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5 REUNIÃO ESPECIALIZADA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL: RESOLUÇÃO GMC N 155/

Em 1994, o Protocolo de Ouro Preto definiu ao Grupo Mercado Comum (GMC) que, entre as suas funções estão: criar, modificar ou extinguir órgãos, tais como Subgrupos de Trabalho e Reuniões Especializadas. Foram instituídas instâncias na estrutura do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) para discutir a integração sob os aspectos sociais e culturais, superando as limitações de se considerar apenas os aspectos econômicos e comerciais para a integração. Assim, foi criada a Reunião Especializada de Comunicação Social do MERCOSUL (RECS MERCOSUL), a partir da Resolução GMC n. 155, de 1996, com o objetivo de promover ações conjuntas tendendo a coordenação e cooperação no plano informativo, de imprensa e na difusão do processo de integração. O documento, em seu Artigo 2º, prevê que o grupo de coordenadores elabore, para apreciação do GMC, propostas de pautas de ação que contemplem tarefas prioritárias, prazos e meios para a conclusão, às necessidades das etapas do processo de integração. Assim como todas as instâncias do MERCOSUL, exceto o Conselho do Mercado Comum por se tratar de instância superior decisória, a RECS é um grupo representativo dos Estados Membros que tem função consultiva sobre os assuntos da comunicação social. Portanto, a atuação do grupo está centrada no planejamento, ou seja, na esfera das ideias, e muito pouco na esfera das ações, tornando a RECS um espaço para debate e apresentação de propostas a partir de temas que permeiam a comunicação social do MERCOSUL.

As atividades da RECS tiveram início em 1998. Porém, após oito anos de inatividade, a RECS retomou os encontros em 2006. Na ocasião, o Brasil era presidido por Luis Inácio Lula da Silva, líder do Partido dos Trabalhadores (PT). Jorge Antônio Menna Duarte pertencia ao quadro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (SECOM) e, consequentemente, era da coordenação brasileira da RECS. Desde a retomada das atividades da RECS, em 2006, Duarte foi o defensor da necessidade de se elaborar um plano de comunicação institucional e da proposta de uma política de comunicação para o bloco. Em entrevista exploratória realizada por esta pesquisadora em 28 de setembro de 2015, ele reforça que esta era uma pauta prioritária nas reuniões, até o momento de sua saída em 2012. Apresenta também suas posições sobre o papel da RECS.

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Esta entrevista com Jorge Duarte acrescenta uma visão dos processos e rotinas da RECS, a definição de pautas e agendas, e os conflitos e divergências entre os representantes, sendo percepções particulares do entrevistado. Sobretudo, denota o peso das decisões e ações brasileiras no grupo. Nas reuniões de 2013 ele não esteve mais presente e a RECS tomou outros rumos, como podemos observar depois, no depoimento do ex-coordenador argentino, Carlos Borgna.

Desde a criação da RECS, o bloco passou a discutir soluções para o sentimento de uma cidadania MERCOSULina por meio de ações e debates pelo fortalecimento da imagem e identidade institucional; outras vezes, articulando com meios de comunicação pública para a difusão do MERCOSUL. No entanto, a comunicação social tem um papel mais amplo e não deve se prender a uma atuação apenas institucional. Murilo Ramos (2005) define a comunicação como “portadora de um novo direito social, o direito à comunicação”. Observa-se que, nos últimos anos, a RECS passou a compreender esse objetivo mais amplo incluindo o direito à comunicação como um princípio norteador de suas diretrizes comunicacionais (DECISÃO CMC n. 47/2014).

A Reunião Especializada de Comunicação Social do MERCOSUL teve suas primeiras atividades registradas a partir de 1998. Foram realizadas quatro reuniões somente neste ano. A partir de então, a RECS teve um período de estagnação que durou até o ano de 2006 – quando as atividades foram retomadas. Não são claros os motivos desta estagnação e as fontes não são acessíveis. Por este motivo, o recorte temporal deste trabalho é o período de 2006 a 2015. Neste período, a RECS se reuniu pelo menos uma vez todos os anos, porém destacamos alguns momentos identificados a partir da entrevista com Jorge Duarte (2015), no anexo B e outros tópicos relacionados com os itens das Diretrizes para a Política de Comunicação, que aparecem em discussões anteriores à sua formulação.

Em 2006, o primeiro encontro aconteceu no mês de abril, na cidade de Buenos Aires, Argentina. Foi nesta reunião que, pela primeira vez, a RECS MERCOSUL se propôs a refletir sobre a necessidade de desenvolver políticas de comunicação e difusão do bloco. Foram discutidas possíveis estratégias, instrumentos e ferramentas para o cumprimento dos objetivos da RECS. No entanto, não foi apresentada uma proposta para elaboração de uma política, mas uma proposta de estratégia de comunicação com objetivo claramente instrumental e institucional. Segundo a proposta estratégica de 2006 (vide Anexo “B”): “[...] la comunicación debe servir como una herramienta para difundir los

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acuerdos y la agenda de trabajo y para facilitar que la sociedad civil se interese y se involucre en la construcción de la integración”.

Na ocasião, eram coordenadores nacionais da RECS: Jorge Duarte (Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Brasil); Carlos Hugo Centurión (Ministério de Relações Exteriores, Paraguai); Gustavo Antunéz (Gabinete da Presidência, Uruguai) e Enrique Vaca Narvaja (Ministério de Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto, Argentina).

Em 2006 aconteceram cinco encontros no total, nos meses de abril, julho, setembro, outubro e dezembro. No decorrer desse período, destaca-se o surgimento da proposta brasileira apresentada, em outubro de 2006, para a criação de uma Unidade de Comunicação do MERCOSUL, o embrião da UCIM.

Em outubro de 2007, a terceira reunião do ano trouxe para pauta, a discussão do papel estratégico da RECS (Ata RECS n. 3/2007, em anexo). Segundo o Uruguai, na Presidência Pro Tempore, a RECS “deve limitar-se como um órgão assessor em matéria de transmissão de informação verdadeira e concreta sobre o processo de integração pela cidadania do MERCOSUL”, colocando qualquer outra função para a RECS à submissão do GMC. O assunto foi debatido, resultando na posição comum entre os delegados para a criação de uma Unidade de Comunicação e Divulgação na Secretaria do MERCOSUL, sobre o MERCOSUL em geral.

Em 2009, durante a única reunião do ano, em junho, no Paraguai, as delegações da RECS retomaram o tema sobre a criação de uma Unidade de Divulgação e Comunicação Social na Secretaria do MERCOSUL. O objetivo desta unidade seria de que as informações do MERCOSUL chegassem de modo claro e preciso ao cidadão. O Brasil solicitou consultar a Secretaria MERCOSUL para dar seguimento à proposta. O Paraguai sinalizou que esta unidade não suporia apenas uma mudança na estrutura institucional do bloco, mas um espaço que elevaria o setor de comunicação e informação de modo que resultasse em maior utilidade para a sociedade civil em geral.

O ano de 2011 também foi um tanto inativo para a RECS. O único encontro aconteceu em junho, em Assunção, Paraguai, quando a RECS decidiu fazer um levantamento das propostas já encaminhadas ao GMC e retomá-las, todas pendentes de resposta, entre as quais estaria a criação da Unidade de Comunicação Social e Divulgação do MERCOSUL. Além de uma instância capaz de gerar espaço de debates, de acordo com

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as delegações, a unidade incluiria o relacionamento com novos atores que se somam ao processo de integração regional. Em entrevista, Jorge Duarte (2015) alertou para a demora, e em alguns casos, o silêncio do GMC, para responder à RECS.

Em março de 2012, a Argentina se comprometeu a elaborar uma nova proposta para a Unidade de Comunicação e Divulgação do MERCOSUL. Em seguida, no mês de maio do mesmo ano, a RECS solicitou ao GMC que fossem determinados os meios para a criação de uma Unidade de Comunicação. Até aquele momento, não tinha sido retomada a discussão sobre a elaboração de uma Política de Comunicação para o bloco. Até 2012, o trabalho da RECS estava pautado, principalmente, nas discussões sobre o papel da comunicação pública e nas parcerias entre os meios públicos de comunicação como participantes da difusão do MERCOSUL e do processo de integração. Foram promovidos seminários, grupos de pesquisa sobre a noticiabilidade do bloco, mas após as intensas atividades promovidas em 2006, nota-se uma diminuição do fôlego da RECS, realizando duas reuniões por ano, ou apenas uma.

Sobre a Unidade Técnica de Comunicação Social (UCIM ou UTCM, conforme aparece em alguns documentos), durante a primeira RECS de 2015, em março, na cidade de Brasília, as delegações de Argentina, Brasil e Paraguai examinaram a proposta de criação de uma Unidade Técnica de Comunicação e Informação (UCIM) do MERCOSUL, quando sugeriram novas redações. Porém este tema também está tratado em Reservado, mas a proposta do novo texto foi submetida à consideração das respectivas Coordenações Nacionais. O Uruguai também decidiu levar o assunto para discussões internas em nível da coordenação nacional.

O tema não teve avanços publicados na segunda reunião de 2015, em junho, na cidade de Brasília. Apenas foram propostas novas redações. Os documentos da discussão permanecem Reservados. De acordo com o texto em Ata, o mesmo ocorreu na terceira reunião, realizada em Assunção, em setembro de 2015.

O fato é que a RECS não disponibilizou mais informações sobre a UCIM, mas o Informe MERCOSUL n. 19 (BID, 2015, p. 69) destaca os objetivos, e de quem foi a iniciativa da proposta.

No marco do Grupo de Análise Institucional (GAIM), a delegação brasileira colocou a conveniência de criar uma Unidade Técnica de Comunicação Social no âmbito do Alto Representante do MERCOSUL. Propõe-se criar uma unidade que gere informação para empresas e

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formadores de opinião nos diferentes países e faça seguimento dos artigos que aparecem em meios. O GMC de julho de 2013 instruiu a Reunião Especializada de Comunicação Social (RECS) a trabalhar num vídeo institucional de curta duração “como instrumento de difusão do MERCOSUL nos âmbitos regional e extrarregional, bem como em instâncias acadêmicas e/ou educacionais. O mesmo deveria conter, dentre outras, questões como criação do MERCOSUL, funcionamento, estrutura, normativa, aspectos econômicos, comerciais e sociais a fim de contar com uma apresentação unificada do bloco regional”. Posteriormente, o GMC de maio 2014 realizado em Caracas, manifestou a necessidade de “avançar na Política Comunicacional do MERCOSUL” e instruiu a RECS a apresentar um documento de trabalho na seguinte reunião do GMC, considerando as propostas colocadas pelas Delegações do Uruguai e Venezuela. (BID, 2015, p.69)

Portanto, a UCIM é proposta de iniciativa do Brasil, com objetivo de produzir e difundir informação para públicos específicos: empresas e formadores de opinião. A proposta define ainda que a unidade esteja na superintendência do Alto Representante Geral (ARGM). A ele são atribuídas as articulações políticas e a formulação de propostas e representação das posições do bloco. Entre os temas no campo de atuação do ARGM estão saúde, educação, cultura e a divulgação do MERCOSUL.

A discussão sobre a participação de representantes da sociedade civil na RECS MERCOSUL foi resgatada no início de 2015, no encontro em Brasília. O tema foi tratado anteriormente em 2011, na reunião de Assunção, no Paraguai. No encontro de Brasília, a Argentina propôs que fosse efetivada a participação da sociedade civil na RECS, mas o Brasil e o Paraguai expressaram a necessidade de consultas internas. A Delegação do Uruguai não se manifestou sobre este ponto.

Em Brasília, em junho de 2015, as delegações da RECS presentes (Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai) examinaram o documento com as regras para a participação da sociedade civil nas reuniões. O documento foi elaborado a partir da proposta da Argentina de efetivação da participação da Sociedade Civil nas reuniões da instância, considerando os termos discutidos em Assunção, em junho de 2011. A proposta ainda está sob consultas internas nos Países Membros. A Bolívia, em processo de adesão, permanece participando como observador. A Venezuela não enviou delegação e, neste caso, a Ata ficou a ser referendada. O assunto recebeu comentários na terceira reunião de 2015, em Assunção, mas não teve avanços.

Das regras em discussão (vide Anexo “M”) para a participação da sociedade civil, destacam-se: um representante por país, que seja integrante da Comissão de Comunicação

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da Cúpula Social do MERCOSUL; cada país deverá informar à Presidência Pró-Tempore o nome do representante da sociedade civil a ser membro da delegação da RECS; em reunião será pautado ponto específico referente a participação dos representantes da sociedade civil, preferencialmente como primeiro item de pauta, e cada integrante da sociedade civil terá até 15 minutos para expor suas posições. Após suas apresentações, a participação dos membros da sociedade civil está limitada apenas a observação.

O Brasil é o único país entre os membros que fala língua portuguesa, com extensão territorial continental e maior população, com discrepâncias internas de caráter socioeconômico e cultural, e que defende a RECS voltada para um modelo de assessoria. Os países de língua espanhola, com menor extensão territorial e menor demografia, têm diferentes visões do que a comunicação pode significar para o MERCOSUL ou para o país que se demonstrar mais fortalecido. Paira, veladamente, uma desconfiança de que o mais forte pode assumir o papel dominador e fazer uso da comunicação para este fim. Também há o lado que acredita que a comunicação deve ser tratada como política pública que garanta acesso, pluralidade, universalidade e transparência para os cidadãos mercosulinos. As diferenças estão presentes nas divergências de posicionamentos em muitas questões que dizem respeito ao MERCOSUL, nos objetivos e na formação social do bloco, mas principalmente no pensamento da RECS. Assim, quanto ao papel da comunicação, temos o conflito, elemento dialético, presente desde a formação da RECS. A definição de formação social, para Demo é:

[...] a realidade que se forma processualmente na história, indigitável como fase, em duplo sentido: de um lado, apresenta nível discernível de organização social, sobretudo captável pelas instituições que nela se coagulam, como seria, por exemplo, a fase capitalista, a fase feudal, a fase colonial, a fase industrial; de outro, apresenta o aspecto formativo histórico, sempre dinâmico, na unidade de contrários, ou seja, gesta dentro de si as condições de aparecimento da nova fase. (DEMO, 1995, p.90)

A aprovação das Diretrizes para as Políticas Comunicacionais do MERCOSUL (Decisão CMC nº 47/2014), em dezembro de 2014 - que analisaremos melhor a seguir - sinaliza mudanças na compreensão do papel da comunicação social para a unidade regional. Prova disso está no preâmbulo, quando coloca o MERCOSUL na posição de compreender a comunicação como um direito humano e, ainda, ao propor que o cidadão mercosulino deve se sentir parte integrante e ter garantido o acesso à informação e à

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transparência organizacional. Notam-se encaminhamentos pela apresentação de proposta que oficialize a participação da sociedade civil. Estas questões dão abertura para que a RECS mude para uma atuação mais social, mais participativa e transparente, menos institucional e menos opaca.

O texto de concepção da RECS, Resolução GMC n. 155/1996, sugere interpretação de que as coordenações de cada país atuem como assessoria de comunicação. A RECS recebeu esse tratamento ao longo dos anos, planejando ferramentas de comunicação institucional, estratégias de divulgação de notícias entre meios de comunicação pública e definição de agendas com objetivo de promover e fortalecer as etapas do processo de integração do MERCOSUL. No entanto, percebe-se divergência nesta questão por parte de alguns membros da delegação e, também, da sociedade civil, que espera que a RECS assuma um papel mais ativo e inclua o pensar políticas públicas de comunicação que possam ser comuns entre os seus Membros Plenos.

Compreende-se que os recursos pré-existentes na estrutura do MERCOSUL são condições objetivas porque são naturalmente ofertados. Condições objetivas, segundo Demo (1995, p. 94), são aquelas “dadas externamente ao homem, ou dadas sem sua opção própria”.

As condições subjetivas são aquelas dependentes da opção humana. Não se trata de supervalorizar o homem como ator político, nos termos de Demo (1995), no sentido de que a história fica refém deste ator que a molda como quer, inventa.

O ator político também é condicionado, como qualquer componente da realidade social, de tal sorte que, mesmo tendo a capacidade histórica de consciência reflexa, não inventa sua consciência de qualquer maneira. Assim, o estar dotado de consciência é uma condição objetiva, porque um dado da condição de existência humana na história. A condição subjetiva está aí contextuada, no sentido preciso de que não inventa a possibilidade de consciência histórica, mas a realiza nos seus conteúdos possíveis (DEMO, 1995, p. 94).

Para as condições subjetivas aplicadas ao objeto desta pesquisa, podemos considerar o conflito ideológico, sobretudo na interpretação particular de cada representante da RECS sobre o papel da comunicação, discussão ainda não resolvida. Segundo Duarte (2015) “comunicação social o que é que é: é conteúdo editorial, conteúdo informativo, conteúdo de orientação do cidadão, era estratégia de ajudar o cidadão

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entender o MERCOSUL [...]”, enquanto que para o argentino Borgna (2016), a comunicação do MERCOSUL não se tratava de uma relação “Estado-Estado”, de maneira distinta dos demais – sobretudo do Brasil – havia necessidade de incorporar mídias, mídias populares, organizações sociais, etc.

Nota-se essa subjetividade institucional, no geral, no modo de perceber e aceitar a ideia de participação social no MERCOSUL, por meio dos movimentos sociais e suas diferentes causas (democratização das comunicações, liberdade de expressão, direitos humanos, liberdade de imprensa etc.).

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