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2 CERCAS VIVAS E USOS LOCAIS DE BROMELIA ANTIACANTHA – UM ESTUDO ETNOBOTÂNICO NO

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 1 Caracterização dos informantes

O contato com pessoas chave e as indicações pelo método bola de neve resultaram no reconhecimento de 42 informantes dos quais 41 foram entrevistados e um dos indicados não foi encontrado. Dentre os informantes entrevistados 36 (87%) foram homens, 3 foram mulheres e, em um dos casos, a entrevista foi realizada com o casal.

A maioria das pessoas entrevistadas (51%; n=21) declararam ter origem étnica mista, os demais informantes se autodeclaram descentes de alemães (12%; n=5), poloneses (12%; n=5), brasileiros (15%; n=6), ucranianos (7%; n=3) e portugueses (2%; n=1) (Figura 6).

12% 15% 51% 12% 2% 7% Alemã Brasileira Mista Polonesa Portuguesa Ucraniana

Figura 6. Caracterização da origem étnica dos informantes entrevistados nas comunidades da Campininha, São João dos Cavalheiros, Colônia Tigre, Barra Grande, Volta dos Pereira, no Município de Três Barras, SC; e nos Municípios de Canoinhas, Irineópolis e Major Vieira, NPFT/UFSC, 2014.

A média de idade dos informantes foi de 61 anos (s=13), variando de 36 a 88 anos. Dos informantes, 54% (n=22) estavam na faixa entre 50 e 70 anos, 32% (n=13) apresentavam mais de 70 anos e 15% menos de 50 anos (Tabela 3). A permanência média da família na propriedade onde vive atualmente foi de 43 anos (s=24), o que, analisado em conjunto com a idade média dos informantes, evidencia que há uma boa consistência da relação com o meio (Tabela 3).

É importante ressaltar que para o tempo de permanência, foi considerado o tempo de residência na casa onde foi realizada a entrevista. Quando considerado o tempo de residência na comunidade, o período médio de permanência é igual à média de idade em 71% dos casos, pois 29 dos 41 entrevistados nasceram nas comunidades onde moram. Desta forma 92% (n=38) dos entrevistados são naturais do Planalto Norte, 2% (n=1) são naturais de outras regiões do estado e 5% (n=2) naturais de outros estados (Figura 7A).

Tabela 3. Perfil dos informantes entrevistados no Planalto Norte Catarinense - idade e tempo de permanência na propriedade. NPFT/UFSC, 2014.

Categoria N Média (s) Menos de 50 anos 7 42 (5) De 50 a 70 anos 23 58 (5) Mais de 70 anos 11 78 (5) Total 41 61 (13) Menos de 10 anos 4 6 (2) De 10 a 29 anos 9 19 (5) De 30 a 49 anos 9 38 (7) De 50 a 69 anos 10 56 (5) Mais de 70 anos 9 75 (5) Total 41 43 (24) Idade (anos)

Tempo de permanência na propriedade (anos)

n = número de sujeitos na amostra. n = desvio padrão

27% 22% 2% 34% 5% 2% 5% 2% 90%

Campininha - Três Barras, SC São João dos Cavalheiros - Três Barras, SC Volta dos Pereira - Três Barras, SC Barra Grande - Três Barras, SC Colônia Trigre - Três Barras, SC Canoinhas, SC Major vieira Irineópolis 92%

2% 5%

Municípios Planalto Norte Catarinense Outras Regiões

Outros estados

A B

Figura 7. Caracterização dos informantes e locais das entrevistas, apresentada em A- Naturalidade dos informantes e B - Municípios do Planalto Norte nos quais foram realizadas as entrevistas. NPFT/UFSC, 2014.

Dentre os municípios do Planalto Norte foram realizadas entrevistas em: Canoinhas (2%; n=1); Irineópolis (2%; n=1), Major Vieira (5%; n=2) e principalmente em Três Barras (90%; n=37), onde se destacaram as comunidades da Barra Grande onde foram realizadas 34%

das entrevistas (n=14), a Campininha 27% (n=11), São João dos Cavalheiros 22% (n=9), Colônia Tigre 5% (n=2) e Volta dos Pereira 2% (n=1) (Figura 7B).

Todos os informantes têm ou tiveram cercas de caraguatá em sua propriedade em algum momento. Dos 41 informantes somente 7% (n=3) não possuíam mais cercas na sua propriedade na data da visita. Dentre estes, apenas 5% (n=2) informantes mencionaram denominações diferentes para B. antiacantha: um deles, natural de Corupá-SC, a conheceu como gravatá e outro natural de Pernambuco, de “mancambira” fazendo menção a uma planta da sua região de origem que lembra o caraguatá. Apesar disso, por estarem na região do Planalto Norte a mais de 15 anos e pelo contato com os vizinhos e demais moradores locais, hoje também a chamam de caraguatá, nomenclatura unânime utilizada na região para designar a espécie.

A família nuclear (irmãos e principalmente os pais) foi a principal responsável pela transmissão dos conhecimentos sobre o caraguatá (58% dos casos; n=24) (Figura 8). Os informantes relataram conhecer a espécie desde crianças, pois esta planta sempre esteve presente nas propriedades de forma abundante. Lembram-se de se espinhar ao ajudarem os pais nas roçadas, na lida com os animais, na confecção das cercas vivas e de tomarem o xarope feito com as frutas.

29% 59% 2% 5% 5% Família extensa Família nuclear Família nuclear/vizinhos Conhecidos Mudança para comunidade

Figura 8. Principais responsáveis pela transmissão do conhecimento sobre o caraguatá. NPFT/UFSC, 2014.

A família extensa (sogros, primos, tios e principalmente os avós) também teve um papel importante no conhecimento sobre o caraguatá sendo responsável por 30% (n=12) das citações dos

entrevistados. Além destes outros responsáveis pelo conhecimento da espécie foram apontados como: os vizinhos junto com a família nuclear (2%; n=1), a mudança da família para a comunidade (5%; n=2) e os conhecidos (5%; n=2) (Figura 8).

2.3.2 As cercas vivas de caraguatá do Planalto Norte

As entrevistas foram focadas nas famílias ou pessoas que possuem cercas ou que fazem cercas vivas de caraguatá. Durante as entrevistas surgiram vários aspectos relacionados à forma de confecção das cercas, sendo detalhada a forma de como é feita atualmente, e de como os pais, avós e vizinhos fizeram as cercas. As informações envolveram um aprofundamento no entendimento de como são, ou foram, obtidas as partes para propagação vegetativa (mudas2) nos ambientes de ocorrência da espécie até os cuidados após o plantio. Assim cada cerca tem uma peculiaridade e uma história.

A confecção de uma cerca de caraguatá pode ser dividida em três principais passos (Figura 9). Primeiramente deve-se providenciar as mudas, que após localizadas passam por um desbaste de folhas para facilitar o manejo. Em seguida as mudas são arrancadas com foice e transportadas para o local da confecção. O segundo passo envolve a preparação do local, onde um pequeno sulco (20cm profundidade) é aberto e dois fios de arame ou ainda taquaras são posicionados ao lado do sulco não chão. O terceiro passo é o plantio propriamente dito onde as mudas são “boleadas” (colocadas) no sulco com o auxílio de uma forquilha de madeira de cabo longo; em seguida basta cobrir com um pouco de terra.

2 No contexto desta tese, as mudas referem-se às rosetas de B. antiacantha coletadas e transplantadas de um local para outro independente do tamanho ou origem (semente ou brotação). Trata-se de um dos termos utilizados pelos agricultores para esta situação. Outro termo utilizado com a mesma finalidade é “cabeça”.

PROVIDENCIAR AS

MUDAS Arrancar as cabeças (mudas), com foice

Desbaste de algumas folhas da muda para facilitar o manuseio (foice ou facão)

Transportar as mudas para o local da cerca (carroça/trator)

PREPARO DO LOCAL