• Nenhum resultado encontrado

Insetos vetores

Como mostra a tabela 8, o monitoramento de artrópodos de interesse médico da área de influência da UHE São José resultou na coleta de 1496 indivíduos (fêmeas) pertencentes ao Filo Arthropoda, Classe Insecta, Ordem Diptera, Família Culicidae. Não foram coletados indivíduos com a técnica de arrasto.

Dois gêneros totalizaram 98% dos indivíduos coletados, sendo respectivamente o gênero Psorophora, com frequência igual a 0,7286 e o gênero Aedes, com frequência igual a 0,2527. Os outros 2% são compostos por insetos do gênero Culex, Mansonia e Anopheles.

Família Subfamília Tribo Gênero EA1 EA2 EA3 EA4 Total Freq.

Culicidae Culicinae Aedini Aedes 11 367 - - 378 0,2527

Aedini Psorophora 5 1085 - - 1090 0,7286

Culicini Culex 3 - 11 - 14 0,0094

Mansonini Mansonia - - - 5 5 0,0033

Anophelinae Anopheles 2 3 4 - 9 0,0060

TOTAL 21 1455 15 5 1496 1,0000

Chamou atenção o elevado número de indivíduos dos gêneros Psorophora e Aedes coletados na EA2, principalmente no período diurno (tabela 9). Durante as quatro horas da amostragem diurna, 1098 mosquitos foram coletados, o que representa um índice de picada/homem/hora de 274,5.

Tabela 9. Relação de espécimes coletados de cada gênero na EA2.

* IPHH - Índice de picada/homem/hora, é o número de mosquitos coletados utilizando-se isca humana, dividido pelo número de capturadores e o número de horas.

Essa densidade exagerada de mosquitos no EA2 provavelmente está vinculada a alguma modificação do ambiente provocada pelo enchimento da barragem. Segundo FERRETE et al. (2004), a formação do lago proporciona o aumento de criadouros nas águas rasas, sombreadas e sem correnteza, nas margens, entre as macrófitas e nas poças permanentes. O surgimento desses novos criadouros deve ter interferido no ciclo de vida

EA2 Gênero Coleta diurna

(9h – 13h)

Coleta noturna (19h- 23h)

Nº indivíduos IPHH* Nº indivíduos IPHH*

Aedes 231 57,75 136 34

Psorophora 867 216,75 218 54,5

Anopheles 0 0 3 0,75

dos gêneros Aedes e Psorophora, que têm o habito de ovopositar em coleções hídricas no solo.

Duas espécies de Psorophora ocorrentes no Rio Grande do Sul se relacionam à transmissão de arboviroses, são elas: Psorophora ferox, que é considerada vetora ou potencial vetora do Vírus do Nilo, Vírus do Rocio, Vírus Una e Vírus do Nilo Ocidental; e Psorophora ciliata, que se relaciona ao Vírus do Nilo (CARDOSO et al., 2010). Contudo, pode-se dizer que nenhum exemplar dessas espécies esteve presente em alguma das coletas. Os insetos desse gênero possuem hábito hematófago agressivo e suas picadas são bastante dolorosas (CONSOLI & OLIVEIRA, 1998). Somando isso ao fato de estarem presentes em grande quantidade, representando um índice de picada/homem/hora de 216,75 (tabela 9), acabam provocando um incômodo grande o suficiente para tornar o local impróprio para a presença humana.

Os mosquitos do gênero Aedes que possuem relevância epidemiológica estão agrupados nos subgêneros Stegomyia e Ochlerotatus. Desses, o Stegomyia é o mais importante na área do empreendimento, pois reúne as espécies Aedes aegypti e A. albopictus. O A. aegypti é o principal vetor da dengue e da febre amarela urbana no Brasil e o A. albopictus é vetor potencial da dengue e da febre amarela silvestre (BORGES, 2001). Entretanto, pode-se afirmar que nenhum dos indivíduos coletados do gênero Aedes pertence a essas espécies, que são de fácil identificação.

Por outro lado, o subgênero Ochlerotatus possui relevância mais restrita que o outro supracitado. CARDOSO et al. (2005) aponta a ocorrência de seis espécies de Ochlerotatus no Rio Grande do Sul. Dessas, apenas três se relacionam a algum tipo de moléstia: A. fluviatilis, que se infecta com o Plasmodium gallinaceum, produzindo considerável quantidade de esporozoítos infectantes e infecta-se experimentalmente com o vírus da febre amarela e Dirofilaria immitis; A. scapularis, que é suspeito de ser vetor da febre amarela, dengue e outros arbovírus, atua também como vetor secundário da Wuchereria bancrofti; e A. serratus, que é suspeito de ser transmissor de arbovírus.

O gênero Culex possui importância epidemiológica por ser relacionado à transmissão da filariose e diversas arboviroses. A identificação das espécies do gênero Culex é dificultada pelo grande número de espécies reunidas neste gênero e a falta de chaves de identificação confiáveis (CONSOLI & OLIVEIRA, 1998). Entretanto, CARDOSO et al. (2005) relaciona para a região das Missões a ocorrência do Culex quinquefasciatus e do

C. ribeirensis. Destes, somente C. quinquefasciatus possui maior importância epidemiológica por ser o vetor primário e principal da filariose bancroftiana no Brasil e também por arboviroses no meio rural e urbano (CONSOLI & OLIVEIRA,1998).

Todos os anofelíneos coletados pertencem ao subgênero Nyssorhynchus, que constitui o grupo que encerra o maior número de vetores principais ou auxiliares da malária (FORATTINI, 1993), sendo o Anopheles darlingi o maior vetor desta enfermidade no Brasil (CONSOLI & OLIVEIRA, 1998). CARDOSO et al. (2004) relata a ocorrência das espécies Anopheles albitarsis, A. parvus, A. strodei e A. triannulatus para a região das Missões. Destas espécies, destacam-se com alguma relevância epidemiológica as espécies A. albitarsis, A. strodei e A. triannulatus por terem sido, em algum momento, encontradas naturalmente infectadas em alguma área endêmica de malária (CONSOLI & OLIVEIRA,1998).

Os mosquitos do gênero Mansonia utilizam o parênquima aerífero de algumas macrófitas, como as dos gêneros Eichornia, Pistia, Salvinia e Typha, durante o seu desenvolvimento larval. Em várias situações já foi possível relacionar a explosão populacional de macrófitas e mosquitos do gênero Mansonia. O caso mais conhecido foi o do reservatório Tucuruí (Estado do Pará) onde foi registrado índice médio de picada/homem/hora de 612 mosquitos por TADEI (1996). Apesar de não serem vetores de patógenos no Brasil, quando apresentam uma densidade exagerada causam grande incômodo à população humana e animal.

Existe a possibilidade de os mosquitos dos gêneros Mansonia e Anopheles serem favorecidos com desenvolvimento de macrófitas, podendo até virar praga, como aconteceu em Tucuruí. Por isso deve ser dada atenção especial ao desenvolvimento de macrófitas ao longo da represa, especialmente na região da EA4, onde foi evidência a presença do gênero Mansonia.

A alta densidade de mosquitos do gênero Psorophora e Aedes na EA2 e a presença de mosquitos Mansonia e Anopheles merecem atenção especial. Os mosquitos Psorophora e Aedes encontrados na EA2 não representam motivo para alarde, em termos epidemiológicos. Entretanto, a alta densidade apresentada, somada ao seu hábito agressivo, podem causar muito incômodo, podendo até tornar locais inadequados à habitação humana.

Existem habitações humanas relativamente próximas da EA2, como mostra a figura 10, que podem ser severamente afetadas pela migração ou dispersão desses mosquitos. Isso torna relevante conhecer melhor a distribuição desses dois gêneros nas proximidades da EA2, intensificando o monitoramento nessa região. Em virtude disso, sugere-se que a partir da próxima campanha dois novos pontos de amostragem sejam incluídos no monitoramento, de acordo com a localização assinalada na figura 10.

Figura 10. Imagem de satélite mostrando a localização dos novos pontos de monitoramento sugeridos na região da EA2. Coordenadas em graus decimais dos pontos (datum SAD69):

-28.17898 / -54.77898 e -28.19065 / -54.76787. Fonte: Google Earth.

Anfíbios

Ao longo das amostragens foram registradas 13 espécies de anfíbios anuros, pertencentes a cinco diferentes famílias (tabela 10): Dendropsophus minutus, Dendropsophus sanborni, Hypsiboas faber, Scinax cf. berthae, Scinax fuscovarius (figura 11) e Scinax squalirostris, da família Hylidae; Leptodactylus fuscus, Leptodactylus gracilis e Leptodactylus latrans (figura 12), da família Leptodactylidae; Pseudopaludicola falcipes,

da família Leiuperidae; Rhinella icterica e Rhinella schneideri, da família Bufonidae e Elachistocleis bicolor, da família Microhylidae.

Tabela 10. Espécies de anfíbios registradas durante a primeira campanha da fauna terrestre durante o monitoramento pós-enchimento, realizada entre os dias 14 e 18 de março de 2011 na área de influência da UHE São José, no rio Ijuí.

Táxon 1 Nome comum Método de registro

(número de indivíduos) ANURA

HYLIDAE

Dendropsophus minutus perereca-guria AST (2)

Dendropsophus

sanborni perereca VES (2)

Hypsiboas faber sapo-ferreiro AST (2)

Scinax cf. berthae perereca AST (2)

Scinax fuscovarius perereca-de-banheiro VES (9)

Scinax squalirostris perereca-nariguda AST (3), VES (2) LEPTODACTYLIDAE

Leptodactylus fuscus rã-assobiadora VES (2)

Leptodactylus gracilis rã-saltadora VES (1)

Leptodactylus latrans * rã-crioula VES (17) LEIUPERIDAE

Pseudopaludicola

falcipes rã AST (1)

BUFONIDAE

Rhinella icterica sapo-cururu RO (2)

Rhinella schneideri sapo-cururu RO (2)

MICROHYLIDAE

Elachistocleis bicolor sapinho-guarda VES (1)

1

Segundo FROST (2011) e SBH (2010).

* Espécie antigamente tratada como Leptodactylus ocellatus.

Legenda: AST = método das transecções auditivas; VES = levantamento por encontros visuais; RO = registros ocasionais.

Figura 11. Indivíduo de perereca-de-banheiro (Scinax fuscovarius) registrado durante a sétima campanha de monitoramento da fauna de anfíbios na área de influência da UHE São José, no rio

Ijuí, realizada entre os dias 14 e 18 de março de 2011.

Figura 12. Indivíduo jovem de rã-crioula (Leptodactylus latrans) registrado durante a sétima campanha de monitoramento da fauna de anfíbios na área de influência da UHE São José, no rio

Ijuí, realizada entre os dias 14 e 18 de março de 2011.

Considerando-se os cinco dias de amostragem, a curva de acumulação de espécies não apresentou tendência à estabilização, apresentando novos registros em praticamente

todo o período de estudo (figura 13). Das metodologias de amostragem utilizadas, a que apresentou maior eficiência de registros foi o levantamento por encontros visuais (VES), que permitiu o registro de sete espécies (sendo seis exclusivamente através desse método) e 34 encontros. Após, aparece o método das transecções auditivas (AST), que possibilitou o registro de cinco espécies (sendo quatro exclusivamente dessa forma) e dez encontros. Por fim, os registros ocasionais (RO) permitiram o encontro de duas espécies (quatro indivíduos visualizados), ambas exclusivamente dessa forma.

Todas as espécies encontradas durante o presente estudo podem ser consideradas comuns naquela região do Estado e já apresentaram registros nas campanhas de monitoramento anteriormente realizadas na área de influência da UHE São José. Aqui, no entanto, vale salientar a mudança na nomenclatura da espécie antigamente tratada como Leptodactylus ocellatus (rã-crioula), que desde 2010 passou a ser reconhecida como Leptodactylus latrans. Trata-se de uma espécie bastante comum no Rio Grande do Sul, que já foi registrada em seis das sete campanhas de monitoramentos e que durante o presente estudo foi a mais abundante, com 17 encontros realizados.

Ao longo das seis campanhas realizadas antes do enchimento do reservatório, foram registradas 21 espécies de anfíbios nas áreas de influência da UHE São José. Durante o presente estudo, apesar de terem sido encontradas 13 espécies (riqueza não muito diferente daquelas observadas nas outras campanhas; figura 14), chama a atenção a baixa abundância de indivíduos registrados. Apenas dez indivíduos foram encontrados em atividade de vocalização, enquanto que apenas outros 34 foram visualizados ao longo dos cinco dias de estudo. Tal fato pode estar relacionado às condições ambientais ocorrentes durante o período, com noites frescas, com vento e presença de lua cheia. Além disso, a presente época do ano coincide com o final do período reprodutivo da maioria das espécies com ocorrência confirmada para a região, o que torna o encontro de anfíbios mais difícil do que nos meses de primavera e início do verão. Ainda assim, é possível que as alterações provocadas pelo enchimento do reservatório (sobretudo nos pontos P1 e P4) possam ter alguma influência na diminuição de registros nesses pontos. As espécies normalmente registradas nesses locais apresentavam hábitos sobretudo florestais, com migração para o sítio reprodutivo nas épocas de acasalamento. Com a supressão da vegetação e a perda de hábitat causadas pela formação do lago, é possível que esses animais tenham se deslocado para outras escassas áreas florestais do entorno. No

entanto, apenas a sequência de amostragens poderá indicar a influência da instalação da UHE São José sobre a fauna de anfíbios da região.

0 3 6 9 12 15 14/3/2011 15/3/2011 16/3/2011 17/3/2011 18/3/2011 Dias N úm er o de es ci es r eg is tr ad as

GERAL AST VES RO

Figura 13. Curvas de acúmulo de espécies de anfíbios (geral e por método) calculadas a partir dos dados obtidos durante a primeira campanha de monitoramento da fauna terrestre pós-enchimento, realizada entre os dias 14 e 18 de março de 2011 na área de influência da UHE São José, no rio Ijuí. (AST = método das transecções auditivas; VES = levantamento por encontros visuais; RO =

0 3 6 9 12 15 18 21

1ª PRÉ (mai/2008) 2ª PRÉ (ago/2008) 3ª PRÉ (nov/2008) 4ª PRÉ (fev/2009) 5ª PRÉ (jun/2009) 6ª PRÉ (ago/2009) 1ª PÓS (mar/2011)

Campanhas Núm ero de es péc ie s regi st ra da s

espécies por campanha curva de acúmulo espécies

Figura 14. Curvas de acúmulo de espécies de anuros calculadas a partir dos dados obtidos durante as sete campanhas de monitoramento da fauna terrestre realizadas (pré e

pós-enchimento) na área de influência da UHE São José, no rio Ijuí.

Répteis

Nesta campanha, no total dos métodos aplicados, foram registradas sete espécies de escamados, sendo uma espécie de cobra-cega (Amphisbaena sp, n=7), duas espécies de lagartos teídeos, a lagartixa-verde (Teius oculatus, n=7) e o lagarto-do-papo-amarelo (Tupinambis merianae, n=1), uma espécie de sincídeo (Mabuya sp., n=2) e três espécies de serpentes: uma da família Dipsadidae, dormideira (Sibynomorphus ventrimaculatus, n=1); uma da família Elapidae, a cobra-coral (Micrurus sp., n=1); e uma serpente da família Viperidae, a jararaca-pintada (Bothropoides diporus n=1). Os resultados obtidos são sumarizados na tabela 11.

Tabela 11. Espécies de répteis registradas nas áreas de influência da PCH São José, no rio Ijuí, durante a sétima campanha de monitoramento da fauna terrestre no período pós-enchimento do reservatório, realizada entre os dias 14 a 18 de março de 2011.

ORDEM / FAMÍLIA / Espécie 1 Nome comum Tipo de registro (número de indivíduos) Pontos de amostragem REPTILIA AMPHISBAENIDAE Amphisbaena sp cobra-cega PA (7) T7

ORDEM / FAMÍLIA / Espécie 1 Nome comum Tipo de registro (número de indivíduos)

Pontos de amostragem TEIIDAE

Teius oculatus lagartixa-verde PA (7) T1, T7, T10

Tupinambis merianae

lagarto-do-papo-amarelo PA (1) T1 SCINCIDAE Mabuya sp. scinco PA (2) T7 DIPSADIDAE Sibynomorphus ventrimaculatus dormideira EO (1) T4 ELAPIDAE Micrurus sp. cobra-coral PA (1) T1 VIPERIDAE

Bothropoides diporus

jararaca-pintada EO (1)

T4

Legenda: PA = procura ativa; EO = encontro ocasional.

Com base no esforço de captura despendido e no número total de exemplares encontrados pelo método de PA obteve-se uma taxa de captura de 0,19 escamados/hora-homem ou, aproximadamente, um escamado a cada 5,33 horas de procura ativa. Os lagartos teídeos foram registrados com maior representatividade, correspondendo a uma taxa de captura de 0,08 teídeos hora/homem ou, aproximadamente, um teídeo a cada 12 horas de procura ativa. A taxa de captura obtida para os escamados na presente campanha pode ser considerada semelhante à realizada no verão de 2009, quando se registrou 0,16 escamados/hora-homem.

Duas espécies foram registradas através do método EO, a jararaca-pintada (Bothropoides diporus) e a dormideira (Sibynomorphus ventrimaculatus). Um indivíduo de cada espécie foi registrado em deslocamento pelos acessos locais na área de influência da presente UHE. Isso pode refletir o período em que se realizou a amostragem, uma vez que as altas temperaturas ocorrentes no verão favorecem a atividade dos répteis.

A lagartixa-verde (Teius oculatus –figura 15) é uma espécie ocorrente em ambientes abertos de vegetação rala (ACHAVAL & OLMOS, 2007), e apresenta atividade marcadamente sazonal, estando em atividade nos períodos de temperaturas mais elevadas, e inativos nos períodos de frio (CAPPELLARI et al., 2007), o que significa que

há possibilidade de não serem encontrados nas campanhas de monitoramento subsequentes.

Figura 15. Lagartixa-verde (Teius oculatus) registrada na área de influência da UHE São José. Março de 2011.

O lagarto-do-papo-amarelo (Tupinambis merianae) é bastante comum em todo o território do Rio Grande do Sul, e é considerado um réptil com grande tolerância a alterações por uso humano, ocupando áreas de lavouras e arredores de residências, entre outros ambientes antropizados.

Dentre as três serpentes registradas, duas delas – a coral (Micrurus sp.) e a jararaca-pintada (Bothropoides diporus – figura 16) são de grande interesse médico por serem causadores de acidentes ofídicos. A primeira causa uma porcentagem pouco representativa de acidentes em território brasileiro, a segunda, entretanto, é pertencente à família responsável por causar mais de 90% dos acidentes ofídicos anuais (MALGAREJO, 2003).

Figura 16. Jararaca-pintada (Bothropoides diporus) flagrada deslocando-se por via de acesso à área da UHE São José.

O terceiro ofídio registrado, a dormideira (Sibynomorphus neuwiedi), ilustrada na figura 17, é uma serpente de pequeno porte (GIRAUDO, 2001) que se alimenta de moluscos, em especial lesmas (LEMA, 2002). As dormideiras apresentam tolerância a ambientes alterados por ações antrópicas; WINCK et al. (2007) observaram um leve aumento no número destes indivíduos após a ação de queimadas e plantação numa área de campo no centro do Estado.

Figura 17. Indivíduo Sibynomorphus ventrimaculatus, serpente popularmente conhecida como dormideira, registrada através de encontro ocasional (EO) na primeira campanha de monitoramento

pós-enchimento da UHE São José.

As anfisbenas (representadas aqui por Amphisbaena sp.) são animais de hábitos fossoriais que realizam migrações verticais nas camadas do solo conforme as temperaturas ambientais, buscando um ideal térmico para termorregulação. Além disso, podem buscar a superfície quando do inundamento das galerias que ocupam em virtude de fortes chuvas. Isso pode fazer com que estejam ativas, mas não sejam registradas em algumas ocasiões por estarem em camadas mais inferiores do solo.

Nenhuma das espécies obtidas foi merecedora de especial destaque, uma vez que são consideradas comuns na região e não figuram em listas de espécies ameaçadas. Todos os répteis aqui registrados já haviam sido registrados nas atividades pré-enchimento (tabela 12), não havendo assim o acréscimo de espécies de répteis na área de influência da UHE São José.

Sendo esta a primeira campanha de monitoramento pós-enchimento do reservatório, considera-se esta caracterização incipiente para que se realizem inferências sobre a influência desta alteração na fisionomia da área.

Tabela 12. Espécies de répteis registradas na área de influência da UHE São José, somando os dados das campanhas de monitoramento e os resgates de fauna realizados. Legenda: C1 = primeira campanha de monitoramento de fauna terrestre; C2 = segunda campanha de monitoramento de fauna terrestre; C3 = terceria campanha de monitoramento de fauna terrestre; C4 = quarta campanha de monitoramento de fauna terrestre; C5 = quinta campanha de monitoramento de fauna terrestre; C6 = sexta campanha de monitoramento de fauna terrestre; C7 = sétima campanha de monitoramento de fauna terrestre, primeira pós –enchimento; R = resgates de fauna.

ORDEM / FAMÍLIA / Espécie Nome popular Tipo de registro (nº de indivíduos) REPTILIA

AMPHISBAENIDAE

Amphisbaena darwini cobra-cega C1 (3) C2 (2)

Amphisbaena sp. cobra-cega C3 (5) C4 (3) C5 (5) C6(16) R(2)

LEIOSAURIDAE

Anisolepis grilli papa-vento R (9)

TEIIDAE

Teius oculatus lagartixa-verde C2 (1) C3 (4) C4 (3) C6 (1) C7 (7) R(1)

Tupinambis merianae

ORDEM / FAMÍLIA / Espécie Nome popular Tipo de registro (nº de indivíduos) SCINCIDAE

Mabuya sp.* scinco C7 (1)

Mabuya frenata scinco-cinzento C3 (2)

ANOMALEPIDAE

Liotyphlops beui cobra-cega-preta C5 (1)

COLUBRIDAE

Chironius bicarinatus cobra-cipó C3 (1) R(1)

Chironius sp. * cobra-cipó R (1)

Mastigodryas bifossatus jararaca-do-banhado R (1)

DIPSADIDAE

Atractus sp. cobra-da-terra C1 (4) R (8) C3 (1) C4 (1) C6 (1)

Atractus reticulatus cobra-da-terra C6 (1)

Helicops infrataeniatus cobra-da-água C4 (1)

Helicops sp. * cobra-da-água C2 (1)

Liophis cf. poecilogyrus cobra-verde-do-capim C2 (5) C3 (1) C4 (2), C6 (1)

Liophis semiaureus cobra-d’água-marrom C3 (1), C4 (1) R(1)

Oxyrhopus rhombifer falsa-coral C2 (1), R (2)

Philodryas olfersii cobra-cipó C1 (2) C2 (1) R (7) C4 (1)

Philodryas patagoniensis papa-pinto C2 (1) C3 (1)

Sibynomorphus ventrimaculatus dormideira R (1) C1 (1) C6 (2) C7 (1)

Thamnodynastes cf. strigatus corredeira R (2)

Tomodom dorsatus cobra-espada R (6)

ELAPIDAE

Micrurus sp. * cobra-coral C7 (1)

Micrurus altirostris cobra-coral R (3)

VIPERIDAE

Bothrops alternatus cruzeira R (3)

Bothrops diporus jararaca R (2) C3 (2) C5 (1) C6 (1) C7 (1)

Bothrops sp. jararaca R (8)

Bothrops pubescens jararaca-pintada C3(1)

*: Espécimes visualizados rapidamente, o que não permitiu realizar uma análise pormenorizada para determinar a espécie.

Durante a primeira campanha do período de pós-enchimento do reservatório na área de influência da UHE São José foram registradas 103 espécies de aves (tabela 13). Dessas, 48 foram verificadas utilizando as áreas de floresta e 54 ocupando as áreas campestres. Outras cinco espécies foram apenas observadas realizando sobrevoos na área de influência do empreendimento.

Quatro espécies não foram registradas nas campanhas anteriores do monitoramento, assim como nos estudos para a elaboração do EIA/RIMA (GEOLINKS, 2005) – considerando nesse estudo apenas as espécies registradas nos pontos mais próximos da área da UHE São José (pontos 1 a 4), são elas: a biguatinga (Anhinga anhinga), a saracura-do-banhado (Aramides saracura), a tesoura-do-brejo (Gubernetes yetapa) e o tico-tico-do-banhado (Donacospiza albifrons) (tabela 13).

Três dessas espécies têm alguma relação com os ambientes aquáticos, como a biguatinga (A. anhinga), espécie residente incomum de lagos e banhados com arbustos, tocos, postes e outros poleiros, sendo rara na orla marítima (BELTON, 1994; SIGRIST, 2009). Esta espécie tem sua área de distribuição no Rio Grande do Sul ao longo da Depressão Central, ponta Oeste e raramente em vales que cortam o Planalto, não sendo conhecida sua ocorrência para a região amostrada (BELTON, 1994). Cabe destacar que na presente campanha seis indivíduos foram observados empoleirados em árvores secas localizadas dentro do reservatório da UHE São José.

Já a saracura-do-banhado (A. saracura) e o tico-tico-do-banhado (D. albifrons) são consideradas espécies comuns e amplamente distribuídas no Estado, mas cabe ressaltar que o tico-tico-do-banhado não apresenta ocorrência na região amostrada (BELTON, 1994).

A última espécie registrada apenas na presente campanha é o tesoura-do-brejo (G. yetapa; figura 18), registrada no Rio Grande do Sul apenas em 1973. Desde então essa espécie foi observada poucas vezes, sendo sempre registrada em áreas abertas com banhados, ao longo de riachos e áreas com capim ou arbustos (BELTON, 1994; BENCKE et al., 2003) além do registro de indivíduos observados alimentando-se em lavouras de soja (obs. pess.). No Estado sua área de distribuição está restrita ao planalto das Missões, sendo que seu status de conservação no Estado não pode ser avaliado devido a

Documentos relacionados