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4.2 Barreiras

4.4.3 Retorno Econômico e Criação de Valor

O retorno econômico da atuação junto as cooperativas, como forma de criação de valor é visto de 2 formas, como valor para o cliente direto e para o consumidor final, conforme citações abaixo. Além disso, a atividade é vista como estratégica, sendo que a área está dentro da estratégia global da empresa, e também é considerada como uma licença para operar como é citado: “E pra manutenção do negócio né. Porque tudo isso, você sendo proativo você não vai ser pego de surpresa. Se amanhã os consumidores decidem, não vou mais comprar embalagens que não sejam recicláveis. Se sua embalagem não é reciclável, você tá fora do mercado” [TP1]

O valor para o cliente é trazido por meio de consultoria para ações na cadeia de reciclagem, em projetos similares ao trabalho realizado pela Tetra Pak, mas de maneira customizada:

“Tem uma pessoa só pra isso.(...) ela cuida de suporte ambiental para os clientes. O que ela faz? Leva tudo isso que a Tetra Pak faz como empresa para os clientes. Para que eles também se envolvam, (...). Seja em educação ambiental, seja em apoiar uma cooperativa, seja em entender melhor a política nacional. Então, a gente tenta levar esse conhecimento e mostrar que nós somos uma boa fonte de referência para que, se ele não sabe o que fazer, a gente age como uma consultoria. Para nossos clientes uma consultoria sem custo.” [TP1]

E, para o consumidor final, a percepção do produto como uma embalagem retornável, em comparação com as demais, é outra forma de agregar valor à cadeia de logística reversa:

“Porque o consumidor tem o poder da decisão na hora da compra. Então se o consumidor, na hora que ele for comprar o leite ele fala: ah eu vou comprar o da Tetra Pak porque essa embalagem é reciclável ela é de fonte renovável. É isso que é o nosso sonho, que o consumidor consiga enxergar, não só pra nossa embalagem, mas pra qualquer coisa que ele tá indo lá comprar. Ele consiga ter uma análise crítica e comparar o que ele tá comprando. E comprar o que é melhor pra ele e pro meio ambiente. Aí lógico que isso vai ajudar nos negócios aí então tudo isso é feito pra que lá na ponta, o consumidor perceba o que é melhor pra ele e prefira os nossos produtos.” [TP1]

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

O caso da Tetra Pak indica que a forma de inclusão da população da base da pirâmide na cadeia de logística reversa para criação de valor para seu cliente exige atuação em todos os elos da cadeia. Nessa tarefa, a empresa precisou desenvolver estratégias para superar as diversas barreiras não só das cooperativas como da coleta e venda do material pós consumo. Somente com essa atuação, pode aumentar o percentual de reciclagem das embalagens, que teve como consequência melhora no rendimento dos catadores e melhora de imagem para o consumidor final gerando valor para o seu cliente. Para a análise, o caso será comparando a seguir com a literatura da BoP e de Logística Reversa.

Analisando as dificuldades enfrentadas pelas cooperativas, pode-se observar que há diversos pontos similares aos encontrados na literatura da BoP com a Logística Reversa. A tabela 3 no resumo teórico evidencia os artigos da literatura da BoP que relacionam as dificuldades de atuação com a BoP com as dificuldades encontradas em logística reversa para lidar com as cooperativas. Na análise da atuação da Tetra Pak, foram encontradas diversas práticas que são condizentes com as da revisão teórica da BoP e logística reversa com as cooperativas. Esses pontos são apresentados a seguir nas tabelas 7 e 8 e analisados na seção posterior.

Tabela 7 - Análise Barreiras

Fonte: Elaboração própria com base na revisão de literatura (Tabela 3 e 4) e entrevistas

Barreiras BoP - Descrição Logística Reversa - Descrição Caso - Descrição

Barreiras de Coleta Acesso a matéria prima de

qualidade

Preço e Acessibilidade Coleta ou entrada de material

Dependência de recebimento de coleta da prefeitura e dificuldade de acessar outros canais. Baixo % de coleta seletiva nos municípios. Pouca conscientização da população.

Barreiras de Produtividade Acesso a

Recursos Financeiros

Capital de Giro, Crédito,

Seguro Capital de Giro

Não há acesso a crédito por meio de instituições formais e o capital de giro é baixo

Acesso a Recursos Produtivos

Acesso a Tecnologia, Acesso a Expertise, Equipamento, Conhecimento técnico, Armazenamento, Educação Formal, Gestão, TI

Gestão Financeira; Eficiência Operacional; Falta de

Treinamento; Alta Rotatividade de Cooperados; Infraestrutura inadequada; Falta de

Equipamentos

Possuem os equipamentos básicos para operar mas não possuem verba para melhorias. Há deficiência no conhecimento técnico-administrativo. Infraestrutura é precária. Cooperados possuem baixa educação formal e treinamento mínimo. Barreiras de Transação Barreiras de Acesso ao Mercado Dispersão Geográfica, Infraestrutura Ruim, Falta de informação sobre oferta e demanda, Padrão de Qualidade, Certificados

Qualidade do Material; Localização; Formalização

Não possuem certificados de qualidade, apenas certificados de segurança para operar. Não possuem problemas com a qualidade do material comercializado. Possuem CNPJ mas precisam de apoio para outros controles legais.

Poder de Mercado

Acesso direto a compradores, Dependência de

intermediários, Falta de contratos formais,

Infraestrutura e Isolamento Geográfico

Baixo Volume de Material para Venda Direta; Dificuldade de Manter Frequência de entrega; Dificuldade de Cumprimento de Prazo; Dificuldade de

Transporte

Dependem de venda via rede de cooperativas ou de intermediários para a maior parte do volume vendido. A falta de veículos e o baixo volume dificulta a venda direta.

Segurança e Consistencia de Transações

Flutuação de Preço Volatilidade de Preço São vulneráveis a variação de preço, principalmente do papelão, carro chefe na maioria das cooperativas.

Tabela 8 - Análise Estratégias Práticas para

Mitigação BoP - Descrição Logística Reversa - Descrição Caso - Descrição

Práticas de Coleta Acesso a materia prima de

qualidade

Coordenação do acesso a matéria prima, Troca de Informação

Estimular a Coleta

Estimula a coleta em outras fontes, para evitar a dependência da prefeitura. Programas de conscientização ambiental com consumidores. Parcerias com comércio para implementação de PEVs.

Práticas de Produtividade Acesso a materia prima de qualidade Coordenação do acesso a matéria prima, Troca de Informação

Estimular a Coleta Estimula a coleta em outras fontes, para evitar a dependência da prefeitura

Acesso a Recursos Financeiros

Financiamento, Empréstimos Não realiza financiamento

Acesso a Recursos Produtivos

Treinamento; Assistência Técnica, Foruns para Discussão,

Investimento em Equipamentos, Capacitação Técnica-

Operacional

Realiza treinamento dos cooperados e das lideranças. Faz cessão de equipamentos como prensa. Faz doação de EPIs, Bags outros itens. Práticas de Transação

Investimentos no Acesso ao

mercado

Infraestrutura, Tecnologia Não investe em infraestrutura

Mitigação de risco de Poder de mercado e Segurança de Mercado Contratos, Garantia de Compra, Preços estáveis, Pagamentos a vista, Redes, Agregação de valor ao produto

Redes, Agregação de Valor ao resíduo, Apoio poder publico, Controle de Fluxo de

Informações, Garantia de Compra de material

Facilita o acesso a compradores em todas as cooperativas. Coordena o fluxo de informação dos volumes. Busca parcerias para melhorar o valor do preço do material reciclado.

Outras

Estratégias em diferentes níveis

Relacionamento, Parcerias (ONGs, Bancos, Empresas, Governo), Foruns de Discussão, Redes

Parcerias com Poder Público, empresas

Faz parcerias com associações, ongs e outras empresas em diversos níveis