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A seguir serão apresentados os resultados do estudo subdivididos, a saber: referente ao cumprimento da etapa da investigação da consistência interna e da fidedignidade por intermédio do método teste-reteste (Etapa A), e, em seguida, o estudo que buscou identificar a estrutura fatorial e as evidências de validade externa da VASS (Etapa B).

Ressalta-se que na presente pesquisa predominou participantes do sexo feminino, o que tem sido atribuído a maior longevidade destas em relação aos homens, bem como em razão destas procurarem com mais assiduidade e frequência serviços de saúde e espaços de convivência para idosos (Ferreira, Mata, Santos, Maia & Maia, 2010; Ferreira, Santos & Maia, 2012). Destaca-se ainda que na população investigada predomina um perfil de idosos que reside em lares multigeracionais e que ficam boa parte do dia acompanhado de filhos e/ou netos, compatível com o perfil apontado na literatura.

5.1) ETAPA A: EVIDÊNCIAS DE CONSISTÊNCIA INTERNA E EVIDÊNCIAS DE FIDEDIGNIDADE PELO MÉTODO TESTE-RETESTE

A amostra de participantes do estudo caracteriza-se, em sua maioria, por mulheres (n = 47, 37,3%), com idade variando de 60 a 84 anos (M: 70,05; DP: ±7,298) e que residem com duas a oito pessoas (M: 4,24; DP: ±1,469). Os demais dados de caracterização sociodemográfica pode ser visualizado na tabela 1.

Tabela 1. Dados sociodemográficos da população de idosos pesquisados na Etapa A. Variáveis f % Sexo Feminino 47 62,7 Masculino 28 37,3 Faixa Etária 60 a 64 22 29,3 65 a 69 19 25,3 70 a 74 8 10,7 75 a 79 15 20,0 80 a 84 11 14,7 Distrito Interior 19 25,3 Leste 19 25,3 Norte 15 20,0 Sul 13 17,3 Oeste 9 12,0

Estado Civil (Casado) Sim 50 66,7

Não 25 33,3 Nível de Escolarização Nunca estudou 13 17,3 Ensino fundamental 35 46,7 Ensino Médio 17 22,7 Ensino superior 10 13,3

Fica sozinho(a) a maior parte do dia? Sim 16 21,3

Não 59 78,7

Renda própria, pensão ou aposentadoria? Sim 62 82,7

Não 13 17,3

Renda Familiar Até 2 SM 46 61,3

Acima 2 SM 29 38,7

Incapacitado(a) de realizar alguma atividade por motivo de saúde nos últimos seis meses?

Sim 9 12,0

Não 66 88,0

Sofreu quedas nos últimos seis meses? Sim 11 14,7

Não 64 85,3

Legenda: Variáveis: aspecto sociodemográfico investigado; f: frequência absoluta; %: porcentagem.

O valor do KR-20 para o escore geral do instrumento foi de 0,696 (IC95%: 0,677-0,714). A Tabela 2sintetiza os resultados de consistência interna do instrumento total e por subescala, respectivamente Vulnerabilidade, Dependência, Desanimo e Coerção, consolidadas conforme o perfil do estudo original (Schofield, Reynolds,

Mishra, Powers & Dobson, 2002; Schofield & Mishra, 2003). Destacam-se também os valores da consistência interna com a retirada dos itens, tanto referente ao valor total quanto ao valor da subescala.

Tabela 2. Confiabilidade: consistência interna da versão brasileira do instrumento

Vulnerability to Abuse Screening Scale (VASS).

Escala Item Consistência interna Subescalas Consistência interna

KR-20* KR-20(k-1)** KR-20* Total 0,696 Vulnerabilidade 0,553 01 0,639 02 0,651 03 0,647 Dependência 0,332 04 0,713 05 0,673 06 0,701 Desânimo 0,563 07 0,679 08 0,651 09 0,642 Coerção 0,339 10 0,702 11 0,691 12 0,687

Legenda: *: Em parênteses: limite de confiança inferior de 95%; **: Estimativa do coeficiente ao excluir o item do escore total; Negrito: valores superiores com a retirada do item.

Os valores encontrados para as quatro dimensões propostas variaram entre 0,332 a 0,563. Pode-se considerar que apenas os valores de consistência interna das subescalas Vulnerabilidade e Coerção mostraram-se aproximados aos encontrados no estudo original, sendo 0,550 e 0,390, respectivamente (Schofield, Reynolds, Mishra, Powers & Dobson, 2002). Verifica-se que com a retirada dos itens nº 04, nº 06 e nº 10, há aumento do índice de consistência interna da escala total.

A análise da consistência interna pretende calcular a correlação existente entre cada item do teste e o restante dos itens, ou o escore total dos itens. Esta análise é feita com a finalidade de garantir que os itens representem um construto de forma unidimensional (Pasquali, 2013). A consistência interna encontrada no presente estudo é considerada moderada para o instrumento como um todo. O valor de consistência interna encontrado no presente estudo (KR-20 = 0,696) são semelhantes a estudos anteriores, como em Maia e Maia (2016), que encontraram um KR-20 de 0,688, e Dantas, Oliveira e Silveira (2017), que verificaram um KR-20 de 0,690.

Como apontam Streiner e Norman (1995), valores de consistência interna da grandeza dos encontrados nos estudos supracitados, que evidenciam consistência interna de moderada a boa, são corriqueiros em se tratando de instrumentos de rastreio breve. Valores superiores aos mensurados no presente estudo apenas seriam obtidos com o acréscimo de itens ao instrumento.

Já Urbina (2007) assinala que estimativas abaixo de 0,70 podem sugerir que o escore derivado do teste pode não ser muito confiável. Diante disso, pode-se inferir que o aumento dos índices de consistência interna em função da retirada de um item pode indicar que o mesmo pode não ser preciso para mensurar o constructo pretendido.

Pilatti, Pedroso e Gutierrez (2010) sinalizam que vão existir fatores que podem influenciar no aumento ou diminuição da consistência interna de um instrumento, dentre os quais se ressaltam: a) o número de itens, pois um número pequeno de itens pode não ser representativo para investigar o constructo pretendido na população estudada, ou um número extenso de itens pode ocasionar respostas imediatas e impulsivas, levando a tendência também a itens sem respostas; b) o tempo de aplicação do questionário, uma vez que quando utiliza-se um intervalo de tempo pré-estabelecido pode se ocasionar

itens sem resposta; c) a amostra de sujeitos investigados, a amostra de participantes pode reduzir a confiabilidade do instrumento, não sendo recomendado a homogeneidade da amostra.

No que tange a avaliação de fidedignidade pelo método do teste-reteste fora verificado um Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC) de 0,991 (IC95%: 0,984- 0,994) e o Kappa de Fleiss de 0,892. Ambos os resultados indicam excelente fidedignidade do teste indicado pelo método do teste-reteste.

A fidedignidade, também intitulada de precisão, de um teste se refere à capacidade que ele deve possuir de medir sem erros, quer seja de medir os mesmos sujeitos em ocasiões diferentes ou na mesma ocasião, com um teste equivalente, obtendo-se resultados idênticos (Pasquali, 2013). Os resultados da fidedignidade aqui apresentados demonstraram excelente precisão do teste para avaliar o constructo em questão, visto que os valores da correlação intraclasse e de concordância, medidos respectivamente pelo ICC e o Kappa de Fleiss estão quase próximos de 1, o que sugere correlação ou concordância quase perfeita, conforme aponta Landis e Koch (1977).

5.2) ETAPA B: ESTRUTURA FATORIAL, EVIDÊNCIAS DE VALIDADE DE CRITÉRIO E VALIDADE EXTERNA

De modo geral, a amostra foi composta em sua maioria por mulheres (n = 141, 70,9%) com idade variando de 60 a 84 anos (M: 67,96; DP: ±6,45) e que residem com cerca de uma a oito pessoas no domicílio (M: 4,07; DP: ±1,36). Os demais dados de caracterização da amostra podem ser observados na tabela 3.

Tabela 3. Dados sociodemográficos da população de idosos pesquisados na Etapa B. Variáveis f % Sexo Feminino 141 70,9 Masculino 58 29,1 Faixa etária 60 a 64 73 36,7 65 a 69 58 29,1 70 a 74 27 13,6 75 a 79 25 12,6 80 a 84 16 8 Região de residência Interior 59 29,6 Sul 55 27,6 Leste 36 18,1 Norte 29 14,6 Oeste 20 10,1 Estado Civil (Casado) Sim 145 72,9 Não 54 27,1

Fica só a maior parte do dia? Sim 40 20,1

Não 159 79,9 Escolaridade Nunca estudou 14 7 Ensino fundamental 60 30,2 Ensino Médio 82 41,2 Ensino superior 43 21,6

Renda própria, pensão ou aposentadoria? Sim 176 88,4

Não 23 11,6

Renda familiar Até 2 SM 166 83,4

Acima 2 SM 33 16,6

Incapacitado(a) de realizar alguma atividade por motivo

de saúde nos últimos seis meses? Sim 32 16,1

Não 168 83,9

Sofreu quedas nos últimos seis meses? Sim 35 17,6

Não 164 82,4

Legenda: Variáveis: aspecto sociodemográfico investigado; f: frequência absoluta; %: porcentagem.

No que tange aos resultados referentes a VASS, verifica-se que a pontuação na escala variou de 0 a 10 (M: 3,72; DP: ±2,26). Outros dados descritivos, como mediana, moda, e percentis, podem ser visualizados na Tabela 4.

Tabela 4. Dados psicométricos descritivos da VASS-Br. Variáveis Valores n 199 Média 3,72 Mediana 3,00 Moda 3 DP 2,257 Minimo 0 Máximo 10 Percentis 25 2,00 50 3,00 75 5,00

Legenda: n: número amostral; DP: Desvio padrão.

O teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), com valor igual a 0,57, indicou adequação mediana da amostra, contudo aceitável à análise fatorial, tendo em vista que são indicados à análise fatorial valores de KMO ≥ 0,50. A significância estatística do teste de esfericidade de Bartlett (x²= 618,200; df = 66; p > 0,001) indica satisfatória adequação para proceder a análise fatorial.

Quatro fatores atenderam ao critério de Kaiser-Guttman. Este critério sugere que a extração dos fatores se dê quando o autovalor (eigenvalue) do fator for maior 1,0 (Damásio, 2012). Seguindo essa lógica, extraíram-se quatro fatores, conforme mostra a figura 01. Já a distribuição dos itens em função dos fatores e suas comunalidades podem ser visualizadas na tabela 5.

Figura 01. Gráfico da distribuição dos fatores pela análise paralela com base na análise dos componentes principais na primeira análise fatorial.

Tabela 5. Análise fatorial da versão em português da Escala de Screening da Vulnerabilidade ao Abuso (VASS-Br).

Item Fator 1 Fator 2 Fator3 Fator 4 Comunalidades

(%) VASS01 0,070 0,860 0,127 0,050 0,76 VASS02 0,222 0,224 0,758 -0,088 0,68 VASS03 0,460 0,177 0,465 -0,166 0,50 VASS04 -0,434 0,331 0,508 -0,082 0,56 VASS05 0,504 0,507 0,212 0,150 0,57 VASS06 -0,041 -0,205 0,226 -0,611 0,47 VASS07 0,765 -0,053 0,061 -0,191 0,63 VASS08 0,773 0,128 0,179 0,067 0,65 VASS09 0,078 0,889 0,080 -0,027 0,80 VASS10 0,021 -0,164 0,294 0,756 0,69 VASS11 0,026 -0,182 0,794 0,212 0,71 VASS12 0,549 0,114 0,016 0,249 0,48 Autovalor 2,833 1,751 1,664 1,149 % da variância explicada (cumulativo) 23% (--) 14% (38%) 13% (52%) 10% (61%) Legenda: Item: item do instrumento VASS; %: porcentagem.

A análise fatorial via componentes principais foi realizada com todos os 12 itens da escala. Inicialmente, as cargas fatoriais variaram de 0,226 a 0,889, com comunalidades entre 0,47 e 0,80. Ressalta-se que ocorreu a alocação exclusiva de apenas um item em um fator (item nº 10 no fator 4).

A comunalidade indicará a proporção da variância do item para o componente extraído. Usualmente se aceita o valor 0,50, logo, valores abaixo desse patamar devem levar o pesquisador a analisar, excluir e refazer a análise fatorial. Quanto a carga fatorial do item, adota-se o valor maior que 0,40 como limite mínimo aceitável da contribuição da variável na criação do fator, objetivando lidar com eventuais problemas acerca da indeterminação da relação entre a variável e o respectivo fator de alocação (Figueiredo Filho & Silva Júnior, 2010).

Diante disto, por constatar-se baixa carga fatorial da variável nº 06 (0,226) e baixa comunalidade desse item (0,47) foi realizada uma nova análise excluindo essa

variável, objetivando verificar o comportamento dos itens restantes e dos fatores a serem extraídos com esta nova configuração, de 11 itens. Optou-se por manter o item nº 12, que apesar de apresentar baixa comunalidade (0,48), apresentou carga fatorial acima do mínimo esperado.

Nesta segunda análise fatorial exploratória, o teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) apresentou valor igual a 0,56, valor que indica adequação aceitável à análise fatorial. O teste de esfericidade de Bartlett (x²= 605,422; df = 55; p > 0,001) indica satisfatória adequação para realização da análise fatorial. Novamente obtiveram-se quatro fatores atendendo ao critério de Kaiser, conforme mostra a figura 02. Já a segunda distribuição dos itens em função dos fatores e suas comunalidades podem ser visualizadas na tabela 6.

Figura 02. Gráfico da distribuição dos fatores pela análise paralela com base na análise dos componentes principais na segunda análise fatorial.

Tabela 6. Segunda análise fatorial da versão em português da Escala de Screening da Vulnerabilidade ao Abuso (VASS-Br).

Item Fator 1 Fator 2 Fator3 Fator 4 Comunalidades

(%) VASS01 0,045 0,886 0,146 0,036 0,81 VASS02 0,207 0,198 0,744 0,140 0,65 VASS03 0,456 0,054 0,605 -0,286 0,66 VASS04 -0,440 0,231 0,593 -0,128 0,61 VASS05 0,497 0,572 -0,220 0,047 0,62 VASS07 0,756 -0,059 0,091 -0,125 0,60 VASS08 0,771 0,136 0,189 0,043 0,65 VASS09 0,052 0,874 0,156 -0,122 0,80 VASSS10 0,045 -0,015 0,060 0,881 0,78 VASS11 0,030 -0,162 0,680 0,448 0,72 VASS12 0,558 0,156 -0,008 0,144 0,51 Autovalor 2,827 1,724 1,658 1,068 % da variância explicada (cumulativo) 25% (--) 15% (41%) 15% (56%) 10% (66%) Legenda: Item: item do instrumento VASS; %: porcentagem.

Nesta segunda análise fatorial, com os 11 itens restantes verificaram-se cargas fatoriais que variaram de 0,558 a 0,886, com comunalidades entre 0,51 a 0,81. Manteve- se a alocação exclusiva de apenas um item em um fator, neste caso novamente o item nº 10 no fator 4.

O fator 1 preservou os itens 07, 08 e 12 e as comunalidades desse fator variaram entre 0,51 a 0,65 e corresponderam a 25% da variância explicada. O fator 2contém os itens 01, 05 e 09, com comunalidades entre 0,62 a 0,81 e correspondendo a 15% da variância. O fator 3 congrega os itens 02, 03, 04, 11, comunalidades entre 0,61 a 0,72 e 15% da variância. E, por fim, o fator 4 agrega apenas o item 10, com carga fatorial de 0,881, comunalidade de 0,78 e 10% de variância explicada.

Quando comparados a distribuição dos itens neste estudo com a proposta original verifica-se que os fatores destoam (Schofield & Mishra, 2003). Quando

comparados com outras pesquisas, como o estudo das propriedades psicométricas da VASS elaborado por Dantas, Oliveira e Silveira (2017), verifica-se também que os resultados não coadunam com a organização fatorial do instrumento original.

O primeiro fator reúne os itens nº 07, 08 e 12, que são itens que tem como conteúdo ou temática a ocorrência de situações de exclusão e desrespeito à pessoa idosa, uma vez que o inquirem sobre sentir-se só, sentir-se excluído ou ter pertences seus tomados de si. Este fator aproxima-se a dimensão intitulada Desânimo, encontrado no estudo original (Mishra&Schofield, 2003; 2004).

Já o fator 2, que contempla os itens nº 01, 05 e 09, investigam situações que envolvem uma relação de confiança que o idoso tem em relação aos seus familiares e a quebra desta, uma vez que questionam o idoso sobre ele ter medo de algum familiar, se ele confia em seus familiares e se ele se sente incomodado na presença de algum familiar seu, respectivamente.

O Fator 3, que congrega a maior quantidade de itens (nº 02, 03, 04 e 11) parecem tratar de situações em que há efetivação de maus tratos, físicos ou psicológicos, averiguando situações de agressões físicas e verbais, situações de negligência e de coerção. Este fator aproxima-se da dimensão intitulada Vulnerabilidade proposta na pesquisa original do instrumento (Mishra & Schofield, 2003; 2004).

Por fim, o último fator, Fator 4, contempla o item nº 10, que trata do fenômeno de infantilização do idoso e/ou patologização da velhice, uma vez que o item questiona sobre situações em que lhe é retirada a autonomia e a independência. Conforme aponta Maia, Londero e Henz (2008) a percepção sobre a patologização da velhice é amplamente difundida e compartilhada no ideário social, em função do modelo

biomédico difundir a concepção de que a velhice é associada a doença, a dependência e perdas físicas e psicossociais.

A ocorrência de diferentes itens ocupando os quatro fatores pode estar relacionada as diferenças socioculturais que se manifestam entre o país de origem e de destino do instrumento, bem como em razão das idiossincrasias verificadas quanto ao que caracteriza o fenômeno da violência entre esses dois países. Além disso, aspectos relativos ao número amostral de respondentes também pode acarretar instabilidades na fatoração (Damásio, 2012).

A evidência de validade de critério foi avaliada por intermédio da comparação do escore médio da VASS-Br com o item nº 02, 03 e 12. Os itens em questão inquirem o participante, respectivamente, sobre ele ter sido machucado ou maltratado por alguém próximo, se ele sofreu alguma ofensa ou se alguém o fez sentir-se mal e, por fim, se alguém pegou coisas que lhe pertenciam sem sua permissão, as quais avaliação agressões físicas, violência psicológica e financeira, respectivamente.

A tabela 7 demonstra os resultados da comparação entre a média do escore dos respondentes nos itens em questão.Esses dados corroboram para demonstrar a sensibilidade da VASS-Br em aferir ocorrência de episódios de abusos, maus tratos e violência, uma vez que sujeitos que autorrelatam sofrer maus tratos físicos, agressões psicológicas e apropriação indevida de pertences seus, tem escore médio superior a indivíduos que não vivenciam tais situações, e essa diferença no escore é estatisticamente significativa.

Tabela 7. Comparação do escore médio da VASS-Br pelo Teste t de Student.

Item Sim Não p

n M n M

Alguém próximo a você tentou lhe machucar ou maltratar

recentemente? 30 7,03 169 3,13 <0,001*

Alguém próximo a você lhe ofendeu, colocou para baixo ou o(a)

fez sentir-se mal recentemente? 109 4,94 90 2,23 <0,001*

Alguém pegou coisas que lhe pertencem sem a sua permissão? 34 5,91 165 3,27 <0,001* Legenda: Item: item utilizado para verificar evidência de validade de critério; n: frequência absoluta; M: média do escore na VASS; p: valor da significância estatística do teste T de Student; *: p valor muito significativo (p<0,001).

Ademais, ressalta-se que foram investigadas as evidências de critério baseadas no comportamento da VASS em relação a variáveis externas associadas ao constructo investigado. Para o presente estudo, optou-se por verificar as evidências de validade externa da VASS-Br com o apoio social percebido e sintomas depressivos.

Tal escolha justificou-se, pois a literatura tem apontado que esses constructos apresentam relação preditiva e/ou concorrente ao fenômeno da violência. Contudo, no presente estudo, verificaram-se apenas evidências de validade externa com sintomas depressivos. O escore médio para apoio social foi de 85,95 (DP: ±11,65). Já para os sintomas depressivos, o escore médio foi de 4,45 (DP: ±2,36). A tabela 8 demonstra os resultados obtidos quanto aos dois constructos investigados.

Tabela 8. Correlação entre apoio social e depressão com VASS-Br.

Variáveis

GDS-15 EAS

VASS-Br r 0,540 -0,138

p <0,001* 0,510

Legenda: Variáveis: constructoutilizado para verificar evidência de validade externa; r: correlação de Pearson; p: valor da significância estatística do teste Correlação de Pearson; *: p valor muito significativo (p<0,001).

Estes achados, que demonstram que o fenômeno da violência se correlaciona com a presença de sintomas depressivos, aproximam-se com os resultados obtidos por

Dong, Beck e Simon (2010), os quais verificaram que a sintomatologia de depressão estava associada com maior risco de violência entre os idosos, especialmente para as mulheres, neste estudo.Resultados semelhantes também foram verificados pelo estudo de Dantas, Oliveira e Silveira (2017), em que a presença de sintomas depressivos demonstrou associação com o aumento no escore da VASS.

Por outro lado, o apoio social, assim como as subdimensões medidas pela Escala de Apoio Social, não se mostrou correlacionados com o risco à violência. Ressalta-se que a população do presente estudo reside em multigeracionais, permanece expressiva parte do seu dia acompanhado de filhos e/ou netos, e realiza atividades regulares de participação em grupos de convivência, o que pode interferir na avaliação do apoio social percebido. Este resultado destoa de dados encontrados na literatura, que mostraram correlação negativa entre o apoio social percebido e o risco de violência (Dong, Beck & Simon, 2010; Dong & Simon, 2008; 2010a; 2010b).

Os dados aqui encontrados sugerem evidências de fidedignidade e de validade de constructo e critério que destoam da proposta original australiana. Ressalta-se que as evidências psicométricas encontradas no presente estudo indicam que os resultados são satisfatórios, mas apontam a necessidade de novos estudos acerca das propriedades psicométricas do instrumento na versão aqui apresentada. A VASS-Br pode apresentar- se enquanto um instrumento sensível e com boas evidências psicométricas, podendo ser indicado o seu uso em contextos de pesquisa.

Ademais, destaca-se que este instrumento, não deve ser utilizado por si só na investigação da violência contra o idoso. É necessário que ele esteja contextualizado e componha um protocolo de avaliação, que reúna diversos procedimentos, instrumentos

e tecnologias das mais diversas para auxiliar na detecção da violência contra a pessoa idosa.

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