posteriormente confirmado por SMITH & TEETER (1988), DEYHIM & TEETER (1991) e BELAY & TEETER (1993).

Os resultados mostram que o maior consumo de ração para as aves suplementadas, quando comparadas com o grupo controle, explica o maior ganho de peso dessas aves. Do mesmo modo o maior ganho de peso para aves suplementadas a partir de 21 de idade, quando comparadas com aquelas recebendo o produto a partir de 35 dias, explica a melhor conversão alimentar dessas aves. Embora o maior consumo de ração esteja relacionado ao maior consumo de água e relação água/ração, o maior

consumo de água em função da ingestão de K+ pode estar evitando a desidratação dessas aves nos momentos de calor. Isto sugere um efeito positivo da suplementação de KCl, iniciando-se por volta de 21 dias de idade das aves. Então, níveis dietéticos de K+ e/ou Cl- estão relacionados com o desempenho de frangos de corte criados em temperaturas elevadas.

5.2.1.2 - Balanço hídrico

De acordo com o Quadro 7, o consumo de água por ave/dia foi afetado (P<0,05) pela idade de início da suplementação de KCl na ração, ocorrendo maior consumo para aves que receberam KCl a partir de 21 dias de idade. As aves alimentadas com 1,0% de KCl apresentaram consumo de água superior (P<0,05) àquelas que foram suplementadas com 0,5%, o que confirma resultados anteriormente obtidos (SMITH & TEETER, 1988; 1989; 1993; DEYHIM & TEETER, 1991; BELAY & TEETER, 1993; AIT- BOULAHSEN et al., 1995). Aves com acesso a suplementação de KCl tendem a consumir maior quantidade de água para satisfazer a sede criada pelo aumento na ingestão de K (SMITH & TEETER, 1992; MACARI, 1995), pois, nas aves, a resistência osmótica do sangue parece ser um fator regulador da sede.

A extensão na dissipação de calor e a eficiência na perda de calor evaporativo aumentam com o consumo de água e, a manipulação da ingestão de água pela suplementação de KCl ofereceu um potencial para aumentar a termotolerância das aves (BELAY & TEETER, 1993). Assim, o aumento no consumo de água, provocado pela adição de KCl na ração, ganha importância significativa para evitar a queda nos índices de produtividade, causado pelas temperaturas elevadas, desde que a temperatura da água não exceda os limites de tolerância da ave.

A temperatura média da água fornecida às aves foi de 27,08ºC (Figura 3), sugerindo não ter sido fator limitante no desempenho, apesar de estar acima de 20 a 24ºC, considerada ideal por MACARI (1995; 1996a). Porém, BEKER & TEETER (1994) estabeleceram que a suplementação de KCl teve efeito positivo sobre o desempenho, quado a temperatura da água foi de 26,7ºC, coincidindo, em parte, com os resultados obtidos neste estudo. Foi sugestivo que a temperatura da água, a ingestão de

KCl e o elevado consumo de água tenham influenciado o desempenho dos frangos. Segundo MACARI (1995), a ingestão de água é peça fundamental na manutenção do balanço hídrico das aves durante o calor.

Outra variável analisada que poderia ter afetado o consumo de água foi o pH da mesma. Os valores de pH da água dos bebedouros, mostrados na Fígura 3, estão dentro da faixa ideal de 6 e 9 recomendados por MACARI (1996a).

O consumo de água está na dependência direta da idade da ave (Fígura 8), quantidade de sais adicionados na ração (Quadro 7) e temperatura ambiente (Fígura 1).

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