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3.4 RETRADUÇÕES DE WUTHERING HEIGHTS E

3.4.1 Retraduções de Wuthering Heights – estratégias e

Traduções mais antigas do trecho a seguir já foram analisadas. Apresento agora as soluções empregadas para representações de variedades linguísticas proferidas no discurso do servo Joseph:

Quadro 21 – Trecho 1: Retraduções de Wuthering Heights. Tradução de Solange Peixe de Pinheiro Carvalho (2014). Tradução de Guilherme da Silva Braga (2011). Tradução de Doris Goettems (2011). Wuthering Heights, Emily Brontë (1966) [1847]. - O que é que vosmecê qué? – gritou ele. – O patrão tá lá nos campo. Dê a vorta no fim do establo se quisé fala com ele.

- Não tem ninguém em casa para abrir a porta? – gritei em resposta. - Num tem ninguém fora a patroinha; e ela num vai abri nem que vosmecê fique fazeno sua baruiada horrível até de noite. - Por que? Você não pode lhe dizer quem eu sou, hein, Joseph? - Eu?! De jeito nenhum. Eu é que num vô tê nada com isso – murmurou a cabeça, desaparecendo. (p. 36)

– Que que o sior qué aqui? – gritou. – O patrão tá lá no otero. Dê a volta no celero se quisé falá co’ele. – Não tem ninguém em casa para abrir a porta? – gritei em resposta. – Ninguém além da siorita; e ela não vai abri nem que o sior faç’um barulho dos inferno até de noite.

– Por quê? Você não pode dizer a ela que sou eu, ah, Joseph?

– Eu é que não! Não quer’tê nada que vê co’isso – balbuciou a cabeça antes de sumir. (p. 22) – O que o senhor quer? – ele gritou. – O patrão desceu para caçar aves. Dê a volta no final da cerca, se quer falar com ele.

– Não há ninguém aí dentro para abrir a porta? – gritei, como resposta. – Não há ninguém a não ser a patroa, e ela não vai abrir, nem que o senhor continue com essa barulheira até que anoiteça. – Por quê? Você não pode lhe dizer quem eu sou, Joseph? – Não, eu não! Não tenho nada com isso – murmurou a cabeça, desaparecendo.” (p. 21) “What are ye for?” he shouted. “T’ maister’s down i’ t’ fowld. Go round by th’ end o’ t’ laith, if ye went to spake to him.”

“Is there nobody inside to open the door?” I hallooed, responsively. “There’s nobbut t’ missis; and shoo’ll not oppen ‘t an ye mak’ yer flaysome dins till neeght.” “Why? Cannot you tell her whom I am, eh, Joseph?” “Nor-ne me! I’ll

hae no hend wi’t,” muttered

the head, vanishing. (p. 9)

O excerto do texto-fonte tem 21 marcadores linguísticos sugerindo variedade linguística sub-padrão e estigmatizada.

A tradução de Doris Goettems tem apenas alguns elementos do Vernáculo Geral Brasileiro (VGB) que poderiam sugerir uma preocupação em tornar o discurso de Joseph mais crível, como o futuro do presente composto em “ela não vai abrir” ao invés do futuro do presente simples, “ela não abrirá”. A dupla negativa “Não, eu não!” parece apontar para a mesma direção. Não há qualquer uso de elementos de variedades mais estigmatizadas do português brasileiro ou traços descontínuos, algo que já acontece na próxima tradução. A grosso modo, não há diferenças significativas entre o discurso de Lockwood e o de Joseph.

Na tradução de Guilherme da Silva Braga, há 19 marcadores linguísticos que representam variedade linguística sub-padrão e estigmatizada, cuja fonte são traços descontínuos do português brasileiro, como veremos mais adiante. Há uma diferença marcante entre o discurso de Lockwood e o de Joseph.

A tradução de Solange Peixe de Pinheiro Carvalho tem um número muito similar de marcadores linguísticos sugerindo variedade linguística sub-padrão e estigmatizada: 18. Mostro neste estudo que muitos dos elementos empregados neste texto de chegada são os mesmos que ocorrem na tradução de Braga. É interessante notar que na de Carvalho há o uso de “vosmecê” para “estabelecer a diferença entre os falantes do dialeto e os falantes do inglês standard, que usariam o senhor/a senhora ou você, dependendo da circunstância” (CARVALHO, 2006b, p. 102).

No próximo trecho, pode-se perceber que duas das retraduções focalizadas mantêm a frequência de elementos sugerindo variedades linguísticas no texto-fonte, algo que já havia sido verificado no trecho anterior. Mais uma vez, a fala de Joseph foi escolhida por ser a personagem que se comunica através do dialeto de Yorkshire com mais consistência:

Quadro 22 – Trecho 2: Retraduções de Wuthering Heights. Tradução de Solange Peixe de Pinheiro Carvalho, 2014 Tradução de Guilherme da Silva Braga, 2011 Tradução de Doris Goettems, 2011. Wuthering Heights, Emily Brönte, 1966 – Eu só fico pensano como é que vosmecê pode ficá aí preguiçano ou fazeno coisa pió, quano todo mundo saiu trabaiá. Mas vosmecê num serve de nada, e vô perdê meu tempo se ficá falano – vosmecê nunca vai se indireitá, e vai pro inferno, iguar sua mãe antes de vosmecê. (p. 44)

- Nem imagino como alguém pode ficá aí de pé sem fazê nada enquanto todo mundo se ocupa co’alguma cousa! Mas, se qué sê inútil, não adianta nada falá...não tem remédio; então vá pro diabo fazê compania à sua mãe! (p. 28)

– Não sei como você consegue ficar aí parada sem fazer nada, quando todos os outros estão lá fora! Mas você é uma inútil, e não adianta falar... Nunca vai se corrigir desses maus modos, mas vai direto para o inferno, como a sua mãe foi antes de você! (p. 21)

“Aw woonder

hagh yah can faishion tuh

stand thear i’ idleness un war, when all on

’em’s goan aght! Bud yah’re a nowt,

and it’s noa use talking – yah’ll

niver mend uh yer ill ways; bud, goa raight

to t’ divil, like

yer mother afore ye!” (p. 16)

O texto-fonte traz 29 marcadores linguísticos sugerindo variedade linguística sub-padrão.

À semelhança do trecho anterior, na tradução de Goettems, há o uso do futuro do presente composto, como em “Nunca vai se corrigir”, um traço gradual do Vernáculo Geral Brasileiro. Contudo, não há uso de traços descontínuos, ou até mesmo elementos que já fazem parte do vernáculo mais geral falado no Brasil, como falá, por exemplo.

A Guilherme da Silva Braga tem 11 marcadores linguísticos para representar o dialeto de Joseph, uma diferença em relação à anterior que talvez possa sugerir certa inconsistência na representação das variedades linguísticas do texto-fonte.

A tradução de Solange Peixe de Pinheiro Carvalho tem 19. O trecho seguinte vem de um diálogo entre Mr. Earnshaw e sua filha, Catherine, no Capítulo V:

Quadro 23 – Trecho 3: Retraduções de Wuthering Heights. Tradução de Solange Peixe de Pinheiro Carvalho, 2014 Tradução de Guilherme da Silva Braga, 2011 Tradução de Doris Goettems, 2011. Wuthering Heights, Emily Brontë, 1966 Por que ocê não

pode ser sempre uma boa minina, Cathy? E ela voltou o rosto para o dele, e riu, e respondeu: - E por que o senhor não pode ser sempre um bom homem, pai? (p. 85)

“Por que não podes ser sempre uma boa garota, Cathy?” E ela ergueu o rosto em direção a ele e riu, e respondeu: “Por que o senhor não pode ser sempre um bom homem, pai?” (p. 58)

“– Por que não podes ser sempre uma boa menina, Cathy? Ela levantou o rosto, riu e respondeu: – E por que não podes ser sempre bondoso, meu pai?” (p. 66)

Why cannst

thou not always

be a good lass, Cathy?', and she replies, 'Why cannot you always be a good man, father? (p. 49)

São três os marcadores linguísticos no texto-fonte. Mr. Earnshaw usa thou para se dirigir à filha, um recurso que marca a autoridade do pai.

Na tradução de Goettems, este elemento do diálogo não foi considerado: ambos os discursos usam o sujeito oculto “tu”.

Já na tradução de Braga, essa diferença foi marcada. Why cannst thou foi traduzido por “Por que (tu) não podes”, enquanto Catherine usa “você”, preservando a diferença entre os dois. Entretanto, este é o único elemento do qual se vale para acentuar isso.

Em sua dissertação, Carvalho justifica o uso de “ocê”: se “vosmecê” traduz thou quando é utilizado como tratamento respeitoso, “ocê” indicaria o uso de thou quando a intenção do locutor é faltar com o respeito (CARVALHO, 2006b, p. 102). É interessante notar que em sua tradução, lass, palavra que em vários dialetos britânicos significa “senhorita”, é “minina”. Esta palavra é uma representação da pronúncia da palavra “menina” comum no português brasileiro.

Incluí um trecho de diálogo entre Hareton Earnshaw e Linton Heathcliff no Apêndice E (p. 137) e no Apêndice F (p. 140) outro que traz o discurso de Joseph.

Recorrendo à classificação de Rosa (2012), pode-se dizer que o procedimentos e estratégias de tradução de representações literárias de variedades linguísticas são estes:

Quadro 24 – Procedimentos e Estratégias: Retraduções de Wuthering Heights.

Tradução Procedimentos Estratégias Resultado

O Morro dos Ventos Uivantes (2011) – Doris Goettems. Omissão + Mudança de uma variedade sub- padrão mais periférica para uma variedade menos periférica através de elementos do Vernáculo Geral Brasileiro (traços graduais, uso inconsistente). Normalização, com leve tendência para Centralização. Monoglossia O Morro dos Ventos Uivantes (2011) – Guilherme da Silva Braga. Manutenção. Uso de elementos de variedades rurais e rurbanas estigmatizadas (traços descontínuos). Heteroglossia O Morro dos Ventos Uivantes (2014) – Solange Peixe de Pinheiro Carvalho. Manutenção. Uso de elementos de variedades rurais e rurbanas estigmatizadas (traços descontínuos). Heteroglossia

O quadro resume os resultados da análise, baseada na classificação de Rosa (2012). Os elementos linguísticos usados pelos tradutores serão tratados mais detalhadamente mais adiante.

Na tradução de Doris Goettens, o procedimento foi o da Omissão: marcadores linguísticos que sugerem discurso sub-padrão com menos prestígio no texto-fonte não são recriados no texto de chegada. No entanto, há ocorrências ocasionais de um procedimento de Mudança de uma variedade sub-padrão mais periférica para uma variedade menos periférica através de elementos do Vernáculo Geral Brasileiro (traços graduais), mas este não acontece com consistência suficiente para

caracterizar uma estratégia de Centralização ou alterar o resultado: a Monoglossia.

Na tradução de Guilherme da Silva Braga, o procedimento foi o da Manutenção: marcadores linguísticos sinalizando caracterização de discurso sub-padrão com menos prestígio do texto-fonte de Emily Brontë foram recriados no texto de chegada. Julgo importante dizer aqui que tal Manutenção diz menos respeito ao número de marcadores usados pelo tradutor em comparação aos encontrados no texto-fonte do que na manutenção de dimensões comunicativas e sócio-semióticas do texto- fonte no texto de chegada. Contudo, os valores numéricos de marcadores verificados na tradução dos trechos são sempre próximos do valor de marcadores do texto-fonte. O resultado é a Heteroglossia, que foi mantida através do uso de elementos do Vernáculo Geral Brasileiro, e sobretudo de variedades rurais e rurbanas estigmatizadas, como veremos mais adiante.

Na tradução de Solange Peixe de Pinheiro Carvalho, o procedimento foi o da Manutenção: marcadores linguísticos sinalizando caracterização de discurso sub-padrão com menos prestígio do texto- fonte foram recriados no texto de chegada. O número de marcadores na tradução de Carvalho é mais próximo ainda do número de marcadores no texto-fonte, e houve manutenção de dimensões comunicativas e sócio-semióticas no texto de chegada. O resultado foi a Heteroglossia, mantida através do uso de elementos do Vernáculo Geral Brasileiro, e sobretudo de variedades rurais e rurbanas estigmatizadas.

3.4.2 Retraduções de The Adventures of Huckleberry Finn – estratégias e procedimentos.

Há diferentes traduções disponíveis de The Adventures of Huckleberry Finn no mercado editorial brasileiro. Contudo, a grande maioria delas são reedições de traduções originalmente lançadas antes de 2002, como as de Alda Porto, Rachel de Queiroz e de Sergio Flaksman.

Entre as novas, duas se destacam por terem grande circulação em livrarias e bibliotecas: a de Rosaura Eichenberg e a da Ganseha Consultoria Editorial, ambas de 2011. As duas diferem bastante de todas as citadas por marcarem as representações de variedades linguísticas do texto-fonte através de elementos do português brasileiro.

De fato, em ambas, os tradutores se posicionam em relação a isso. A da Ganesha Consultoria Editorial, publicada pela BestBolso, revela em nota introdutória que a intenção foi “manter o caráter da oralidade

que permeia todo o texto, oferecendo um matiz que varia de acordo com a origem social de cada personagem” (GANESHA CONSULTORIA EDITORIAL, 2011, p. 10).

Rosaura Eichenberg também explica que “a reprodução dos dialetos foi inevitavelmente apenas uma aproximação” (EICHENBERG, 2011, p. 4). Na mesma nota, justifica a tradução da palavra nigger para “negro” ou “preto” por ter verificado que não era ofensiva na época do lançamento do livro.

Como minha análise focaliza principalmente o polissistema de tradução literária, é importante se pensar no papel das editoras em relação à maneira com que essas traduções consideraram as representações de variedades linguísticas. A BestBolso é do Grupo Editorial Record, que está em terceiro lugar no ranking de editoras que mais venderam livros em 2015 (PUBLISHNEWS, 2015); a L&PM está em vigésimo-primeiro lugar, mas tem a maior coleção de livros de bolso do Brasil, e um catálogo diversificado, com grande número de traduções (L&PM EDITORES, 2016). Pode-se dizer que ambas ocupam posições centrais no polissistema e o influenciam.

As duas edições aqui investigadas trazem textos dos tradutores sobre suas traduções. Talvez esse cuidado revele que eles e as editoras têm certo receio de que o leitor não receba bem o uso de elementos desviantes da norma-padrão. Este se justificaria pela natureza dos textos-fonte, que são livros canônicos. O fato é que há uma diferença marcante entre essas retraduções e as traduções dos mesmos livros publicadas anteriormente, no que diz respeito às representações de variedades linguísticas.

Demonstrarei agora como elas lidaram com tais representações nos mesmo trechos já analisados.

Quadro 25 – Trecho 1: Retraduções de The Adventures of Huckleberry Finn. Tradução de Rosaura Eichenberg (2011). Tradução de Ganesha Consultoria Editorial (2011). Tradução de Sérgio Flaksman (1996). The Adventures of Huckleberry Finn, Mark Twain 1(984 [1884]). - Ocê tem braços

e peito peludo, Jim?

- Pra que fazê essa pregunta? Num tá veno que tenho? - Bem, ocê é rico?

- Não, já fui rico uma veiz e vô sê rico de novo. Uma veiz eu tinha catorze dólar, mas comecei a ispeculá e perdi tudo. (p. 54) - E você, tem braços peludos e peito peludo, Jim? - Pra que preguntá isso? Num tá veno? - Então, e você é rico?

- Não, mas já fui u’a vez e vô sê di novo. U’a vez tive catorze dóla, mas fui tentá ispeculá e mi dei mar. (p. 43)

“e você tem pelos no braço e no peito, Jim?” “Está

perguntando por quê? Você sabe que sim.” “E você ficou rico?”

“Não, mas já fui rico um dia, e ainda vou voltar a ser. Eu já tive catorze dólares, mas aí resolvi investir e acabei perdendo tudo.” (p. 61)

"Have you got hairy arms and a hairy breast, Jim?" "What's de use to ax dat question? Don't you see I has?” "Well, are you rich?” "No, but I ben rich wunst, and

gwyne to be rich agin. Wunst I had foteen dollars, but I tuck to specalat'n', en

got busted out." (p. 61)

Em uma passagem com 13 marcadores linguísticos sinalizando discurso sub-padrão no texto-fonte, há 16 na tradução da Ganesha. Ela tem, por exemplo, “preguntá”, uma hipértese e apócope de “perguntar”; o advérbio “num” para “não”; a assimilação de “ndo” para “no” no gerúndio, em “veno”; síncope de “m” em u’a e outros.

Na tradução de Rosaura Eichenberg há 15 marcadores, como “ocê”, que aparece com frequência, na tradução, como veremos aqui. É uma forma típica de variedades rurbanas e rurais brasileiras. No trecho, também usa apócope do “R” em final das palavras, especialmente em verbos no infinitivo, como “fazê” e “sê”; hipértese em “pregunta”; epêntese de “I” antes de “Z” em “veiz”, e outros.

O próximo trecho, em que Huck e Jim conversam sobre a vida dos reis, confirma o que foi demonstrado no trecho anterior:

Quadro 26 – Trecho 2: Retraduções de The Adventures of Huckleberry Finn. Tradução de Rosaura Eichenberg, 2011. Tradução de Ganesha Consultoria Editorial, 2011. Tradução de Sérgio Flaksman, 1996. The Adventures of Huckleberry Finn, Mark Twain, 1984 [1884]. - Num sabia que

tinha tantos. Nunca ouvi falá de ninhum deles, quase ninhum, só do veio Rei Salumão, a num sê que ocê também conta os rei que tem no baraio de carta. Quanto ganha um rei? - Ganha? – digo eu. – Ora, querendo eles ganham mil dólares por mês. Eles podem ganhar o que quiserem, tudo pertence a eles. - Num é pândega? E o que é que eles têm que fazê, Huck?

- Eles não fazem nada! Ora, que jeito de falar. Eles só andam

- Num sabia qui tinha tanto rei. Num tinha ouvido falá em nenhum, fora o rei Solemão, se num se contá os rei dos baraio de carta. Quanto ganha um rei? - Ganha? – perguntei – Ora, eles podem ganhar milhares de dólares por mês se quiserem; tanto quanto quiserem; é tudo deles.

- Mais qui coisa! E o que qui eles têm de fazê, Huck? - Eles não têm que fazer nada! Que história é essa? Eles ficam

“Eu não sabia que tinha tanto rei assim. Nunca tinha ouvido falar deles, só do rei Salomão de antigamente, e mais dos reis dos baralhos de cartas. Quanto é que um rei ganha por mês?” “Quanto?”disse eu; “ora, pode até ganhar mais de mil dólares por mês se quiser; o rei ganha tanto quanto quer; é tudo dele mesmo.” “Mas que coisa! E o que é que o rei precisa fazer, Huck?”

“Nada! Imagine só. Nada. Ele só fica lá sentado no trono.”

"I didn' know

dey was so many un um. I hain't hearn 'bout

none un um,

skasely, but ole

King Sollermun, onless you counts dem kings dat's in a pack er k'yards. How much do a king git?" "Get?" I says; "why, they get a thousand dollars a month if they want it; they can have just as much as they want; everything belongs to them." "AIN' dat gay?

En what dey got

to do, Huck?" "THEY don't do

nothing! Why,

how you talk! They just set

por aí.

- Não…mesmo? - É claro. Só andam por aí. Menos talvez quando tem uma Guerra, então eles vão pra Guerra. Mas no resto do tempo eles só ficam à toa, ou vão caçar falcões e pass… ssshhh!... ouviu um barulho? (p. 87) por aí. - Num mi diga! É assim? - Claro que sim. Ficam por aí fazendo nada. Menos quando tão em guerra, aí vão pra guerra. Mas em outras horas, ficam assim

preguiçando ou vão caçar com falcões. Caçam e... Shh!... Ouviu um barulho? (p. 66) “Não diga! – É mesmo?” “É claro que sim. Só fica lá, sentado. Menos quando tem uma guerra. Mas o resto do tempo não faz nada; ou sai para caçar com falcão – fica lá caçando e – silêncio! – Você ouviu alguma coisa?” (p. 94)

around." "No; is dat so?" "Of course it is. They just set around--except, maybe, when there's a war; then they go to the war. But other times they just lazy around; or go hawking-- just hawking and sp--Sh!--d' you hear a noise?" (p. 103)

Aqui, são 30 marcadores no texto-fonte sugerindo discurso sub- padrão. Na tradução da Ganesha, são 18, além de traços contínuos do Vernáculo Geral Brasileiro. Há uma diferença marcada entre o discurso de Jim e o de Huck que não havia nas traduções anteriores.

O mesmo pode ser dito sobre a tradução de Eichenberg, com 13 marcadores linguísticos. É interessante notar que Rosaura traduziu go Hawking como “caçar falcões”, e não “caçar com falcões”, que é o sentido mais preciso da expressão.

No próximo excerto, o padrão de tradução se confirma nestas retraduções:

Quadro 27 – Trecho 3: Retraduções de The Adventures of Huckleberry Finn. Tradução de Rosaura Eichenberg (2011). Tradução de Ganesha Consultoria Editorial (2011). Tradução de Sergio Flaksman, 1996. The Adventures of Huckleberry Finn, Mark Twain (1984) [1884]. Amarrei a canoa e me deitei embaixo do nariz de Jim sobre a balsa, e comecei a bocejar e a espreguiçar os punhos contra Jim, e falei: - Alô, Jim, eu tava dormindo? Por que não acordou? - Santo Deus, é ocê, Huck? E ocê num tá morto… num tá fogado… tá de volta de novo? Bão demais pra sê verdade, meu fio. Deixa vê ocê, deixa senti ocê. Não, ocê num tá morto! Tá de volta de novo, vivo e são, o mesmo veio Huck… o mesmo veio Huck, graça a Deus! Amarrei a canoa e me deitei na jangada, bem debaixo do nariz do Jim, e comecei a bocejar e a esticar os braços na direção dele, e disse: - Oi, Jim, será que eu dormi? Por que não me acordou? - Deus seja lovado, é ocê, Huck? Num tá morto, num si afogô, tá di vorta? É bão dimais pra sê verdade, meu fio. Deixa eu oiá pr’ocê, minino, deixa eu tocá em ocê. Não,