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Uma passagem pela educação emocional

BALANÇO REFLEXIVO E CRÍTICO SOBRE A EXPERIÊNCIA COMO FORMADORA DE ADULTOS

2.1 UMA HISTÓRIA COM EDUCAÇÃO DE ADULTOS

2.1.2 Uma passagem pela educação emocional

Terminei o curso e comecei a trabalhar em Setembro de 2003 num projecto de desenvolvimento pessoal e social da Casa da Primeira Infância de Loulé. Este projecto desenvolveu diversas actividades no âmbito da acção social, directamente ligadas com áreas: da habitação social, do atendimento e acompanhamento às famílias; da dinamização de actividades direccionadas para a comunidade em geral, e para a população jovem em particular; da educação, nomeadamente apoio a crianças oriundas de famílias mais desfavorecidas; intervenção junto dos pais, apoios de outros familiares, apoio para autonomia de vida, acolhimento familiar e acolhimento em instituições, entre outras intervenções. Integrei uma equipa multidisciplinar, desde educadoras sociais, psicólogas, assistentes sociais e educadoras.

Integrando esta equipa multidisciplinar, acompanhei ao domicílio, as crianças, jovens e suas

famílias, tendo em vista a prevenção primária de alguns problemas e o reajustamento dos

constrangimentos inerentes ao agregado familiar, contribuindo para as aquisições parentais e pessoais. Recordo-me que os primeiros contactos que fizemos às casas de famílias, fomos expulsas com insultos e alguma agressividade. Foi necessário estabelecer nos primeiros contactos alguma persistência, ponderação e estratégia para criar um clima de confiança, sem nunca perder de vista a realidade de cada família, o seu ritmo próprio e os seus centros de interesses.

Desenvolvi acções extra-escolares que permitiram ocupar de forma lúdica-educativa, as crianças e os jovens com necessidades educativas especiais, ou situações de abandono, absentismo, e outros factores de risco, contribuindo para a sua integração nos espaços escolares. Apliquei um programa “pulga na orelha” a alguns grupos sinalizados pelas escolas, onde em actividades lúdica-educativas tentei sensibilizar as crianças e os jovens para diversas temáticas. Foi nesta altura que regressei a algumas escolas, sendo algumas delas onde estudei. Foi gratificante ver novamente o espaço que tinha estudado e analisá-lo noutra perspectiva,

como educadora e não como estudante. Verifiquei que a educação nos dias de hoje está completamente diferente, em relação ao respeito pelos educadores/professores, à metodologia de ensino e os comportamentos dos jovens perante a educação.

Ao longo destes dois anos, em que estive neste projecto desenvolvi também acções de

informação, formação e sensibilização direccionadas para a comunidade em geral e a

população em particular. Contribuí para uma formação global e contínua dos indivíduos que participaram, debatendo temas pertinentes e actuais no campo de educação, compreendendo o desenvolvimento cognitivo, social e maturativo do ser humano, proporcionando o acesso à informação actualizada no domínio educativo, contribuindo para a formação dos agentes educativos exigida perante os desafios da escola actual e por fim, identificando e divulgando estratégias de educação nas áreas educativas contempladas.

A realização das palestras mencionadas pressupôs que, efectuasse convites a oradores bem como a moderadores especialistas dentro destes temas, e também que estivesse como oradora e moderadora de algumas. Com esta troca de saberes e experiências entre os diferentes oradores e moderadores, e a pressão sentida como oradora de uma palestra, ganhei uma maior facilidade em falar em público.

Por fim, neste projecto, tive também a oportunidade de desenvolver um sonho que nasceu na altura do estágio curricular, onde surgiu o gosto pela educação emocional e educação parental. Criei e dinamizei uma “Escola de Pais‖ juntamente com uma colega (psicóloga clínica) da equipa multidisciplinar, onde foi necessário definir uma metodologia, objectivos e fazer uma planificação do programa de intervenção. Inicialmente divulguei e recolhi inscrições da comunidade em geral do concelho de Loulé, e dos pais de risco sinalizados pela CPCJ (Comissão e Protecção de Crianças e Jovens em Risco).

A “Escola de Pais” tinha como objectivos, dotar os pais de competências que melhorariam o seu papel como agentes educativos; a promoção da auto-estima e auto-conceito; formar para a afectividade, para a relação precoce, para esclarecimento sobre as potencialidades dos seus filhos, da importância que têm para eles os primeiros cuidados para a higiene, para os cuidados básicos, para a prevenção de acidentes, formação a nível da educação para a cidadania. Tentei

sempre que neste espaço não envolvesse apenas a partilha didáctica de informação ou ensino de estratégias de gestão do comportamento. O foco relacional é tão importante como ensinar aos pais determinadas estratégias, essencialmente para as famílias em risco. As sessões de treino para pais foram colaborativas e baseadas numa relação de suporte e ―caring‖, compreensão genuína, estabelecendo uma boa relação com os pais, considerando-me como uma boa ―treinadora‖ (coach). Levei sempre os pais a encontrar as soluções por si. Recordo-me que muitos iam para as sessões à procura de receitas para os problemas dos filhos, e pensavam que saíam da sessão com uma solução e o problema resolvido. Era extraordinário observar que, quando um grupo de pais se encontrava e, apartir do momento em que já tinham um mínimo de convivência e confiança, eu passava a ser apenas um mediador da comunicação. E a troca de saberes, e experiências é realmente muito rica. Eu não deixava de ter um papel essencial na reunião intervindo sempre que necessário, sempre que os conhecimentos eram solicitados. No entanto, pelo facto de ter havido comunicação, de se terem procurado soluções para os problemas de uns nas experiências de outros, fiquei com a sensação de que a vida se tornou mais fácil para estes pais.

Actualmente as famílias passam a maior parte do tempo que estão juntas a olhar para o relógio, sempre a tentar chegar a horas a onde quer que seja… jardim infantil, escola ou ao emprego. Simplesmente deixou de haver tempo. Por vezes chegamos a desejar que o dia possuísse o dobro das horas para que assim pudéssemos levar a cabo todas as tarefas que nos são destinadas e ainda termos tempo para nós e para os outros. O tempo que deveria ser destinado para os aspectos essenciais da vida como ouvir, estar, e sentir, é hoje em dia reclamado por diversas facetas da vida moderna. Perante isto, a fasquia para quem ainda assim pretende educar uma criança emocionalmente saudável tornou-se bastante elevada.

Sendo assim, cada vez mais, a tarefa de educar se torna mais complexa e mais difícil de levar a bom termo. Isto é sentido não apenas pelos pais, as personagens mais importantes na educação de uma criança, mas também por educadores de infância, professores e todos aqueles que de algum modo pretendem ser uma influência no seu desenvolvimento.

O meu interesse em formação contínua e a minha aprendizagem ao longo da vida fez com que, estivesse sempre preparada para responder a questões que iam além das relacionadas com a parentalidade.

Quando dei início a esta caminhada, no projecto de desenvolvimento pessoal e social da Casa da Primeira Infância, e uma vez que já tinha passado no estágio por uma experiência bastante parecida, acreditei que o projecto poderia constituir-se como uma experiência em alguns aspectos novos, bastante enriquecedora a nível pessoal e profissional. E de facto, não me enganei, durante estes dois anos tive contacto com várias realidades que me permitiram fechar esta etapa e iniciar outra, com a realização de um importante processo de autoconhecimento e aprendizagem.

O facto de a população ter sido diversificada, ou seja, da minha intervenção ter sido dirigida a crianças e adultos, veio enriquecer a minha formação. Quer o trabalho realizado nas escolas, quer os trabalhos realizado com os pais e famílias ao domicílio, permitiu-me desenvolver ao longo deste meses, uma perspectiva pessoal acerca da prevenção primária e educação parental. Trabalhar com famílias de risco, e grupos de risco é um campo onde não é fácil trabalhar, sobretudo porque os resultados não são os mais visíveis, é necessário que os técnicos que trabalham nesta área sejam muito perseverantes e persistentes. É também necessário que exista um verdadeiro esforço de articulação nas acções realizadas, e que todos os agentes estejam envolvidos. Penso que é de salientar o esforço dos profissionais que trabalham neste campo pois nem sempre é fácil … lidar com pessoas … lidar com emoções

2.1.3 O AMADURECIMENTO – Reconhecimento, Validação e Certificação de