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4. DELINEAMENTO METODOLÓGICO

4.2. Rodas de conversa: produzindo narrativas

A roda de conversa como método de produção de narrativas orais escolhido para esta pesquisa foi um dos elementos que transformaram não só a minha visão de mundo, no que diz respeito aos museus de ciência, mas também aos mediadores, que deixaram transparecer na escuta o entusiasmo com a fala do outro, em um ambiente de partilhas e trocas, momentos que se caracterizaram como processos de formação contínua.

A conversa é um espaço de formação, de troca de experiências, de confraternização, de desabafo, muda caminhos, forja opiniões, razão por que a Roda de Conversa surge como uma forma de reviver o prazer da troca e de produzir dados ricos em conteúdo e significado para a pesquisa na área de educação (MOURA; LIMA, 2014, p. 98).

No caminho que delineamos a fuga é uma possibilidade sempre presente, que vem junto com as possibilidades ao ser mediador em um museu de ciência, de se abrir ao novo, ao que o próprio espaço e os sujeitos que fazem com que ele exista indicassem as perguntas e, se fosse necessário, as respostas.

contrário, nosso percurso foi sendo construído nos desvios, a partir de desejos e inquietudes partilhadas. Percursos e travessias que não necessariamente traduziram respostas, mas engendraram novas questões. Assumimos a postura de estarmos abertas ao outro, ao imponderável, ao imprevisível... (MENDES; PEREZ, 2017, p. 179).

Os percursos que as rodas de conversa seguiram nos mostraram que o anseio dos mediadores não era de apenas falar como se formaram e se formam para atuarem na ECF, mas atravessavam outros elementos que foram possibilitados pelos encontros das narrativas, de diferentes histórias de vida e pontos de vista, uma vez que na roda de conversa nós

ouvimos o outro e perguntamos, observamos a intensidade de sua fala, escutamos seu silêncio, nos calamos com sua angústia, procuramos compreender seus sentidos, nos abrimos à cumplicidade de um diálogo que, por vezes, nos surpreende, pois a não aceitação do que está posto, em virtude de um questionamento constante do fazer, provoca desconfortos (MENDES; PEREZ, 2017, p. 181).

De certa forma podemos dizer que as rodas de conversa se caracterizaram como momentos em que os mediadores desataram alguns nós que estavam amarrados em suas gargantas e que esse exercício de fala e escuta foram se construindo nas idas e vindas das memórias de cada um.

Quando os sujeitos falam da vida, mergulham num tempo que não é linear, mas sim histórico, social e cultural. Entra-se numa singularidade que também é coletiva, permitindo apreender a história em que a docência13 está imersa. Assim, encontram-se presente olhares sobre a instituição escolar e sobre a formação docente que nos ajudam a entender as tramas que envolvem o trabalho docente (FONTOURA, 2017, p. 188).

Dessa forma as narrativas são contextualizadas e locais, nos dando a possibilidade de responder o nosso problema de pesquisa, que no nosso caso tem que ver com os processos formativos para a constituição de saberes para a mediação na Escola da Ciência – Física. A ênfase do local onde será realizada a pesquisa nos faz que consideremos apenas elementos dos casos que estudamos, assim não pretendemos generalizar para todos outros espaços, pois “a generalização é sempre problemática, não pode ser considerados gerais, fatos dizendo respeito a contextos muito particulares” (GALVÃO, 2005, p. 331).

Este modo de fazer pesquisa aproximando-se dos sujeitos que vivenciam o campo de investigação vem rompendo com a visão cientificista do modo de produção do conhecimento,

13 Quando a autora fala docência entendemos por mediação no contexto de nossa pesquisa. É importante trazer esta consideração, pois o trabalho de Fontoura (2017) diz respeito a narrativas na formação docente, sendo necessária a transposição para este trabalho de pesquisa.

na qual tem se pautado no paradigma moderno em que os dados têm que ser “puros”, tais como se encontram na natureza. Partimos do pressuposto que essa pureza pretendida pelo método científico é impossível, uma vez que o conhecimento é fruto das relações humanas, das conversas, dos afetos e afetividades, envolvendo as particularidades de cada sujeito. Com isso as narrativas nos proporcionam um olhar sensível para as considerações que cada um tem sobre a sua formação, para o que enfatizam necessário à atuação na mediação do conhecimento científico e cultural.

É impossível dissociar o trabalho de investigação científica a partir de narrativas em uma roda de conversa com os processos que se constituem como de formação continuada no qual os/as narradores/as se encontram. Concordamos com Cunha (1997) que ao narrar sua história o sujeito reflete sobre tudo o que já viveu, rememorando suas experiências e reconstruindo em seu discurso uma realidade que seja significativa em sua formação humana. Dessa forma, a narrativa pode se caracterizar como potencial autorregulador das práticas, em que o sujeito ao se interiorizar em suas memórias se (re)conhece, reflete sobre as suas experiências e se (trans)forma (VEIGA SIMÃO, 2016).

Foram realizadas duas rodas de conversa com os mediadores da ECF no próprio espaço físico do acervo, nos dias vinte e nove (29) de julho de 2017 e dois (02) de setembro de 2017, além de mim, na primeira roda de conversa contamos com a presença de cinco mediadores e quatro mediadores na segunda, dessa forma dois mediadores participaram das duas rodas de conversa, o que pode vir a ser notado em algumas discordâncias dos próprios sujeitos em suas narrativas. As duas rodas de conversas foram gravadas em áudio para posterior transcrição e análise. Todos os mediadores participantes da pesquisa assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido semelhantes ao que está no Anexo A.