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O problema das universidades

3.1 Resultados iniciais

Nesta sec¸c˜ao v˜ao ser apresentadas defini¸c˜oes e resultados que ir˜ao ser necess´arios no decor-rer deste cap´ıtulo. Para al´em destes resultados, vai-se apresentar uma forma de se obter uma atribui¸c˜ao est´avel para qualquer problema de admiss˜oes ou mostrar que ela n˜ao existe. Um problema de admiss˜oes (ou de recrutamento) ´e caracterizado por dois conjuntos finitos de agentes, duas listas de preferˆencias de cada elemento de cada conjunto sobre os elementos do outro e uma quota, um n´umero inteiro superior a zero, para cada elemento de um dos conjuntos.

Assim, para este problema, v˜ao-se considerar dois conjuntos finitos distintos de agentes, U = u1, u2, ..., u|U | o conjunto das “universidades” e A = a1, a2, ..., a|A| o conjunto dos “alunos”. Cada aluno estabelece uma ordem de preferˆencias estrita no conjunto das universidades a que se candidata e cada universidade estabelece uma ordem de preferˆencias estrita no conjunto dos alunos que admite como candidatos. Tem-se ainda que cada univer-sidade tem uma quota (numerus clausus) para preencher, isto ´e, as universidades admitem que lhes seja atribu´ıdo um n´umero de candidatos maior ou igual a um.

Para simplificar a visualiza¸c˜ao, o problema de admiss˜oes vai ser representado por (Γ, q), em que Γ ´e um grafo dirigido, o grafo de admiss˜oes, e q =



qu1, qu2, ..., qu|U |



´e um vector de entradas inteiras positivas, tal que qui ´e a quota da universidade ui ∈ U . Os v´ertices do grafo de admiss˜oes Γ s˜ao pares ordenados da forma (u, a), com u ∈ U e a ∈ A, em que u ´e aceit´avel para a e a para u. Estes v´ertices est˜ao localizados numa grelha U × A em que cada linha corresponde a uma universidade u ∈ U e cada coluna a um aluno (candidato) a ∈ A. As arestas dirigidas de Γ s˜ao pares ordenados de v´ertices e s˜ao de dois tipos: arestas horizontais da forma ((uk, ai) , (uk, aj)) que expressa a preferˆencia da universidade uk pelo candidato aj em detrimento do candidato ai, sendo a aresta orientada de (uk, ai) para (uk, aj); arestas verticais da forma ((ui, ak) , (uj, ak)) que expressa a preferˆencia do aluno akpela universidade uj em detrimento da universidade ui, sendo a aresta orientada de

(ui, ak) para (uj, ak). Se a universidade uk ∈ U prefere o candidato aj ao candidato ai, com ai, aj ∈ A, esta preferˆencia vai ser escrita, no decorrer deste trabalho, da forma aj >uk ai; se o candidato ak ∈ A prefere a universidade uj `a universidade ui, com ui, uj ∈ U , esta preferˆencia vai ser escrita da forma uj >ak ui. A quota de cada universidade u ∈ U , qu, ´

e colocada a direita da linha do grafo correspondente a u. Na figura 3.1 pode-se ver um exemplo de um problema de admiss˜oes. Para j´a, n˜ao se distingue os v´ertives brancos dos pretos.

Figura 3.1: Um problema de admiss˜oes e uma atribui¸c˜ao (v´ertices pretos).

Note-se que as arestas obtidas por transitividade s˜ao omitidas, isto ´e, se, por exemplo, o candidato a ∈ A tem a seguinte lista de preferˆencias relativamente a trˆes universidades:

a: ... ui uj uk ...

com ui, uj, uk ∈ U , tem-se que ui >a uk, mas no grafo apenas ir˜ao aparecer as arestas ((uj, a) , (ui, a)) e ((uk, a) , (uj, a)). No exemplo da figura anterior, tem-se que a universi-dade u1 prefere o candidato a1 ao candidato a2, no entanto n˜ao se representou a aresta ((u1, a2) , (u1, a1)), j´a que esta ´e obtida por transitividade atrav´es das arestas

((u1, a2) , (u1, a3)) e ((u1, a3) , (u1, a1)).

Com a ordem de preferˆencias que ´e estabelecida tanto nas linhas como nas colunas de Γ, ´

sem qualquer ambiguidade. Assim, os sucessores na linha do v´ertice (u, a) s˜ao os v´ertices da forma (u, aj) tais que aj >u a; os sucessores na coluna do v´ertice (u, a) s˜ao os v´ertices da forma (ui, a) tais que ui >a u. Os antecessores na linha e na coluna s˜ao definidos da mesma forma, mudando-se apenas o sentido da desigualdade. No exemplo da figura 3.1, tem-se que os sucessores na linha do v´ertice (u3, a7) s˜ao os v´ertices (u3, a6), (u3, a5) e (u3, a8) e os seus antecessores na linha s˜ao (u3, a1), (u3, a2), (u3, a4) e (u3, a3); o v´ertice (u3, a7) n˜ao tem sucessores na coluna e os seus antecessores na coluna s˜ao (u1, a7), (u2, a7) e (u4, a7). O melhor v´ertice de uma coluna ´e aquele que n˜ao tem sucessores nessa coluna; um conjunto R de v´ertices de uma linha u ∈ U tal que cada um dos seus elementos n˜ao tem qualquer sucessor que n˜ao esteja em R diz-se o melhor conjunto de v´ertices na linha u.

Uma atribui¸c˜ao µ num problema de admiss˜oes (Γ, q) ´e um conjunto de v´ertices de Γ que tem no m´aximo um v´ertice em cada coluna e no m´aximo qu v´ertices na linha u, para cada u ∈ U . Para al´em disso, o facto de um v´ertice (ui, aj) ∈ µ quer dizer que µ atribui aj `a universidade ui. Na figura 3.1, os v´ertices pretos representam uma atribui¸c˜ao no problema de admiss˜oes apresentado; ´e de salientar que esta atribui¸c˜ao preenche todas as quotas, mas n˜ao atribui o candidato a8 a qualquer universidade.

Uma atribui¸c˜ao µ diz-se est´avel se, para todo o v´ertice (u, a) ∈ Γ, pelo menos uma das seguintes condi¸c˜oes se verifica:

1. (u, a) ∈ µ;

2. (u, a) tem um sucessor na coluna que est´a em µ, ou seja,

∃ ui ∈ U : (ui, a) ∈ µ e ui >au;

3. (u, a) tem qu sucessores na linha que est˜ao em µ, ou seja,

Ou seja, dados uma atribui¸c˜ao µ e um v´ertice (u, a) /∈ µ, µ ´e est´avel se:

Se existir em Γ algum v´ertice (u, a) que n˜ao verifique nenhumas destas trˆes condi¸c˜oes apresentadas, diz-se que (u, a) bloqueia µ. Ou seja, uma atribui¸c˜ao µ n˜ao ´e est´avel se e s´o se existe um v´ertices que a bloqueia. No exemplo apresentado na figura 3.1, a atribui¸c˜ao apresentada n˜ao ´e est´avel, j´a que o v´ertice (u3, a8) n˜ao pertence `a atribui¸c˜ao e n˜ao ´e sucedido na linha nem na coluna por qualquer v´ertice dessa atribui¸c˜ao, isto ´e, o v´ertice (u3, a8) bloqueia a atribui¸c˜ao apresentada.

H´a que salientar que uma atribui¸c˜ao est´avel pode deixar algum candidato por atribuir ou uma universidade com a quota por preencher. O exemplo da figura 3.2 mostra como uma atribui¸c˜ao est´avel pode n˜ao preencher todas as quotas das universidades ou deixar algum candidato por atribuir.

Figura 3.2: Duas atribui¸c˜oes: v´ertices pretos - est´avel, v´ertices quadrados - n˜ao est´avel. Nesta figura s˜ao apresentadas duas atribui¸c˜oes: uma das atribui¸c˜oes, representada por quadrados, preenche todas as quotas e atribui todos os candidatos, mas n˜ao ´e est´avel (o v´ertice (u1, a3) bloqueia a atribui¸c˜ao pois ´e antecedido tanto na linha como na colu-na por um v´ertice da mesma); a outra atribui¸c˜ao, representada por v´ertices pretos, ´e a ´

unica atribui¸c˜ao est´avel do problema e apenas preenche a quota da universidade u1, n˜ao atribuindo o candidato a1.

se qualquer atribui¸c˜ao est´avel do primeiro tamb´em ´e uma atribui¸c˜ao est´avel do segundo e vice-versa.

Vai-se apresentar agora um algoritmo para a determina¸c˜ao de uma atribui¸c˜ao est´avel para um problema de admiss˜oes qualquer (Γ, q). ´E de salientar que o algoritmo que se vai apresentar ´e semelhante ao algoritmo guloso, uma vez que a cada execu¸c˜ao se vai escolher a melhor universidade para os candidatos, podendo este conjunto de v´ertices formar ou n˜ao a atribui¸c˜ao est´avel procurada.

Assim, dado um problema de admiss˜oes (Γ, q) e utilizando o algoritmo referido, escolhe--se de cada coluna o melhor v´ertice; a este conjunto de v´ertices chama-se γ. Se γ for uma atribui¸c˜ao, isto ´e, se cada linha u tem no m´aximo qu elementos deste conjunto, ent˜ao γ ´e est´avel, pois qualquer v´ertice do grafo ou est´a em γ ou ´e sucedido na coluna por um v´ertice de γ.

Suponha-se agora que isto n˜ao acontece, ou seja, existe pelo menos uma linha u que cont´em mais do que qu v´ertices de γ. Vai-se escolher os qu melhores deles e chamar a este conjunto Bu. Qualquer v´ertice (u, b) que anteceda os v´ertices de Bu diz-se in´util para a universidade u.

Vai-se provar que os problemas (Γ, q) e (Γ0, q), em que Γ0 ´e obtido a partir de Γ apagando um v´ertice in´util (u, b), s˜ao equivalentes. Assim, pode-se obter um atribui¸c˜ao est´avel µ para o problema Γ construindo uma atribui¸c˜ao est´avel para o problema Γ que dele se obt´em retirando todos os v´ertices in´uteis. Considere-se uma atribui¸c˜ao qualquer µ; quer-se provar a seguinte equivalˆencia:

µ ´e est´avel para Γ ⇔ µ ´e est´avel para Γ0

Suponha-se que µ ´e uma atribui¸c˜ao est´avel em Γ. Seja (u, b) ∈ Γ um antecessor qualquer dos v´ertices de Bu. Vai-se provar que (u, b) /∈ µ. Suponha-se que isto n˜ao acontece; ent˜ao teria de existir um v´ertice (u, b1) ∈ Bu tal que (u, b1) /∈ µ. Esta situa¸c˜ao est´a representada na figura seguinte, em que os v´ertices pretos representam os v´ertices da atribui¸c˜ao est´avel

µ na linha u:

Como µ ´e est´avel, (u, b1) tem de ter um sucessor na coluna ou qu sucessores na linha de µ. Mas, por defini¸c˜ao de Bu, (u, b1) n˜ao tem sucessores na coluna; por outro lado, (u, b1) ´

e sucessor de (u, b) ∈ µ, pelo que tem menos de qu sucessores na linha de µ, contradizendo a estabilidade de µ. Logo, (u, b) /∈ µ. Do facto de qualquer v´ertice (u, b), antecessor dos v´ertices de Bu, n˜ao pertencer a µ, pode-se concluir que µ ´e uma atribui¸c˜ao para Γ0. Al´em disso, µ tamb´em ´e est´avel para Γ0, pois a ordem de preferˆencias para os restantes v´ertices continua a mesma.

Suponha-se agora que µ ´e uma atribui¸c˜ao est´avel em Γ0. Ent˜ao µ tamb´em ´e uma atribui¸c˜ao em Γ. Tem-se ainda que as condi¸c˜oes de estabilidade se verificam em Γ para todos os v´ertices, com excep¸c˜ao, eventualmente, para (u, b). Podem assim acontecer duas coisas:

1. Todos os v´ertices de Bu est˜ao em µ, pelo que (u, b) ´e seguido por qu v´ertices de µ. 2. Algum v´ertice (u, a) de Bu n˜ao est´a em µ. Como (u, a) n˜ao tem sucessores na coluna,

ent˜ao tem de ser seguido na linha por qu v´ertices de µ em Γ0, pelo que tamb´em o ´e em Γ. Logo, como (u, a) sucede (u, b) em Γ, este tamb´em ´e seguido por qu v´ertices de µ.

Logo, µ ´e est´avel em Γ.

Vai-se provar que o procedimento seguinte determina uma atribui¸c˜ao est´avel num pro-blema de admiss˜oes (Γ, q). Al´em disso, vai-se ver que a atribui¸c˜ao obtida ´e a melhor escolha para os candidatos, tendo em conta as preferˆencias por eles manifestadas. Considere-se ent˜ao o problema (Γ, q) e fa¸ca-se o seguinte:

1. Para cada coluna a ∈ A, escolhe-se o seu melhor v´ertice; a este conjunto de v´ertices chama-se γA;

2a. Se γA ´e uma atribui¸c˜ao, ent˜ao γA ´e est´avel e ´e a atribui¸c˜ao procurada. Termina-se aqui o procedimento.

2b. Suponha-se que γA n˜ao ´e uma atribui¸c˜ao. V˜ao-se considerar as linhas u ∈ U de Γ que tˆem pelo menos qu v´ertices de γA;

3. Para cada uma destas linhas, escolhem-se os qu primeiros v´ertices de γA, formando assim o conjunto Bu;

4. Apagam-se todos os v´ertices de Γ que antecedem os de Bu na linha, para qualquer linha u. Obt´em-se um novo grafo; toma-se para Γ este novo grafo e retorna-se ao ponto 1.

Para se ver que o processo indicado acima produz o resultado que se prop˜oe, h´a que ver que ele termina num n´umero finito de passos e que produz uma atribui¸c˜ao est´avel para o problema (Γ, q) inicial. A cada repeti¸c˜ao do processo, o grafo vai ficando com menos v´ertices; uma vez que estes s˜ao em n´umero finito em cada linha u; ao fim de um n´umero finito de repeti¸c˜oes do processo, cada linha u tem, em Γ, um n´umero de v´ertices menor ou igual a qu, na pior das hip´oteses.

Tem-se que o resultado final ´e uma atribui¸c˜ao est´avel no “´ultimo” grafo considerado no processo; pelo que foi provado antes, a cada repeti¸c˜ao do algoritmo vai-se apagando v´ertices “in´uteis” para as linhas, pelo que se constr´oi uma sucess˜ao de problemas equivalentes entre si. Assim, como o problema de admiss˜oes (Γ0, q), em que Γ0 ´e o ´ultimo grafo do algoritmo, ´

e equivalente ao problema inicial, o resultado final do algoritmo ´e uma atribui¸c˜ao est´avel em (Γ, q), `a qual se d´a o nome de µA.

Tem-se, ainda, que esta atribui¸c˜ao est´avel ´e a melhor atribui¸c˜ao do ponto de vista dos candidatos no grafo final, j´a que ´e escolhido o melhor v´ertice de cada coluna em Γ0. Ou

seja, como qualquer outra atribui¸c˜ao est´avel neste grafo atribui a qualquer candidato uma universidade igual ou pior que a atribu´ıda por µA, ent˜ao esta atribui¸c˜ao vai ser melhor do que qualquer outra em Γ0. Uma vez que os sucessivos problemas s˜ao equivalentes, µA tamb´em vai ser a melhor atribui¸c˜ao est´avel do ponto de vista dos candidatos em Γ; se existisse alguma atribui¸c˜ao µ est´avel em Γ preferida a µA, como os dois problemas ((Γ, q) e (Γ0, q)) s˜ao equivalentes, µ tamb´em seria est´avel em Γ0 e preferida a µA por todos os candidatos, o que contradiz o que foi visto anteriormente. ´E de referir que esta compara¸c˜ao de atribui¸c˜oes est´aveis ser´a abordada naa pr´oxima sec¸c˜ao com mais detalhe.

H´a que salientar que este algoritmo ´e apresentado por Gale e Shapley em [12] como sendo uma adapta¸c˜ao do algorimo apresentado para o caso dos problemas de casamentos; ´

e tamb´em provada a optimalidade, relativamente aos candidatos, do seu resultado.

Como ´e de esperar, as universidades tamb´em gostariam que lhes fossem atribu´ıdos os candidatos que preferem. Assim, existe um processo semelhante ao anterior que produz a melhor atribui¸c˜ao do ponto de vista das universidades. Dado um problema de admiss˜oes (Γ, q), o processo ´e o seguinte:

1. Para cada u ∈ U , escolhem-se os qu melhores v´ertices da linha u. A este conjunto de v´ertices chama-se γU.

2a. Se γU ´e uma atribui¸c˜ao, ent˜ao ´e est´avel e ´e a atribui¸c˜ao procurada. Termina o processo.

2b. Suponha-se que γU n˜ao ´e uma atribui¸c˜ao. Consideram-se em Γ as colunas a ∈ A que tˆem pelo menos um v´ertice de γU.

3. Para cada coluna nestas condi¸c˜oes, escolhe-se o melhor v´ertice de γU, (ua, a).

4. Apagam-se todos os v´ertices (v, a) que antecedem (ua, a) na coluna, formando assim um novo grafo. Toma-se este grafo para Γ e retorna-se ao ponto 1.

Tal como acontecia no processo anterior, tamb´em este termina num n´umero finito de passos e o resultado final tamb´em ´e uma atribui¸c˜ao est´avel. Esta atribui¸c˜ao vai ser a melhor do ponto de vista das universidades, `a qual chamaremos µU.

Utilizando o problema de admiss˜oes da figura 3.1, vai-se aplicar ambos os algoritmos e encontrar as atribui¸c˜oes µA e µU. Comece-se por determinar µA; na figura 3.3 ´e apre-sentada a sequˆencia de problemas equivalentes obtidos da aplica¸c˜ao do primeiro algoritmo anteriormente descrito.

Figura 3.3: Aplica¸c˜ao do algoritmo guloso para os candidatos.

Os v´ertices quadrados apresentados nesta figura em cada problema s˜ao os escolhidos a cada repeti¸c˜ao do algoritmo; os v´ertices com uma cruz s˜ao os que v˜ao sendo apagados, v´ertices in´uteis na linha correspondente. No problema 3) da mesma figura, os v´ertices quadrados pertencem `a atribui¸c˜ao µA. Vai-se agora aplicar o segundo algoritmo ao pro-blema apresentado na figura 3.1; o processo ter´a in´ıcio no problema 3) da figura 3.3.

`

problemas obtidos no decorrer dos algoritmos s˜ao equivalentes, n˜ao h´a qualquer diferen¸ca entre aplicar o algoritmo a (Γ, q) ou ao problema 3) da figura 3.3. Na figura 3.4 est´a representada a sequˆencia de problemas obtidos da aplica¸c˜ao do algoritmo “guloso” para as universidades ao problema em causa.

Figura 3.4: Aplica¸c˜ao do algoritmo guloso para as universidades.

Os v´ertices pretos apresentados nesta figura em cada problema s˜ao os escolhidos a cada repeti¸c˜ao do algoritmo; os v´ertices com uma cruz s˜ao os que v˜ao sendo apagados, v´ertices in´uteis na coluna correspondente. No problema 4) da mesma figura, os v´ertices pretos s˜ao os v´ertices da atribui¸c˜ao µU. Analogamente ao que foi visto na resolu¸c˜ao do problema de casamentos, a solu¸c˜ao obtida da aplica¸c˜ao do algoritmo guloso para os candidatos ´e a solu¸c˜ao ´optimal para estes, isto ´e, se µ ´e qualquer outra atribui¸c˜ao est´avel, existe um candidato a ∈ A que prefere a universidade que lhe ´e atribu´ıda por µA `a que ´e atribu´ıda por µ e, para os restantes candidatos, a sua atribui¸c˜ao em µ ´e, quando muito, igual `a de µA. Analogamente se prova que µU ´e a solu¸c˜ao ´optima para as universidades.

Decorre, assim, deste algoritmo o seguinte resultado:

Teorema 3.1.1. Todo o problema de recrutamento tem uma ´unica atribui¸c˜ao est´avel op-timal para os candidatos e uma ´unica atribui¸c˜ao est´avel optimal para as universidades.

Pelo que foi visto anteriormente, estas atribui¸c˜oes s˜ao, respectivamente, µA e µU. Al´em disto, a unicidade das solu¸c˜oes decorre da unicidade do grafo obtido da aplica¸c˜ao dos dois algoritmos.

Dado um problema de recrutamento (Γ, q), se se lhe aplicar os dois processos referidos anteriormente, obter-se-`a um grafo com menos v´ertices do que Γ, e, por outro lado, sem v´ertices “in´uteis” tanto para os candidatos como para as universidades. A este grafo d´a-se o nome de grafo ´util . Usando o que foi provado anteriormente relativamente aos v´ertices que s˜ao apagados no decorrer de cada um dos processos, sabe-se que apenas os v´ertices do grafo ´util podem pertencer a alguma atribui¸c˜ao est´avel para Γ. Na figura 3.5, apresenta-se o grafo ´util do problema de admiss˜oes da figura 3.1, bem como as suas atribui¸c˜oes optimais para as universidades e para os candidatos.

Figura 3.5: O grafo ´util e as atribui¸c˜oes µA (v´ertices quadrados) e µU (v´ertices pretos). ´

E de salientar que se num problema de admiss˜oes (Γ, q) n˜ao existirem v´ertices in´uteis, isto ´e, se o grafo ´util do problema for igual ao grafo inicial, o algoritmo apresentado tanto para os candidatos como para as universidades ´e executado apenas uma vez. Ou seja, os v´ertices inicialmente escolhidos pelos algoritmos formam uma atribui¸c˜ao est´avel.

se tem uma forma de encontrar atribui¸c˜oes est´aveis nesse problema. Na sec¸c˜ao seguinte, vai-se ver de que forma se pode comparar duas quaisquer atribui¸c˜oes est´aveis, de modo a saber, de entre duas destas atribui¸c˜oes, qual a melhor para cada um dos conjuntos.

3.2 Comparar atribui¸c˜oes est´aveis

Quando se est´a perante um problema de recrutamento (Γ, q), o objectivo n˜ao ´e s´o en-contrar uma atribui¸c˜ao est´avel, mas tamb´em encontrar a melhor atribui¸c˜ao. Para isso, ´e necess´ario conseguir comparar diferentes atribui¸c˜oes est´aveis para um dado problema de recrutamento. Para cada um dos candidatos ´e simples comparar duas atribui¸c˜oes, uma vez que cada um deles ´e apenas atribu´ıdo a uma universidade em cada atribui¸c˜ao e as preferˆencias s˜ao estritas. Para cada uma das universidades, tamb´em se ir´a ver como se faz esta compara¸c˜ao, apesar de, a cada universidade, poderem ser atribu´ıdos mais do que um candidato.

Seja µ (u) o conjunto dos candidatos atribu´ıdos pela atribui¸c˜ao µ `a universidade u ∈ U ; este conjunto tem no m´ınimo zero elementos e no m´aximo qu (0 ≤ |µ (u)| ≤ qu). Seja ainda µ (a) o conjunto “de universidades” atribu´ıdas a a ∈ A; este conjunto tem zero elementos ou um (|µ (a)| = 0 ou |µ (a)| = 1).

Sejam µ e µ0 duas atribui¸c˜oes. A preferˆencia de um candidato relativamente a duas atribui¸c˜oes ´e expressa pela seguinte nota¸c˜ao: diz-se que µ a µ0 se µ (a) >a µ0(a) ou µ (a) 6= ∅ e µ0(a) = ∅, o que traduz a preferˆencia estrita do candidato a ∈ A pela atribui¸c˜ao µ em detrimento da atribui¸c˜ao µ0; µ a µ0 se µ a µ0 ou µ (a) = µ0(a), o que traduz uma preferˆencia em sentido lato pela atribui¸c˜ao µ relativamente a µ0.

Vai-se ver agora como se podem comparar duas atribui¸c˜oes est´aveis do ponto de vista das universidades. A nota¸c˜ao usada para expressar esta preferˆencia ´e semelhante `a usada

para os candidatos: diz-se que µ u µ0, se, dado um v´ertice (u, a) ∈ µ0\µ, b <u a, ent˜ao (u, b) /∈ µ, o que traduz a preferˆencia estrita da universidade u ∈ U pelos candidatos atribu´ıdos por µ em detrimento dos que s˜ao atribu´ıdos por µ0; diz-se que µ u µ0 se µ u µ0 ou µ (u) = µ0(u), o que traduz uma preferˆencia em sentido lato da universidade u ∈ U pela atribui¸c˜ao µ relativamente a µ0.

Atrav´es do exemplo da figura 3.5, da sec¸c˜ao anterior, pode-se concluir que, neste caso, µU u µA, para todo u ∈ U , e µA a µU, para todo a ∈ A. Para al´em disto, pelo que foi visto, para qualquer atribui¸c˜ao est´avel µ, tem-se que µU u µ, para todo u ∈ U , e que µAaµ, para todo a ∈ A.

Os dois resultados que se v˜ao enunciar a seguir s˜ao importantes para o que se pretende encontrar: uma forma de comparar atribui¸c˜oes est´aveis do ponto de vista das universidades. Com eles ir-se-`a concluir que o cardinal do conjunto dos elementos atribu´ıdos a qualquer universidade ou a qualquer candidato n˜ao depende da atribui¸c˜ao desde que ela seja est´avel. Al´em disso, se uma atribui¸c˜ao est´avel ´e prefer´ıvel em rela¸c˜ao a outra atribui¸c˜ao est´avel para uma universidade, sendo elas diferentes, tem-se que todos os v´ertices da melhor s˜ao preferi-dos por essa universidade aos v´ertices que pertencem exclusivamente `a pior atribui¸c˜ao. As

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