O modelo abaixo faz uma representação gráfica de como o trabalho se propõe a unir literaturas distintas, mas com temáticas similares. A temática da BoP a partir das premissas de Prahalad & Hammond (2002) e Prahalad & Hart (2002), de utilizar as MNCs para fornecerem produtos ou serviços mais acessíveis as populações de baixa renda como forma de melhora da qualidade de vida e oportunidade de mercado leva a uma evolução para a visão da BoP como fornecedores ou co-produtores das empresas (Karnani, 2007; Simanis & Hart, 2008). Em linha paralela, estudos na Gestão de Cadeias de Suprimento Sustentáveis indicam a falta de análise das dimensões sociais (Seuring & Muller, 2008; Touboulic & Walker, 2015). Essas linhas, então se unem a partir de estudos que sugerem a união das literaturas como Khalid et al. (2015), Parmigiani & Rivera-Santos (2015) e Gold et al. (2013). A partir dessa união, no contexto brasileiro, os estudos dos catadores organizados em cooperativas de reciclagem dentro da logística reversa das empresas se faz adequado.
As tabelas abaixo apresentam o resumo das barreiras e práticas identificadas na literatura da BoP e faz a comparação com as barreiras idenfiticadas na literatura de logística reversa com foco nas cooperativas de reciclagem no Brasil.
Tabela 3 - Resumo Teórico – Barreiras
Fonte: Elaboração própria
Barreiras Autores BoP Descrição Autores Logística Reversa Descrição
Barreiras de Coleta
Acesso a materia prima de qualidade
London et al. (2010); Perez-
Aleman & Sandilands (2008) Preço e Acessibilidade
Nascimento et al. (2010); Gonçalves-Dias (2006)
Coleta ou entrada de material
Barreiras de Produtividade
Acesso a Recursos Financeiros
London et al. (2010); Karnani (2007); Perez-Aleman & Sandilands (2008)
Capital de Giro, Crédito, Seguro
De Jesus e Barbieri (2013); Nascimento et al. (2010); Aquino et al. (2009)
Capital de Giro
Acesso a Recursos Produtivos
London et al. (2010); Karnani (2007); Perez-Aleman & Sandilands (2008)
Acesso a Tecnologia, Acesso a Expertise, Equipamento, Conhecimento técnico, Armazenamento, Educação Formal, Gestão, TI
Demajorovic et al, (2014); De Jesus & Barbieri (2013); Nascimento et al. (2010); Aquino et al. (2009); Gonçalves- Dias (2006)
Gestão Financeira; Eficiencia
Operacional; Falta de Treinamento; Alta Rotatividade de Cooperados;
Infraestrutura inadequada; Falta de Equipamentos
Barreiras de Transação
Barreiras de Acesso ao Mercado
London et al. (2010); Perez- Aleman & Sandilands (2008)
Dispersão Geográfica, Infraestrutura Ruim, Falta de informação sobre oferta e demanda, Padrão de Qualidade, Certificados
Demajorovic et al, (2014); De Jesus & Barbieri (2013); Nascimento et al. (2010); Aquino et al. (2009); Gonçalves- Dias (2006)
Qualidade do Material; Localização; Formalização
Poder de Mercado
London et al. (2010); Karnani (2007); Perez-Aleman & Sandilands (2008)
Acesso direto a compradores, Dependencia de intermediários, Falta de contratos formais, Infraestrutura e Isolamento Geográfico
Demajorovic et al, (2014); De Jesus & Barbieri (2013); Nascimento et al. (2010); Aquino et al. (2009)
Baixo Volume de Material para Venda Direta; Dificuldade de Manter Frequência de entrega; Dificuldade de Cumprimento de Prazo; Dificuldade de Transporte
Segurança e Consistencia de Transações
London et al. (2010); Perez-
Aleman & Sandilands (2008) Flutuação de Preço
Demajorovic et al, (2014); De Jesus & Barbieri (2013); Nascimento et al. (2010);
Tabela 4 - Resumo Teórico – Práticas
Fonte: Elaboração própria
Práticas Autores BoP Descrição Autores Logística Reversa Descrição
Práticas de Coleta
Acesso a materia prima de qualidade
London et al. (2010); Karnani (2007); Perez-Aleman & Sandilands (2008); Parmigiani & Rivera Santos (2015); Mair et al. (2012)
Coordenação do acesso a matéria prima, Troca de Informação
Demajorovic et al, (2014); De Jesus & Barbieri (2013); Gonçalves-Dias (2006)
Estimular a Coleta
Práticas de Produtividade
Acesso a Recursos Financeiros Financiamento, Empréstimos
Acesso a Recursos Produtivos
Treinamento; Assistência Técnica, Foruns para Discussão,
Demajorovic et al, (2016); Demajorovic et al, (2014); De Jesus & Barbieri (2013)
Investimento em Equipamentos, Capacitação Técnica-Operacional Práticas de Transação
Investimentos no Acesso ao mercado
London et al. (2010); Karnani
(2007); Infraestrutura, Tecnologia
Mitigação de risco de Poder de mercado e Segurança de Mercado
London et al. (2010); Karnani (2007); Perez-Aleman & Sandilands (2008)
Contratos, Garantia de Compra, Preços estáveis, Pagamentos a vista, Redes, Agregação de valor ao produto
Nascimento et al. (2010); De Jesus & Barbieri (2013); Aquino et al. (2009)
Redes, Agregação de Valor ao resíduo, Apoio poder publico, Controle de Fluxo de Informações, Garantia de Compra de material
Outras práticas em diferentes níveis
Perez-Aleman & Sandilands (2008); Parmigiani & Rivera Santos (2015); Mair et al. (2012)
Relacionamento, Parcerias (ONGs, Bancos, Empresas, Governo), Foruns de Discussão, Redes
Rebehy et al. (2017); Demajorovic et al, (2016); Demajorovic et al, (2014); De Jesus & Barbieri (2013)
Parcerias com Poder Público, empresas London et al. (2010); Karnani
(2007); Perez-Aleman & Sandilands (2008); Parmigiani & Rivera Santos (2015); Mair et al.
3 METODOLOGIA
Este estudo se propõe a analisar como as empresas atuam com a base da pirâmide, ao incluir os catadores em sua logística reversa e como o valor é gerado. Portanto, para atender o objetivo do trabalho, este utilizou o método qualitativo, de caráter exploratório, por meio de um estudo de caso em profundidade. O estudo de caso único permite maior imersão do estudo e traz maior coerência ao que é contado (Dyer & Wilkins,1991). O caráter exploratório é motivado quando o desenvolvimento conceitual ainda está sendo formado e a pesquisa leva a exploração de padrões no mundo real que sejam ilustrativos e interessantes de forma que permitam oferecer a possibilidade de maior entendimento ou explicação (Stuart et al., 2002).
Para tanto, o modelo proposto por Stuart et al. (2002) para o processo de pesquisa de condução de um estudo de caso será utilizado como estrutura dessa seção de metodologia.
Figura 4 - Modelo de Processo de Pesquisa de Cinco Estágios
Fonte: Stuart et al., (2002, p. 420)