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O questionário foi enviado para 25 estudantes que se enquadravam como público alvo desta pesquisa. Destes, apenas 8 responderam o questionário, todos eles tendo abandonado o curso por desistência. Dos 25 estudantes contatados e que receberam os questionários, 17 não deram retorno com as respostas, levando a acreditar que os mesmos talvez não queiram falar sobre esse momento complicado de suas vidas. Como algumas evasões ocorreram há anos, possivelmente os estudantes já seguiram com suas vidas. É provável que por estes e outros motivos, não houve colaboração por parte destes estudantes que evadiram do curso anos atrás.

Os discentes envolvidos nesta pesquisa mostraram uma realidade que ocorre no curso de Educação Física, na qual a escolha pela profissão muitas vezes se dá em virtude do indivíduo ser um atleta, praticar algum esporte ou simplesmente por gostar de atividades físicas. Dos 8 estudantes que responderam ao questionário, 6 afirmaram que escolheram cursar Educação Física dentre outros fatores, por gostar de esportes. Ao meu ver, A educação Física escolar tende a empolgar o estudante justamente pela prática corporal, interferindo fortemente na hora em que o estudante escolhe o seu curso durante o vestibular. Isso fica evidenciado no comentário do estudante A:

Eu sempre gostei de esportes e queria levar isso como uma profissão. Vi na Educação Física a oportunidade de continuar nadando e ainda me qualificar para atuar dentro desta área depois de formado.

Outra razão é a sintonia do curso com suas aspirações pessoais e a atração que as áreas de atuação possibilitam, a princípio. Os 8 estudantes

32 responderam que entraram na UFBA para cursar educação Física pelo fato do curso ser semelhante a suas aspirações de vida. A realização pessoal ao exercer a função de professor de Educação Física é um motivo que também influencia a escolha dos acadêmicos questionados. O curso de Educação Física é constantemente associado a um trabalho gratificante, pelo fato do sujeito atuar fazendo aquilo que gosta. Foi colocado o quão prazeroso é poder ter um olhar pedagógico diferente com o aprendizado adquirido no curso. A acadêmica C demonstra entusiasmo ao afirmar que pela profissão poderia combater preconceitos e problemas na realidade escolar:

Ingressar na licenciatura em Educação Física e poder utiliza-la para fazer uma tentativa de exclusão de preconceitos que se revelam nor malmente na disciplina, como preconceitos contra gordos, magros, portadores de deficiência, isso me motivou também a começar o curso.

Poder levar saúde para as pessoas por intermédio da profissão, ainda que o sentido seja amplo para compreender enquanto se cursa a graduação, serviu de motivação na hora de escolher o curso para alguns acadêmicos. Dois deles alegaram que complementar a formação foi um fator preponderante na escolha do curso. Um deles cursava nutrição e a outra era estudante de fisioterapia.

A falta de conhecimento entre os cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física foi colocada como razão pelos 8 acadêmicos para terem escolhido ingressar na licenciatura. Este fato concretiza-se muito por conta da desinformação que existe no âmbito acadêmico acerca das reais possibilidades de atuação dos professores de Educação Física formados na UFBA. É importante ressaltar que o curso de licenciatura em Educação Física da UFBA permite que o profissional atue apenas dentro da educação básica, estando os seus egressos atuando livremente nos demais campos sob força de uma liminar judicial, que foi derrubada pelo CREF em 2016.

O estudante B permaneceu dois anos dentro do curso, mesmo percebendo durante sua trajetória acadêmica que a licenciatura não era a área que almejava atuar profissionalmente. Segundo Lobo (2012), com o desligamento do graduando ocorrem não somente prejuízos dos recursos

33 humanos e financeiros, como também a perda de tempo de discentes, docentes, instituição e até mesmo da sociedade. É notório que diversos estudantes do curso de Licenciatura matriculam-se sem ter conhecimento sobre as diferenças dos currículos e das áreas de atuação entre o Bacharelado e a Licenciatura. Para aqueles que se arrependem de ter iniciado a graduação na Licenciatura, não há alternativas fáceis como por exemplo, a oferta de transferências entre os cursos, restando ao aluno manter-se matriculado na área que aparentemente não lhe agrada, fazer novamente o ENEM para tentar se inserir em um curso de bacharelado ou desistir do curso.

O curso atingiu a expectativa de 2 participantes, alguns deles expuseram críticas e sugestões destacando a possibilidade do curso melhorar. É o que alega o estudante F:

De um modo geral, eu gosto do curso. Apenas senti falta da parte prática no início do curso, havia matérias onde ficávamos a manhã inteira discutindo teorias que nem sempre eram pertinentes ao real conteúdo. Acho que seria interessante o contato com as crianças nos primeiros semestres para dar uma base melhor aos alunos.

Três acadêmicos responderam que o curso não atingiu o esperado em relação às propostas de ensino. Estes estudantes escolheram o curso pela afinidade com atividade física, identificação com o curso, por ser uma profissão que desse prazer e por não saber a diferença entre o Bacharelado e a Licenciatura. A frustração por ter uma visão da Educação Física por meio da vivência prática nas escolas e da realidade estabelecida nas propostas de ensino do currículo pode desmotivar os graduandos, iludidos pela falsa impressão que tiveram do curso.

O trabalho associado junto ao estudo é sem dúvida um determinante da evasão que afeta os estudantes que precisam de um suporte financeiro durante seu percurso acadêmico, esta visão é dividida tanto pelos alunos e pelo corpo docente e de gestores da instituição, ainda que não haja a compreensão de todos sobre essa necessidade que a maioria dos alunos tem, que é trabalhar para se manter dentro da universidade. Mesmo sabendo que se trata de uma universidade pública, os jovens acenam com a necessidade de precisar trabalhar para arcar com suas despesas acadêmicas e pessoais. Porém, como nem sempre conseguem conciliar estes compromissos com o restante

34 das suas obrigações, acabam gerando prejuízos ao seu bem-estar físico e psicológico. É como afirmam o acadêmico H, quando disse ter passado por dificuldades:

Estudar e trabalhar sempre foi muito difícil e eu precisava, senão não teria nem o transporte, conciliar os horários, as tarefas da faculdade me deixavam extremamente cansado. Eu precisava trabalhar, na dividida, acabei abandonando o curso.

O estudante A corrobora com este fato:

Devido ao fato de manter um trabalho associado ao curso, falta de tempo para estudar e participar de atividades extracurriculares. Junte isso ao fato de ter aulas em locais diferentes e em horários apertados. Não dá.

O Curso de Licenciatura em Educação Física na UFBA tem aulas no período matutino e no período vespertino, o que acaba dificultando e reduzindo drasticamente as possibilidades do estudante conseguir um emprego integral com carteira assinada. Muitos destes estudantes são impossibilitados de estudar pela grade curricular do curso, pois em determinados semestres o curso é parcialmente diurno, o que faz com que muitos deles acabem procurando trabalhos informais no período noturno, ou até mesmo atuando em estágios com baixa remuneração em academias de musculação. É evidente que a evasão não ocorre apenas em função das dificuldades financeiras, avaliar superficialmente este fenômeno é desprezar que existem inúmeros determinantes causadores deste problema. De acordo com a estudante I, ela passou por dificuldades em relação a metodologia de alguns professores:

Eu tive dificuldades com professores que não davam aulas. Nós basi- camente ficávamos em sala discutindo política, questões partidárias e a aula não tinha absolutamente nada a ver com o conteúdo do plano semestral. Isso desestimulava bastante e as vezes eu nem levantava da cama quando lembrava que dia da semana era.

A motivação apresenta-se como uma barreira que afeta muitos alunos. Os motivos são variados e diferem entre os acadêmicos responderam o questionário. Em um estudo feito por Monteiro, Freitas e Pereira (2007), os estudantes pesquisados apontaram que a situação de estresse reflete em

35 257 245 240 295 224 294 231 299 233 223 21 0 0 9 2 0 0 1 1 0 0 24 0 0 1 0 2 0 0 0 0 0 0 2 1 2 94% 96% 98% 100%

ÍNDICE DE EVASÃO DOS ESTUDANTES ENTRE

2011 E 2016

problemas motivacionais, diminuindo a produtividade dentro da universidade. O desinteresse pela área da Licenciatura e a não identificação destes alunos com o curso no decorrer da graduação se tornam pontos determinantes para a ocorrência da evasão. A aluna F expressa esse sentimento em sua resposta:

Sim, me sentia completamente desmotivada por estudar e entender que não desejava aquilo para o meu futuro. Por um período pensei em desistir do curso logo no início, mas acabei empurrando com a barriga achando que no final acalmaria minhas inquietações, além de ter logo um diploma de nível superior.

Alguns alunos desistem do curso no primeiro momento em que percebem a desmotivação em permanecer estudando uma área que não lhes está sendo atrativa. Já outros estudantes compartilham do mesmo sentimento quanto ao curso, mas evitam se desligar da instituição. Sendo levados pelas dúvidas, perduram como estudantes universitários por longos anos em um caminho lento e árduo, onde nem sempre o estudante sai da instituição devidamente graduado. A distância da Universidade até o local onde reside foi pontuado por três pessoas participantes da pesquisa, que apresentaram a distância como o maior impeditivo para se manter estudando na UFBA. Todavia, uma delas mudou-se o estado do Rio de Janeiro e conseguiu ingressar em um curso também de Licenciatura em Educação Física naquele estado. Segundo Aguiar, Anjos e Salles (2011) o abandono pode ser gerado por questões de saúde. É como afirma um dos participantes, que alega ter se evadido do curso devido a lesões. O estudante em questão parou de estudar por conta da dificuldade para deslocar-se lesionado até a UFBA e pelo tempo necessário para recuperar-se da lesão:

Eu me acidentei de moto e as lesões me atrapalharam bastante, na parte de locomoção mesmo. Pegar ônibus de casa até a universidade inviável, por exemplo, por conta das muletas, livros e cadernos. Também imaginava que poderia ser prejudicado nas disciplinas práticas.

Outras dificuldades também foram ressaltadas pelos participantes, mas tiveram menor incidência, como problemas financeiros, filhos para tomar conta ou divergência com o projeto político pedagógico do curso.

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Gráfico confeccionado por Vagner Barbosa dos Santos

O Gráfico acima mostra os índices de evasão dos alunos do curso de Licenciatura em Educação Física da UFBA entre os anos de 2011 e 2016, além de pontuar o ano de 2017, onde houve um alto número de alunos evadidos. Dentre os evadidos, considera-se os alunos jubilados do curso por recusa de matrícula devido a reprovação em todas as disciplinas durante o semestre, alunos com matrícula recusada por não se inscrever nos componentes curriculares durante o semestre e alunos que excederam o tempo máximo para concluir o curso. Ainda há de se pontuar os alunos que saíram do curso via transferência interna ou seja, os alunos que mudaram de curso dentro da instituição. Não deixa de ser uma evasão, porém, com motivo justificado. O número de alunos evadidos pode parecer pequeno diante do montante de alunos ativos durante os anos avaliados, mas devemos levar em consideração que estão ausentes desses dados os alunos que se matricularam em alguma disciplina e a abandonaram. Alguns fazem isso de forma recorrente, sendo jubilados posteriormente, justificando a presença no gráfico dos dados do ano de 2017. Neste ano, 24 alunos foram jubilados, todos pelo mesmo motivo: Recusa de matrícula por decurso de tempo, ou seja, passaram do prazo máximo para concluir a sua graduação. Foi o maior registro de alunos evadidos entre o período estudado, ratificando que o número de alunos ativos, não necessariamente significa que os mesmos estão estudando.

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