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46 Até ao ano de 1959, o ensino primário estava ao cuidado de ordens religiosas. Após esta data, Marquês de Pombal criou a primeira sistematização do ensino público e laico em Portugal, intitulada de aulas régias, que deram origem, já no século XIX, ao ensino primário. Apesar de, durante a Monarquia Constitucional e a Primeira República, o ensino primário passar a ser obrigatório, tal só passou a ser efetivo durante o Estado Novo. Já nesta fase, o ensino primário sofreu várias reformas que alteraram a sua estrutura, fixando-o como um grau elementar composto por quatro classes. Verificamos assim que a educação em Portugal percorreu um longo caminho até chegar onde chegou, passando por transformações, contradições, limites e problemas da escola no geral, e da escola do 1.º CEB em particular. Estas questões por sua vez estão diretamente ligadas com as raízes históricas e culturais da sociedade portuguesa (Pacheco, 2008).

A Reforma do Sistema Educativo (RSE) iniciada nos finais dos anos 80, início dos anos 90, foi marcada “por mudanças significativas a nível da sociedade em geral e do sistema educativo em particular” (Fernandes, 2011). Com a publicação da LBSE em 1986, orientada pelo Decreto-Lei n.º 286/89, ambos proporcionaram pesquisa, reflexão e delineamento de projetos em conjunto com a comunidade educativa, apontando assim para novas perspetivas, não só sobre o currículo desenvolvido, como o papel dos professores e das escolas no processo de desenvolvimento curricular (Carvalho, 2010). Contudo, ao analisarem de perto a RSE, verificou-se que as alterações realizadas ao Ensino Básico foram reduzidas apenas à reforma curricular, não alcançando o seu objetivo inicial: uma reforma global e coerente das estruturas, métodos e conteúdos (Fernandes, 2011).

Também Alonso (1989), citado por Carvalho (2010, p.75), vai ao encontro desta ideia, ao referir que a reforma curricular proposta, relativamente ao modelo de construção curricular, não foi suficientemente esclarecida. Contudo, a autora afirma que a RSE também trouxe aspetos positivos, na medida em que “abre o caminho para uma correcta perspectiva de articulação vertical do currículo, confrontando os programas de diferentes ciclos, uma vez que foram publicados conjuntamente” e, por sua vez, os objetivos gerais assinalados para o Ensino Básico “convergem em três dimensões educativas essenciais – a formação pessoal nas vertentes pessoal e social, a aquisição de saberes/capacidades fundamentais e a habilitação para o exercício da cidadania responsável” (ME, 1998, citado por Carvalho, 2010, p.75).

47 Com a publicação do Decreto-Lei 6/2001 e do Currículo Nacional – Competências Essenciais (ME, 2001), o Ensino Básico sofreu alterações quanto à sua organização curricular. O Decreto-Lei 6/2001 passou a estabelecer

princípios orientadores da organização e da gestão curricular do Ensino Básico, bem como da avaliação das aprendizagens e do processo de desenvolvimento do currículo nacional, entendido como o conjunto de aprendizagens e competências, integrando os conhecimentos, as capacidades e os valores, a desenvolver pelos alunos ao longo do Ensino Básico, de acordo com os objectivos consagrados na Lei de Bases do Sistema Educativo para este nível de ensino” (Decreto-Lei 6/2001, preâmbulo).

Assim, esta visão do currículo apresenta uma pedagogia diferente, pois contempla

uma pedagogia de desenvolvimento integrado, promotora de atitudes e valores, enfatiza o domínio das aptidões e capacidades em relação à aquisição de conhecimentos. Pressupõe ainda que os professores abordem o currículo numa perspetiva de investigação e experimentação, transformando-se em construtores do currículo e não apenas utilizadores (Carvalho, 2010, p.75).

A mudança curricular introduzida pelo Decreto-Lei n.º 6/2001 caracteriza-se assim, em termos gerais, pela tentativa de oferecer às escolas uma maior autonomia pedagógica e curricular, através da noção de territorialização dos projetos.

Nos últimos anos foram vários os Decretos-Lei criados, na tentativa de melhorar o Ensino Básico em Portugal, tentando acompanhar não só as exigências e necessidades da sociedade, como as descobertas realizadas através de estudos e investigações ao longo destes anos. A última alteração à estrutura curricular portuguesa foi realizada através do Decreto-Lei n.º 17/2016, de 4 de abril, terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 139/2012 de 5 de julho, que estabelece os princípios orientadores da organização e da gestão dos currículos dos Ensinos Básicos e Secundário, da avaliação dos conhecimentos a adquirir e das capacidades a desenvolver pelos alunos e do processo de desenvolvimento do currículo dos Ensinos Básico e Secundário (Direção-Geral da Educação, 2016)

O ensino básico do 1.º CEB em Portugal e a sua estrutura curricular assenta nos PMC de cada área curricular disciplinar: Expressões Artísticas e Físico-Motoras – Programa de Expressões Artísticas e Físico-Motoras do Ensino Básico – 1.º Ciclo; Português – Programa e Metas Curriculares de Português do Ensino Básico; Matemática – Programa

48 e Metas Curriculares de Matemática do Ensino Básico – 1.º, 2.º e 3.º Ciclos; Estudo do Meio – Programa de Estudo do Meio do Ensino Básico – 1.º Ciclo.

A Direção-Geral da Educação (DGE) apresenta ainda a matriz curricular do 1.º ciclo, onde define as componentes do currículo e a sua carga semanal:

Tabela 4 - Matriz curricular do 1.º CEB

Componentes do currículo Carga horária semanal 1.º e 2.º anos

Português Mínimo de 7 horas

Matemática Mínimo de 7 horas

Estudo do Meio Mínimo de 3 horas

Expressões Artísticas e Físico-Motoras Mínimo de 3 horas

Apoio ao Estudo (a) Mínimo de 1,5 horas

Oferta Complementar (b) 1 hora

Tempo a cumprir Entre 22,5 e 25 horas

Atividades de Enriquecimento Curricular (c) Entre 3 e 5,5 horas Educação Moral e Religiosa 1 hora

Componentes do currículo Carga horária semanal 3.º e 4.º anos

Português Mínimo de 7 horas

Matemática Mínimo de 7 horas

Inglês Mínimo de 2 horas

Estudo do Meio Mínimo de 3 horas

Expressões Artísticas e Físico-Motoras Mínimo de 3 horas

Apoio ao Estudo (a) Mínimo de 1,5 horas

Oferta Complementar (b) 1 hora

Tempo a cumprir Entre 24,5 e 27 horas

Atividades de Enriquecimento Curricular (c) Entre 3 e 5,5 horas Educação Moral e Religiosa (d) 1 hora

Legenda: (a) Apoio aos alunos na criação de métodos de estudo e de trabalho, visando prioritariamente o reforço do apoio nas disciplinas de Português e de Matemática, de acordo com o n.º1 do artigo 13.º;

(b) Atividades a desenvolver em articulação, integrando ações que promovam, de forma transversal, a educação para a cidadania e componentes de trabalho com as tecnologias de informação e de comunicação, de acordo com o n.º 2 do artigo 12.º;

(c) Atividades de carácter facultativo, nos termos do artigo 14.º. No caso de estas atividades serem oferecidas por entidade exterior à escola, o que carece sempre de contratualização, é necessária confirmação explicita do Ministério da Educação e Ciência para que a sua duração exceda 3 horas nos 3.º e 4.º anos e 5 horas nos 1.º e 2.º anos de escolaridade;

(d) Disciplina de frequência facultativa, nos termos do artigo 19.º.

O currículo compreende ainda, para além das áreas disciplinares,

as ações e os contextos desenvolvidos fora das disciplinas e nas áreas curriculares, numa perspetiva integrada e integradora de saberes e de saberes-fazer, trabalhando para além da dimensão do saber, as dimensões do ser, do formar-se, do transformar-se, do decidir, do intervir e do viver e do conviver com os outros (Carvalho, 2010, p. 74).

Quanto à legislação em vigor, é também a LBSE que estabelece a organização do 1.º CEB, indicando que este é um ciclo de frequência universal e obrigatório. Os objetivos

49 aqui estabelecidos passam pelo desenvolvimento global e harmonioso da personalidade das crianças, na garantia da aquisição de domínios de saberes e na incrementação de valores, atitudes e práticas que contribuam para a formação de cidadãos conscientes e participativos na sociedade democrática onde estamos inseridos. Ao ter a formação de cidadãos como um dos principais objetivos a desenvolver na ação educativa, durante este processo deve-se incluir a dimensão do desenvolvimento da formação, proporcionando conhecimento de si e dos outros, a dimensão das aquisições básicas e intelectuais fundamentais, incluindo o domínio evolutivo dos meios de expressão e comunicação (verbais e não verbais) (Cruz, 2012).