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Revalorização do direito à educação de adultos

1.4 CRONOLOGIA DA EDUCAÇÃO DE ADUTOS EM PORTUGAL

1.4.4 Revalorização do direito à educação de adultos

No ano de 1999, à semelhança de outros países, em Portugal, tornou-se urgente a criação de um sistema de reconhecimento, validação e certificação de competências que avaliasse e creditasse

formalmente as aprendizagens não formais e informais que os adultos tinham adquirido nas práticas quotidianas. Esperava-se que este sistema levasse à construção de itinerários de educação e de formação ao longo da vida e a uma mobilização individual em termos de construção ou reconstrução de projectos profissionais, educativos, formativos e até mesmo sociais. Começou a haver uma preocupação com a educação e formação de adultos, em particular de adultos pouco escolarizados e pouco qualificados profissionalmente.

O défice de qualificação e de certificação em Portugal, sobretudo na população adulta, levou a considerar a necessidade de exprimir a vontade de ser dada a oportunidade a todos os cidadãos, em particular aos adultos menos escolarizados e aos activos empregados e desempregados, de verem reconhecidos os conhecimentos e competências que foram adquiridos por via não formal ou informal, em diferentes contextos de vida e de trabalho, apoiando-os no (re)desenhar dos seus percursos de desenvolvimento pessoal e profissional e, paralelamente, legitimando e certificando essas competências, em termos de qualificação escolar e empregabilidade (despacho conjunto n.º 10831/2000, de 20 de Novembro de 2000, portaria n.º 1082-A/2001 de 05 de Setembro de 2001).

Com este objectivo, influenciado pela cimeira de Luxemburgo (1997), onde se assumiu para a União Europeia uma estratégia da educação e formação, emprego, competitividade e coesão social, foi criado um grupo de trabalho, na Universidade do Minho, para debater questões inerentes a este projecto. Mais tarde, em Maio de 1998, este grupo propôs a criação de uma instituição independente cuja estratégia era a construção de um sistema descentralizado, autónomo e desvinculado do sistema escolar que realizasse o reconhecimento e validação de competências adquiridas ao longo da vida.

Assim, devido à realização da V Conferência da UNESCO sobre a Educação de Adultos, em Hamburgo, em Julho de 1997, foi criado um grupo que viria a dar origem, em Setembro de 1999 à Agência Nacional de Educação e Formação de Adultos (ANEFA). A comissão instaladora da ANEFA tomou posse em Abril de 1999 sob a tutela dos Ministérios da Educação e do Trabalho e da Solidariedade. Após dois anos de funcionamento este organismo foi substituído pela Direcção-Geral de Formação Vocacional (DGFV) (cf. Decreto-Lei n.º 387/99). Apostando num novo modelo de educação e formação de adultos, esta agência diversificou as

ofertas formativas com a implementação dos cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA), a construção de sistemas de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências e a criação de Acções S@ber+.

É neste contexto que se registam alterações relativamente ao conceito de educação de adultos que, entretanto, foi substituído por educação e formação de adultos. Assim, segundo Alberto Melo, a educação e formação de adultos inclui “ (…) um conjunto de intervenções que, pelo

reforço e complementaridade sinérgica com as instituições e as iniciativas em curso no domínio da educação e da formação ao longo da vida, se destinam a elevar os níveis educativos e de qualificação da população adulta e a promover o desenvolvimento pessoal, a cidadania activa e a empregabilidade.” (Melo, Matos & Silva, 1999).

Em Novembro de 2000, surgem os seis primeiros centros em regime de observação que, como adianta a portaria n.º 1082-A/2001 de 5 de Setembro, tiveram como ―principal motivo a

aplicação do modelo de intervenção, com vista à permanente adequação e reformulação dos instrumentos que fundamentam a concepção e arquitectura do Sistema.”

Nesta altura, estruturou-se o sistema nacional nível básico apartir de um referencial de competências-chave4 de educação e formação de adultos da ANEFA, organizado em quatro domínios: Linguagem e Comunicação (LC), Matemática para a Vida (MV), Cidadania e Empregabilidade (CE) e Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).

Ficou ainda claro, através do despacho conjunto n.º 262/2001, de 22 de Março, e do despacho n.º 20 846/2006, DR 198, Série II, de 13 de Outubro de 2006, que a rede de Centros teria de ser alargada.

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O Referencial de Competências-chave é um instrumento para a educação e formação de adultos, face ao qual se avaliam as competências adquiridas em diferentes contextos de vida, na sequência de um processo de reconhecimento ou de formação, com vista à atribuição de uma certificação. Entende-se por competências-chave a combinação de conhecimentos, capacidades e atitudes necessárias à realização e desenvolvimento pessoais. As competências-chave diferenciam-se quanto à sua natureza e ao grau de complexidade. (in Referencial de Competências-Chave para a educação e formação de adultos – nível secundário)

Porque esta realidade começou a assumir uma dimensão muito grande no esforço da qualificação da população activa portuguesa, houve a necessidade de proceder a algumas actualizações e de alargar, de forma gradual, o sistema ao nível secundário. Em Julho de 2003, a DGFV promove um processo de reflexão alargada, partindo de duas premissas de base: a de continuar a assegurar o referencial de competências-chave de nível básico e a da necessária complexificação e diferenciação que se associa ao nível secundário, em que se ausculta um conjunto diversificado de individualidades e entidades, incluindo especialistas em educação e formação de adultos e desenvolvimento curricular, docentes universitários, organismos dos Ministérios da Educação, do Trabalho e Solidariedade Social e da Economia, Centros de Formação de Associações de Escolas, Escolas Secundárias e Centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências em funcionamento.

O referencial de competências de nível básico, já nesta altura implementado e experimentado ao longo de três anos, representou um ponto de partida. Em 2006, foi concluída a versão do referencial de competências-chave para a educação e formação de adultos de nível secundário, mantendo como objectivo a promoção dos níveis de competência e qualificação da população adulta portuguesa e a redução da subcertificação.Com esta medida pretende-se dar aos adultos condições de ver formalmente reconhecidos os saberes e competências adquiridos ao longo da vida e, se necessário, completá-los para efeitos de obtenção de uma certificação de nível secundário.

Para concretizar os compromissos nacionais, dos quais decorrem as actuais orientações políticas, de alargar progressivamente o processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências e a oferta de Cursos de Educação e Formação de Adultos ao nível do Ensino Secundário, foi criado um Referencial de Competências-chave de nível secundário. (GOP, 2005 e PNE – Iniciativa ‗Novas Oportunidades‘, 2005) (in Referencial de Competências-Chave para a educação e formação de adultos – nível secundário)

A Iniciativa Novas Oportunidades dos Ministérios da Educação, do Trabalho e da Segurança Social, apresentada publicamente no dia 14 de Dezembro de 2005, já dava como certa a necessidade de “se alargar o referencial mínimo de formação até ao 12.º ano de escolaridade

opção e elevar a formação de base da população activa, proporcionando uma Nova Oportunidade para aprender e progredir.”

Através da portaria n.º 86/2007, DR 9, Série II, 12 de Outubro de 2007, os activos portugueses, passaram a poder ver reconhecidas, validadas e certificadas as competências até ao 12.º ano. O referencial de Competências-chave de nível secundário passou a abranger três grandes áreas: Sociedade, Tecnologia e Comunicação (STC), Cidadania e Profissionalidade (CP) e Cultura, Língua e Comunicação (CLC).

Em 2007, pelo decreto-lei n.º 213/2006, de 27 de Outubro, foi criada uma nova instituição de controlo e coordenação de todo o processo – a Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), que veio substituir a DGFV, o objectivo principal dos Centros Novas Oportunidades passou a ser o encaminhamento, servindo como porta de entrada a qualquer oferta formativa. Este programa integrou parte do anterior dispositivo regulamentar existente no campo da educação de adultos e, em particular, o processo de reconhecimento, validação e certificação de competências (RVCC), destinado a equiparar formalmente as capacidades eventualmente adquiridas pelos indivíduos ao longo da sua vida (profissional, familiar, social, etc.) às qualificações académicas concedidas pelo sistema formal de ensino, nos níveis básico e secundário. Outras áreas de intervenção prosseguidas desde cerca de 2001 e agora também integradas no mesmo dispositivo, são a dos cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA, para maiores de 23 anos) e a dos Cursos de Educação e Formação (CEF, para jovens dos 15 aos 25 anos), destinados principalmente a formar e a atribuir um grau de qualificação profissional.

CAPITULO 2 –

BALANÇO REFLEXIVO E CRÍTICO SOBRE A EXPERIÊNCIA COMO