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Descobrir por si mesmo uma verdade, sem sugestões e ajudas exteriores, é criação (mesmo que a verdade seja velha) e demonstra a posse do método...

(Antonio Gramsci)

6.1- Um Breve Histórico do assentamento Oziel Alves Pereira e algumas impressões dos assentados

Figura 1- Placa localizada na entrada do assentamento Oziel Alves Pereira.

O Assentamento Oziel Alves Pereira foi criado em 26 de junho de 1996 (data de entrega das chaves da fazenda aos acampados pelo superintendente da CORA (Comissão Operacional da Reforma Agrária). Localizado no município de Governador Valadares, na região do Vale do Rio Doce, o assentamento possui aproximadamente 50 famílias, distanciando-se cerca de 3 quilômetros da cidade, com o acesso feito integralmente por estrada asfaltada, a rodovia BR 116 (Rio-Bahia). O assentamento localiza-se à esquerda da BR 116, antes do horto florestal do IBAMA. Com uma área de 1. 945, 9232 hectares, o assentamento Oziel Alves Pereira está inserido em uma região de intensificação do conflito fundiário nos últimos 10 anos, o que gerou uma forte presença do MST, e, conseqüentemente, a ampliação do número de assentamentos rurais na região.

A antiga Fazenda Ministério, ao longo dos anos 50 e 60 vinha sendo utilizada para a extração madeireira e como a pastagem para gado de fazendeiros do Vale do Rio Doce, “as Terras do Rio Sem Dono”, fato denunciado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Governador Valadares, visando a proposta de inclusão da área nas intenções de reforma agrária. Após o anúncio do então presidente João Goulart da destinação da Fazenda Ministério para a Reforma Agrária o resultado foi a adesão do governador do estado Magalhães Pinto aos golpistas militares de 1964. A partir desse ano a Fazenda Ministério desapareceu do cenário político nacional e os sindicalistas de Governador Valadares foram perseguidos, torturados e mortos.

Somente a partir do início dos anos 90, com a atuação do MST na região, a Fazenda Ministério se torna alvo de luta dos trabalhadores rurais. Como forma de consolidar sua atuação no Vale do Rio Doce, o MST concentrou sua luta a favor da conquista da Fazenda Ministério, numa área de atuação exclusiva do movimento sindical a partir do pólo regional da FETAEMG (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais). Apesar de a fazenda estar formalmente vinculada à EMBRAPA, estava cedida em comodato para a EPAMIG; por essa razão, o MST, desde o início dos anos 90, pressionava o governo federal para que a desapropriação acontecesse. A área, que era utilizada para a pesquisa em produção de grãos e em genética de animais, era utilizada, na realidade em apenas 5% na elaboração de pesquisas; o restante da fazenda era cedido a fazendeiros da região para a criação de gados, o que travou fortemente o conflito pela terra entre fazendeiros e os trabalhadores, durante as duas ocupações ocorridas na fazenda, ambas em 1994, quando os trabalhadores foram despejados por cumprimento judicial, com a intervenção violenta da Polícia Militar, que se utilizou da cavalaria, da tropa de choque e de helicópteros para fazer a intervenção.

A partir de meados de 1996 as terras da Fazenda Ministério são cedidas para a Comissão Operacional da Reforma Agrária, que agiliza o processo de desapropriação e promove a criação do Assentamento Oziel Alves Pereira, o que possibilitou o acesso a terra para 50 famílias organizadas pelo MST e que participaram diretamente das ações de ocupação, e para 22 famílias de antigos empregados e prestadores de serviços para a EPAMIG, que também foram contemplados com lotes em uma das glebas do Assentamento.

Na fala das crianças do assentamento sobre o momento de luta e conquista da terra, pode-se perceber a presença de alguns equívocos, a partir do momento em que se referem a Oziel Alves Pereirra como um mártir do assentamento, muitas vezes contando histórias imaginárias, aliando ao seu discurso a figura de Che Guevara e ressaltando a presença dos próprios pais na história do assentamento:

Nossos pais eram uns homens lutadores, gostaram muito daqui. Conquistaram essa terra com muito custo. Aí, eles foram num negócio lá...parece que é em Belo Horizonte, e...lutar, tentar e conquistar a nossa terra e também caçar esposas, né? Aí tudo bem, aí chegou lá, os policiais começaram a bater neles, xingar...Sr. Erminio levou um tiro na cabeça, o meu pai quase foi acertado, o Che Guevara foi morto por uma bala perdida no peito, e os nossos pais foram presos. Ficou um tempo. Depois dos tempos, eles foram soltos, aí, nós viemos prá cá pro assentamento. Aí nós, aqui no assentamento, nossos pais conseguiram conquistar a terra e tudo, casou com elas, com as esposas e tiveram seus filhos (menina, cerca de 10 anos).

...aí, o jovem Oziel foi passear de cavalo, tava chovendo. Ele pisou no fio de luz, o cavalo, tomou choque e morreu eletrocutado. Aí a nossa escola tem o nome de anexo, com o nome Josimar Gomes Silva e esse assentamento foi dado com o nome de Oziel Alves Pereira (menina, cerca de 8 anos).

Os nossos pais iam lá no outro país procurar outras terras. Lá tinha um tantão de polícia, um tantão de pessoal. Aí encontrou quase todo mundo, todo mundo do MST, aí, as polícias começaram a brigar...terra...aí Ghê Guevara foi lá, levou um tiro no peito, tava no cavalo, depois eles arrumou essa música que nós tão cantando aqui:

Brilha no céu, a estrela do Che, somos sem-terrinha do MST! (

menino, cerca de 10 anos).

Teve uma luta aqui no assentamento Oziel...o Che Guevara...foi todo mundo aqui do sem-terra prá Belo Horizonte brigar. Teve uma luta...as polícia atiraram nos pessoais, foi um muncado preso, deu um tiro no peito do Che Guevara, e bala perdida, aí ele morreu. Aí teve também uma outra história do Josimar Gomes Silva. Ele levou um tiro, tava chovendo a noite, em um dia de chuva, aí um poste de fiação caiu, um cavalo pisou num fio de fiação e levou choque, e ele tava em cima do cavalo e morreu. E assim, depois que passou um tempo, nossos pais conseguiram namorar, casou, ganhou nós e a história acabou ( menina, cerca de 10 anos).

Interessante ressaltar que as crianças contaram a história do assentamento, segundo suas próprias impressões, separadamente. Nota-se que há um certo consenso dos personagens que fizeram parte das reivindicações, mesmo que algumas informações sejam equivocadas. A causa para tais informações oriundas das crianças pode ter relação com a diversidade de músicas, hinos e “gritos” cantados pelas crianças citando Che Guevara, revolucionário cubano, Oziel Alves Pereira e Josimar Gomes Silva, trabalhadores mortos durante as ocupações, também são citados, mas as informações são invertidas, devido a um grande número de histórias ouvidas pelas crianças e sua “absorção” no universo imaginário infantil. Duas crianças também citaram o fato de seus pais terem conquistado, além da terra, suas esposas. Talvez tal história seja citada devido ao fato de o número de militantes homens no momento anterior à conquista da terra ser mais expressivo. No assentamento, relatou-se inúmeras vezes sobre o fato da ausência de mulheres na atualidade e também antes da conquista da antiga Fazenda Ministério.

A população residente no assentamento Oziel é estimada em cerca de 360 pessoas, sendo que fazem parte da agrovila 160 pessoas, completadas pelas 120 pessoas residentes dos lotes e 80 pessoas que fazem parte do núcleo dos antigos funcionários da EPAMIG. Apesar da garantia da terra a todos, percebe-se no assentamento uma certa “divisão”, no que diz respeito à produção, à convivência e às demais atividades comunitárias, conforme demonstra o relato abaixo:

Aqui por perto, na agrovila, mora nosso povo mesmo, os sem-terra mesmo. Mais prá lá moram eles. Aqui a gente produz junto, quando um passa aperto o outro ajuda e ninguém sente falta de nada. Lá eles fazem as coisas do jeito dele, sabe? Produzem do jeito deles. Mas eles vêm na nossa formação, não excluímos eles (Mulher, cerca de 40 anos).

Percebe-se, entre os assentados, principalmente aos pertencentes à agrovila, uma maior cumplicidade e relações afetivas mais próximas. Diariamente as mulheres se reúnem para conversar na praça em frente à sede da fazenda e levam as crianças para brincar nos arredores. Percebe-se, de acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Viçosa, e como já foi relatado pelas histórias contadas no assentamento, que o número de mulheres é reduzido no assentamento, a maioria ocupando trabalhos domésticos e pequenos trabalhos na “roça”.

O número de crianças no assentamento é bastante expressivo (cerca de 85 em idade escolar e pré-escolar, a grande maioria residente da agrovila e das famílias ligadas ao MST. Quando o assentamento Oziel foi criado o número de crianças era de 92, conforme os dados levantados pelo CORA ( Comissão Operacional da Reforma Agrária), o que reforça a conclusão de que pessoas com menos de 35 anos formam grande maioria da população residente no assentamento, graças ao perfil etário do grupo associado ao MST. Já no grupo formado pelos antigos funcionários da EPAMIG predominam pessoas com uma faixa etária mais elevada, principalmente devido ao perfil etário dos beneficiários e cônjuges no período do assentamento.

Quanto às moradias, todas são constituídas de alvenaria, independentemente do local onde foram construídas e possuem energia elétrica e água proveniente do poço profundo ou cisternas, redes de esgoto (somente as casas localizadas na agrovila) e algumas dispõem de telefone fixo. Algumas famílias possuem computadores, televisão, aparelhos de DVD e geladeira. Todas as casas possuem uma área externa pertencente ao seu lote, que serve, basicamente, para a criação de pequenos animais para o sustento da família e o plantio de frutas e vegetais para a mesma finalidade. Vale ressaltar que, de acordo com os próprios assentados, cada família, no momento de distribuição dos lotes do assentamento, recebeu, além do local para moradia, uma outra parcela de terra. Alguns assentados utilizam esta propriedade para a produção e outros não a utilizam.

Figura 2- Casa de uma das famílias assentadas. A foto a realidade da maioria das casas do assentamento, amplas e construídas de alvenaria.

Figura 3- Casa de uma das famílias assentadas. Da mesma forma pode-se observar a boa estrutura física, arborização e amplitude dos lotes dos assentados.

Durante a observação pôde-se concluir que alguns assentados trabalham com a produção de leite e mel como parceiros, efetuando a divisão final das quantias garantidas nas vendas realizadas na cidade.

Quando nós dividimos as terras, cada família ficou com um sítio prá cuidar. Tem uns que vivem só do que plantam no terreiro, mas nós juntamos os homens, um ajuda o outro e vamo prá lida cada um por todos. Vendemo na cidade e tem a divisão no final, né? Mas tem coisa que cada família produz o seu (homem, cerca de 50 anos).

No que diz respeito à educação, o assentamento possui uma escola, denominada Escola Estadual Josimar Gomes Silva, anexo da Escola Estadual Santa Rira de Cássia, da cidade de Governador Valadares, localizada na agrovila. A escola atende a cerca de 50 crianças do próprio assentamento.

Criada em 1999, através de um convênio firmado entre a prefeitura e o governo estadual, a escola é multisseriada e atende a crianças do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental. As crianças de 1º e 2º anos são atendidas em uma sala de aula e os 3º e 4º anos são atendidos em outra sala, ambos pela manhã. No período da tarde são oferecidas aulas ao 5º ano. As crianças que cursam as demais séries do ensino fundamental e do ensino médio

freqüentam escolas localizadas nas proximidades do assentamento, inclusive na cidade de Governador Valadares.

Figura 4- Vista dianteira da Escola Estadual Josimar Gomes Silva. Nos extremos estão presentes as duas salas de aula. Pode-se observar, também, a mesa utilizada para refeições e outros cômodos, a cantina, os dois banheiros e a sala da diretora.

Apesar do vínculo oficial com a Prefeitura Municipal de Governador Valadares e de estar subordinada à Secretaria de Estado da Educação, a escola adota o projeto filosófico e pedagógico do MST, bem com as diretrizes para educação nos assentamentos rurais, que foram discutidos anteriormente, “levando em conta a condição de sem-terra das crianças e não esquecendo que a educação deve estar voltada prá uma vida socialista, onde tudo é de todos” (Professora, cerca de 40 anos).

A escola é composta por duas salas de aula, que dividem as turmas de primeiro ao quinto ano, dois banheiros (um feminino e um masculino), uma cozinha, um corredor externo (onde fica localizada a mesa para a merenda das crianças) e uma sala para a direção. A escola não possui biblioteca, os livros didáticos e paradidáticos ficam expostos nas próprias salas de aula. Faz parte do espaço físico da escola uma área externa em frente às salas, onde ficam localizados brinquedos confeccionados com pneus pelos pais dos alunos e uma área atrás da escola, onde fica localizada a horta que serve de apoio à merenda; o cultivo fica sob a responsabilidade das próprias crianças. Faz parte do corpo de funcionários, atualmente, duas professoras, uma cantineira e auxiliar de limpeza, uma coordenadora e uma diretora (esta

última, diretora da Escola de Governador Valadares e também da escola do assentamento, acompanhando as atividades escolares periodicamente).

Figura 5- Local reservado às refeições.

Figura 7- Vista parcial da fachada da escola. Podem ser observados parte da cantina e do banheiro.

Figura 9- Vista parcial da cantina.

No assentamento Oziel está presente o Centro de Formação Carolina Vera, que atende periodicamente integrantes e militantes do movimento para cursos sobre política, educação e também sobre a filosofia do movimento. O centro de formação, que possui ótima estrutura, contendo um auditório e uma sala de vídeo com televisão e aparelho de DVD, fica localizado próximo à antiga sede da Fazenda Ministério, que serve, atualmente, de alojamento para os cursistas que participam das formações.

Figura 10- Centro de Formação Carolina Vera. O Centro de formação foi construído na área referente à antiga sede da Fazenda Ministério. Este local é reservado à sala de vídeos e ao alojamento de militantes cursistas.

Figura 11- Centro de formação Carolina Vera. Esta casa é parte da sede da antiga Fazenda Ministério, e serve de alojamento dos cursistas militantes.

Figura 12- Auditório reservado para debates, palestras e reuniões do assentamento. Este auditório faz parte do Centro de Formação Carolina Vera e também foi construído na área da sede da antiga fazenda.

Ao lado da sede da fazenda foi construído pelos próprios assentados, com pneus e madeira, um amplo local de recreação infantil. Ainda próxima à sede está presente uma construção (ainda inacabada) da Igreja do assentamento.

Figura 13- Construção da igreja do assentamento.

Na mesma região também estão presentes a praça principal, local de encontro de muitos assentados após as 17 horas, um amplo campo de futebol gramado, utilizado aos domingos pelos homens e mulheres do assentamento para a prática de esportes e um bar. O assentamento possui uma estrutura física boa e bem distribuída; possui córregos em sua extensão e uma boa arborização.

Figura 14- Estrada central do assentamento. Esta estrada corta toda a extensão do assentamento. As casas ficam localizadas à sua margem.

Figura 15- Praça central do assentamento. A praça fica localizada em frente à antiga sede da fazenda, e é local de encontro dos assentados.

Figura 16- Campo de futebol. O campo fica próximo à entrada do assentamento, local de recreação dos assentados.

6.2- “... Aqui a gente é livre dos dinheiro da cidade”: um olhar sobre a Pedagogia e a Ideologia do MST

Essa noite eu tive um sonho...eu tava sonhando que todos os assentados tavam correndo muito, numa fileira bem grandona de gente, tudo gente que mora aqui no Oziel, gente que é Sem- Terra igual nós mesmo. O povo corria muito com as bandeiras dos sem-terra na mão e caía muitas balas de canhão em cima de nós...a estrada era cheia de pedra, pedaço de lenha no chão, atrapalhava nós correr... meu pai gritava assim comigo: ‘força filha, nós vamos conseguir’! Minha mãe tava levando os menino no colo, aí, de repente, chegou todo mundo no assentamento e as bala de canhão pararam de cair e todo mundo ficou feliz. Chegamos no nosso lugar, que Deus deu prá gente morar. Aqui é nosso chão, que nosso pai Oziel morreu prá conseguir prá nós. Os adulto cuidam da terra e nós ficamos na escola. Lá é bom demais, lá a gente aprende a lutar, aprende as coisas que serve prá gente viver na terra e aqui a gente é livre dos dinheiro da cidade ( menina, 9 anos). Sob a forte descrição de um sonho infantil, que foi relatado por uma menina de nove anos, logo no primeiro dia de observação no Assentamento Oziel Alves Pereira, a presente pesquisa discutirá, no presente capítulo, as informações coletadas durante o estudo da realidade social e educativa do assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. O trecho exposto acima reserva impressões importantes para o início da discussão acerca do aspecto educativo e ideológico do MST, já que consegue agrupar, em um simples relato de criança, fatores como a concepção de mundo fora do assentamento e anterior à conquista da terra (“... a estrada era cheia de pedra, pedaço de lenha no chão, atrapalhava nós correr...”), a dificuldade que envolve a luta pela terra (“... caía muitas balas de canhão em cima de nós...”), a questão da conquista da terra ( “...nosso chão, que nosso pai Oziel morreu prá conseguir prá nós...”) e também o “retrato” da escola do MST, bem como seus princípios filosóficos e pedagógicos de educação para a transformação social, o uso da realidade como base para a produção do conhecimento e a educação para o trabalho, para a cooperação e para a sociedade socialista ( “...lá a gente aprende a lutar, aprende as coisas que serve prá gente viver na terra e a aqui a gente é livre dos dinheiro da cidade”).

Como já foi explicitado em um capítulo anterior, a educação no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra compreende o desenvolvimento de um novo modelo de

homem, através da construção de um novo paradigma educacional voltado para a realidade rural. Além disso, uma das premissas da Pedagogia do MST é a democratização do saber, levando em consideração a luta pela terra e pela igualdade, através da proposta pedagógica voltada para a educação efetiva e emancipatória de seus membros. É o que afirma Roseli Caldart (1997), expressiva educadora do MST, que caracteriza a Pedagogia do MST enquanto uma prática que é desenvolvida a partir da consideração do movimento enquanto luta social e enquanto organização política, integrando à educação os princípios do próprio movimento, que, para ela “é o grande educador/ formador de que dele participa ou com ele se envolve, devendo, portanto, ser o pólo propulsor do despertar da luta em busca de uma nova sociedade” (CALDART, 1997, p.16).

O MST acredita, ainda, na necessidade da educação como uma possibilidade de transformação da sociedade através de uma revolução cultural, que se daria também através das suas escolas de formação. Aliado ao aspecto em discussão, o MST adota idéias marxistas quando trata da problemática do ensino tecnológico, ao proclamar que “não há dúvida de que a conquista inevitável do poder político pela classe trabalhadora trará a adoção do ensino tecnológico, teórico e prático nas escolas dos trabalhadores” (MARX, 1984, p. 559), idéia também exposta por Gramsci (1974), que, seguindo o mesmo pensamento e explorando as possibilidades da Filosofia da Práxis e da Escola Nova, elucida que os trabalhadores, através da emancipação e da luta, têm em mãos a possibilidade de aquisição da cultura e do conhecimento, podendo também se tornar novos intelectuais orgânicos da sociedade. Tais teorias vão ao encontro com o depoimento exposto acima, no qual a criança relata o seu pensamento sobre a escola do assentamento: “Lá é bom demais, lá a gente aprende a lutar, aprende as coisas que serve prá gente viver na terra e aqui a gente é livre dos dinheiro da cidade”.

Um último ponto que pode ser explorado é o que dizem as últimas palavras da criança no trecho acima. Ser “livre dos dinheiro da cidade”, aspecto que a criança atribui à escola, mas que pode ser entendido também como um fator que diz respeito à condição de sem- terra, quer dizer, nesse contexto, a busca pela liberdade da dependência do capitalismo. A Pedagogia do MST, apoiada no pensamento de Paulo Freire e acompanhando as orientações pedagógicas de pensadores como MakarenKo, Piaget, Martí e Che Guevara, opõe-se aos princípios capitalistas a partir de um projeto de construção de uma sociedade socialista. Na escola do MST, tal

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