A seguir analisamos o resultado da tabulação das respostas recebidas.
Entre os respondentes do questionário aplicado, 95% alegam conhecer o
conceito de fábrica de software e assim, o traduzem:
Na minha visão, é requisito da fábrica a definição de procedimentos padronizados para a realização de atividades objetivando produtos finais também padronizados. Desta forma, a fábrica de software, baseada em um processo de software bem definido e democratizado, visa a consecução de produtos de software que garantam funcionalidade e qualidade padronizadas.
É uma tentativa de implantar um conceito de “linha de montagem” como o chão das fábricas da década de 70 para a produção de software. É a produção de software, seguindo a lógica de linha de montagem, presentes nas fábricas comuns.
Em suma, é denominado um estabelecimento de desenvolvimento de software com metodologia e processos bem definidos e padronizados, e com controle de produtividade através da coleta de métricas para futuras avaliações de prazos e custos.
Uma empresa de desenvolvimento de software especializada na construção do código e que recebe demandas de projetos variados de acordo com as necessidades do cliente.
Conjunto de recursos (humanos e materiais), processos e metodologias estruturados utilizando as melhores práticas criadas para o processo de desenvolvimento, testes e manutenção de software (vide wikipedia) Órgão ou entidade responsável pelo desenvolvimento ou melhoria de produtos de “software”, seguinte metodologia específica e bem definida. O cliente expressa o que deseja e a fábrica terá a obrigação de atender a necessidade desse cliente. As características de metodologia e qualidade estão inerentes nos serviços prestados.
Empresa (ou área) cuja capacidade produtiva se concentra em atividades de construção de sistemas computacionais, passando pelas fases principais de um processo de desenvolvimento de software. Conjunto de processos e métodos bem definidos que envolvem a criação de um software
Entendo que seja uma empresa que utilize todos os seus recursos, sejam eles humanos ou materiais, incluindo padronização de metodologias, boas práticas e processos, com o objetivo de que se desenvolva sistemas que atinjam padrões de qualidade e produtividade ótimos, utilizando-se um processo de desenvolvimento componentizado. Um conjunto de pessoas e recursos materiais que tem um processo bem definido para poder prover o desenvolvimento de soluções de software.
Levando em consideração o conceito de Fábrica, considero que esta metodologia de desenvolvimento tem por objetivo aumentar a produtividade por meio da especialização dos indivíduos de forma a se encaixar os colaboradores (aqui chamados simplesmente de “recurso”) nos momentos em que são necessários a sua aplicação. No sentido de linha de produção, os colaboradores poderiam ser substituídos sem prejuízo do andamento das atividades uma vez que a documentação tornaria todo o processo impessoal. Deve-se observar, no entanto, que este tipo de desenvolvimento carece de extrema qualidade de documentação uma vez que alguém que não estivesse diretamente envolvido na especificação dos softwares e elaboração de documentos poderia desenvolver o aplicativo somente através do que estivesse escrito. Pode-se até se implantar um método em que alguém que tenha desempenhado determinada função em um projeto, passe a executar outra em um segundo trabalho. Isto tornaria a equipe extremamente versátil. Contudo, vejo que na prática as pessoas procuraram desempenhar as atividades que mais se adequam às suas expectativas e experiências. Isto as especializa. Em poucas palavras é este o entendimento sobre fábrica de software: documentação de qualidade, especialização e impessoalidade.
Modo de produção de software onde se tenta criar, a exemplo de fábricas e montadoras, uma linha de montagem de software. Busca-se padronizar metodologias e processo de desenvolvimento; identificar, documentar e disponibilizar componentes reutilizáveis; especializar a função de cada desenvolvedor; criar controle de qualidade, produtividade e indicadores que permitam tal controle.
Uma breve análise das definições apresentadas pelos entrevistados aponta
para algumas expressões que se repetem e apontam para os seguintes
entendimentos ou consenso quanto ao que representa à adoção do conceito de
fábrica de software:
. Procedimentos, processos, metodologia e produtos finais padronizados;
. Aumento de produtividade;
. Especialização.
Os dados obtidos na parte específica do questionário apontam para os
resultados a seguir analisados.
Perguntados sobre o nível de participação no processo de definição da
estrutura organizacional para a adoção do conceito de fábrica de software os
trabalhadores responderam que não tiveram praticamente nenhum tipo de
participação.
Figura 14: Nível de participação na definição
Nível de participação na definição
50% 30% 15% 5% Nenhum Pouco Eventual Alto
Fonte: Elaborado pelo autor
Este nível de participação aponta uma ligeira melhora no que diz respeito à
Figura 15: Nível de participação na implantação
Nível de participação na participação
45% 35% 5% 15% Nenhum Pouco Eventual Alto
Fonte: Elaborado pelo autor
Estes indicadores podem ser interpretados sob duas vertentes: a primeira,
está relacionada com o fato de a criação das UD´s tenha sido resultado de um
ajuste na implementação do conceito, ou seja: as UD´s são criadas como um
alinhamento, ajuste do processo que já se encontrava em curso. A segunda
vertente está relacionada com o tempo de serviço na empresa dos respondentes
– 90% têm até dois anos, período onde os ajustes na estrutura foram realizados;
ou seja: os trabalhadores ingressaram na organização com a estrutura
implementada.
Sobre o nível de conhecimento que tinham a respeito dos objetivos da
mudança da estrutura organizacional para a adoção do conceito de fábrica de
software, 55 % dos entrevistados afirmaram que tinham um nível bom ou muito
Figura 16: Nível de conhecimento dos objetivos
Nível de conhecimento dos objetivos
5% 40% 50% 5% Nenhum Regular Bom Muito Bom
Fonte: Elaborado pelo autor
Dentre os objetivos associados com a mudança da estrutura organizacional
para a adoção do conceito de fábrica de software os entrevistados apontaram:
Figura 17: Objetivos associados a mudança
Objetivos associados a mudança
2 2 2 2 8 8 8 8 11 12 R e d u ç ã o d e c o n fl it o s P a d ro n iz a ç ã o R e d u ç ã o d e c u s to s P ro d u ti v id a d e C o n tr o le C o o rd e n a ç ã o D e s c e n tr a liz a ç ã o M a x im iz a ç ã o d e re c u rs o s In te g ra ç ã o d e a m b ie n te E s p e c ia liz a ç ã o
Cabe registrar que Produtividade, Padronização e Redução de Custos
foram, inicialmente, apontados como “Outros” pelos entrevistados, ou seja: não
faziam parte da lista inicial apresentada.
Estes resultados são corroborados pelos entrevistados em outras
perguntas. Ao responderem positivamente se houve aumento do nível de
especialização dos profissionais envolvidos nas tarefas de desenvolvimento de
software, 100% responde que ocorreu, pelo menos, algum aumento.
Figura 18: Aumento do nível de especialização
Aumento da especialização 30% 25% 45% Alguns Eventuais Muitos
Fonte: Elaborado pelo autor
Este resultado ratifica que um dos objetivos da adoção do conceito de
fábrica de software – a especialização -, percebido pelos entrevistados, foi
alcançado.
Nas palavras de José Carlos Cunha Neiva, gerente da UDRJ, ao ser
Eu diria que este é o mantra da informática para esta tecnologia e para esta metodologia. É essa especialização. (...)eu entendo que não é bom. (...)não estamos lidando com o parafuso, com a porca, com o torquímetro(...) Há um outro nível de interação com quem está pedindo as coisas. Na especialização extrema você perde produtividade. (...)tem um nível especialização, mas não dá para se isolar e não ter um conhecimento mínimo do processo como um todo. Não estou dizendo que estamos voltando àquela época do generalista; mas também, não estamos no fordismo dos tempos modernos.
Outros dois objetivos percebidos pelos respondentes – produtividade e
maximização de resultados - aqui adotados como sinônimos, também são
tratados em outras questões.
Perguntados se houve diminuição do tempo de produção das tarefas
demandadas aos profissionais envolvidos nas tarefas de desenvolvimento de
software, 50% dos respondentes apontam que não houve redução deste tempo.
E, se houve aumento da capacidade de produção dos profissionais envolvidos
nas tarefas de desenvolvimento de software decorrente da especialização e da
“linha de montagem”, 55% também respondem que não.
A análise destes resultados, considerando o tempo de serviço dos
respondentes e a faixa etária, aponta que não há uma referência anterior para
efeito de comparação. Aumento este que pode melhor ser percebido pelas
declarações obtidas nas entrevistas realizadas, quando os entrevistados
respondem sobre os ganhos percebidos com a adoção do conceito de fábrica de
Nas palavras de José Carlos Cunha Neiva, gerente da UDRJ, ao ser
entrevistado pelo autor:
Otimização da utilização dos profissionais, eficiência na Empresa. Integração do processo, a passagem de uma etapa para outra é mais tranqüila, os problemas são minimizados. Uma sinergia maior entre as áreas. [...] Estamos mais produtivos, após uma curva de aprendizado. A tendência é de crescimento.
Nas palavras de Custódio Antunes dos Santos, gerente da DEDS, ao ser
entrevistado pelo autor:
Antes você tinha isto tudo junto. (...) Numa mesma área você tinha a sustentação, a parte que cuida do dia a dia e os projetos novos ali dentro. (...) A vantagem de uma fábrica, é que você, em princípio, maximiza recursos (...).
E mais,
Você padroniza, pode até fazer um pedaço em cada local, você pode partir o teu trabalho em mais de uma área, realmente eu acho que este é o ganho: o ganho da escala, ganho da disciplina, da produtividade, se seguir as normas com mais rigor, eu acho que trás todo isto embutido.
A fábrica de software acaba sendo uma conseqüência de organização para você trabalhar melhor com todas essas tecnologias. (...)As novas tecnologias te obrigam a ser mais organizado (...) também obrigam uma especialização maior. Um ambiente mais complexo.
Não resta dúvida que estamos diante de um processo em evolução que
demandou e demandará ajustes e adequações à capacidade organizacional da
Dataprev. As respostas à pergunta “os processos de desenvolvimento de
softwares estão bem definidos?” reforçam esta perspectiva.
Figura 19: Adequação da definição dos processos de desenvolvimento de software
Qualidade da definição dos processos
30% 60% 10% Sim Não Sem resposta
Fonte: Elaborado pelo autor
Figura 20: Possibilidades oferecidas pela adoção do conceito de fábrica de software
Possibilidades oferecidas pela adoção do conceito
17 11 9 6 4 3 B A E D C F
Legenda:
A. identificação das tarefas necessárias ao alcance dos objetivos estabelecidos B. organização das responsabilidades e níveis de autoridade
C. estruturação do processo decisório ideal, incluindo o estabelecimento dos relatórios gerenciais D. contribuição direta para a otimização das comunicações internas e externas da empresa E. estabelecimento de indicadores de desempenho compatíveis com os objetivos estabelecidos F. contribuição direta para o incremento motivacional e o maior comprometimento para com os
resultados esperados.
Para os respondentes, a estrutura organizacional resultante da adoção do
conceito de fábrica de software possibilita, prioritariamente, a organização das
responsabilidades e níveis de autoridade.
Algumas perguntas do questionário pressupunham o conhecimento da
realidade anterior à implantação do conceito de fábrica de software, tais como:
. Em relação aos processos de desenvolvimento de software, os mesmos permaneceram após implantação da estrutura organizacional para a adoção do conceito de fábrica de software?
. Ocorreram ganhos com os novos processos implementados com a estrutura organizacional para a adoção do conceito de fábrica de software?
. Com a adoção do conceito de fábrica de software ocorreram mudanças na capacitação oferecida aos profissionais envolvidos nas tarefas de desenvolvimento de software?
. Com a adoção do conceito de fábrica de software ocorreram ganhos dos profissionais envolvidos nas tarefas de desenvolvimento de software em termos de conhecimento, desempenho e multi-habilidades?
Dada à característica do processo de povoamento do quadro de pessoal
das Unidades de Desenvolvimento – objetos de nosso estudo – notadamente,
pela contratação de novos trabalhadores por meio de concurso público, a análise
resultados da pesquisa. Desta forma, optamos por não considerar, para efeito de
análise tais questões.
Expostos aos três modelos de produção apresentados por Cusomano,
citado por Motta e Vasconcelos (2006, p. 235), como predominantes no
desenvolvimento de software na década de 90, 70 % dos respondentes
apontaram o modelo Job-shop organizations como aquele que melhor representa
o atual estágio da Dataprev.
Figura 21: Modelo de Produção
Modelo de Produção 70% 0% 25% 5% Job-shop organizations Sistema Flexível de Projeto e Produção
Fábrica Convencional de Projeto e Produção
Sem resposta
Fonte: Elaborado pelo autor
Os modelos de produção apresentados por Cusomano são assim definidos
(ênfase do autor no modelo Job-shop organizations):
Job-shop organizations: Empresas de informática que desenvolviam produtos (softwares) inteiramente personalizadas (full customized), elaborando projetos únicos adaptados especificamente às necessidades de cada cliente. Cada projeto exigia regras, componentes e ferramentas diferentes.
As equipes de trabalho mudavam com freqüência, dependendo do projeto em que atuavam. Esse tipo de organização flexível tinha como tarefa elaborar softwares para um tipo de satélite, projeto espacial, avião
ou usina nuclear, entre outros, integrando os diferentes tipos de conhecimento dos membros de suas equipes multidisciplinares.
O desenvolvimento de software, neste contexto, era visto como uma atividade única, obedecendo a um padrão e a um processo específico, distinto dos outros, uma vez que se destina a um tipo de cliente ou mercado, o que impedia a adoção de sistemas padronizados (plant- automatization systems). Os profissionais, super qualificados, eram especialistas em um tipo de sistema específico. A mão-de-obra não era facilmente intercambiável, porque seu conhecimento era único, adaptado a esse tipo de atividade.
O volume de produção era pequeno, logo não era possível realizar uma economia de escala significativa, mas os preços de cada projeto eram em geral muito altos, com ampla margem de lucratividade, o que compensava os baixos volumes. Trabalhava-se com poucos clientes e o importante era o desempenho dos sistemas e a sua eficiência, fatores que diferenciavam a empresa no mercado, e não o preço baixo dos produtos.
Sistema Flexível de Projeto e Produção – Flexible design and production system: empresas que fabricam produtos semipadronizados (semi- standardized). Essas organizações são denominadas de Fábricas Flexíveis de Software (Software Flexible Factories) e seus produtos semi-prontos são mantidos em estoque e depois finalizados, adaptados e configurados de acordo com as necessidades específicas dos clientes no momento da instalação.
Fábrica Convencional de Projeto e Produção – Conventional factory production and design: um sistema em que os produtos são similares a comodities, inteiramente padronizados (full-standarddized), tendo componentes intercambiáveis. A produção em massa e os altos volumes são obtidos graças à utilização de procedimentos e formas de produção inteiramente padronizados, o que permitia economias de escala significativas.
(MOTTA e VASCONCELOS, 2006, p. 235)
Nossa suposição ao iniciar nossa pesquisa era de que a Dataprev, por
intermédio da Diretoria de Relacionamento, Desenvolvimento e Informações –
DRD e mais especificamente por meio das Unidades de Desenvolvimento, em
função das características dos serviços e produtos fornecidos, se encaixaria no
tipo Job-shop organizations, contrariando a perspectiva fordista de mão-de-obra
especializada sob técnicas repetitivas de produção de serviços ou de produtos padronizados. Pelas respostas analisadas, concluímos que nossa suposição
modelo Job-shop organizations como aquele que melhor representa o atual
estágio da Dataprev.
Este capítulo abordou aspectos gerais da Dataprev, relatou o processo
evolutivo de adequação da capacidade organizacional da DRD e analisou os
resultados da pesquisa de campo com ênfase nos dados obtidos na aplicação do
questionário. Foi resgatada a suposição que orientou o início da pesquisa e