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Neste capítulo tentou abordar-se, de uma forma abrangente, como se constitui e elabora um projecto de demolição. Em Portugal, os projectos de demolição existentes são poucos e, geralmente, apresentam-se muito incompletos. Durante as visitas e acompanhamentos realizadas pelo autor a obras de demolição tentou-se averiguar se tinha sido elaborado algum projecto para as obras de demolição em causa. Verificou-se que, normalmente, apenas era realizado um plano de segurança e saúde, como é obrigatório em todas as obras de demolição efectuadas. Assim, com a elaboração deste capítulo tenta-se chamar a atenção de todas as entidades relacionadas com o sector da demolição de estruturas para os perigos associados a obras de demolição e para a forma como estes podem ser evitados e/ou prevenidos. Em alguns países, como a Espanha ou a Grã-Bretanha são promovidos seminários para as empresas de demolição no sentido de estas elaborarem bons projectos de demolição. Neste âmbito, Espanha possui associações de empresários de demolição que promovem e defendem uma elaboração cuidada e completa dos projectos de demolição quer em termos de execução em obra como em termos de projecto e segurança. A Grã-Bretanha, por sua vez, possui um documento normativo especificamente para demolições de estruturas, mais concretamente um código de práticas de demolição de estruturas (BS 6187, 2000) onde são fornecidas orientações e regras para a elaboração de um projecto de demolição. Hong Kong possui também um código de práticas para a demolição de edifícios elaborado pelo Departamento de Edifícios do país. Portanto, através da análise destes documentos normativos conseguiu-se elaborar um conjunto de orientações a tomar, no sentido de efectuar um projecto de demolição.

No esquema da Figura 5 está representado o processo de decisão a tomar na demolição de um edifício. Este esquema é apresentado por Liu et al. (2005) e nele

focaliza-se quatro possibilidades como destino da construção. O esquema representa o ciclo de vida de um edifício, sendo que no fim da sua vida útil possui como possibilidades a remodelação, a relocalização, a desconstrução ou a demolição total do edifício com recurso a equipamentos mecânicos. A desconstrução do edifício permite que os materiais retirados sejam reutilizados numa nova construção ou reciclados dando origem a materiais que poderão ir para aterro ou para ser utilizado em novas construções como demonstra o esquema. A demolição do edifício com recurso a equipamentos mecânicos remete todos os resíduos originados para reciclagem. O autor com este esquema pretende demonstrar que é necessário inspeccionar o edifício que atinge o limite de vida útil, e avalia-lo de modo a escolher o destino que se lhe deve dar.

Com a análise do esquema da Figura 5, conclui-se que a demolição total de um edifício deve ser a opção a tomar depois de rejeitadas a remodelação deste, a deslocalização do edifício para outro local e a desconstrução do edifício aproveitando elementos provenientes da demolição para serem reutilizados noutras construções. A desconstrução é, assim, uma demolição selectiva que caracteriza-se pelo desmantelamento cuidadoso, de forma a possibilitar a recuperação de materiais e elementos da construção (Couto et al., 2006). Os materiais provenientes da demolição total da estrutura e, também, materiais não aproveitados na desconstrução do edifício podem ser reciclados para utilização noutras construções como, por exemplo, em obras rodoviárias. Os materiais que não sejam aproveitados para reciclagem são enviados para aterros. Como se pode observar no esquema, os produtos da desconstrução e da demolição que são aproveitados para reutilização e reciclagem são introduzidos no mercado de produtos e de materiais de construção. Este esquema reflecte a importância da execução de um projecto de demolição cuidado e de um estudo profundo à estrutura e aos materiais que a compõem. Assim, é possível reaproveitar materiais e elementos construtivos provenientes do edifício a demolir e utilizá-los em novas construções ou em remodelações.

Como resumo dos procedimentos e orientações para a elaboração de um projecto de demolição averiguados no presente capítulo, apresenta-se um fluxograma de procedimentos a considerar na preparação e execução de uma demolição (Figura 6).

A elaboração deste fluxograma foi realizada devido a uma análise efectuada a documentos normativos já referidos neste capítulo como a norma britânica BS 6187, o código de práticas sobre demolição de edifícios de Hong Kong e, também, ao estudo efectuado à gestão de projectos de demolição de edifícios (Liu et al., 2005).

Segundo o fluxograma proposto, a comercialização dos materiais e de elementos construtivos provenientes da demolição do edifício deve ser realizada após a inspecção e avaliação do edifício a demolir e antes da selecção do método de demolição. Isto porque após a realização de um relatório de inspecção onde são especificadas todas as características do edifício assim como de todos os materiais e elementos que o constituem, estes são seleccionados e estimadas as quantidades de todos os materiais e elementos construtivos que serão aproveitados e divulgados no mercado de modo a que as pessoas possam ter acesso. Após as negociações e conversações entre os compradores e as empresas de demolição, é efectuada a selecção do método de demolição de acordo com os materiais e elementos construtivos que serão comercializados e, também, tendo como prioridade a eliminação e/ou minimização dos riscos associados aos trabalhos de demolição. Após a selecção do método de demolição estar concluída, é elaborado o plano de procedimentos de demolição e da sequência dos trabalhos. Associado a este plano deverá estar também o plano de segurança e saúde para os trabalhos a realizar, que estabelece zonas de segurança e provisiona a instalação de medidas de prevenção, segurança e de estabilidade estrutural.

Após a verificação de todas as medidas propostas no plano de segurança e saúde, e garantida a segurança de todas as pessoas inerentes à obra, assim como a segurança do público, pode-se dar início à desactivação de todos os serviços associados à estrutura a demolir (água, electricidade, gás, telefone, etc.) e, posteriormente, aos trabalhos de demolição.

Os materiais e elementos construtivos reaproveitados da estrutura e que foram comercializados podem ser entregues aos compradores após a sua retirada da estrutura. Concluídos todos os trabalhos de demolição, procede-se à inspecção do local de demolição e das estruturas adjacentes. O local de demolição deve ser deixado limpo pela entidade que executa os trabalhos.

Capítulo 3.

Processos de Demolição

3.1 Preâmbulo

Neste capítulo serão descritos e analisados os vários processos de demolição que podem ser utilizados na demolição total ou parcial de uma estrutura. Com base no Centro Científico e Técnico da Construção de Bruxelas, citado por Brito (1999), os processos de demolição podem dividir-se em:

a. Processos mecânicos, em que a demolição é efectuada com recurso a

equipamentos mecânicos que provocam a fragmentação ou o derrube das estruturas;

b. Processos térmicos, que consistem em processos que utilizam o calor para provocar

a fusão do material;

c. Processos abrasivos, que englobam os equipamentos de corte por abrasão do

material. As ferramentas diamantadas são as mais utilizadas nestes processos;

d. Demolição com recurso a cargas explosivas, em que se utiliza cargas explosivas

para criar descontinuidades na estrutura de modo a originar o colapso da mesma;

e. Processos eléctricos, em que utilizam a energia eléctrica como meio para

fragmentar o elemento;

f. Processos químicos, que consistem na utilização da capacidade de expansão de

alguns materiais químicos para provocar a fragmentação de elementos.

No âmbito da demolição de um edifício pode-se separar duas fases distintas da demolição, a demolição primária e a demolição secundária. Os trabalhos que têm por objectivo derrubar a estrutura e colocar os elementos que fazem parte desta ao nível do terreno definem-se como trabalhos de demolição primária. A fase seguinte que corresponde à demolição secundária define-se como a fragmentação dos elementos derrubados de modo a obter uma granulometria menor conforme o destino dos mesmos (Fueyo, 2003). Mediante a aplicação de acessórios específicos para o efeito,

pode-se proceder a uma demolição em que os trabalhos primários e secundários são efectuados ao mesmo tempo. Em Portugal, antes da construção dos novos estádios para a realização do Campeonato Europeu de Futebol de 2004, houve uma série de estádios que foram demolidos totalmente e parcialmente. Este aparecimento de trabalhos provocou um crescimento das empresas de demolição e, também, a valorização dos resíduos da demolição que até então eram levados para aterros, sem serem reciclados ou reaproveitados. Em anexo apresenta-se um quadro de classificação de técnicas de demolição proposto no código de práticas de Hong Kong, como complemento para melhor compreender as características dos processos de demolição (Anexo A – Tabela A.1).

No documento Processos de demolição de estruturas (páginas 37-43)