• Nenhum resultado encontrado

2. A relação entre o Défice Orçamental e o Défice Externo: uma Aplicação Econométrica

2.8. Resultados

A seleção dos desfasamentos em cada metodologia foi baseada nos testes de seleção da ordem do modelo VAR, usando os critérios AIC (Akaike Information Criterion), sequential modified LR test, FPE (Final Prediction Error), SBC (Schwarz Bayesian Criterion) e HQ (Hannan-Quinnn Information Criterion).

Para realizar os testes da Causalidade de Granger, foi estimado, em primeiro lugar, um modelo VAR em primeiras diferenças com 1 lag. Em seguida, foram efetuados os referidos testes de seleção da ordem do modelo VAR para o k-ésimo desfasamento, considerando k = 1,…,8, sendo oito o número máximo de lags considerados. Para cada nível de desfasamento, obteve-se o número ótimo de lags.

Foram realizadas quatro baterias de testes da Causalidade de Granger. A primeira bateria respeita à relação entre o saldo orçamental global e o saldo externo de bens e serviços: se o saldo orçamental global causa Granger o saldo externo de bens e serviços (saldo orçamental global => saldo externo de bens e serviços); se o saldo externo de bens e serviços causa Granger o saldo orçamental global (saldo externo de bens e serviços => saldo orçamental global); se existe uma causalidade bi-direcional (saldo orçamental global <=> saldo externo de bens e serviços) ou se não existe uma relação entre as duas variáveis. As segunda, terceira e quarta baterias respeitam às relações entre o saldo orçamental global e o saldo externo corrente, o saldo orçamental primário e o saldo

35

externo de bens e serviços e o saldo orçamental primário e o saldo externo corrente, respetivamente, e seguindo os mesmos casos.

Uma vez que, em cada modelo VAR, existe uma variável I(1), SE_BS ou SE_C, estes testes foram implementados considerando as variáveis em primeiras diferenças.

Os resultados dos testes da Causalidade de Granger apresentam-se nos Quadros A3- A11, do Apêndice A.

Estes resultados empíricos apontam para a ausência da causalidade de Granger, em ambas as direções, entre o saldo orçamental global e o saldo externo de bens e serviços e entre o saldo orçamental primário e o saldo externo de bens e serviços (com as variáveis avaliadas em percentagem do PIB e em primeiras diferenças) para Portugal, entre o 1º trimestre de 1999 e o 4º trimestre de 2016. Por outro lado, foi encontrada evidência de causalidade de Granger entre o saldo orçamental global e o saldo externo corrente e entre o saldo orçamental primário e o saldo externo corrente, considerando 1 lag e 8 lags de desfasamentos. Com 1 lag, os p-values são, respetivamente, 6,97% e 7,72%, não havendo significância estatística a 5%; com 8 lags, a causalidade é altamente significativa. Estes resultados permitem, por conseguinte, corroborar a Hipótese dos Défices Gémeos. Para além disso, foi encontrada causalidade de Granger inversa entre o saldo externo corrente e o saldo orçamental global, tomando 4 lags de desfasamento, a 7,58% de nível de significância. Este resultado pode constituir evidência de suporte à Hipótese do Target da Balança Corrente.

Os resultados dos testes realizados no âmbito da Metodologia de Toda-Yamamoto (1995) encontram-se nos Quadros A12-A25, do Apêndice A. Ao contrário da metodologia anterior, este procedimento usa as variáveis em níveis. Para cada modelo estimado, também foi testada a sua estabilidade dinâmica, usando as raízes inversas do polinómio característico AR, e implementado o teste LM, que permite averiguar acerca da existência de auto-correlação em série.

Os resultados obtidos com a Metodologia de Toda-Yamamoto (1995) avançam que o saldo orçamental global causa não Granger o saldo externo de bens e serviços e o saldo orçamental primário causa não Granger o saldo externo de bens e serviços, considerando 8 lags de desfasamento e a 5% de nível de significância, para Portugal entre o 1º trimestre de 1999 e o 4º trimestre de 2016 (com as variáveis avaliadas em percentagem do PIB). Adicionalmente, o saldo orçamental global causa não Granger o saldo externo corrente,

36

para 1, 2 e 7 lags e com p-values entre 0,52% e 9,36%, e o saldo orçamental primário causa não Granger o saldo externo corrente, para 1 e 7 lags e a 5% de nível de significância. Também estes resultados confirmam a Hipótese dos Défices Gémeos. Para 1 lag de desfasamento, existe evidência de causalidade de não Granger entre o saldo externo de bens e serviços e o saldo orçamental global, embora com um p-value de 6,85%, o que pode fornecer suporte à Hipótese do Target da Balança Corrente.

O Quadro 2.4, a seguir, apresenta uma síntese dos resultados empíricos obtidos, em que, para cada uma das relações de causalidade averiguadas e para ambos os testes implementados, informa acerca da evidência estatística de suporte à rejeição da hipótese nula da existência de causalidade entre as variáveis em estudo, considerando um nível de significância até 10%.

Quadro 2.4: Quadro-resumo dos resultados empíricos obtidos Direção da causalidade Teste da Causalidade de Granger Metodologia de Toda-Yamamoto (1995)

SO => SE_BS NÃO SIM

SO => SE_C SIM SIM

SO_P => SE_BS NÃO SIM

SO_P => SE_C SIM SIM

SE_BS => SO NÃO SIM

SE_BS => SO_P NÃO NÃO

SE_C => SO SIM NÃO

SE_C => SO_P NÃO NÃO

Fonte: Quadro elaborado pelo autor.

Da análise do Quadro 2.4, encontramos que existe evidência estatística de suporte à verificação de uma relação causal entre o saldo orçamental global e o saldo externo corrente e entre o saldo orçamental primário e o saldo externo corrente (com as variáveis avaliadas em percentagem do PIB), para ambos os testes empíricos implementados. O facto de trabalharmos com as séries em primeiras diferenças quando implementamos o Teste da Causalidade de Granger (1969) e com as séries em níveis quando seguimos a Metodologia de Toda-Yamamoto (1995) não influencia estes dois resultados obtidos. Por

37

conseguinte, podemos considerá-los robustos e concluirmos pela verificação da Hipótese dos Défices Gémeos para Portugal, entre 1999 e 2016. Também a inclusão (ou não) dos juros pagos a título do serviço da dívida pública não afeta a existência de causalidade entre o saldo orçamental e o saldo externo corrente. Adicionalmente, o recurso à Metodologia de Toda-Yamamoto (1995) permite avançar a existência de causalidade entre o saldo orçamental global e o saldo externo de bens e serviços e entre o saldo orçamental primário e o saldo externo de bens e serviços, o que reforça o suporte empírico à Hipótese dos Défices Gémeos, seja na versão proposta pelo Modelo de Mundell- Fleming aplicado a economias com câmbios fixos seja na perspetiva da Teoria da Absorção Keynesiana.

Para além disto, utilizando o Teste da Causalidade de Granger (1969), obtemos evidência de uma relação de causalidade inversa entre o saldo externo corrente e o saldo orçamental global, e, com recurso à Metodologia de Toda-Yamamoto (1995), encontramos uma ligação causal inversa entre o saldo externo de bens e serviços e o saldo orçamental global. Estes resultados podem apontar para a verificação da Hipótese do Target da Balança Corrente.

Combinando ambos os resultados encontrados, podemos sugerir a verificação de uma relação de causalidade bi-direcional entre o saldo orçamental e o saldo externo, na linha da ligação de feedback encontrada por Feldstein e Horioka (1980). Este resultado não é surpreendente, uma vez que, sendo as poupanças e os investimentos altamente correlacionados, emerge um feedback importante entre ambos os saldos e a causalidade opera bilateralmente.