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Reunindo todos os criterios de analise, identificamos quatro tipos de deiticos discursivos e quatro anaf6ricos indiciais correspondentes, classificados de acordo com a motivayao do

1) Os anaforicos deiticos e os deiticos discursivos "deiticos":

Os elementos indiciais remetem ao campo deitico real, apontando diretamente a localizayao espacio-temporal do falante. Tal pressuposiyao de subjetividadesitua os anaforicos deiticos no ponto mais alto da escala de deiticidade.

Sua forma de expressao preferencial sao os pronomes adverbiais circunstanciais, porque sua descriyao semantica trans mite com exatidao as nOyoes de tempo e lugar. Pe10 procedimento deitico, orientam a atenyao do destinatario nao para posiyoes no texto, mas para 0 posicionamento real do enunciador.

Vma vez que os deiticos discursivos "deiticos" fazem coincidir 0 ponto zero do falante com 0 do proprio texto como uma entidade proxima do enunciador, eles apresentam urn grau mais baixo de deiticidade.

2) Os anafOricos fisico-textuais e os deiticos textuais:

Pelo procedimento deitico,dirigem o sjla sh es de atenyao do destinatario para 0 lugar do texto onde a fonte foi mencionada.

Os anaforicos fisico-textuais manifestam-se em geral pelos pronomes de valor demonstrativo este/a q u ele, que remetem, respectivamente,

a

ultima e

a

primeira menyao, tomando 0 tempo de formulac;ao como referencial. Algumas vezes, recorrem a nomes de valor numeral, ou a nomes adjetivos de significado aproximado.

Tern uso muito restrito e limitam-se

a

perspectiva horizontal de ordenac;ao grafica do texto.

Os empregos mats legitimos de motivayao fisico-textual sao representados pelos deiticos textuais, por sua func;ao verdadeiramente organizadora dos segmentos discursivos. Para assinalar a posic;ao dos trechos referidos, sob 0 angulo horizontal ou vertical de ordenac;ao, recorrem a pronomes adverbiais circunstanciais ou a SNs de valor demonstrativo, com formulac;oes tipicamente cataforicas, responsaveis pela introduc;ao de novos referentes no discurso.

3) Os anaforicos e deiticos discursivos da memoria:

Seu procedimento deitico guia 0 olhar do destinatario para entidades cuja referencia s6 se completa no conhecimento compartilhado pe10s interlocutores. Em vista disso, valem-se quase sempre de SNs plenos, ou de estruturas mais elaboradas, como nomes ou pronomes modificados por orac;oes ou sintagmas preposicionais.

Em consequencia do acrescimo de novos conteudos informativos, os anaforicos da memoria constituem 0 mais importante expediente de introdw;ao de referentes novos

para 0discurso.

E

comum as duas especies, porem, realizarem-se principalmentepor. pronomes de valor demonstrativo. Quando se expressam por pronomes de segunda pessoa, reduzem o grau de deiticidade, por perderem de vista 0 referencial de distancia do enunciador.

Quando ocorrem como pronomes de terceira pessoa, tomam-se mais altamente deiticos, por pressuporem 0 campo deitico real.

4)

as

a n a f 6 r ic o s e d e it ic o s d is c u r s iv o s d o contexto:

Destoam de todos os tipos anteriores por neutralizarem 0trac;o de distancia emrelac;ao

ao falante, razao por que apresentam 0menor grau de deiticidade.

Alem disso, diferentemente dos outros, a remissao de seus elementos indiciais coincide com a da expressao referencial inteira.

Pelo procedimento deitico, orientam 0 foco de atenc;ao do destinatario para a pr6pria

expressao indicial.

Sao representados pelos pronomes demonstrativos este/esse e s6 remetem retrospectivamente.

Vma vez que todo esse comportamento e comum a deiticos discursivos e anaf6ricos, 0

unico trac;o que os distingue e a abrangencia referencial.

Verificamos, finalmente, que os contextos menos espontaneos, conjugados com a modalidade escrita, sac mais propicios ao aparecimento de deiticos discursivos. Contudo, na

' i

fala mais espontanea, eles apresentam uma formalizac;ao tipica: sao, em maioria, as pro-formas

isto /isso (manifestas ou omissas) e, em menor proporc;ao, os nomes gerais ou nomes menos

metalingiiisticos.

Ao longo das conclus5es, sugenmos a compara<;ao das express5es definidas com os deiticos discursivos, a fim de aprofundar as reflex5es sobre os fatores que condicionam a escolha ora de urn, ora de outro.

E

necessario pesquisar em que contextos, essas duas express5es referenciais sac mutuamente excludentes e em quais outros sac intersubstituiveis; e se a

substituic;ao, ainda que estruturalmente viave1, provoca certas alterac;5es discursivas. Por outro lado, tambem

e

preciso averiguar se os anaf6ricos indiciais nao sac igualmente intercambiaveis com as express5es definidas, e 0 que justificaria a alternancia.

As contribuiyoes deste trabalho podem, ainda, ser bastante uteis para a amilise do comportamento discursivo das expressoes indiciais como elos coesivos, como instrumentos de organizayao de segmentos textuais, consoante 0prop6sito argumentative do enunciador. Dentro

de urn estudo des sa natureza, cabe inquirir se, de fato, a funyao de mudanya de t6pico (mudanya de ponto de vista sobre uma seqUencia de eventos, passagem de uma descriyao a uma narrayao etc.) pode ser atribuida a certos usos de pronomes demo nstrativo s, e se as transiyoes s6 acontecem em sintagmas rotuladores.

Embora os resultados tenham apontado para a prevalencia de deiticos discursivos em situayoes de uso menos esponHineas, muitas vezes, em modalidade escrita, delineou-se urn grupo de representayao geralmente pronominal, motivado pelo contexto, que parece ocorrer com mais frequencia em discursos mais esponHineos. Cumpre investigar a hip6tese de que tais pronomes, de valor demonstrativo, comumente neutros, sac realmente caracteristicos de generos falados e menos cuidados. Sugerimos, ainda, que se pesquise a possibilidade de os deiticos discursivos contextuais serem empregados mais regularmente em certos generos comunicativos do que em outros.

As constatay5es alusivas aos deiticos discursivos nao-manifestos no texto tambem ampliam os horizontes dos estudos sobre complementos verbais omissos, pois evidenciam que sua funyao discursiva esta relacionada aos objetivos argumentativos do falante. Interessa ao enunciador valer-se de formas neutras de natureza demonstrativa para resumir conteudos anteriores, sem despender esforyos para rotula-Ios. Se 0 procedimento deitico dirige a atenyao

do destinatario para pontos do texto, dando-Ihes saliencia, e natural que 0 falante recorra as

formas omissas para desfocar 0 que julga discursivamente irrelevante. Convem agregar as

caracteristicas do procedimento discursivo das omissoes as restriyoes sintatico-semanticas responsaveis pela facultatividade de complementos verbais, para descobrir que variaveis sao, com efeito, determinantes deste fen6meno.

Deixamos de considerar, nesta pesquisa, todos os outros anaf6ricos que introduzem referentes novos para 0 discurso. Suas formas de realizayao mereceriam, no entanto, ser

colocadas em confronto com as expressoes que promovem a manutenyao referencial, a fim de examinar 0tipo de motivayao dos elementos indiciais.

Dentre esses elementos de introduyao referencial, preClsam ser discutidas, mats criteriosamente, as anaforas associativas e os trayos que as definem. Argumentamos que 0

simples fato de as expressoes associativas apresentarem urn demonstrativo nao justifica que sejam expurgadas do grupo das anaforas associativas. Os estudos sobre 0 assunto nao