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1. A HISTÓRIA DO CURSO DE PEDAGOGIA EM QUATRO MARCOS LEGAIS Este capítulo tem por finalidade apresentar a história do curso de Pedagogia que

1.6. O que revela a história do curso de Pedagogia no Brasil: entre velhas e novas questões.

Analisei a trajetória do curso de Pedagogia partindo dos quatro marcos legais que o regulamentaram e também foram responsáveis por introduzir as modificações que o curso sofreu durante seus 76 anos de existência: Decreto-Lei nº 1.190/39; Parecer CFE nº 251/62; Parecer CFE nº 252/69 e a Resolução CNE/CP nº 1/2006. Recorri também às normativas complementares que implicaram em mudanças na configuração do curso.

O primeiro marco legal, Decreto-Lei nº 1.190/39, foi o responsável pela criação do curso e assinala que ele é criado com a finalidade de formar especialistas de educação e professores que atuaram nos cursos Normais. O segundo marco legal, o Parecer CFE nº 251/62, fixou o currículo mínimo, a duração do curso e permitiu que os graus de bacharel e licenciado pudessem ser obtidos de forma concomitante. O Parecer CFE nº 252/69, terceiro marco legal, manteve a formação de professores para atuar no Ensino Normal e instituiu as habilitações para a formação de especialistas em Orientação Educacional, Administração Escolar, Supervisão Escolar e Inspeção Escolar. A partir da vigência deste Parecer, o bacharelado foi extinto e o curso passou a conferir apenas o título de Licenciado em Pedagogia. O último e atual marco legal, a Resolução CNE/CP nº 1/2006, extinguiu as habilitações e definiu a docência como base da formação do pedagogo. Assim, o curso de Licenciatura em Pedagogia foi destinado à formação de professores. Nesse período, tanto as reformas educacionais como as tendências e necessidades formativas de cada época foram responsáveis por influenciar as mudanças ocorridas no curso. Dentre essas reformas, cito a LDB nº 4.024/61, a Lei n° 5.540/68 conhecida como Lei da Reforma Universitária, a LDB nº 5.692/71 e LDB nº 9.394/96.

Vale ressaltar que cada uma dessas modificações colaborou para o surgimento e a manutenção de críticas, dicotomias, polêmicas, controvérsias, debates, discussões, reflexões e pesquisas que, historicamente, envolveram o curso de Pedagogia no Brasil. A cada parecer instituído, foram suscitadas novas dúvidas que colocavam em evidência a fragilidade que o curso apresenta quanto à identidade e finalidade, a formação oferecida e o campo de atuação do pedagogo. E, claro, essas questões não cessaram com a aprovação das últimas diretrizes curriculares, pelo contrário, mediante as DCN de 2006, novas questões se agregaram às antigas.

Assim, desde o primeiro até o último marco legal vigente, estiveram presentes na história do curso: a fragmentação, em função da distinção entre a identidade do técnico em

educação x professor; da organização do curso, bacharelado x licenciatura; da ênfase dada na formação, generalista x especialista ou do profissional a ser formado, professor x especialista; os princípios da racionalidade técnica; o reducionismo e a abrangência; a indefinição pela identidade do profissional a ser formado e pelo seu campo de atuação; a indefinição do lugar que ele ocupava na Academia, seja na Faculdade de Filosofia, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras ou na Faculdade de Educação ou ainda, o não lugar pela desvalorização do poder público em virtude da demora em definir as DCN e os interesses antagônicos que buscavam dar-lhe uma direção. Foram situações que, por pouco, não levaram à sua extinção, tanto no passado quanto no presente, quando foi promulgada a LDB nº 9394/96 que provocou uma situação de tensão em que o curso de Pedagogia se viu em disputa com o Normal Superior, o qual assumiu uma atribuição que, desde os primórdios, é de competência do curso de Pedagogia, formar professores, embora fosse um curso de formação com amplas atribuições.

Constatei certa dificuldade para caracterizar o profissional formado neste curso e para definir as funções do curso, o que acredito estar relacionado com a própria complexidade que é inerente ao campo e ao objeto de estudo da Pedagogia. De fato, apesar das críticas que o Parecer CFE nº 252/69 sofreu, foi na sua vigência, ao se instituir as habilitações para o curso, que ficou mais fácil sinalizar quem era o profissional formado.

A partir da institucionalização do último marco legal, o curso de Pedagogia tem as habilitações suprimidas, que podem ser realizadas de modo “disfarçado” na graduação ou no âmbito da pós-graduação, além de serem abertas a todo licenciado. Não obstante, pela restrição a que está imposto, centra-se na formação do professor da educação infantil e séries iniciais, visto que a licenciatura foi privilegiada em detrimento do bacharelado. Paradoxalmente, o curso necessita realizar uma formação abrangente do docente, sem deixar de enfraquecer os estudos do campo pedagógico, considerando os contextos intra e extraescolares. Ainda, pela gama de funções que lhe foram atribuídas, não me resta, assim como a tantos outros estudiosos e pesquisadores, outra opção a não ser questionar qual tem sido o lugar que a formação docente e a gestão têm ocupado nesse curso e se ele, da forma como está estruturado, de fato, está dando conta de viabilizar uma formação consistente do profissional preconizado no artigo 4º da Resolução CNE/CP nº 1/2006. Entretanto, pelos resultados das pesquisas aqui apresentados, já temos um indício da resposta.

Mediante a elaboração deste estudo, organizado a partir dos marcos teóricos, foi possível delimitar a trajetória do curso de Pedagogia no Brasil e reconhecer as normativas legais que o constituíram até ele alcançar a configuração que se apresenta na atualidade. Do

mesmo modo, a pesquisa também propiciou a compreensão da origem dos questionamentos que ainda acompanham o curso de Pedagogia. Concluo que essas questões caminham sempre em uma mesma direção, a de indicar qual é o profissional formado neste curso e como será realizada ou tem sido realizada a formação no curso de Pedagogia. A pesquisa acerca da trajetória do curso também sinaliza para a necessidade de repensar as lacunas apresentadas na formação do pedagogo, principalmente, aquelas advindas da decisão de estabelecer a docência em detrimento do bacharelado.

Como um curso polêmico, sempre esteve no cerne dos debates do meio educacional e, por enquanto, afirmo que essa condição não se modificará, pois os debates acerca do curso de Pedagogia estão longe de ser encerrados. Permanecemos entre velhas e novas questões. Concluo este capítulo deixando-o aberto e à espera de novos apontamentos e debates que possam dar continuidade à história e trajetória do curso de Pedagogia no Brasil.