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P RODUÇÃO CRIATIVA E CAPITAL CULTURAL

No documento Andanças do turismo criativo (páginas 138-141)

CAPÍTULO V ANÁLISE E RESULTADOS DE INVESTIGAÇÃO

5.6. P RODUÇÃO CRIATIVA E CAPITAL CULTURAL

Verificamos, através da análise das entrevistas e em suportes documentais, que o Festival Andanças é um si mesmo um acto criativo que gera processos criativos (ver 3.3.) atrai e estimula o capital criativo (ver 1.5.) e traduz-se na criação de organizações criativas contribuindo para potenciar a indústrias culturais e criativas (ver 1.4.) e, consequentemente, a economia criativa (ver 1.3.).

A PédeXumbo - Associação para a Promoção da Música e Dança é fruto do Andanças e não o contrário. Criada em 1998 pela necessidade de uma estrutura que respondesse aos problemas de organização (até essa data a Etnia Cooperativa Cultural desempenhava essa função) e coordenação de acções e convergência de informação provocada pelo rápido crescimento do Festival (ver quadro11).

Como consta no Relatório de Actividades (2006) da PédeXumbo o Andanças é o ponto de encontro entre músicos sendo frequente a criação de novas bandas e parcerias que se iniciam no festival e criações artísticas (umas para apresentação no Festival e outras que nele se iniciam).

O projecto Viagens na Minha Terra é um projecto que a PédeXumbo colocou em marcha para “conseguir convencer os ranchos de diversas regiões deste nosso canteiro (…) que tinha por linhas mestras o contacto com os ranchos de uma maneira muito informal, tentando aprender com eles algumas das modas e, convencendo-os depois a

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ir ao Andanças ensinar as danças que apresentavam nos palcos, só que em formato de baile aberto” (Moura, 2006:41). O facto de os ranchos ensinarem a dançar fora do contexto habitual (fora do espaço técnico, sem traje e fora do âmbito tradicional) reflecte-se no dia-a-dia do próprio rancho e no aumento do seu capital criativo.

Em 2005 é editado o CD 10 Andanças como forma de partilhar as músicas, os grupos e as danças que construíram o Andanças ao longo dos anos. Publica-se em 2006 o livro intitulado Contra Danças Não Há Argumentos – uma década de Andanças Festival Internacional de Danças Populares, edição PédeXumbo. A edição do DVD musical Arritmias (2007) é composta por três partes: viagem pela história do Andanças e desconstrução do ritmo, pequeno filme que ensina várias danças, filme de animação realizado pelas crianças nas escolas do ensino básico de Évora e de Carvalhais de autoria do Tiago Pereira.

Desde 2007 que existe um palco de auto-gestão o que possibilita a apresentação de projectos que, por alguma razão, não integram a programação geral e, por outro, fomenta a estimulação à criação de novas bandas.

Também em 2007 a PédeXumbo apresentou o projecto Banda Lhar integrado por todos os músicos com formações musicais diferentes e que resulta num concerto de músicas conhecidas apresentado no encerramento do Festival Andanças.

Em várias edições do Festival Andanças foi realizado um concurso nacional para a criação da imagem gráfica do Festival estimulando a criatividade e o potencial criativo; o trabalho vencedor fica a imagem gráfica do Festival e todos os outros trabalhos são expostos durante o Festival.

Durante o Festival Andanças é realizado um jornal diário ilustrando os melhores momentos do dia que são colocados em locais estratégicos do Festival inclusive na bibliomóvel – Jornalinho Andanças – com informações, artigos, fotografias, passatempos, conselhos e alguns desafios. Tem uma tiragem de 500 exemplares e é

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distribuído no próprio Festival. A pedido é enviado por e-mail. Tem evoluído ao nível da apresentação gráfica.

Diversos entrevistados consideram ainda que possivelmente o potencial de alguns artistas ganhou projecção com o Festival Andanças. Por exemplo, Mercedes Prieto faz actualmente da dança a sua profissão o que não acontecia inicialmente. Muitas das pessoas que vão ao Andanças dançar não têm por hábito praticar danças com regularidade, para algumas o primeiro contacto com as diferentes técnicas corporais é realizado no Andanças “decidindo depois inscrever-se em escolas e academias ou procurando a dança com mais regularidade nos festivais e nos bailes que começam a ser comuns um pouco por todo o lado” Martinez (2006:55). Também o Grupo Toques de Caramulo, criação da d’Orfeu, praticamente nasceu em função do Andanças. “Foi no Andanças que este colectivo cresceu e ali viu marcadas as viragens do seu percurso, da mesma forma que assim terá seguramente acontecido com tantos outros. Falo de gente como Dazkarieh, Uxu Kalhus, Monte Lunai, Attambur, etc e tal” (Fernandes, 2006:65).

Existe abertura para que os voluntários sugiram novas ideias, se responsabilizem por elas e as concretizem. Voluntários que desempenham tarefas diversas propõem novos projectos: ensaio fotográfico Porque vieste? por João Henriques; criação de blog (2006) [http://hugo-lima.com] para registar fotograficamente momentos do Andanças e fazer um mega arquivo de partilha para colocar as imagens pessoais e todas aquelas que alguém queira disponibilizar e recolher material antigo das primeiras edições do Festival. Voluntário no cacifo dos instrumentos durante vários anos, propôs ter tempo livre para fotografar, cria em 2006 um mega arquivo para colocar imagens e vídeos próprias e de todos os que querem disponibilizar as suas de forma a partilhar todo o material antigo das primeiras edições do festival, divulgar outras galerias e links relacionados com o Andanças.

São criadas empresas e realizados projectos profissionais fora do contexto do Festival, como é o caso da criação de uma empresa de agenciamento de bailes e a empresa Pés

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na Terra (empresa de valorização humana e desenvolvimento rural centrada no turismo de experiências e na filosofia Andanças mas de carácter contínuo).

O Andanças é também um espaço de potencial criativo porque aparentemente se tornou importante na formação dos músicos uma vez que qualquer pessoa com um instrumento pode começar a tocar com o vizinho do lado, misturar-se com músicos profissionais, e mesmo trocar de grupo entre si (Mira, et al, 2006).

O seu potencial criativo conduz Pereira (2006:15) a afirmar que “(…) o capital humano acumulado durante a semana transforma-nos literalmente em capitalistas de almas! (…) mesmo sem comprar levam do Andanças muita coisa na bagagem”.

Sugerem que também os cursos da área da animação cultural oferecidos pela Escola Profissional poderão ter sido estimulados indirectamente pelo Andanças e que a participação de formandos e formadores serão certamente uma experiência enriquecedora, um estímulo e um desafio. O próprio crescimento do Centro Social de Carvalhais e da Escola Profissional de Carvalhais é impulsionado pelo Festival.

“… a evolução e desenvolvimento de Carvalhais deve-se sem sombra de dúvida, a múltiplos factores de várias ordens, onde assume particular destaque o Andanças, Festival Internacional de Danças Populares (…) … o Andanças contribui, sobremaneira, para imprimir à Freguesia e ao Concelho uma nova dinâmica” (Azevedo, 2006:75). Salienta-se que o Andanças tornou-se numa referência dando origem a novos festivais como o Danzas sin Fronteras em Espanha.

No documento Andanças do turismo criativo (páginas 138-141)

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