• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II: SENTENÇAS PSEUDO-CLIVADAS

2.3 Resumo do capítulo II

Neste capítulo, vimos que as sentenças pseudo-clivadas apresentam a seqüência [sentença wh + ser + XP]. Se nessa ordem, a pseudo-clivada está na forma canônica; se a sentença wh aparece deslocada à direita, a pseudo-clivada é chamada de extraposta; e se o foco antecede a cópula, de invertida. Apenas para o foco da pseudo-clivada invertida pesa a condição de ser contrastivo. Além da composição, identificamos a pseudo-clivada pela função dos constituintes referidos. O XP deve ser o foco da sentença e a sentença wh a

pressuposição; caso contrário, mesmo tendo seqüência idêntica, a sentença não é uma pseudo- clivada.

Vimos também que a literatura tradicional sobre o assunto mostrou que algumas pseudo-clivadas são ambíguas entre uma interpretação especificacional e outra predicacional. Na leitura especificacional, o foco corresponde ao valor do elemento wh, escolhido dentro do domínio definido pela sentença wh. Essa leitura é a mesma captada pela “versão” simples da sentença pseudo-clivada. Já na leitura predicacional, o foco é o predicado atribuído a toda a sentença wh que, nesse caso, vale por uma expressão referencial. Baseando-nos em Higgins (1973), oferecemos várias estratégias para construir as sentenças sem dar margem a qualquer ambigüidade. Feito isso, e tendo em vista as descrições diferentes para cada uma das interpretações, excluímos as predicacionais da classificação de pseudo-clivadas, analisando-as como simples sentenças copulares. Essa exclusão está de acordo com a definição de clivagem de Lambrecht (2001), que afirma que toda sentença (pseudo-)clivada apresenta uma contraparte simples, o que não é verificado para as predicacionais. Procuramos destacar as seguintes diferenças entre elas: a cópula das predicacionais não é um elemento com a função de focalizar – o que não seria o esperado em se tratando do processo de clivagem. Outra divergência consiste na sentença wh de cada sentença: enquanto nas predicacionais ela pode ser uma expressão referencial e é argumento da predicação, portanto, uma relativa livre, nas especificacionais ela não parece ser argumento de nada. A sentença wh das pseudo-clivadas especificacionais apenas delimita o domínio a partir do qual será escolhido um membro para preencher a posição do foco. E porque o elemento wh dessas sentenças tem valor anafórico, representa uma variável ligada pelo foco, sua sentença wh não pode ser uma verdadeira relativa livre, uma vez que numa verdadeira relativa livre, o elemento wh não tem antecedente. Ao contrário de uma relativa livre, vimos que a sentença wh das pseudo-clivadas especificacionais não pode ser alçada (NP raising); não precisa respeitar os requerimentos de compatibilidade; não está restrita às categorias DP ou AdvP; não pode ser parafraseada por uma relativa com núcleo e não expressa maximalidade. Sendo assim, concluímos que o processo de clivagem parece não envolver nenhum tipo de relativização: nem o CP das clivadas é do tipo relativo (como mostramos no capítulo I), nem a sentença wh das pseudo- clivadas é uma relativa livre, como consideramos aqui. E, excluindo as sentenças predicacionais da classificação de pseudo-clivadas, unificamos o processo de clivagem sob a leitura especificacional, já que as clivadas também só admitem essa leitura.

Na última parte do capítulo, arrolamos evidências para o PB contra análises que consideram sentenças sem o elemento wh como pseudo-clivadas ‘reduzidas’, em paralelo ao

que faz Bosque (1999) para o espanhol caribenho. Inicialmente, foram constatadas algumas semelhanças entre elas: ambas são feitas para focalizar; só admitem a leitura especificacional; e a concordância temporal da cópula com o verbo encaixado é obrigatória - semelhanças que não são suficientes para as sentenças receberem o mesmo tratamento. Como reconhece Wheeler (1982), a análise da redução arca com o problema de que o apagamento do elemento wh nunca é opcional quando a sentença wh (relativa livre nestes outros contextos) é sujeito de outro verbo que não o verbo ser ou quando está em posição de complemento. Resumidamente, dentre as diferenças para não considerá-las equivalentes, destacamos que, ao contrário da pseudo-clivada, o foco da ‘reduzida’ é necessariamente contrastivo; não existe versão ‘reduzida’ para as formas de pseudo-clivadas não-canônicas; esse tipo de sentença não aceita focalização do sujeito nem do VP; construções superlativas formadas com os advérbios mais, menos, melhor, pior não são possíveis para a ‘reduzida’, que só admitem a leitura comparativa com esses advérbios; ela não tolera extração do foco; quando o sujeito é focalizado, os traços de pessoa do verbo concordam obrigatoriamente com os desse sujeito (o foco); e a cópula é o único elemento responsável pela focalização, podendo “flutuar” pela sentença de acordo com o constituinte a ser focalizado. Por outro lado, ao contrário da chamada ‘reduzida’, a pseudo-clivada não focaliza pares de constituintes disjuntos, nem parte de constituinte; os elementos inseridos na sua sentença wh não conseguem c-comandar o que está fora dessa sentença e, portanto, também não têm escopo sobre o foco e não licenciam anáforas e nem itens de polaridade negativa; e a cópula não pode “flutuar” na sentença marcando diferentes constituintes como foco, porque o elemento focalizado numa pseudo- clivada tem que ter traços compatíveis com o elemento wh que, junto com a cópula, são os responsáveis pela focalização. Dadas todas essas diferenças, defendemos que não há pseudo- clivada ‘reduzida’. Essas sentenças sem o elemento wh são simplesmente sentenças em que a cópula foi inserida dentro do predicado para realizar uma focalização contrastiva sobre o constituinte que a sucede. De acordo com Bosque (1999), sua cópula é um marcador de foco in situ dentro do VP. De acordo com Mioto (2008), essa cópula é a contraparte afirmativa do não e, assim como ele, é combinada como adjunto do constituinte focalizado. Sendo assim, sua inserção não provoca nenhum rearranjo sintático na sentença simples de base. Diferentemente dessas análises, a sintaxe das sentenças pseudo-clivadas envolve complexidade muito maior, como veremos mais a fundo no capítulo III.

Documentos relacionados