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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 Modelo de Avaliação dos Efeitos das Mudanças Climáticas

2.3.1 Riscos relacionados às mudanças climáticas

As mudanças climáticas criam riscos sistêmicos em toda a economia, afetando o preço da energia, a agricultura, a saúde, e altera o ambiente competitivo das empresas (HOFFMAN et al., 2006). Os efeitos físicos da mudança climática, mudanças de temperatura e clima, disponibilidade de água, e outras mudanças podem afetar os processos de negócios e os ativos fixos da empresa, como prédios, e a disponibilidade de recursos. Sussman e Freed (2008) destacam que tomar medidas para entender como essas condições estão mudando, e quais as implicações podem ter para diferentes setores e indústrias, é um primeiro passo importante para a empresa tomar e decidir como se adaptar às mudanças climáticas.

Margulis, Dubeux e Marcovitch (2011) apontam que devido às incertezas científicas sobre as mudanças climáticas, qualquer decisão de ação ou inação para enfrentar o problema envolve um grande risco. Para esta situação os autores sugerem dois tipos de riscos: o de nada fazer e deparar-se futuramente com um impacto não previsto e o de decidir em favor de alguma ação preventiva que não será necessária devido a não ocorrência de um fenômeno previsto.

Lash e Wellington (2007) explicam que as mudanças climáticas apresentam riscos de negócios de natureza diferente, porque o impacto é global, o problema é de longo prazo e o dano é essencialmente irreversível. Os autores classificam seis tipos de riscos (que podem se tornar oportunidades) relacionados às mudanças climáticas:

a) regulatórios: legislações que obriguem as empresas a reduzirem suas emissões de GEE;

b) cadeia de suprimentos: vulnerabilidade dos fornecedores a fazer com que as empresas incorram com seus custos de emissões;

c) produtos e tecnologia: risco dos concorrentes desenvolverem produtos ou tecnologia ambientalmente mais responsáveis;

d) lidar com litígios: processos relacionados a atividades nocivas ao meio ambiente;

e) reputação: reações destrutivas perante os investidores e consumidores, perdas na imagem;

f) danos físicos: ocasionados por eventos climáticos, tais como, enchentes, secas, dentre outros.

Corroborando com Lash e Wellington (2007), Jones e Levy (2007) afirmam que apesar da considerável atenção ao potencial de oportunidades econômicas em relação às mudanças climáticas, os principais problemas que enfrentam muitos setores continuam a ser o risco regulatório, custos de combustíveis e outros insumos, e menor demanda por produtos de energia intensa. Segundo os autores, as empresas também enfrentam consideráveis riscos concorrenciais, como mudanças nos preços, tecnologias e padrões.

Sussman e Freed (2008) destacam que é amplamente reconhecido que a mudança climática representa riscos potenciais e oportunidades para as empresas na forma de futuras regulamentações relativas às emissões de gases de efeito estufa, sistemas de comércio de emissões, mudança de atitudes dos acionistas e consumidores, mercados de produtos em evolução e a medidas tomadas pelos competidores.

Hoffman e Woody (2008) chamam a atenção também para os riscos oriundos das mudanças climáticas e expõem que, como uma transição de mercado, a mudança climática envolve riscos sistêmicos que permeiam a economia como um todo, envolvendo também riscos legais, físicos, relacionados às normas e a reputação tanto do setor em que a empresa atua quanto dela mesma.

As regulamentações ambientais que impõem reduções de emissões podem ser vistas como riscos ou oportunidades para as empresas (KOLK; PINKSE, 2004), pois, existem por um lado, riscos que novas leis restrinjam empresas que são mais poluentes, mas por outro lado, as regulamentações podem ser vantajosas para empresas que estejam mais preparadas que seus concorrentes (PINKSE; KOLK, 2009).

Porter e Reinhardt (2007) defendem que as empresas devem avaliar sistematicamente seus riscos e decidir quais devem reduzir através do redesenho das suas operações, quais devem transferir através de contratos de seguro ou cobertura, e quais podem tolerar. Para os autores, poucas empresas são capazes de ir além da eficiência operacional e adotarem uma postura estratégica com foco nas mudanças climáticas.

Lash e Wellington (2007) explicam que os riscos das alterações climáticas oferecem novas fontes de vantagem competitiva. Os autores recomendam os seguintes passos para o processo de mitigação dos riscos relacionados à mudança do clima, aproveitando novas oportunidades de vantagem competitiva:

a) quantificar a pegada de carbono;

b) avaliar os riscos e oportunidades relacionados a uma economia de baixo carbono;

c) adaptar o negócio da empresa com base na avaliação de como a mudança do clima poderia afetar a empresa a fim de desenvolver e implementar estratégias para a redução de energia, consumo e emissões de carbono;

d) fazer melhor do que a concorrência.

Nesse sentido, este estudo aborda os riscos relacionados às mudanças climáticas e os classifica em três grupos: riscos de mercado, riscos regulatórios e riscos físicos. Os riscos de mercado referem-se ao risco de os concorrentes desenvolverem produtos e/ou tecnologias ambientalmente mais responsáveis e ao aumento da demanda por energia de baixa emissão de GEE. Os riscos regulatórios referem-se às restrições regulatórias relacionadas à redução de emissões, como por exemplo, a adoção de uma legislação mais restritiva, multas e penalidades e aumento de fiscalização. Os riscos físicos estão relacionados aos impactos físicos que as mudanças climáticas poderão acarretar à empresa através de desastres naturais, falta de disponibilidade de água, eventos climáticos extremos, dentre outros.

A partir da consciência desses riscos, é necessário que as empresas adotem estratégias e ações de mitigação e adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. Jones e Levy (2007) ressaltam que a incerteza quanto à regulamentação, tecnologia e ambiente de mercado leva a uma considerável diversidade de respostas às mudanças climáticas.

Jones e Levy (2007) analisaram relatórios de empresas norte-americanas e declararam que as empresas desenvolvem diferentes estratégias de resposta às mudanças climáticas, em diferentes graus de vigor, de acordo com sua exposição aos riscos climáticos, a sua localização setorial e sua capacidade individual e de seus líderes.

Baseado no exposto, a primeira hipótese deste trabalho vincula-se à proposição de uma relação positiva existente entre os riscos da mudança climática e as respostas das empresas, sendo assim definida:

H1: Os riscos das mudanças climáticas impactam positivamente nas respostas

estratégicas das empresas do setor de energia brasileiro referente à s mudanças climáticas.