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Experimento II – Características morfofisiológicas e microbiológicas do trato gastrintestinal

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Experimento I – Desempenho, incidência de diarreia e tempo de trânsito das dietas no trato gastrintestinal

Tabela 4. Valores médios e coeficientes de variação (CV) do peso vivo (PV),

consumo diário de ração (CDR), ganho diário de peso (GDP), conversão alimentar (CA) e tempo de trânsito gastrintestinal (TTGI) de leitões recém-desmamados em função de inclusões de celulose purificada às dietas.

Variáveis DC 1,5%CEL 3,0%CEL 4,5%CEL Dietas Experimentais1 CV(%) Regressão P PV inicial, kg 6,13 6,13 6,12 6,10 16,19 - 0,9997 Período 1 PV, kg 8,99 8,79 9,15 8,73 14,46 - 0,8936 CDR, kg 0,26 0,17 0,22 0,22 34,72 - 0,1024 GDP, kg 0,20 0,18 0,22 0,19 20,96 - 0,4294 CA 1,31 0,99 1,01 1,13 25,90 Quadrática 0,0150 Período 2 PV, kg 14,26 14,63 14,11 14,61 13,39 - 0,9180 CDR, kg 0,47 0,39 0,41 0,50 12,51 Quadrática 0,0001 GDP, kg 0,30 0,30 0,28 0,30 17,64 - 0,8705 CA 1,56 1,16 1,49 1,68 14,82 Cúbica 0,0001 Período 3 PV, kg 22,11 22,88 22,45 22,77 9,69 - 0,8771 CDR, kg 0,61 0,61 0,58 0,67 17,05 - 0,1851 GDP, kg 0,38 0,42 0,39 0,40 13,34 - 0,5531 CA 1,49 1,54 1,59 1,64 11,23 - 0,0653

TTGI (min) 332,89 255,25 279,18 198,89 26,37 Linear 0,0007 Período 1: 21-35 dias de idade; Período 2: 21-50 dias de idade; Período 3: 21-63 dias de idade. 1DC - dieta

controle; 1,5% CEL - dieta contendo 1,5% de celulose purificada; 3,0% CEL - dieta contendo 3,0% de celulose purificada e 4,5% CEL - dieta contendo 4,5% de celulose purificada.

No período 1, não houve influência (P>0,05)da inclusão de diferentes níveis de celulose purificada sobre o peso vivo dos animais, o consumo diário de ração e o ganho diário de peso, porém, houve efeito quadrático para conversão alimentar (Y = 0,11X2-0,606X+1,81 e R2 = 0,94), sendo o menor valor estimado (0,98) com a adição de 2,75% de celulose purificada às dietas (Tabela 4). HEDEMANN et al. (2006) avaliando fontes de fibra (pectina e casca de cevada) em dietas para leitões desmamados, observaram melhor desempenho dos animais que consumiram rações com fonte de fibra insolúvel, o que concordou, parcialmente, com os resultados observados no presente experimento.

O peso vivo e o ganho diário de peso não foram afetados (P>0,05) pelas dietas experimentais no período 2, enquanto para a conversão alimentar observou- se efeito cúbico. Porém, o aumento dos níveis de inclusão de celulose purificada na dieta de leitões recém-desmamados ocasionou efeito quadrático (Y = 0,043X2- 0,203X+0,631 e R2 = 0,98) no consumo diário de ração, com menor valor estimado (0,39 kg) com a inclusão de 2,36% de celulose as rações. De acordo com os

resultados verificados no presente estudo, observou-se que o consumo diário de ração foi aquém daqueles geralmente encontrados na literatura científica(FREIRE et al. 2000; MATEOS et al. 2006; PASCOAL, 2009). Le DIVIDICH e HERPIN (1994) também notaram baixo consumo voluntário até o final da segunda semana após o desmame, período no qual o consumo de energia deve atingir o mesmo nível da fase pré-desmame.

No período 3, as variáveis analisadas não foram influenciadas (P>0,05) pela adição de celulose purificada às dietas. Estes resultados concordaram com os obtidos anteriormente por GILL et al. (2000), que trabalharam com diferentes fontes de fibra (farelo de trigo, cevada e polpa de beterraba); por HANCZAKOWSKA et al. (2008), que avaliaram as inclusões de 0,5; 1,5 e 2,0% de celulose purificada e com os de PASCOAL (2009) que estudou diferentes fontes de fibra (casca de soja, polpa cítrica e celulose purificada) para leitões recém-desmamados e não observaram efeitos das dietas sobre as variáveis de desempenho.

Todavia, HÖGBERG e LINDBERG (2004) ao avaliarem concentrações (89 e 162 g) de fibra insolúvel em dietas para leitões, observaram incrementos no ganho de peso dos animais que receberam dietas com maior nível de fibra, sugerindo que este acréscimo estivesse em função do aumento dos pesos dos órgãos internos, conforme observado por KASS et al. (1980); JØRGENSEN et al. (1996) e McDONALD et al. (1999).

O tempo de trânsito das dietas no trato gastrintestinal foi reduzido de maneira linear (Y = -36,131X+363,04 e R2 = 0,75) com o aumento das inclusões de celulose purificada nas dietas. FREIRE et al. (2000) ao avaliarem diferentes fontes de fibra (farelo de alfafa, polpa de beterraba, farelo de trigo e casca de soja), nas dietas de leitões desmamados, também verificaram menor tempo de trânsito quando os animais receberam dieta contendo farelo de alfafa, e atribuíram este resultado à maior quantidade de fibra insolúvel presente neste ingrediente e à redução na viscosidade da digesta. Resultados semelhantes foram observados por MOLIST et al. (2009). Anteriormente, STAGONIAS e PEARCE (1985) verificaram tendência à rápida taxa de passagem da digesta em animais alimentados com níveis crescentes de fibra em detergente neutro (FDN). Elevados teores de fibra insolúvel em rações, reduzem o tempo de trânsito gastrintestinal da digesta, devido a estímulos

mecânicos de distensão, causados pela presença de resíduos volumosos, principalmente no cólon (MONTAGNE et al. 2003).

Para incidência de diarreia (Tabela 5), houve efeito quadrático (Y=- 2,12X2+10,162X+2,28 e R2 = 0,79) na porcentagem de escore 3, com o maior valor estimado (14,46%) com a inclusão 2,39% de celulose purificada às dietas.

Tabela 5. Escores fecais e coeficientes de variação (CV) em leitões recém-

desmamados em função de inclusões de celulose purificada às dietas.

Escore1 Dietas Experimentais2 %

Escore CV(%) Regressão P DC 1,5%CEL 3,0%CEL 4,5%CEL

1 555 506 510 544 73,44 - - - 2 87 122 101 95 14,06 - - - 3 78 92 109 81 12,50 - - - TOTAL 720 720 720 720 100 - - - % escore 3* 10,79 12,71 15,09 8,49 - 69,62% Quadrática 0,0334 1

Escores: 1 - Fezes normais; 2 – Fezes pastosas e 3 – Fezes aquosas. 2DC - dieta controle; 1,5%CEL - dieta contendo 1,5% de celulose purificada; 3,0%CEL - dieta contendo 3,0% de celulose purificada e 4,5%CEL - dieta contendo 4,5% de celulose purificada; *Porcentagem de fezes diarreicas.

MATEOS et al. (2006) avaliando dietas contendo farelo de arroz ou milho, com ou sem a inclusão de casca de aveia, rica em fibra insolúvel e altamente lignificada, relataram alta incidência de fezes diarreicas em leitões, independentemente do tratamento estudado, porém, observaram tendência de redução quando o maior nível da fibra (40 g) foi adicionado à dieta.

Neste mesmo sentido, HANCZAKOWSKA et al. (2008) avaliando níveis de inclusão (0,5; 1,5 e 2,0%) de celulose purificada nas dietas de leitões desmamados aos 35 dias de idade, observaram menor incidência de fezes diarreicas nos animais alimentados com dieta contendo o maior nível de fibra, assim como no presente estudo.

O maior nível de inclusão de celulose purificada pode ter reduzido a incidência de diarreia pela eliminação dos patógenos junto com o quimo, pois a fibra pode ter bloqueado os sítios de aderência de certas bactérias patogênicas, reduzindo a capacidade de se manterem no trato gastrintestinal (SCHLEY e FIELD, 2002; PASCOAL, 2009).

Experimento II – Características morfofisiológicas e microbiológicas do trato gastrintestinal

Tabela 6. Valores médios e coeficientes de variação (CV) para altura das

vilosidades (AV), profundidade das criptas (PC), relação altura das vilosidades e profundidade das criptas (AV/PC), número de células caliciformes (CC) e densidade de vilosidades (DV), no duodeno e jejuno de leitões abatidos aos 35 e 50 dias de idade, em função de inclusões de celulose purificada às dietas.

Variáveis DC 1,5%CEL 3,0%CEL 4,5%CEL Dietas Experimentais1 CV(%) Regressão P

35 dias Duodeno AV, µm 344,84 318,02 330,00 375,75 10,04 - 0,1528 PC, µm 328,99 291,70 317,30 296,34 8,34 - 0,1892 AV/PC 1,05 1,09 1,04 1,27 7,88 Linear 0,0112 CC 20,62 20,79 20,80 20,55 3,83 - 0,7342 DV, cm2 4438,00 4770,99 4959,05 6085,93 35,33 - 0,6045 Jejuno AV, µm 311,99 293,35 318,78 339,12 3,65 Quadrática 0,0055 PC, µm 271,48 278,39 292,86 282,32 8,91 - 0,6838 AV/PC 1,21 1,06 1,05 1,21 8,44 Quadrática 0,0066 CC 20,53 20,43 20,50 20,40 3,26 - 0,8783 DV, cm2 5189,76 4548,13 6973,88 7340,43 36,55 - 0,3201 50 dias Duodeno AV, µm 318,99 366,13 312,27 359,27 7,64 Cúbica 0,0259 PC, µm 299,64 331,74 313,85 317,95 11,31 - 0,6592 AV/PC 1,08 1,12 1,00 1,14 15,37 - 0,6584 CC 20,80 20,90 20,85 20,90 3,08 - 0,9072 DV, cm2 5593,11 4134,72 4382,80 4995,09 39,33 - 0,8194 Jejuno AV, µm 339,88 332,06 308,80 380,79 8,55 Quadrática 0,0179 PC, µm 306,41 325,89 295,26 270,64 6,64 Quadrática 0,0466 AV/PC 1,12 1,02 1,05 1,42 13,71 Quadrática 0,0122 CC 20,47 20,43 20,42 20,75 3,49 - 0,3979 DV, cm2 6341,71 6192,86 7330,28 8742,16 28,75 - 0,3183 1

DC - dieta controle; 1,5% CEL - dieta contendo 1,5% de celulose purificada; 3,0% CEL - dieta contendo 3,0% de celulose purificada e 4,5% CEL - dieta contendo 4,5% de celulose purificada.

O aumento no nível de inclusão de celulose purificada nas dietas aumentou linearmente (Y = 0,596X+0,965 e R2 = 0,81) a relação AV/PC, no duodeno dos animais abatidos aos 35 dias de idade. A altura das vilosidades, a profundidade das criptas, o número de células caliciformes e a densidade de vilosidades não foram influenciados (P>0,05) pela adição de celulose purificada nas dietas (Tabela 6).

No jejuno dos leitões abatidos nesta idade, a elevação nos níveis de celulose purificada nas dietas, promoveu efeito quadrático (Y = 9,75X2-38,051X+337,84 e R2= 0,81) na altura das vilosidades e na relação AV/PC (Y = 0,079X2-0,393X+1,53 e R2= 0,98) do jejuno, sendo os menores valores estimados (300,71 µm e 1,04, respectivamente) com as adições de 1,95% e 2,49% de celulose purificada, respectivamente. A profundidade das criptas, o número de células caliciformes e a densidade de vilosidades não foram afetados (P>0,05) pelas inclusões de celulose purificada às dietas.

No abate realizado aos 50 dias de idade, o aumento no nível de inclusão de celulose purificada nas dietas, promoveu efeito quadrático (Y = 19,953X2- 89,82X+415,28 e R2 = 0,79) na altura das vilosidades, na relação AV/PC (Y = 0,116X2-0,49X+1,51 e R2 = 0,96) e na profundidade das criptas (Y = - 11,026X2+41,339X+278,90 e R2 = 0,88) do jejuno, sendo os menores e o maior valor estimado (314,20 µm; 0,99 e 317,73 µm, respectivamente) com as adições de 2,25%; 2,11% e 1,88% de celulose, respectivamente. O número de células caliciformes e a densidade de vilosidades não foram influenciados (P>0,05) pelas adições de celulose nas dietas. No duodeno, os níveis de celulose purificada não afetaram (P>0,05) as variáveis estudadas.

MARION et al. (2002) relataram que 56% da variação das alturas das vilosidades no intestino delgado pode ser explicada pelo nível de consumo de alimentos. PLUSKE et al. (1997) demonstraram que as alturas das vilosidades correlacionam-se positivamente com o consumo de matéria seca e que uma diminuição da relação AV/PC é considerada prejudicial para os processos de digestão e absorção. Vilosidades curtas interferem negativamente na absorção de nutrientes, pois o encurtamento resulta em perda da área de superfície intestinal. O aumento na profundidade das criptas está associado ao aumento da secreção de água para o lúmen intestinal, porque a absorção de água é reduzida quando a absorção de nutrientes é comprometida. Em animais jovens, o intestino não está totalmente desenvolvido, e leitões podem não ser capazes de absorver fluidos suficientes para evitar desidratação e diarreia clínica (NABUURS, 1998; MONTAGNE et al. 2003).

As maiores alturas das vilosidades e relações AV/PC foram observadas no epitélio do jejuno, dos animais que receberam dietas com o maior nível de inclusão de celulose purificada, assim como os animais que apresentaram menor incidência de diarreia e maior consumo diário de ração dos 21 aos 50 dias de idade.

Neste mesmo sentido, HANCZAKOWSKA et al. (2008) ao avaliarem inclusões (0; 0,5; 1,5 e 2,0%) de celulose purificada, observaram maiores alturas das vilosidades e relação AV/PC e menor profundidade das criptas nos animais que consumiram dietas contendo os maiores níveis da fibra. Concluíram, então, que como a atividade das enzimas digestivas aumenta a partir da base da cripta para a ponta da vilosidade, uma longa vilosidade pode permitir melhor aproveitamento da ração. MONTAGNE et al. (2003) sugeriram que a fibra dietética, capaz de aumentar a relação AV/PC, pode aumentar a capacidade de absorção do epitélio do intestino delgado.

HEDEMANN et al. (2006) estudaram concentrações de fibras solúvel e insolúvel para leitões recém-desmamados e verificaram maior altura das vilosidades, sem diferença na densidade das vilosidades, nos animais alimentados com dietas contendo fonte de fibra insolúvel, independentemente da concentração. Estes animais também apresentaram maior consumo diário de ração e maior atividade enzimática da mucosa. Não foi observada diferença na relação AV/PC, no entanto, as concentrações avaliadas (10,4 e 14,7%) foram maiores que a maior inclusão (4,5%) de celulose purificada do presente estudo. Os autores sugeriram que leitões alimentados com dietas ricas em fibra insolúvel estarão mais protegidos contra bactérias patogênicas.

Em contrapartida, GOMES et al. (2006b) avaliaram a adição de 8% de FDN na dieta de suínos nas fases inicial e crescimento-terminação, e observaram alterações histológicas na mucosa intestinal do jejuno, particularmente na fase inicial. Estas alterações traduziram-se no aumento do número de células caliciformes e no estímulo à produção e liberação de muco pela mucosa intestinal, resultados diferentes dos observados no presente estudo, pois não houve diferença no número de células caliciformes. Contudo, os animais utilizados no experimento foram abatidos com 73 dias de idade e animais mais velhos são mais tolerantes à

presença de fibra na ração, pois leitões não apresentam seus órgãos digestivos totalmente desenvolvidos.

Tabela 7. Valores médios e coeficientes de variação (CV), do pH dos conteúdos do

estômago, intestino delgado e ceco de leitões abatidos aos 35 e 50 dias de idade, em função de inclusões de celulose purificada às dietas.

Variáveis DC 1,5%CEL 3,0%CEL 4,5%CEL Dietas Experimentais1 CV(%) Regressão P

35 dias

Estômago 4,01 2,93 4,27 4,16 17,37 Cúbica 0,0073 Int. delgado 6,31 7,06 6,79 6,45 3,48 Quadrática 0,0028

Ceco 6,06 6,51 5,85 5,89 3,68 Cúbica 0,0049 50 dias Estômago 3,18 3,69 2,88 4,18 19,33 Cúbica 0,0410 Int. delgado 6,67 6,45 6,60 6,47 4,02 - 0,5996 Ceco 5,59 5,73 5,91 6,10 8,71 - 0,5446 1

DC - dieta controle; 1,5% CEL - dieta contendo 1,5% de celulose purificada; 3,0% CEL - dieta contendo 3,0% de celulose purificada e 4,5% CEL - dieta contendo 4,5% de celulose purificada.

O aumento no nível de inclusão de celulose purificada nas dietas de leitões abatidos aos 35 dias de idade, promoveu efeito quadrático (Y=- 0,27X2+1,364X+5,527 e R2 = 0,82) no pH do conteúdo do intestino delgado, sendo o maior valor estimado (7,25) com a inclusão de 2,53% de celulose às dietas. Por outro lado, o pH dos conteúdos do intestino delgado e do ceco não foi influenciado (P>0,05) pelas inclusões de celulose às dietas, nos leitões abatidos aos 50 dias de idade (Tabela 7).

A inclusão de fibra na dieta de suínos pode alterar o pH ao longo do trato gastrintestinal, como consequência da produção de AGCC, produtos da fermentação da fibra e do aumento das secreções gástricas (MONTAGNE et al. 2003).

PASCOAL (2009) avaliando fontes de fibra para leitões, não observou influência sobre este parâmetro fisiológico, em nenhuma das idades avaliadas (35 e 50 dias de idade). Os valores de pH do conteúdo do estômago observados pelo autor, assim como os verificados por JONSSON e CONWAY (1992) e DANIEL (2010), variaram na amplitude de 2,3 a 4,5, assim como os resultados do presente estudo. Os valores de pH para os conteúdos do intestino delgado e do ceco também foram semelhantes.

O menor tempo de trânsito gastrintestinal da digesta, aliado a alguns casos de diarreia dos animais, podem ter reduzido a fermentação e a produção de AGCC afetando, consequentemente, os valores de pH. A utilização do pH como indicador da fermentação depende de fatores como a produção, absorção e utilização dos AGCC pelos animais (PLUSKE et al. 1998).

Os resultados observados no presente estudo discordaram dos encontrados por HÖGBERG e LINDBERG (2004), quando avaliaram alta e baixa inclusões de fibra dietética e não verificaram diferenças nos valores de pH dos conteúdos do estômago e do intestino delgado, porém, nos conteúdos do ceco e do cólon verificaram valores mais baixos, quando os leitões consumiram a dieta com o maior nível de fibra. Com estes resultados, concluíram que a fibra dietética serviu como substrato energético para a fermentação microbiana, com subsequente produção de ácidos orgânicos e redução nos valores de pH. Entretanto, HANCZAKOWSKA et al. (2008) não observaram diferenças nos valores de pH dos conteúdos do intestino delgado e do ceco, ao avaliarem concentrações de celulose purificada nas dietas de leitões. Resultados semelhantes foram observados anteriormente por OWUSU- ASIEDU et al. (2006). Isto se deve, provavelmente, às diferentes fontes de fibra insolúvel utilizadas, pois distintos tipos de fibra estão relacionados a alterações do pH (WENK, 2001).

Tabela 8. Valores médios (mPa.s)e coeficientes de variação (CV) da viscosidade dos conteúdos do estômago, intestino delgado e ceco de leitões abatidos aos 35 e 50 dias de idade, em função de inclusões de celulose purificada às dietas.

Variáveis DC 1,5%CEL 3,0%CEL 4,5%CEL Dietas Experimentais1 CV(%) Regressão P

35 dias Estômago 0,71 0,80 0,97 0,87 27,50 - 0,4381 Int. delgado 0,88 0,71 0,68 0,80 36,16 - 0,7538 Ceco 0,60 0,85 0,67 1,04 20,35 Cúbica 0,0092 50 dias Estômago 0,81 0,82 0,71 0,81 25,94 - 0,8519 Int. delgado 0,99 0,86 0,89 0,90 12,95 - 0,4353 Ceco 0,85 0,84 0,76 0,82 16,5 - 0,7933

1DC - dieta controle; 1,5% CEL - dieta contendo 1,5% de celulose purificada; 3,0% CEL - dieta contendo 3,0% de

As inclusões de celulose purificada às dietas não influenciaram (P>0,05) as viscosidades dos conteúdos do estômago, intestino delgado e ceco em nenhuma das idades de abate avaliadas, com exceção da observada no conteúdo do ceco aos 35 dias de idade, para a qual foi encontrado efeito cúbico (Tabela 8).

Estes resultados concordaram com os estudos de HÖGBERG e LINDBERG (2004) quando avaliaram inclusões de fibra insolúvel, não verificaram diferença na viscosidade ileal de leitões desmamados. Da mesma forma, PASCOAL (2009) não observou diferença na viscosidade do conteúdo do intestino delgado de leitões alimentados com diferentes fontes de fibra. Resultados semelhantes também foram observados anteriormente por PLUSKE et al. (2003).

Contudo, OWUSU-ASIEDU et al. (2006) observaram aumento na viscosidade da digesta ileal de suínos alimentados com dietas contendo fontes purificadas de fibra solúvel (goma guar) e insolúvel (celulose), em relação ao grupo controle. Os autores atribuíram os resultados à maior quantidade de digesta não digerida no íleo distal e à capacidade de retenção de água, concluindo que a celulose purificada possui características físico-químicas, que normalmente são atribuídas exclusivamente aos PNA´s solúveis. No entanto, o experimento foi realizado com animais em crescimento e as taxas de inclusão (7%) de fibras solúvel e insolúvel, foram mais altas do que a maior concentração (4,5%) de celulose purificada utilizada no presente estudo. De modo geral, alterações nas propriedades fisiológicas promovidas pela fibra estão relacionadas ao tipo e ao processamento da fibra dietética, nível de inclusão, idade e peso do animal (MONTAGNE et al. 2003).

Considerando que mudanças na viscosidade da digesta estão relacionadas à redução na taxa de esvaziamento gástrico, devido à supressão das contrações intestinais, a digestão e a absorção de nutrientes no intestino delgado podem ser comprometidas, o que cria um microambiente no interior do lúmen intestinal favorável à proliferação de microrganismos patogênicos (McDONALD et al. 2001; BACK KNUDSEN et al. 2012). Entretanto, isso não ocorreu no presente estudo.

WELLOCK et al. (2008) sugeriram que dietas contendo PNA´s que não possuem capacidade de aumentar a viscosidade da digesta, podem ter efeito benéfico sobre a saúde intestinal de leitões desmamados.

Os resultados de viscosidade concordaram com os encontrados para o menor tempo de trânsito gastrintestinal e com os das análises microbiológicas da digesta, em função das dietas avaliadas (Tabela 9).

Tabela 9. Valores médios (logUFC/g) e coeficientes de variação (CV) das quantidades

de Escherichia coli, Lactobacillus ssp. e Clostridium perfringens, no intestino delgado de leitões abatidos aos 35 e 50 dias de idade, em função de inclusões de celulose purificada às dietas.

Variáveis DC 1,5%CEL 3,0%CEL 4,5%CEL Dietas Experimentais1 CV(%) Regressão P

35 dias E. coli. 2,033 2,313 1,979 2,000 36,49 - 0,9157 Lactobacillus 8,023 7,867 8,031 8,331 5,90 - 0,5989 50 dias E. coli. 3,615 1,994 3,248 2,091 33,57 - 0,0619 Lactobacillus 7,924 7,394 7,297 8,094 6,79 Quadrática 0,0418 Clostridium p. 1,500 1,000 2,239 1,902 10,18 - 0,1113

1DC - dieta controle; 1,5% CEL - dieta contendo 1,5% de celulose purificada; 3,0% CEL - dieta contendo 3,0% de

celulose purificada e 4,5% CEL - dieta contendo 4,5% de celulose purificada.

As quantidades de Escherichia coli e Lactobacillus spp. não foram influenciadas (P>0,05) pelas inclusões de celulose purificada, aos 35 dias de idade, bem como as de Escherichia coli e Clostridium perfringens aos 50 dias de idade. Aos 35 dias de idade, a quantidade de Clostridium perfringens, foi menor que 10 UFC/g para todas as dietas experimentais e, por isso, os resultados não foram apresentados. O aumento no nível de inclusão de celulose purificada nas dietas de leitões abatidos aos 50 dias de idade, promoveu efeito quadrático (Y = 0,314X2- 1,518X+9,171 e R² = 0,93) na contagem de Lactobacillus spp., com a menor quantidade estimada (7,34 logUFC/g) com a adição de 2,42% de celulose purificada às dietas. Não foi constatada presença de Salmonella spp. em nenhuma das idades avaliadas.

McDONALD et al. (2001) verificaram correlação positiva entre o nível de fibra solúvel e o número de bactérias patogênicas nos intestinos delgado e grosso de leitões desmamados, sugerindo que este tipo de fibra possui fatores predisponentes à diarreia, provavelmente em função do aumento na viscosidade da digesta. Estes resultados não foram observados no presente estudo para as inclusões de fibra

insolúvel, pois não houve diferença nas concentrações de bactérias patogênicas e nem na viscosidade da digesta.

OWUSU-ASIEDU et al. (2006) ao avaliarem a inclusão de fontes purificadas de fibra, verificaram menores concentrações de Clostridium spp. e Lactobacillus spp. e maior de enterobactérias no íleo de animais alimentados com dietas contendo fibra insolúvel, enquanto os alimentados com fonte de fibra solúvel apresentaram maiores quantidades de Lactobacillus spp., Clostridium spp., enterobactérias e Enterococcus spp. Os resultados foram atribuídos à maior viscosidade da digesta e à menor digestibilidade dos nutrientes, pois fibras solúvel e insolúvel são digeridas em diferentes taxas e promovem crescimento específico de populações bacterianas (DREW et al. 2002).

A utilização de fibra dietética insolúvel nas dietas de leitões desmamados, dentre outros efeitos, aumenta o desenvolvimento da função intestinal. Esse benefício pode influenciar a motilidade e o tempo de trânsito gastrintestinal da digesta, o que reduz a disponibilidade de substrato para o crescimento de bactérias, sejam elas benéficas ou não (STAGONIAS e PEARCE, 1985; PLUSKE et al. 2003 e MATEOS et al. 2006).

A literatura científica é divergente no que se refere aos efeitos da inclusão de fibras solúvel e insolúvel em dietas de leitões recém-desmamados sobre a microbiota intestinal. O estudo de HERMES et al. (2009) demonstrou redução no número de enterobactérias e Escherichia coli nas fezes de leitões desmamados com o aumento no nível de inclusão de FDN nas dietas, o que sugere melhora na saúde intestinal dos animais. Por outro lado, a inclusão de celulose purificada não afetou a quantidade de Escherichia coli no intestino delgado e nem no ceco de leitões (HANCZAKOWSKA et al. 2008). Em adição, ao avaliarem dietas contendo polpa de beterraba (fibra solúvel) ou farelo de trigo (fibra insolúvel), MOLIST et al. (2009) não detectaram diferença no número de Lactobacillus, embora tenham observado redução na contagem de enterobactérias, independentemente das fontes de fibras utilizadas.

Tabela 10. Valores médios e coeficientes de variação (CV) de CD5, CD4 em CD5 e

CD8 em CD5 (log%células) das Placas de Peyer localizadas no íleo de leitões abatidos aos 35 e 50 dias de idade, em função de inclusões de

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