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Evidências psicométricas da Escala de Screening da Vulnerabilidade ao Abuso (VASS-Br): instrumento de investigação da violência doméstica contra idosos

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES – CCHLA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA – PPGPSI. EVIDÊNCIAS PSICOMÉTRICAS DA ESCALA DE SCREENING DA VULNERABILIDADE AO ABUSO (VASS-BR): INSTRUMENTO DE INVESTIGAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA IDOSOS. RODRIGO DA SILVA MAIA. NATAL-RN 2017.

(2) ii. RODRIGO DA SILVA MAIA. Evidências psicométricas da Escala de Screening da Vulnerabilidade ao Abuso (VASS-Br): instrumento de investigação da violência doméstica contra idosos. Tese elaborada sobre orientação da Dra. Eulália Maria Chaves Maia e apresentada ao. Programa. de. Pós-Graduação. em. Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Psicologia.. Natal-RN 2017.

(3) iii. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA Maia, Rodrigo da Silva. Evidências psicométricas da Escala de Screening da Vulnerabilidade ao Abuso (VASS-Br) : instrumento de investigação da violência doméstica contra idosos / Rodrigo da Silva Maia. Natal, 2018. 106f.: il. color. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Orientador: Prof. Dra. Eulália Maria Chaves Maia.. 1. Idoso - Maus tratos - Tese. 2. Violência doméstica - Idoso - Tese. 3. Psicometria - Tese. I. Maia, Eulália Maria Chaves. II. Título. RN/UF/BSCCHLA. CDU 159.938.

(4) iv. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA. A tese “EVIDÊNCIAS PSICOMÉTRICAS DA ESCALA DE SCREENING DA VULNERABILIDADE AO ABUSO (VASS-BR)”, elaborada por Rodrigo da Silva Maia, foi considerada aprovada pelos membros da Banca Examinadora e aceita pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia, como requisito parcial à obtenção do título de DOUTOR EM PSICOLOGIA.. Natal, RN, 18 de dezembro de 2017. BANCA EXAMINADORA. ___________________________________________ Profa. Dra. Eulália Maria Chaves Maia - UFRN (Presidente da Banca). ___________________________________________ Profa. Dra. Izabel Augusta Hazin - UFRN (Examinadora Interna). ___________________________________________ Prof. Dr. Gilson de Vasconcelos Torres - UFRN (Examinador Interno). ___________________________________________ Profa. Dra. Heloísa Gonçalves Ferreira - UFTM (Examinadora Externa). ___________________________________________ Prof. Dr. Remerson Russel Martins - UFERSA (Examinador Externo).

(5) v. “Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão (...)”. FRAGMENTO DO ART. 4º DO ESTATUTO DO IDOSO.

(6) vi. À minha família, Silvio (pai), Joni (mãe), Adrielle e Marcelle (irmãs)..

(7) vii. AGRADECIMENTOS. Primeiramente, o agradecimento vai para Deus, que me trouxe ao mundo através de meus pais, Silvio (pai) e Joni (mãe) e me colocou em uma família que não poderia ser diferente, ainda mais com a companhia das minhas amadas irmãs Adrielle e Marcelle. Agradeço a vocês por serem afeto para mim. Meu muito obrigado! À família estendida como um todo, por todos os ensinamentos e experiências com quem tive a oportunidade de compartilhar. Tia Josy, Lucca e Eric, Vovó Terceira, Vovô Zé, Tia Silvia, Vovó Enide (in memoriam), Tia Silvana, Nathália e Bia, Tia Santa, Tia Sônia (in memoriam) e todos os demais familiares, que contribuíram direta ou indiretamente para a formação do sujeito que hoje sou, meus agradecimentos. À minha orientadora e segunda mãe, Profa. Dra. Eulália Maria Chaves Maia, que como mãe adotiva soube ensinar com maestria, ensinando não apenas o exercício da pesquisa, mas também da docência e ensinamentos para meu engrandecimento pessoal e humano, meu imenso agradecimento. Pela acolhida, pelo investimento, pela disponibilidade, pelo carinho e atenção a você eu sou imensamente grato. Aos irmãos adotivos, Carol, Anna Cecília e Fernando também vão o meu agradecimento, por dividir a mãe deles comigo. Aos amigos do coração, Dudu, Diego, Luiz, Lizi, Stanley, Gleyciana, Stephanie, Emídio, Dany e Pablo, e muitos tantos que prefiro aqui não citar nomes, pois são muitos, eu agradeço imensamente pelo tempo de diversão, choradeiras, discussões e crescimento que vivenciei ao lado de vocês. Aos mais próximos, que.

(8) viii. vejo no dia-a-dia, meu muito obrigado. Aos mais distantes, sinto a falta de vocês diária e incessantemente. A vocês eu agradeço, meu imenso obrigado! Aos amigos que compõem e compuseram o grupo de pesquisa Grupo de Estudo: Psicologia e Saúde (GEPS), em especial a Ádala, Camomila, Liliane, Hedyanne, Luciana Carla, Luciana Revorêdo, Daniella, Maihana, Maria Aurelina, Profa. Dra. Neuciane Gomes, e aos demais que posso ter deixado de citar, o meu muitíssimo obrigado por tudo que dividi e aprendi com vocês. Aos amigos da UFRN, de trabalho e de instituição, que fizeram ou fazem dos dias momentos melhores e agradáveis. Meus agradecimentos a vocês, meu obrigado! Ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRN (PPGPsi/UFRN)e à UFRN pela acolhida e suporte ao longo desses dez anos e os muito mais que virão! Aproveito para agradecer aos professores que compuseram a banca de defesa desta Tese, pois suas contribuições são ímpares para o desenvolvimento deste trabalho e seu engrandecimento. Meu imenso agradecimento! Por fim, agradeço imensamente a todos os idosos que contribuíram para a construção do meu interesse sobre o ser idoso, bem como para a elaboração deste trabalho. Debruçar-me sobre o universo da Psicologia do Envelhecimento e da “Psicogerontologia” foi uma das experiências mais gratificantes para mim. Ouvir as suas histórias de vida, seus projetos existenciais e de felicidades, suas vitórias, derrocadas, dificuldades e sucessos ao longo do desenvolver-se(r) fez de mim o que sou e o que virei a ser, pois o aprendizado que dessas experiências eu pude retirar me foram essenciais. No mais, obrigado a todo mundo e fim (ou começo)!.

(9) ix. SUMÁRIO. Lista de Tabelas Lista de Figuras Lista de Siglas Resumo Abstract 1. Introdução 2. Revisão de literatura 2.1 Violência contra idosos: dados da literatura científica 2.2 Psicometria: considerações e aplicação na pesquisa com idosos 2.3. Aspectos técnicos e psicométricos da Vulnerability to Abuse Screening Scale 3. Objetivos 3.1. Objetivo geral 3.2. Objetivos específicos 4. Método 4.1. Desenho do estudo 4.2. Sujeitos 4.3. Local do estudo 4.4. Protocolos e Instrumentos 4.5. Procedimento de coleta dos dados 4.6. Análise dos dados 4.7. Aspectos éticos 5. Resultados e Discussão 5.1. Etapa A: evidências de consistência interna e evidências de fidedignidade pelo método Teste-Reteste 5.2 Etapa B: estrutura fatorial, evidências de validade de critério e validade externa 6. Considerações Finais Referências Bibliográficas Anexos Apêndices. x xi xii xiii xiv 15 22 22 30 39 47 47 47 48 48 48 50 50 52 53 54 56 56 60 72 75 94 102.

(10) x. LISTA DE TABELAS. Tabela. Título. Página. Dados sociodemográficos da população de idosos pesquisados na 01. 57 Etapa A. Confiabilidade: consistência interna da versão brasileira do. 02. instrumento Escala de Screening da Vulnerabilidade ao Abuso. 58. (VASS-Br). Dados sociodemográficos da população de idosos pesquisados no 03. 61 Etapa B.. 04. Dados psicométricos descritivos da VASS-Br.. 62. Análise fatorial da versão em português da Escala de Screening da 05. 64 Vulnerabilidade ao Abuso (VASS-Br). Segunda análise fatorial da versão em português da Escala de. 06. 66 Screening da Vulnerabilidade ao Abuso (VASS-Br).. 07. Comparação do escore médio da VASS-Br pelo Teste T de Student.. 69. 08. Correlação entre apoio social e depressão com VASS-Br.. 69.

(11) xi. LISTA DE FIGURAS. Figura. Título. Página. Gráfico da distribuição dos fatores pela análise paralela com base na 01. 63 análise dos componentes principais na primeira análise fatorial. Gráfico da distribuição dos fatores pela análise paralela com base na. 02. 65 análise dos componentes principais na segunda análise fatorial..

(12) xii. LISTA DE SIGLAS AFC: Análise Fatorial Confirmatória AFE: Análise Fatorial Exploratória CI: intervalo de confiança CVC: Coeficiente de Validade de Conteúdo DP: Desvio padrão HR: HazardRatio ICC: Coeficiente de Correlação Intraclasse INPEA: International Network for the Prevention of Elder Abuse IVC: Índice de Validade de Conteúdo KR-20: Kuder Richardson Fórmula 20 M: Média MEEM: Mini Exame do Estado Mental OMS: Organização Mundial de Saúde TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido T-RT: Teste Resteste PCL: Prova Cognitiva de Legânes VASS: Vulnerability to Abuse Screening Scale.

(13) xiii. RESUMO A violência contra o idoso é considerada uma problemática delicada, uma vez que não envolve somente o idoso vítima da violência, envolve também sua família, os profissionais que dele cuidam e todo o sistema de proteção/garantia dos direitos da pessoa idosa. Diante da carência de estratégias que investiguem a ocorrência de episódios de violência contra o idoso e diante da dificuldade apontada pela literatura de se rastrear e/ou mensurar a ocorrência da violência contra a pessoa idosa, esta pesquisa pretendeu investigar propriedades psicométricas da Escala de Screening da Vulnerabilidade ao Abuso (VASS-Br) para identificação do risco de violência doméstica contra idosos. Este estudo é de delineamento metodológico e psicométrico. Dividiu-se o estudo em etapas, visando alcançar o cumprimento dos objetivos propostos, compartimentando-o em dois estudos: Etapa A, para verificar as evidências de consistência interna e averiguar a fidedignidade do teste por intermédio do método teste-reteste, e a Etapa B, que investigou e estrutura fatorial do instrumento (evidências de validade de constructo), evidências de validade de critério e evidências de validade externa com apoio social e sintomas depressivos. A pesquisa foi realizada com 199 idosos frequentadores de espaços de convivências para idosos, da região metropolitana de Natal, RN. Foram coletadas informações sociodemográficas, clínicas e relacionadas a violência. A confiabilidade, via reprodutibilidade, foi verificada em uma amostra de 75 idosos, submetidos ao reteste do instrumento sete a 14 dias após a primeira aplicação. Foram realizadas análises descritivas e comparativas para todas as variáveis, com nível de significância de 5%. A evidência de validade de construto foi analisada pela análise fatorial exploratória, com matriz de correlação tetracórica, já a confiabilidade da escala pelo Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC) e a estatística Kappa de Fleiss (Kp) e a consistência interna pela estatística de Kuder-Richardson (KR20). A amostra foi composta em sua maioria por mulheres (n = 141, 70,9%), com idade variando de 60 a 84 anos (M: 67,96; DP: ±6,45). No que tange aos resultados referentes a VASS, verifica-se que a pontuação na escala variou de 0 a 10 (M: 3,72; DP: ±2,26). Na análise da consistência interna, o instrumento apresentou bons resultados (KR-20 = 0,69) e a confiabilidade via reprodutibilidade foi considerara excelente para a escala global (ICC = 0,991; K = 0,892). Ambos os resultados indicam excelente fidedignidade do teste indicado pelo método do teste-reteste. Em termos de distribuição fatorial, a VASS comportou-se de maneira aceitável, contudo, destoante da proposta original, demonstrando dimensionalidade condizente com a proposta original (quatro fatores), no entanto, com itens ocupando diferentes fatores. A VASS-Br apresenta-se como um instrumento válido, sensível e com boas propriedades psicométricas para rastreio de violência doméstica contra o idoso.. Palavras chave: Violência; Idoso; Questionário; Psicometria..

(14) xiv. ABSTRACT Violence against the elderly is considered a delicate problem, since it involves not only the elderly victim of violence, but also their family, their caregivers and the whole system of protection / guarantee of the rights of the elderly. In view of the lack of strategies to investigate the occurrence of episodes of violence against the elderly and the literature's difficulty in tracking and / or measuring the occurrence of violence against the elderly, this study aimed to investigate the psychometric properties of Vulnerability to Abuse Screening Scale (VASS-Br) to identify the risk of domestic violence against the elderly. This study is of a methodological and psychometric design. The study was divided into two phases: Study A, to verify the evidence of internal consistency and to ascertain the reliability of the test by means of the test-retest method, and the Study B, who investigated the factorial structure of the instrument (evidences of construct validity), evidence of criterion validity, and evidence of external validity with social support and depressive symptoms. The research was carried out with 199 elderly people living in social spaces for the elderly, from the metropolitan region of Natal, RN. Sociodemographic, clinical and violence related information were collected. The reliability, through reproducibility, was verified in a sample of 75 elderly, submitted to retest of the instrument seven to 14 days after the first application. Descriptive and comparative analyzes were performed for all variables, with a significance level of 5%. The evidence of construct validity was analyzed by the exploratory factorial analysis, with a tetrachoric correlation matrix, as well as the reliability of the scale by the Intraclass Correlation Coefficient (ICC) and the statistic Kappa of Fleiss (Kp) and the internal consistency by the Kuder- Richardson statistics (KR-20). The sample consisted mostly of women (n = 141, 70.9%), ranging in age from 60 to 84 years (M: 67.96, SD: 6.45). Regarding the VASS results, the score on the scale ranged from 0 to 10 (M: 3.72, SD: 2.26). In the analysis of internal consistency, the instrument presented good results (KR-20 = 0.69) and reproducibility was considered excellent for the global scale (ICC = 0.991; K = 0.892). Both results indicate excellent reliability of the test indicated by the test-retest method. In terms of factorial distribution, the VASS behaved in an acceptable manner, however, apart from the original proposal, demonstrating dimensionality consistent with the original proposal (four factors), however, with items occupying different factors. VASS-Br is a valid, sensitive instrument with good psychometric properties for the screening of domestic violence against the elderly.. Keywords: Violence; Elderly; Questionnaires; Psychometry..

(15) 15. 1. INTRODUÇÃO. O envelhecimento populacional é um fenômeno vivenciado mundialmente e visualizado, notoriamente, a partir da década de 80 no Brasil. Este consiste em um fenômeno permeado por transformações biopsicossociais, que permeia o ciclo do desenvolvimento humano e tem relação com a diminuição das taxas de natalidade somada a expectativa de vida dos indivíduos. Trata-se de um processo que vem sendo recorrentemente concebido como um desafio às ações em Saúde Pública. Avaliações apontam que, em 2025, a população mundial de idosos dobrará e que alcançaremos a margem de 1,2 bilhões de pessoas idosas em todo o globo. Estimativas de crescimento também são previstas para a realidade brasileira, pois se avalia que essa população será, em 2020, de 32 milhões de pessoas idosas em nosso País, o que nos tornará a sexta maior população idosa no mundo nas décadas que estão por vir (Krug, 2002; Lima-Costa & Veras, 2003). O envelhecimento consiste de um fenômeno evolutivo e natural, que permeia o ciclo do desenvolvimento humano. Este tem relação com o aumento da idade e, por conseguinte, com o crescimento da expectativa de vida dos indivíduos (Papalia & Feldman, 2013). Este é um período em que o idoso esta suscetível a ganhos, adaptações e flexibilidades, como propõe o Paradigma Life Span proposto por Paul B. Baltes. De acordo com este paradigma, o envelhecimento é um processo permeado pela dinâmica de interações dos aspectos genético-biológicos, socioculturais e psicológicos (Neri, 2006; Scoralick-Lempke& Barbosa, 2012)..

(16) 16. Trata-se de considerar que não há apenas perdas na velhice, como classicamente se concebia nos paradigmas geriátricos, mas sim ganhos e perdas que vão depender da história, da genética, dos acessos a condições de existência plena, tais como educação, saúde e lazer, por exemplo, da resiliência emocional, estilos de enfrentamento e hábitos de vida, dentre uma série de outros aspectos. Em razão da multidimensionalidade da velhice, esta tem sido tema crescente de preocupação dos estudiosos, que buscam compreender os diversos fatores que permeiam este processo do ciclo vital (Neri, 2006). A expectativa de vida, por sua vez, tem aumentado em decorrência de progressos em ações, políticas e programas de saúde, em face ao desenvolvimento de novas tecnologias e em razão de transformações socioeconômicas que se tem vivenciado por todo o mundo (Fontaine, 2010). Associado. a. esse. crescente. envelhecimento. populacional. existe,. em. contrapartida, a necessidade de garantir oportunidades de saúde, participação e segurança de modo continuado ao longo da vida. Logo, torna-se premente o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à atenção integral ao idoso, baseadas nos direitos, necessidades, interesses e habilidades das pessoas mais velhas (Organização Mundial de Saúde – OMS, 2005). Essas devem vir a assisti-los no âmbito da seguridade social, previdência, saúde, educação e todos os outros direitos fundamentais prezados pelas legislações voltadas a garantia da integridade humana e do idoso (Veras, 2009). No entanto, sabe-se que a atenção integral à pessoa idosa, visando o seu desenvolvimento e condições de existência plenas, não vem sendo garantida, especialmente em decorrência de contextos de maus-tratos e violências contra essa população..

(17) 17. Esse fenômeno também é crescente mundialmente, permeando, de modo expressivo, as relações interpessoais. Trata-se de uma questão recorrentemente vivenciada na realidade do nosso país, sendo comumente caracterizada sob o estereótipo de desvio de conduta e materializada na figura da criminalidade e dos maus tratos (Oliveira, 2008). Cotidianamente, é notável a imensa quantidade de pessoas, sejam crianças, adolescentes, mulheres ou idosos, que tem sido vítima de violência, negligência, maus tratos ou discriminação. A violência não ocorre em um lugar específico. Com frequência e gravidade que abrolham exponencialmente, ela permeia os espaços de convivência social, acontece no âmbito familiar, domiciliar ou em outras instituições sociais, e os direitos e a cidadania de quem por ela é acometido são cruelmente desrespeitados (Gaioli & Rodrigues, 2008). A violência – enquanto constructo socialmente construído, sistêmico, subjetivo e deflagrador das contradições sociais –, caracteriza-se enquanto multidimensional e multifacetada, necessitando ser conceituada e compreendida, em sua expressão e impactos, sobre quem por ela é acometido (Minayo& Souza, 2005). Sendo assim, a Organização Mundial de Saúde (OMS) promulgou a classificação que vem sendo amplamente utilizada pelos serviços de atenção à pessoa idosa, segundo a qual a violência contra a pessoa idosa pode ser classificada como violência física, psicológica ou emocional – dentre as quais se inclui a violência verbal –, sexual, econômica ou financeira, negligência e autonegligência (Correia, Leal, Marques, Salgado & Melo, 2012). Ademais, apesar de ser um fenômeno em ascensão, que ganha visibilidade social e na mídia, ainda se tem encontrado dificuldades no rastreio, na identificação e na.

(18) 18. prevenção da violência, se encontrando ainda distante dos serviços de atenção à saúde. Dentre os motivos que levam à interdição da informação e dificuldade de denúncia, que dificultam o enfrentamento da violência e que são elencados como principais agentes que geram a subnotificação da violência, destacam-se o grau de proximidade e/ou parentesco do agressor com a vítima ou as relações de dependência afetivo-emocional, de cuidado ou financeira, que existem na relação vítima-agressor, por exemplo (Gaioli & Rodrigues, 2008; Menezes, 2010; Sanches, Lebrão & Duarte, 2008). Cachina, Paiva e Torres (2016) identificaram ainda a ausência de construção de redes de efetivas entre as organizações de proteção ao direito da pessoa idosa, o que pode ser compreendido como uma ineficácia na corresponsabilização entre os diferentes serviços para o enfrentamento da violência contra a pessoa idosa. Além destes, a carência estrutural e despreparo das equipes para lidar com tal demanda são também elencados como aspectos que dificultam tal enfrentamento. A violência contra o idoso, portanto, é considerada uma problemática delicada, uma vez que não envolve somente o idoso vítima da violência, envolve também sua família, os profissionais que dele cuidam e todo o sistema de proteção/garantia dos direitos da pessoa idosa (Minayo, 2003). Destarte, de posse dessas informações, o estudo do envelhecimento e da velhice em situação de vulnerabilidade torna-se ponto imprescindível de atenção das pesquisas da Psicologia do Envelhecimento. Vale ressaltar que pesquisas em psicologia do envelhecimento humano e que se preocupam com aspectos do desenvolvimento psicossocial da pessoa idosa são relativamente recentes no âmbito da ciência psicológica (Neri, 2004). Classicamente, a ciência psicológica mundial, e isso aplica-se ao Brasil, subsidiou suas pesquisas a partir da abordagem orientada à infância e.

(19) 19. adolescência em psicologia do desenvolvimento (Neri, 1999; 2006; Souza, Gauer & Hutz, 2004). Os idosos, a velhice e o envelhecimento humano ganharam espaço no cenário brasileiro especialmente durante a segunda metade do século 20, alcançando o ápice na sua última década. A partir da década de 90 que crescem os grupos de estudos com linhas de pesquisa referente ao envelhecimento humano (Prado & Sayd, 2004). Ressalta-se que é neste mesmo período de fortalecem-se os primeiros programas de pós-graduação stricto sensu em Gerontologia, localizados no eixo sul-sudeste, que se propunham. a. desenvolver. estudos. multidisciplinares,. que. ressaltassem. a. multidimensionalidade do fenômeno do envelhecimento humano, observando inclusive a dimensão psicológica ou psicossocial deste processo (Neri, 1999). Verifica-se que há, a partir de então, uma progressão crescente nas pesquisas em psicologia do envelhecimento humano. É a partir da preocupação e do desenvolvimento de pesquisas sobre esta população que se percebe a necessidade do incremento de métodos, técnicas, instrumentos, procedimentos de coleta e análise de dados, bem como aspectos éticos específicos a este grupo. Além disto, fazem-se necessárias revisões e modificações de paradigmas, metodologias de pesquisa e práticas de atuação, visando atender as necessidades deste sujeito de direitos, de sabedoria e de intervenção que surge para os pesquisadores da área (Bastitoni, 2009). De tal modo, este estudo tem como preocupação dar continuidade ao trabalho já iniciado durante o mestrado, que visava a tradução e adaptação de um instrumento de aferição de risco de violência contra o idoso, e propõe-se a verificar evidências psicométricas do instrumento. Têm-se como hipótese de pesquisa que o instrumento.

(20) 20. demonstrará evidências de fidedignidade e validade satisfatórias ao seu uso em contextos de pesquisa. Visa-se, com este estudo,superar a dificuldade apontada pela literatura de se rastrear e/ou mensurar a ocorrência da violência contra a pessoa idosa. A literatura ressalta que são insuficientes as estratégias atualmente utilizadas para averiguar as situações de vulnerabilidade e violência contra idosos. Destaca-se que a violência contra o idoso, comumente, só é verificada quando o fato ocorre e a denúncia é efetivada, constatando-se o ocorrido através de exames clínicos, que aferem, em demasia, apenas sinais e indícios físicos de maus-tratos (Cohen, 2011; 2013; Gallione et al.,2017; Paixão Júnior & Reichenheim, 2006). Outras manifestações da violência contra o idoso, como a violência psicológica, verbal e ou financeira, são subnotificadas. Paixão Júnior e Reichenheim (2006) apontam que devem ser disponibilizadas o maior número de estratégias possíveis para auxiliar os profissionais que atuam na proteção, defesa e promoção dos direitos fundamentais à pessoa idosa no combate à violência contra os idosos. Uma vez que é perceptível a insuficiência de instrumentos disponibilizados em português para a detecção de violência doméstica contra os idosos, parece oportuno e proeminente disponibilizar versões lusófonas de ferramentas advindas de programas de investigação consistentes (Paixão Júnior & Reichenheim, 2006). Diante disto, este trabalho pretende disponibilizar mais uma ferramenta acessória ao processo de investigação da violência contra o idoso, seja em casos da existência de riscos à violência, quanto em casos que de fato o abuso tenha ocorrido..

(21) 21. 2. REVISÃO DA LITERATURA. Esta seção reúne os capítulos teóricos da presente tese, os quais advêm de revisões de literatura. A seguir, apresentaremos os capítulos teóricos desta tese, que darão rumo ao tema do seguinte modo: Capítulo 1, “Violência contra idosos: dados da literatura científica”, serão discutidos conceitos da literatura científica sobre o que é a violência, suas diferentes manifestações e o impacto à saúde e qualidade de vida de quem por ela é acometido. Em seguida apresentarei o capítulo 2, intitulado “Psicometria aplicada à pesquisa com idosos”. Este trata da caracterização da psicometria enquanto área interdisciplinar de produção de conhecimento técnicos voltado para a elaboração de instrumentais psicológicos e não psicológicos e, especificamente, aspectos acerca da psicometria e sua aplicação na pesquisa com idosos. Por fim, o terceiro e último capítulo tratará especificamente dos aspectos técnicos e psicométricos da Vulnerabilityto Abuse ScreeningScale, seção na qual apresentaremos dados psicométricos do instrumento em seu estudo original, na Austrália, bem como dados do desenvolvimento psicométrico em outros países, como China e Brasil. Vale destacar que os capítulos foram objeto de revisões de literatura que subsidiaram a construção desta tese, i.e., em aspectos metodológicos, tais como a escolha da técnica de investigação psicométrica aqui aplicada, a construção do.

(22) 22. questionário sociodemográfico utilizado durante as entrevistas, a escolha pelo plano de análise dos dados, dentre outros aspectos referentes ao estudo.. 2.1) VIOLÊNCIA CONTRA IDOSOS: DADOS DA LITERATURA CIENTÍFICA. Para Oliveira (2008), a violência, os maus tratos e abusos são problemáticas vivenciadas corriqueiramente em nosso país. Esta é uma temática que se tem encontrado dificuldades ao seu entendimento, compreensão, prevenção e o combate, em função de situações de interdição da informação, de medo da represália após a denúncia, do grau de proximidade do agressor, entre outras características, que ocorrem nas diferentes situações de violência, e aqui ressalta-se a ocorrência de tais fenômenos especificamente contra a pessoa idosa (Sanches, Lebrão & Duarte, 2008). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002), a violência caracteriza-se por qualquer ação ou omissão, intencional ou não-intencional, que gerem impactos que possam vir a desrespeitar a integridade física, psicológica e/ou social ao sujeito que por ela é acometido. A violência – ou abuso e maus tratos, que a literatura costuma indicar como sinônimos (Sanches, Lebrão & Duarte, 2008) – contra os idosos é compreendida em dimensões, a saber: violência física, verbal, psicológica ou emocional, sexual, econômica ou financeira, negligência e autonegligência (OMS, 2002). A violência física caracteriza-se enquanto comportamentos que impliquem em agressão física. Comumente visam sujeitar o idoso a situações que ferem a sua.

(23) 23. autonomia, ou seja, que não são do desejo do mesmo, tais como obrigá-lo a consumir uma medicação ou alimentar-se. Tal forma de violência gera contusões, ferimentos e lesões que podem ser percebidas por terceiros, como outros familiares e profissionais de saúde. Tal tipo de violência, quando manifestada e dependendo de sua intensidade, frequência e grau de fragilidade do idoso, pode levar ao óbito do idoso (Rodrigues, Armond & Gorios, 2015). A violência verbal tem sido especificada por sua prevalência, mas de acordo com a literatura esta pode ser incluída na violência psicológica ou emocional. Essa, por sua vez, se caracteriza enquanto atos de agressão verbal ou gestual que geram impacto à saúde psíquica da pessoa idosa. Essa forma de mau trato pode ser exemplificada em situações como xingamentos, ameaças e atitudes que promovem coerção e medo (Oliveira, Trigueiro, Fernandes & Silva, 2013). Entende-se por violência sexual a ação sexual que ocorre em um relacionamento hétero ou homossexual, que tem o caráter de estimular a vítima ou usá-la visando a obtenção de excitação sexual, práticas eróticas e sexuais impostas por intermédio de aliciamento, violência física e/ou psicológicas (Sousa et al., 2010; Oliveira, Gomes, Amaral & Santos, 2012; Rodrigues, Armond & Gorios, 2013). A violência econômica ou financeira, por sua vez, define-se como sendo situações em que há exploração imprópria, ilegal ou não consentida dos recursos financeiros do idoso, ato que fere o direito de exercício da autonomia financeira à pessoa idosa (Sousa et al., 2010; Oliveira, Gomes, Amaral & Santos, 2012). E por fim, a negligência e autonegligência serão caracterizadas quando ocorrer recusa, omissão e/ou fracasso na oferta de cuidado, respectivamente, por parte do.

(24) 24. responsável e por parte do próprio idoso. Incluída na negligência tem-se o fenômeno do abandono, que consiste na ausência de assistência necessária ao idoso por parte de quem caberia a sua custódia física, de provimento e cuidados essenciais (Sousa et al., 2010; Oliveira, Gomes, Amaral & Santos, 2012). Em termos de legislação, no Brasil, em 2003, ao implementar-se a Lei nº 17.741, que institui o Estatuto do Idoso, foram elucidadas diretrizes de atenção ao idoso que promovam o envelhecimento próspero (Teixeira & Neri, 2008; Brasil, 2004), e, para tanto, medidas de proteção, bem como punições aos que transgridam os direitos da pessoa idosa, buscando enfrentar, de tal modo, a violência contra estes. A legislação em pauta sustenta-se também na proposição da Organização Mundial de Saúde para refletir a quebra de direito da pessoa idosa, acrescentando que a violência se trata de atos únicos ou repetidos que causam sofrimento, ou ainda a ausência de ações que são devidas, que ocorrem numa relação em que haja expectativa de confiança, colocando em jogo que há a quebra de um vínculo na relação ali estabelecida. Contudo, existem outras propostas que definem a violência contra o idoso, como a descrição do International Network for thePreventionof Elder Abuse (INPEA), que isenta em sua definição as dimensões sexual e econômica/financeira, compreendendo-as como possíveis subdimensões de constructos maiores (Schofield & Mishra, 2003). Também podemos destacar, como explicita Uchoa (2003), que há opiniões que ampliam a proposição anteriormente apresentada, como em um seminário sobre abuso contra idoso na África do Sul, no qual foram acrescentadas, para além da classificação indicada pela OMS, temas como abuso de sistemas provenientes de instituições de saúde e moradia para idoso, por exemplo..

(25) 25. Zolotow (2005)adiciona ainda conceitos como o de violência implícita, que se caracteriza por impedir o idoso de participar de determinadas atividades e situações, mesmo este tendo plenas condições comportamentais, cognitivas e emocionais de vivenciá-las, fato atribuído ao fenômeno infantilização do idoso, o que pode gerar privação de direito à autonomia, participação e tomada de decisão. Existe aqueles, como Meza (2006) e Silva, Oliveira, Joventino e Moraes (2008), que acrescentaram, após estudos com idosos, referências a um tipo de violência definida como violência estrutural (urbana e institucional), caracterizada na acessibilidade prejudicada ao transporte público, à dificuldade do direito de ir e vir pelas péssimas condições de trânsito nas calçadas e ruas e demais descasos e desrespeitos ao direito social do idoso. Diante dessas diferentes concepções, pode-se perceber que a definição de violência contra o idoso é multideterminada por fatores objetivos/materiais, bem como por elementos histórico-culturais e imateriais, seja por relações de gênero, pelos diferentes modos de subjetivação, raça, crença, dentre outros. Destaca-se ainda que existe produção científica na área de investigação da violência contra o idoso, sendo possível observar que a literatura se debruça sobre esse fenômeno a partir da identificação de três grandes dimensões de análise. Sendo estas: estudos que apresentam contextos e relatos da ocorrência de episódios de violência contra o idoso, estudos que discorrem sobre a representação social da violência contra o idoso e, em terceiro, estudos do tipo análise documental, revisão de literatura e pesquisas sobre adaptação de instrumentos rastreadores acerca da violência contra o idoso (Maia et al., 2010)..

(26) 26. No que tange a primeira dimensão de estudos, observa-se que os trabalhos trazem informações sobre contextos e episódios de violência contra idosos, nos quais os autores se utilizam de diversos procedimentos metodológicos para obtenção dos dados, seja através de entrevistas, relatos etnográficos, ou até mesmo a partir de dados documentais, como o Sistema de Informação Hospitalar, disponibilizado pelo Ministério da Saúde (Gawryszewski, Jorge & Koizumi, 2004). Os resultados dos estudos mostram que pode ser identificado um perfil do agressor do idoso. Em resumo, os artigos são específicos ao afirmar que a violência doméstica implica em uma relação de poder e é, comumente, cometida por familiares, destacando-se os filhos, netos e genros/noras entre os principais agressores (Garbin, Joaquim, Rovida & Garbin, 2016; Maia, Ferreira & Maia, 2016; Maia & Maia, 2015; Gaioli & Rodrigues, 2008; Melo, Cunha & Falbo Neto, 2006). Ocorre quando há uma relação de dependência do idoso com um provável cuidador formal ou familiar e que há interdição da informação, o que demonstra, por sua vez, que habitualmente os idosos não denunciam o abuso, por medo de represálias e/ou em razão da dependência (afetiva-emocional, financeira ou de cuidado) do idoso para com o agressor (Rodrigues, Armond & Gorios, 2015; Abath, Leal & Melo Filho,2012; Moraes, Apratto Jr. & Reichenheim, 2008; Ribeiro, Souza, Atie, Souza & Schilithz, 2008; Meira, Gonçalves & Xavier, 2007). Dentre os tipos de violência a que o idoso é submetido, percebe-se que os estudos identificam a prevalência de violência física e psicológica, essa especialmente caracterizada por ameaças e coerção. As ameaças, em geral, são de conteúdo gerador de medo, ansiedade e tristeza, sendo exemplos destas situações como: ameaçar agredir fisicamente o idoso ou proibi-lo de realizar alguma atividade que lhe é prazerosa.

(27) 27. (Garbin, Joaquim, Rovida & Garbin, 2016; Paiva & Tavares, 2015; Correia, Leal, Marques, Salgado & Melo, 2012; Gaioli & Rodrigues, 2008; Moraes, Apratto Jr. & Reichenheim, 2008; Melo, Cunha & Falbo Neto, 2006). Os estudos explicitam ainda que verificada a existência de uma possível situação de violência, é dever do profissional de saúde notificar o ocorrido para que o caso seja apurado, contudo, destacam que não existem muitas ferramentas que auxiliem essa verificação, bem como ainda são escassas as redes de proteção ao idoso que é vítima de violência (Oliveira, Gomes, Amaral & Santos, 2012; Souza, Ribeiro, Atie, Souza & Marques, 2008; Saliba, Garbin, Garbin & Dossi, 2007). Percebe-se ainda que na contemporaneidade ocorre uma ineficácia do Estado na elaboração de estratégias de prevenção e combate à violência. Acrescenta-se ainda que há de se levar em conta a inclusão e implantação de uma atenção ao fenômeno da violência de modo consistente no âmbito da Política Nacional do Idoso e especialmente na Política Nacional e Saúde da Pessoa Idosa (Brasil, 1998b; 2006b), uma vez que a Saúde assume papel imprescindível em ações de prevenção à violência. Esta instituição do Estado pode atuar como dispositivo de cuidado ao familiar, auxiliando-o na reavaliação da sua função no seio familiar e disponibilizando para esse a compreensão da necessidade da vivência saudável a quem ele disponibiliza cuidado, combatendo, indiretamente, o ato da violência contra a pessoa idosa (Galheigos, 2008). Quanto à segunda dimensão de estudos, percebe-se que os trabalhos discursam sobre a representação que a sociedade tem do fenômeno da violência contra o idoso. Quando se questiona sobre o que é a violência contra o idoso, percebe-se que há uma associação a questão da violência como referindo-se ao ato físico, rotineiramente relacionado ao bater, e aos psicológicos, comumente associados ao gritar, à falta de.

(28) 28. respeito por parte do familiar, dentre outros (Wanderbroocke & Moré, 2012a; Araújo &Lobo Filho, 2009; Kullok & Santos, 2009; Leite, Hildebrandt & Santos, 2008; Silva, Oliveira, Joventino & Moraes, 2008). Quando a representação é questionada a outros grupos sociais, como familiares ou profissionais de saúde, o conteúdo é recorrentemente relacionado a temas já apontados, como maus tratos de natureza física, psicológica e/ou negligência, sendo este fenômeno comumente atribuído à rotina corrida e acelerada do dia a dia a qual as pessoas estão inseridas, que alicerça práticas coercitivas e abusivas, física, psicológica e moral (Wanderbroocke & Moré, 2012a; Wanderbroocke & Moré, 2012b; Kullok & Santos, 2009; Leite, Hildebrandt & Santos, 2008). Todavia, destaca-se que essa justificativa não abona o desrespeito ao idoso realizado em âmbito intrafamiliar e doméstico ou mesmo no institucional, refletindo a necessidade de revisão das práticas voltadas a atenção e acolhimento ao idoso vítima de violência no contexto da saúde (Ribeiro, Souza & Valadares, 2012; Santos, Souza, Ribeiro, Souza & Lima, 2010). Por fim, o terceiro conglomerado de estudos discorre sobre instrumentos de rastreamento da violência contra o idoso, análise de documentos oficiais, revisões bibliográficas e de literatura. Identifica-se que, em se tratando de instrumentos de rastreamento da violência contra o idoso, os trabalhos trazem conteúdos acerca da existência de instrumentos, do tipo questionário, que avaliam, rastreiam e tentam predizer aspectos da ocorrência/prevalência da violência contra o idoso, os quais utilizam técnicas de autorrelato ou da ótica de outros relatores, como cuidadores ou da perspectiva de um familiar, por exemplo (Reichenheim, Paixão Júnior & Moraes, 2008;.

(29) 29. Paixão Júnior, Reichenheim, Moraes, Coutinho & Veras, 2007; Paixão Júnior & Reichenheim, 2006). De acordo com Paixão Júnior e Reichenheim (2006), sinaliza-se que instrumentos desta natureza produzidos na realidade brasileira ou adaptados de uma cultura para a do país em questão são escassos, destacando a necessidade de operacionalização da criação ou adaptação destes. A literatura mostra que já existem protocolos adaptados que mostram equivalência conceitual e de itens, semântica e de mensuração, especialmente visualizada por bons índices de consistência interna, fidedignidade e validade à realidade brasileira (Reichenheim, Paixão Júnior & Moraes, 2008; Paixão Júnior, Reichenheim, Moraes, Coutinho & Veras, 2007). Com relação ao segundo subtema, referente à análise documental e às revisões bibliográficas de literatura, vê-se que os trabalhos trazem visibilidade à questão da violência e indicam a necessidade de maior produção sobre a temática. Estes estudos indicam ainda a existência de mecanismos de denúncia, contudo, a identificação e verificação da veracidade do ato de violência, bem como ações a favor das pessoas desta faixa etária que sofrem alguma forma de violência, são escassas (Nogueira, Freitas & Almeida, 2011; Espíndola & Blay, 2007; Santos, Silva, Carvalho & Menezes, 2007; Souza, Freitas & Queiroz, 2007; Schraiber, D’Oliveira & Couto, 2006). Os dados dessas produções científicas e de documentos oficiais exemplificam a materialização da violência contra o idoso sob a ótica pela qual o problema tem sido analisado, habitualmente da perspectiva sociocultural (Santos, Silva, Carvalho & Menezes, 2007). No entanto, outros estudos vão elencar que esse problema envolve outros fatores, dentre os quais, o modo como a sociedade olha para a velhice, o envelhecimento e para o idoso (Poli Neto & Caponi, 2007)..

(30) 30. Pode-se perceber que os achados literários indicam que o fenômeno da violência contra o idoso já se encontra materializado e engessado na lógica social, caracterizandose por uma epidemia. Trata-se, portanto, de uma temática atual, que tem fatores potencialmente associados, mas ineficazmente aferidos, havendo a necessidade da formulação ou adaptação de estratégias, ferramentas e/ou instrumentais que apreendam a prevalência do fenômeno no conglomerado populacional em questão (Abath, Leal & Melo Filho, 2012; Queiroz, Lemos& Ramos, 2010).. 2.2) PSICOMETRIA: CONSIDERAÇÕES E A APLICAÇÃO NA PESQUISA COM IDOSOS. A Psicometria caracteriza-se, simultaneamente, enquanto teoria e técnica utilizada para a medição dos processos mentais, psicológicos e psicossociais. Trata-se de uma ciência amplamente aplicada à Psicologia e Educação. Historicamente, esta área de conhecimento originou-se a partir dos estudos em Psicofísica, disciplina originada na segunda metade do século XIX, com seu nascedouro referido aos estudos realizados pelos psicólogos alemães Wilhem Wundt, Ernst H. Weber e Gutav T. Fechner, cientistas e professores da Universidade de Liepzig, Alemanha (Pasquali, 2009). Esta se tratava da ciência que estuda as relações entre os estímulos físicos, a experiência sensorial e as sensações subjetivas, estabelecendo relações quantitativas entre eles. O seu principal objetivo – ou seja, o projeto científico do método psicofísico – era oferecer estratégias objetivas para acesso e medição dos estados internos, a partir de estímulos disponibilizados ao sujeito por intermédio do pesquisador (Longhi & Costa, 2011)..

(31) 31. Outra grande contribuição ao nascimento da Psicometria deve-se ao inglês Francis Galton, o qual contribuiu substancialmente para o desenvolvimento desta, pelo seu interesse pelas medidas e pela estatística e seu esforço em construir um diálogo entre estas com a Psicologia. Galton colaborou para a introdução de dois conceitos imprescindíveis à Psicometria, que são os constructos de Média e Dispersão, ou Desvio padrão. Além disso, este autor produziu uma das mais importantes medidas da ciência, a Correlação, e propôs testes para medir os processos mentais, como inteligência, sensibilidade cinestésica e discriminação sensorial, por exemplo, sendo considerado o criador do esboço do que se tornaria a Psicometria (Polizelo, 2011; Valente, 2016). Ambas as contribuições, dos estudiosos da Psicofísica e de Galton, se devem a tentativa de unir a Estatística e a Teoria da Medida à Psicologia, propondo um meio de quantificar a experiência subjetiva e construir leis e normas que caracterizassem os diferentes processos mentais e psicológicos. A história do nascimento da Psicometria confunde-se com o desenvolvimento e consolidação de áreas como a Psicofísica e a Psicologia Experimental. Contudo, foi com Louis Leon Thurstone, psicólogo experimental norteamericano e estudioso da análise fatorial, que se consolidou a Psicometria, diferenciando-a da Psicofísica. Para Thurstone, a Psicofísica ocupa-se com a medida do processo de estímulo-resposta do organismo, enquanto a Psicometria consiste na ciência que mensura o comportamento do sujeito por meio da investigação dos processos mentais.Enquanto ciência, esta objetiva explicar o significado das respostas dadas pelos indivíduos a um conjunto de tarefas, comumente intitulado de itens (Pasquali, 2009). A Psicometria contemporânea apresenta duas perspectivas: a Teoria Clássica dos Testes (TCT) e a Teoria de Resposta ao Item (TRI). A primeira, a TCT, interessa-se.

(32) 32. pela elaboração de testes de qualidade, ou seja, de um conjunto de itens que possam explicar um resultado ou escore final. Já a TRI objetiva produzir itens de qualidade, ou seja, itens que possam auxiliar na construção de inúmeros testes válidos (Sartes& Souza-Formigoni, 2013). A TRI surge a partir das limitações da TCT, como um conjunto de modelos psicométricos para desenvolver e refinar as estratégias de investigação das medidas psicológica, nascendo como uma abordagem que visa solucionar as fragilidades da TCT e não contrária a esta abordagem, confusão frequentemente referida na literatura. E embora a TRI tenha promovido substancial avanço na validação de testes, esta ainda apresenta algumas dificuldades na análise estatística se comparada às técnicas estatísticas clássicas da TCT (Sartes & Souza-Formigoni, 2013). As duas perspectivas, TCT e TRI, adotam dois parâmetros imprescindíveis de legitimidade de uma medida ou teste: a validade e a precisão (ou fidedignidade). Estes dois constructos têm sido amplamente utilizados para avaliar a qualidade de um instrumento (Pilatti, Pedroso & Gutierrez, 2010), bem como a legitimidade de uma medida ou teste (Pasquali, 2009). A validade consiste em um parâmetro que busca verificar a congruência da propriedade medida dos objetos, ou seja, ao grau em que um instrumento mede a variável que pretende medir, em termos de adequação (legitimidade) da medida (Pasquali, 2009). Os três principais tipos de validade são: construto, conteúdo e critério (Pacico & Hutz, 2015). A fidedignidade ou precisão de um teste, por sua vez, se refere à capacidade que ele deve possuir de medir sem erros, ou seja, de medir os mesmos sujeitos em ocasiões diferentes ou na mesma ocasião, com um teste ou avaliador equivalente, obtendo-se.

(33) 33. resultados idênticos (ou quase idênticos). Entretanto, como o erro está sempre presente em qualquer medida, a análise da precisão de um instrumento psicológico quer mostrar o quanto ele se afasta do ideal da correlação 1, considerando que quanto mais próximo de 1, menos erro o teste comete quando utilizado (Pasquali, 2013). Os três principais tipos de métodos de investigação da fidedignidade são: a análise da consistência interna, o método do teste-reteste e o método das Metades ou Split half (Zanon & Hauck Filho, 2015). A validade e a fidedignidade têm sido amplamente utilizadas no processo de investigação de evidências de validade e/ou validação de teste, escalas e instrumentos. A utilização de testes e instrumentos representa uma importante estratégia de avaliação objetiva dos fenômenos psicológicos e a investigação das propriedades psicométricas tem sido aplicada a uma gama de estudos e pesquisas que consideram diferentes etapas do desenvolvimento humano (Pereira, Maia, Rocha, Hazin& Maia, 2016; Maia, Torres, Oliveira & Maia, 2014). No entanto, as pesquisas em psicologia do envelhecimento humano e que se preocupam com aspectos do desenvolvimento psicossocial da pessoa idosa são relativamente recentes no âmbito desta ciência. Incluem-se aqui também pesquisas que investigam evidências psicométricas, como fidedignidade e validade, de instrumentos para este público (Maia, Torres, Oliveira & Maia, 2014). Nesta revisão, estes autores sumarizam um conjunto de instrumentos que vem sendo adaptados para a população idosa do contexto brasileiro, os quais têm sido submetidos à investigação de suas propriedades psicométricas. De modo geral, são diferentes escalas, testes e instrumentos que investigam aspectos cognitivos, a funcionalidade (capacidade funcional e autonomia), desempenho em atividades.

(34) 34. motoras/físicas e os que investigam características psicossociais, como sexualidade, ansiedade geriátrica e a ocorrência de maus tratos e abuso, por exemplo (Maia, Torres, Oliveira & Maia, 2014). Em uma breve revisão de instrumentos que foram submetidos ao processo de verificação de evidências de validade e fidedignidade, pode-se verificar que predominam nas análises psicométricas de instrumentos voltados à população idosa duas estratégias investigativas: o método de análise da consistência interna, por meio da mensuração do Coeficiente Alfa de Cronbach e/ou de Kuder Richardson (KR-20), e da verificação da estrutural fatorial, por meio da Análise Fatorial, quer seja exploratória ou confirmatória (Dantas, Oliveira & Silveira, 2017; Ferreti-Rebustiniet al., 2015; Maia & Maia, 2016;Reichenheim, Paixão Júnior & Moraes, 2009). A consistência interna caracteriza-se enquanto uma análise estatística que mensura o quanto os diferentes itens de um instrumento se propõem a medir o constructo geral proposto pela ferramenta. Trata-se de uma avaliação do grau de confiabilidade dos itens de um instrumento para medir um constructo geral, de modo que esta análise estatística revela o grau com que esse conjunto de itens realiza essa medição. Para o cálculo da consistência interna utilizam-se valores de referência (Marroco & Garcia-Marques, 2006). O resultado dos testes estatísticos que realizam este cálculo variam de 0,0 a 1,0. A literatura recomenda que a adequação e satisfação do valor da consistência interna utilizem os seguintes critérios: valores superiores a 0,80-1,0 são considerados desejáveis; índices superiores a 0,70-0,79 são considerados recomendados e índices superiores a 0,60 devem ser aceitos apenas para uso em pesquisa (desaconselhável o uso clínico). Valores abaixo de 0,60 não sugerem confiabilidade do instrumento, ou seja,.

(35) 35. seus itens podem não serem fiéis ou confiáveis para avaliar o constructo que o instrumento se propõe a mensurar (Urbina, 2007). Já a análise fatorial tem como principal função reduzir um conjunto de variáveis em um número reduzido de fatores. Esta análise estatística mensura de que modo um conjunto de variáveis constituem um constructo, experimental e/ou teórico. Suas duas variantes, a análise fatorial exploratória (AFE) e confirmatória (AFC) apresentam diferenças (Damásio, 2012; Figueiredo Filho & Silva Júnior, 2010). A primeira, comumente, é usada em fases embrionárias da investigação científica, com objetivo literal de explorar os dados. Nessa etapa, busca-se explorar a relação entre as variáveis, apontando e verificando padrões de correlação. Do mesmo modo, a AFE pode ser empregada para identificar variáveis independentes ou dependentes que podem ser aplicadas posteriormente em modelos de regressão. Trata-se de um método amplamente utilizado nas pesquisas em psicologia, em especial, a que investigam as evidências de validade de instrumentos psicológicos (Damásio, 2012). Por outro lado, a análise fatorial confirmatória (AFC) é utilizada para testar hipóteses. Nessasituação, o pesquisador norteado por uma teoria averigua em que medida determinadas variáveis são representativas de um conceito/constructo (Figueiredo Filho & Silva Júnior, 2010). Outra análise psicométrica que se destacam dentre os estudos revisados são a confiabilidade intra e interobservador, a qual utiliza, respectivamente, o Teste-Reteste (intervalo de tempo) e diferentes examinadores para verificar a confiança entre os diferentes momentos de avaliação. Além disso, verifica-se ainda o uso de análises psicométricas de validade de critério e a verificação do Índice de Validade de Conteúdo – IVC (Caldas, Zunzunegui, Freire & Guerra, 2012; Dantas, Oliveira & Silveira, 2017;.

(36) 36. Lustosaet al., 2011; Luz, Santiago, Silva & Matos, 2015; Pedreira, Rocha, Santos, Vasconcelos & Reis, 2016). A confiabilidade intra e interobservador consistem em análises psicométricas que verificam a estabilidade e/ou precisão do teste em medir o constructo que ele se propõe. Na primeira situação, o procedimento consiste em avaliar o indivíduo em momentos distintos por um mesmo avaliador, para verificar a estabilidade do resultado do instrumento em função do tempo. Este é um procedimento que tem caráter longitudinal e comumente utiliza-se o método do Teste-Reteste (T-RT) para sua operacionalização. A segunda circunstância, confiabilidade interobservador, caracteriza-se pela utilização de dois avaliadores independentes que aferem o constructo em um mesmo momento para verificar, deste modo, a precisão do teste. Esta se trata de uma investigação de caráter transversal. A validade de critério, por sua vez, consiste no grau deeficácia que o teste tem em predizer um determinado desempenho do indivíduo. Evidentemente, este desempenho deverá ser mensurado com auxílio de técnicas independentes do próprio teste que se almeja validar. Classicamente, distinguem-se dois tipos de validade de critério, a validade preditiva e a concorrente (Pasquali, 2009). Para Pasquali (2009), a diferença entre estas é sumariamente uma questão de tempo. Na primeira, as informações sobre o critério são coletadas posteriormente a aplicação do teste, o que sugere um caráter longitudinal. Já na segunda, as coletas ocorrem quase que simultaneamente, apresentando umcaráter transversal. Ou seja, este procedimento caracteriza-se pelo uso de um instrumento que mensure o mesmo.

(37) 37. constructo e/ou constructo semelhante para verificar, simultaneamente ou em função de um corte temporal, a validade do instrumento. Por exemplo, dentre os instrumentos revisados, verificou-se que a Prova Cognitiva de Leganês (PCL) teve sua validade de critério, do tipo concorrente, investigada comparando-a ao Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), pois ambas as ferramentas caracterizam-se enquanto instrumento de rastreio cognitivo breve e a coleta das informações ocorreu simultaneamente (Caldas, Zunzunegui, Freire & Guerra, 2012). O Índice de Validade de Conteúdo (IVC), também referido na literatura enquanto Coeficiente de Validade de Conteúdo (CVC), propõe-se a uma análise objetiva da validade de conteúdo de um instrumento. Este procedimento objetiva verificar a clareza, representatividade e relevância dos itens do instrumento para a mensuração do fenômeno. Para a validação de conteúdo, comumente, utiliza-se a opinião e julgamento de juízes-avaliadores. Logo, esse processo caracteriza-se enquanto uma avaliação subjetiva (pessoal e opinativa) que avalia se o teste em questão mede o que ele se propõe a mensurar, pelo viés do seu conteúdo (Cassep-Borges, Balbinotti& Teodoro, 2010). Notoriamente, percebe-se que é crescente e cada vez mais difundido o uso de juízes para o processo de validação de conteúdo, como se observa nos estudos narrativos que ressaltam a ampla utilização de técnicas como o Delphi e o Painel de Especialistas (Pinheiro, Farias, & Abe-Lima, 2013; Revorêdo, Maia, Torres & Maia, 2015). Durante a validação de conteúdo, os juízes-avaliadores, que podem ser expertises e especialistas na temática do instrumento e/ou público para quem se dirige a.

(38) 38. ferramenta, são solicitados a avaliar aspectos como: clareza de linguagem, etapa em que se averigua se esta é clara e acessível; pertinência prática, o qual mensura a importância do item na composição do instrumento; relevância teórica, em que se verifica se o item tem relação com o constructo; e a dimensão teórica, que investiga a adequação do item à teoria estudada. Além disso, é durante a validação de conteúdo que podem ser verificados aspectos como desproporcionalidade de itens e/ou de dimensões (CassepBorges, Balbinotti & Teodoro, 2010). O IVC ou o CVC são fórmulas matemáticas que avaliam o grau de concordância acerca do conteúdo do instrumento, promovendo tanto uma avaliação global de validade de conteúdo, quanto acerca das avaliações parciais de cada um dos aspectos anteriormente apontados: clareza, pertinência, relevância, entre outros (Pedreira, Rocha, Santos, Vasconcelos & Reis, 2016). Além destas fórmulas matemáticas, utiliza-se associadamente, em alguns casos, a análise estatística Kappa, que consiste em uma operação matemática que verifica o acordo estatístico na emissão de resposta dos entrevistados (Alexandre & Coluci, 2011). Em resumo, estes são alguns dos procedimentos psicométricos aplicados às pesquisas com idosos. Contudo, ressalta-se que estas não são as únicas formas de medição da fidedignidade e validade de testes, escalas e instrumentos psicológicos ou não psicológicos. Pasquali (2007) elenca mais de 30 diferentes tipos de validades que podem ser mensuradas pelos pesquisadores interessados em análises de propriedades psicométricas de ferramentas psicológicas ou não psicológicas, e nos demonstra a imensidão de possibilidades que estão associadas a esta área de saber, que apesar de seu núcleo rígido e matemático, é intimamente permeada pela interpretação teórica e humana..

(39) 39. 2.3) ASPECTOS TÉCNICOS E PSICOMÉTRICOS DA VULNERABILITY TO ABUSE SCREENING SCALE. A Vulnerability to Abuse Screening Scale (VASS) foi gerada a partir de estudos desenvolvidos por Schofield, Reynolds, Mishra, Powers e Dobson (2002) e por Schofield e Mishra (2003), na realidade da Austrália. Este tem sido notadamente reconhecido como um exímio instrumento a ser utilizado para rastreio do risco a violência (Gallione et al.,2017; Cohen, 2011; 2013). O instrumento VASS foi elaborado a partir de modificações do HwalekSengstock Abuse Screening Test Elder, instrumento este que já tem suas propriedades psicométricas preliminares investigadas para a realidade brasileira – da região sudeste – por Reichenheim, Paixão Júnior e Moraes (2008). A VASS contém doze itens dicotômicos que, através do autorrelato do idoso, constatam o risco à violência doméstica. Ou seja, a obtenção dos dados toma como referência a percepção que o idoso tem sobre situações do cotidiano que pode indicar que o mesmo pode estar sendo vítima de violência. A pontuação da escala é obtida com o somatório dos valores atribuídos a cada uma das respostas afirmativas, exceto para os itens 4, 5 e 6, que pontuam em caso de resposta negativa. Este se trata de um instrumento dirigido à população idosa em geral, contudo, idosos com presença de queixas cognitivas mnêmicas, por exemplo, podem ter dificuldades na responsividade ao instrumento, uma vez que o mesmo demanda que o mesmo relembre situações ocorridas nos últimos tempos..

(40) 40. Os itens buscam identificar o fenômeno a partir de quatro domínios, a saber: Vulnerabilidade (itens nº 01 ao nº 03), Dependência (nº 04 ao nº 06), Desânimo (nº 07 ao nº 09) e Coerção (itens nº 10 ao nº 12). Esses, por sua vez, tentam explicar quatro das seis classificações da OMS: as violências física, psicológica, financeira e a negligência. Sendo assim, a VASS trata-se de um instrumento de rastreio breve de abuso contra a pessoa idosa, que pode ser utilizado em contextos clínicos e domiciliares, objetivando a constatação do risco de violência. Os estudos das evidências psicométricas – de validade e precisão – foram examinados em um processo de pesquisa longitudinal (Schofield & Mishra, 2003). Os achados psicométricos do instrumento em questão se mostraram satisfatórios e adequados para sua adaptabilidade a outros contextos culturais (Paixão Júnior &Reichenheim, 2006). A primeira pesquisa, empreendido por Schofield, Reynolds, Mishra, Powers e Dobson (2002), com 12.340 idosas australianas com idades entre 70 a 75 anos, revelou que a escala apresentou índices de consistência interna moderados, com o alfa de Cronbach de 0,71, referente ao escore total da escala, e valores que variaram de 0.39 a 0.55 entre os escores referentes aos quatro domínios aferidos pelo instrumento. Já o segundo estudo, realizado com uma amostra de 10.421 idosas australianas com idades entre 73 a 78 anos, explicita os resultados oriundos da segunda etapa da pesquisa. Os dados demonstram índices de consistência interna moderados e bons, com os valores do alfa de Cronbach variando de 0.31 a 0.74 entre os escores referentes aos quatro domínios aferidos pelo instrumento e valor de 0.77 referente ao escore total da escala, valor que indica consistência interna adequada para o instrumento como um todo (Schofield & Mishra, 2003)..

(41) 41. Os autores ainda verificaram resultados estatísticos, de correlações, análises univariadas e regressão múltipla, significativas (p<0.05) entre o escore total e de cada um dos domínios do instrumento com variáveis afins, como Saúde Física e Mental, Estresse, Eventos da Vida relacionada à Saúde/Doença, Satisfação com a Vida, Suporte Social, Características Sociodemográficas, como situação conjugal, percepção do relacionamento conjugal, multigeracionalidade do lar, arranjos econômicos, necessidade de cuidador, dentre outras. Esses achados, ainda que preliminares, já puderam indicar validade conceitual, de conteúdo e de critério, do tipo discriminante, da Vulnerability to Abuse Screening Scale (VASS) (Schofield & Mishra, 2004; Schofield & Mishra, 2003; Schofield, Reynolds, Mishra, Powers & Dobson, 2002). Vale destacar que Streiner e Norman (1995) assinalam que resultados de consistência interna da magnitude dos encontrados nos estudos supracitados, que demonstram consistência interna de moderada a boa, ou seja, acima de 0.6, são comuns em se tratando de instrumentos de rastreio breve. Segundo os autores, valores maiores que os obtidos no estudo em questão poderiam ser encontrados apenas se o instrumento contasse com um número maior de itens. Em um estudo prospectivo realizado por Schofield, Powers e Loxton (2013), que objetivava verificar se a ocorrência de violência era preditor de mortalidade e incapacidade funcional, verificou-se associação significativa entre a mortalidade e duas dimensões do instrumento, a saber, Coerção (Hazard Ratio [HR] = 1.21, 95% de intervalo de confiança (CI) = 1.06–1.40) e Desânimo (HR = 1.12, 95% CI = 1.03–1.23). Já. a. incapacidade. funcional. mostrou. associação. com. os. domínios. Vulnerabilidade (HR = 1.25, 95% CI = 1.06–1.49) e Desânimo (HR = 1.55, 95% CI = 1.38–1.73). Os achados em questão evidenciaram a relação esperada entre violência e.

(42) 42. mortalidade e destacou a associação daquela com a incapacidade funcional. Segundo os autores, estes dados trazem evidências do impacto da violência contra o idoso e podem subsidiar políticas de prevenção e combate à violência de modo consistente (Schofield, Powers & Loxton, 2013). Vale salientar que, segundo os autores dos estudos iniciais, o instrumento, através da identificação de indicadores/risco de violência ou da instalação da mesma, teria o potencial de auxiliar no desenvolvimento, operacionalização e consolidação de ações e políticas públicas concretas, na prevenção, triagem e na intervenção frente ao fenômeno da violência. Os achados obtidos na pesquisa supracitada vieram a sustentar o que foi assinalado pelos estudos iniciais do instrumento (Schofield, Powers & Loxton, 2013). O estudo inicial de tradução e adaptação transcultural para o Brasil da escala em questão demonstrou resultados satisfatórios (Maia & Maia, 2014; 2016). Os valores do índice Kappa, que se utilizou para avaliar a confiabilidade a avaliação de juízes, foi de 0,625 e 0,585, respectivamente, entre juízes especialistas (não idosos) e juízes não especialistas (idosos). O valor da consistência interna do escore geral do instrumento no estudo brasileiro foi de 0,688, valor que indica consistência interna adequada para o instrumento como um todo. Esses dados indicam a viabilidade de continuidade de investigação de evidências de validade em função de o instrumento apresentar evidências de validade de face ou aparente, em razão dos resultados obtidos por intermédio da análise da estatística Kappa, bem como valor de consistência interna considerado satisfatório (Maia & Maia, 2014, 2016). Outras investigações internacionais buscaram aferir a violência contra o idoso e sua relação com variáveis, como apoio social e sintomas de depressão, utilizando a.

Referências

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